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Da História Natural às Ciências Biológicas
Prof. Rondon Mamede Fatá
Este texto procura identificar as principais semelhanças e diferenças entre o curso de História Natural e o de Ciências Biológicas, sua história e suas transformações no ensino superior brasileiro. Não há aqui a preocupação de defender um curso ou outro, mas apenas de constatar o que ocorreu e o que vem ocorrendo nas graduações.
Os cursos de História Natural eram ligados às faculdades de Filosofia, Ciências e Letras; tinham uma visão mais contemplativa, mais de descoberta da natureza, sem que houvesse interferência sobre ela. Os alunos eram mais preparados para o Bacharelado do que para a Licenciatura e tinham, portanto, a pesquisa como principal objetivo; recebiam uma sólida formação, especialmente em Biologia, Zoologia, Botânica e Geologia.
Três fatos foram marcantes na transição do curso de História Natural para o de Ciências Biológicas:
- a democratização do Ensino Fundamental, no final dos anos 1950 e início dos anos 60;
- as aulas de Ciências e Biologia eram ministradas por alguns professores formados em História Natural, mas também por profissionais formados em Medicina, Odontologia, Engenharia... e
- a demanda de professores era de tal ordem que indivíduos que só tinham o Ensino Médio de hoje eram chamados para lecionar, pois o número de cursos de História Natural era muito pequeno (na cidade do Rio de Janeiro só existiam dois).
Para atender a essa enorme demanda de professores, foram tomadas quatro soluções: os indivíduos com curso superior sem licenciatura e os que só tinham o Ensino Médio poderiam fazer o curso e o concurso promovidos pelo MEC e desenvolvido pela Campanha de Aperfeiçoamento e de Desenvolvimento do Ensino Secundário (Cades). Os candidatos prestavam três provas no concurso: de didática, de conteúdo específico e de prática de aula. Após a aprovação, o indivíduo recebia um registro de professor para locais onde não houvesse professor com curso superior (o que significava quase todo o Brasil). Com esta solução a demanda de professores foi diminuindo.
Outra ação importante foi criar, em várias partes do Brasil, os Centros de Ciências, que tinham como objetivo oferecer cursos de capacitação para os formados em História Natural e também para aqueles professores provenientes dos cursos e concursos da CADES. Sua ênfase estava em introduzir a experimentação através do método da redescoberta.
Além disso, o MEC autorizou a implantação de outros cursos de História Natural e, posteriormente, de Ciências Biológicas, a fim de diminuir a demanda de professores.
Ao mesmo tempo, os cursos de História Natural foram gradativamente mudando seus currículos, diminuindo as cadeiras ditas científicas e aumentando a carga horária e o número de disciplinas pedagógicas; em outras palavras: a licenciatura foi se tornando mais importante que o bacharelado.
Tudo isso ocorreu entre a metade da década de 1960 e metade da década de 1970. É perceptível que a sólida formação que existia em História Natural tornava-se fragmentada em Ciências Biológicas, com a diminuição da carga horária de várias disciplinas ditas científicas.
Principais características dos cursos de História Natural | Principais características dos cursos de Ciências Biológicas |
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Maior tempo de contemplação da natureza | Pouco tempo de contemplação da natureza |
Grandes coleções formadas no curso: animais em formol, animais empalhados, madeiras, sementes, flores, folhas, minerais, rochas, fósseis, conchas etc. | Formação de pequenas coleções |
Não-interferência quase total no ambiente | Interferência no ambiente |
Formação em nível de mestrado e doutorado só ocorria após grande tempo de trabalho | Formação em nível de mestrado e de doutorado ocorria prematuramente |
Grande visão da dinâmica da Terra | Menor visão da dinâmica da Terra |
É possível constatar, ainda, desde há alguns anos, que o curso de Ciências Biológicas apresenta modificações nítidas e bem distintas daquelas da década de 1970 e 1980, inclusive para atender ao aumento do campo de trabalho, principalmente após a Rio-92, pois vários estados e prefeituras criaram suas secretarias de Meio Ambiente.
Nos cursos, multiplicou-se o número de disciplinas, de tal maneira que a fragmentação tornou-se mais acentuada. Além disso, a separação em áreas específicas passou a acontecer já na metade do curso de graduação, visando à pós-graduação, em segmentos como análises clínicas e meio ambiente.
Para completar, a pós-graduação, lato ou stricto-sensu, não exigia nem utilizava a vivência do que foi aprendido na graduação.
Publicado em 26 de fevereiro de 2008.
Publicado em 26 de fevereiro de 2008
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