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Villa-Lobos – Compositor de mundos

Cláudia Dias Sampaio

“Era um espetáculo. Tinha algo de vento forte na mata, arrancando e fazendo redemoinhar ramos e folhas; caía depois sobre a cidade para bater contra as vidraças, abri-las ou despedaçá-las, espalhando-se pelas casas, derrubando tudo; quando parecia chegado o fim do mundo, ia abrandando, convertia-se em brisa vesperal, cheia de doçura. Só então percebia que era música, sempre fora música.”

Esse trecho da crônica escrita pelo poeta Carlos Drummond de Andrade por ocasião da morte de Heitor Villa-Lobos, em novembro de 1959, é uma tentativa de apresentar o arrebatamento provocado pela música desse artista que revolucionou a criação musical no Brasil. Considerado um dos maiores compositores das Américas no século XX, Villa-Lobos deixou uma obra que reúne mais de mil títulos e a proeza de ter difundido pelo mundo a sofisticação de uma linguagem musical que colocou a cultura brasileira em diálogo com a música erudita. É preciso ouvi-lo para conhecer o fascínio de que fala Drummond, pois, por mais bela que seja a apresentação do poeta, palavras não chegam a esse lugar.

Inspirado na obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach, entre 1930 e 1945 Villa compôs um de seus mais célebres ciclos, as Bachianas brasileiras. A mescla entre o requinte da linguagem musical de Bach e a vibração da sonoridade da música brasileira imprimiu originalidade a essas composições, que foram tema dos filmes Deus e o diabo na terra do sol (Ária – Cantilena – Bachianas nº 5) e Terra em transe (Bachianas nº 3 e 6), ambos de Glauber Rocha.

Nem tão popular quanto as Bachianas, os Choros criados por Villa-Lobos constituem um dos momentos de intensa beleza na obra do compositor. Numa época em que o violão ainda era considerado marginalizado, Villa-Lobos se dedicou a ele, deixando-se impregnar pela música que ouviu em sua infância em Minas Gerais.

As serestas, o regionalismo do folclore brasileiro, os sons das matas brasileiras, dos índios e o conhecimento de música erudita fazem parte da formação do compositor que esteve presente nos momentos mais importantes da cultura no Brasil. Como na Semana de Arte Moderna de 1922, onde apresentou as Danças características africanas, e em sua polêmica participação no governo de Getúlio Vargas durante o Estado Novo.

Para uns, Villa-Lobos foi conivente com a ditadura daquele período; para outros, ele soube aproveitar a atenção que Vargas dava à cultura para expandir a importância que via na educação musical dos jovens brasileiros. Discussões a parte, é impossível pensar na música do Brasil sem levar em conta a sua obra, fonte inesgotável de diálogos para músicos do mundo inteiro.

A Escola de Música Villa-Lobos (EMVL), fundada em 1952 e vinculada à Secretaria de Estado da Cultura, tem sua atuação voltada inicialmente para cursos básicos e técnicos de educação musical profissional, mas adicionalmente promove palestras, workshops, festivais e concertos de música de vários gêneros e produz CDs, partituras e livros didáticos que contribuem para oferecer ensino musical à população fluminense. O acervo de seu centro de documentação é especializado em música popular erudita. Além disso, mantém em atuação diversos grupos musicais, como a Orquestra Popular, a Banda Sinfônica, a Orquestra de Violões e a Orquestra Infantil.

O Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, abriga o acervo do compositor. É possível agendar visitas e organizar exposições com o material disponível na “exposição itinerante”. O museu fica num belo casarão em Botafogo, e está com programação especial para este ano.

No Brasil e no mundo, as homenagens se espalham neste Ano Villa-Lobos. Grandes orquestras, como a Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), a Sinfônica Brasileira (OSB), a Filarmônica de Belo Horizonte e a Sinfônica de Londres têm a obra de Villa-Lobos em suas programações.

Há um link no site do museu onde é possível ouvir trechos das principais composições do autor: http://www.museuvillalobos.org.br/villalob/musica/index.htm. Nada como aproveitar a ocasião para conhecer menos superficialmente a obra deste homem que revolucionou a história da nossa música.

Para saber mais

Escola de Música Villa-Lobos
Museu Villa-Lobos
Ano Villa-Lobos
Homenagens
Villa-Lobos: Uma vida de paixão, filme de Zelito Viana

MARIZ, Vasco. Villa-Lobos: o homem e a obra, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2005. Uma biografia escrita pelo reconhecido musicólogo.

Publicado em 24 de março de 2009

Publicado em 24 de março de 2009

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