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Ctrl+C e Ctrl+V em ação: trabalhos escolares copiados da Internet

Mariana Cruz

Uma das queixas comuns entre os professores recai sobre a qualidade dos trabalhos que pedem aos alunos: são cópias descaradas de textos da Internet. Os comandos Ctrl+C e Ctrl+V (responsáveis respectivamente por copiar e colar o texto) são os grandes aliados dos alunos. Graças a essas ferramentas, parágrafos tirados da Internet ou mesmo textos inteiros transformam-se em trabalhos escolares prontinhos para entregar. Os alunos mais desatentos não se dão ao trabalho nem de formatar o trabalho – e deixam o endereço eletrônico lá mesmo, registrado na parte inferior da página. Ou seja, esfregando na cara do professor sua malandragem internética.

Nesses casos, o professor age de duas formas: ou faz vista grossa, como se nada tivesse acontecido, e dá a nota que a cópia merece, sem maiores questionamentos éticos (afinal, o aluno fez o esforço de procurar o tema no site de busca, selecionou um texto e ainda o imprimiu), ou pode se inspirar na postura de seu discípulo e nem se dar ao trabalho de ler o texto: lança nota zero, sem maiores explicações. O pior é quando vários alunos fazem a cópia do mesmo texto. Nesses casos, o professor fica com meia dúzia trabalhos iguais sobre genética, por exemplo. Aí ele pode dar a nota para Mendel, fazer mais vinte cópias e redistribuir para a turma, como material de apoio, ou então fazer com que cada um dos espertinhos leia um trecho em voz alta para a turma. É uma forma de eles e o resto da classe aprender mais sobre o assunto. Há também os que pegam uma parte de cada site e fazem um amontoado de parágrafos com informações repetidas, desencontradas, contraditórias e montam seu texto tal qual um Frankenstein. Não é difícil para o estudante perceber o porquê da nota baixa. O problema é que, por vezes, esse redondo numeral suscita indignação do aluno. Então lá vai o professor dar lição de ética, ensinar com se faz um trabalho, falar sobre a importância de pesquisar várias fontes para depois criar o próprio texto.

A culpa é do aluno? Sim, pois tem preguiça e/ou quer dar uma de espertinho. Mas será que o professor não tem sua parte de responsabilidade? Afinal, pede trabalhos enormes e não estimula o aluno a refletir, a pesquisar, a analisar. Talvez o grande facilitador dessa conduta pouco exemplar seja a Internet. E aí resta reclamar com o bispo – ou com o Bill Gates.

Seria ótimo que os alunos frequentassem bibliotecas, que lá procurassem diversos livros, resumissem as partes que fossem interessantes, vissem nas notas de rodapé outras referências bibliográficas que, caso servissem e não houvesse no local, os levassem a procurar outras bibliotecas. Mas tudo isso é se. Hoje em dia, uma boa parte desses procedimentos pode ser feita on-line: entrar nas bibliotecas, procurar textos, imagens, vídeos sobre o assunto. No processo virtual, coisas irão se perder, coisas irão se ganhar. Mas nem isso é feito.

A questão é que, mesmo com todas as facilidades do mundo virtual – ou até mesmo por causa dela – é escolhido o caminho mais fácil e veloz.

Será que, com as ofertas de diversão que estão disponíveis hoje, algum adolescente tem mais do que cinco minutos para se dedicar aos trabalhos escolares? Refletir sobre eles, fazer crítica, discutir? Tudo tem que ser feito o mais rápido possível para sobrar tempo para as coisas que dão prazer imediato. Fazer uma pesquisa também pode ser algo muito prazeroso, mas isso requer esforço intelectual, demora.  E não há tempo a perder. Não basta só a rapidez, há também que ter grande volume, seja lá do que for: dezenas de canais de TV a cabo, centenas de músicas armazenadas no iPod, milhares de games. São muitas coisas para fazer, nada pode ficar de fora: falar no msn com 10 pessoas ao mesmo tempo, zapear, falar no celular, escutar música... tudo ao mesmo tempo, tudo muito, tudo passageiro, tudo imediato. Mas sem utilizar a reflexão, a crítica, o questionamento. Parece que, ao fazer tudo isso, o adolescente na realidade não está fazendo nada.

Diante de todos esses atrativos, o professor pode lançar mão da velha máxima “se você não pode ir contra o inimigo, junte-se a ele”. Para aquela classe em que os alunos não desgrudam do ipod, que tal lhes apresentar músicas que tenham a ver com o tema de estudo? No caso da Internet, pode-se criar um blog e postar textos afins, fazer uma lista de discussão, passar trechos de filmes, indicar sites realmente interessantes. Como se pode notar, são diversas maneiras de fazer o aluno se interessar, participar, debater, trocar ideias sugestões e, assim, chegar ao fim esperado: uma boa dose de reflexão, um estudo aprofundado, uma critica bem estruturada.

Publicado em 21 de outubro de 2008

Publicado em 21 de outubro de 2008

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