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Os escravos: na Grécia antiga e na América colonial

Prof. Dr. Eduardo Marques da Silva

Atualmente fala-se muito em democracia: nos discursos políticos, em denominações políticas do tipo “o governo de fulano é democrata”, denotando uma forma de governo para o povo – o que, aliás, é seu significado de origem. Mas quase sempre a maioria das pessoas tem dificuldade de ter claro o que significa a palavra. Retomemos então sua gênese, na Grécia antiga. Suas transformações mais importantes se iniciaram no período conhecido como Arcaico, entre os séculos VIII e VI a.C., quando havia nessa sociedade basicamente três categorias sociais:

  • Os cidadãos, nascidos na pólis, eram livres, possuíam direitos políticos – ou seja, direito a voto. Muitas vezes eram proprietários de terras e poderiam se armar para a guerra. Aproximadamente um terço dos cidadãos morava nas cidades e não pagava impostos; os ricos contribuíam com o Estado patrocinando festivais, eventos culturais, construção de navios, campanhas de guerra etc.
  • Os escravos eram os prisioneiros de guerra ou condenados por algum crime; um ultimo motivo para a escravização (que existiu como prática apenas até 594 a.C.) era por pagamento de dívidas; nesse caso, até mesmo um cidadão poderia virar escravo, reduzido socialmente à referida condição junto com seus filhos. Em uma sociedade basicamente escravista – por exemplo, a ateniense –, os cidadãos possuíam em média dois a três escravos, em geral urbanos; um cidadão rico tinha aproximadamente doze escravos.
  • Os metecos eram homens livres – gregos ou bárbaros – não nascidos na pólis; estrangeiros. Não possuíam direito à participação política nem à propriedade. Eram representados por um tutor pertencente à pólis e pagavam impostos (fundamentais para a economia); tais tributos eram fruto de atividades como comércio, artesanato, finanças etc.

Como já dissemos, a sociedade grega baseava-se no modo de produção escravista, em que o trabalhador era um instrumento de produção. Inicialmente, a escravidão ocorria por dívidas, pois, com a importação de cereais mais baratos das áreas coloniais, muitos georgóis se endividaram e perderam suas terras, transformando-se em escravos.

Algumas decisões passavam pelo povo sob a forma de democracia direta, excluídos aqueles considerados não-cidadãos. No campo político, no período Arcaico houve o desaparecimento da monarquia; o rei, nesse momento, era um magistrado entre outros. Existiam nove arcontes eleitos pela elite, divididos entre funções religiosas, militares (geralmente generais) e judiciárias. Existia também um conselho, equivalente a um tribunal supremo, formado por ex-arcontes eleitos por mérito e exercendo mandato vitalício.

Em 594 a.C., em Atenas, Sólon foi eleito arconte e começou a lutar contra a crise vivida pela sociedade ateniense, gerada porque a maioria dos camponeses era obrigada ao pagamento de grande parte de sua colheita em impostos; para isso, eles se endividavam e sobre eles pesava a ameaça da escravidão.

Sólon proclamou então a seisachteia, que proibia a escravidão por dívida, e os escravos passariam a ser apenas os vencidos nas guerras. Com isso, promoveu o fortalecimento dos pequenos camponeses e da noção de comunidade, o que desagradou a uma parcela dos cidadãos, já que a escravidão na Grécia Antiga garantia o poder do grupo de cidadãos e possibilitava-lhes o tempo livre necessário para participar ativamente dos negócios públicos. Em termos culturais, o trabalho manual era visto como algo desprezível, executado pelos escravos. Sólon, naquela época, dividiu os cidadãos em quatro grupos, conforme a produção de grãos.

Nas sociedades da América colonial que possuíam modo de produção capitalista, o trabalho de escravos fornecidos por traficantes foi mais um elemento na geração de lucro na fase de acumulação primitiva do capital. Há que se verificar, no confronto dialético com o real, a pertinência do método de análise referenciado na obra de Marx, que oferece a oportunidade de checar in loco os fenômenos relacionados à mundialização do capitalismo e à universalização da ação das potenciais ocidentais.

Rejeitando liminarmente qualquer propensão dogmática à comprovação da infalibilidade das formulações marxistas, talvez possamos ao menos nos beneficiar da confrontação entre as interpretações de Marx e as diferentes leituras desenvolvidas na atualidade, inclusive por aqueles que reclamam filiação às ideias do pensador alemão acerca do mais moderno estágio de desenvolvimento da história universal até hoje, com olhares voltados para a realidade brasileira escravista.

Entretanto, na análise do processo de constituição histórico-genética desta nova fase do desenvolvimento do capitalismo mundial, é possível verificar a pertinência da reivindicação do legado teórico-político de Marx sobre, por exemplo, o esgotamento do ciclo econômico do pós-guerra e o choque do petróleo. Afinal, em sua época, a reestruturação produtiva e a crise do Estado do Bem-Estar Social foram tentativas de sinalização de que algo não andava bem.

Publicado em 02 de dezembro de 2008

Publicado em 02 de dezembro de 2008

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