Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Interdisciplinaridade e especialização: duas faces da mesma moeda

Mariana Cruz

A cada vez maior especialização das disciplinas e a tentativa de pôr em prática a interdisciplinaridade são dois fenômenos – aparentemente opostos – bastante debatidos e presentes no atual cenário da educação no Brasil.

O aspecto negativo da especialização ocorre na medida em que torna as disciplinas cada vez mais segregadas, isolando umas das outras. A fim de acabar com esse isolamento, surge a interdisciplinaridade, pois dentre os diversos desafios da educação está superar a fragmentação de um campo que se constitui a partir de diversas subdisciplinas e buscar um patamar comum de discussão epistemológica.

Ironicamente, essa especialização cada vez mais aprofundada das disciplinas abre a possibilidade de transitar por entre elas. Tal livre acesso, porém, faz com que o pesquisador corra o risco de se tornar muito eclético, sem identidade própria, desvinculado de sua tradição, de sua origem. Para que esse trânsito ocorra sem perigo, isto é, para que o indivíduo possa transgredir sem se desprender de suas origens, deve ter sólida tradição disciplinar.

Disciplinas recentes, como a Ecologia e a Engenharia Genética, já podem ser consideradas um campo de conhecimento transdisciplinar, fruto do acúmulo do conhecimento e dos avanços nas descobertas da Biologia, da Geografia e da Medicina geradas pela a Biofísica e pela Bioquímica – elas mesmas também nascidas dessa interpenetração de ciências.

A prática da interdisciplinaridade surgiu na segunda metade do século passado, impulsionada pelos movimentos estudantis na Europa, que, dentre outras coisas, reivindicavam um ensino mais sintonizado com as questões sociais, políticas e econômicas. Por esse tempo, a interdisciplinaridade chegou também ao Brasil e passou a influenciar a antiga Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 5.692/71). Apesar de, na teoria, a interdisciplinaridade ser bastante debatida nas escolas e entre os professores, parece que na prática ela não é muito bem aplicada. Prova disso é que existe, ainda hoje, certa confusão em relação a tal conceito, pois muitas vezes a interdisciplinaridade é confundida com a pluridisciplinaridade. Há, contudo, certas diferenças entre esses termos que são importantes de serem ressaltadas.

Entende-se por pluridisciplinaridade uma associação de disciplinas que visam realizar um objetivo comum, porém nenhuma delas se modifica para se adequar a esse objetivo. Ou seja, cada disciplina continua fechada em si. Quando se trata de interdisciplinaridade, essa relação entre as disciplinas mostra-se mais intensa, já que se pretende colocá-las num mesmo discurso, numa mesma linguagem, estabelecer uma linguagem comum entre elas, pois, como se tem visto na história do conhecimento, o pensamento muitas vezes evolui por causa desse tipo de intercâmbio.

No âmbito escolar, a interdisciplinaridade não pretende dar origem a novas disciplinas, e sim utilizar os conhecimentos de várias delas a fim de solucionar problemas concretos ou compreender determinados fenômenos sob diferentes óticas. Ela pode ser exercida tanto individualmente – com um único professor fazendo a fusão entre os diferentes saberes – como pode ser fruto da ação coletiva de um grupo de professores de diferentes disciplinas.

Seja lá da forma que for exercida, o importante é que o diálogo, o intercâmbio entre as disciplinas se faça de forma não hierarquizada e não preconceituosa, que ocorra de forma ampla, para que assim, a partir de uma visão holística, seja possível chegar a novas teorias, a descobertas. A troca sempre é profícua.

Se fizermos uma analogia e levarmos para o campo das relações humanas, veremos que sempre que existe a troca entre os povos de diferentes culturas o resultado é positivo para a humanidade. Nessa relação, porém, todos os elementos devem ser vistos em níveis equivalentes, sem hierarquia; não deve existir imposição ou domínio de uma cultura sobre a outra.

Quando os povos relacionam-se harmonicamente, um aprende com a cultura do outro e ambos crescem. Não ocorre a simples adição entre as diferentes culturas: gera-se algo novo. É esse mistério, é essa mágica, ou – como diz uma amiga –, esse é o plus a mais (sic) que desafia as leis da lógica. É quando a soma de dois mais dois, estranhamente, dá mais que quatro.

Sites pesquisados:

Publicado em 6 de janeiro de 2009

Publicado em 06 de janeiro de 2009

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.