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Filosofia para crianças, jovens e adultos em Caxias, no Rio de Janeiro

Mariana Cruz

Em Caxias a Filosofia en-caixa?! A escola pública aposta no pensamento! é o curioso nome dado ao projeto de extensão de filosofia com crianças, jovens e adultos no município de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro. O objetivo dessa iniciativa é redimensionar o papel da Filosofia na prática escolar e trazer novo sentido para seu ensino, dentro de um projeto político-pedagógico mais amplo, de uma escola interessada na formação de pessoas críticas, criativas e comprometidas com a transformação de si próprias e de sua realidade social. As influências passam por diversos nomes da Filosofia, como Foucault, Sócrates, Platão, Marx, Lipman, Paulo Freire e os teóricos de Frankfurt, entre outros.

A fim de explicar e divulgar este interessante projeto, um de seus participantes, o professor titular da UERJ Walter Omar Kohan concedeu esta entrevista para a revista Educação Pública.

Educação Pública - Há quanto tempo existe o Núcleo de Estudos Filosóficos da Infância? 

Walter Kohan - O Núcleo de Estudos Filosóficos da Infância (NEFI) está ligado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Faculdade de Educação da UERJ. É um espaço aberto para explorar as relações entre filosofia e infância. Participam de suas atividades alunos de graduação, mestrado e doutorado da UERJ e pessoas de outras instituições nacionais com as quais temos trabalhos conjuntos.

EP - Como surgiu o projeto Em Caxias, a filosofia en-caixa?! - A escola pública aposta no pensamento? O senhor poderia explicar esse curioso nome? E por que a escolha do município de Duque de Caxias?

WK - Durante os meses de julho e agosto de 2007, diversos membros da equipe do Núcleo de Estudos Filosóficos da Infância visitaram escolas públicas do estado para conhecer suas efetivas possibilidades de realização. A Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha pareceu-nos um espaço adequado pelas seguintes razões: tratava-se de uma escola que atende a uma comunidade extremamente carente, onde o trabalho incorpora sentidos éticos e políticos notórios; dispunha de um quadro de professores interessados pela Filosofia e abertos a novas propostas teóricas e metodológicas que contribuam com sua formação; apresentava compromisso intenso da direção para acompanhar o trabalho e da Secretaria Municipal de Educação para viabilizar o envolvimento dos professores no projeto e nas atividades com crianças; na avaliação dos próprios professores, a prática filosófica poderia oferecer importante contribuição no quotidiano da escola, tanto no que diz respeito à aprendizagem dos alunos quanto à reflexão sobre questões que atravessam o dia-a-dia escolar.

Sobre o nome do projeto, eu destacaria vários aspectos: a) Trata-se de uma pergunta, que sinaliza certo espírito do projeto, mais sabedor de interrogar do que de responder; b) pergunta-se se há lugar em Caxias para a filosofia; c) chama a atenção sobre a pluralidade de sentidos das palavras; d) nomeia o campo de nosso trabalho: a escola pública; e) sinaliza o risco e incerteza de uma aposta; f) especifica o espaço principal de preocupação de nosso trabalho: o pensamento.

EP - Alguns professores de Filosofia do ensino superior consideram inadequado o ensino de Filosofia para jovens e adolescentes, por considerá-los despreparados para alcançar o nível de racionalidade exigido pela disciplina. O que o senhor pensa dessa posição?

WK - Ela supõe uma concepção do ser humano e da racionalidade que não compartimos. Ao contrário, partimos do pressuposto de que todas as inteligências humanas são iguais, a qualquer idade. Todos estamos sempre igualmente capazes para pensar. A filosofia exige disposição para exercer essa capacidade no sentido de problematizar o que sabemos, pensamos e vivemos. O que buscamos é ativar e criar as condições para que essa capacidade possa se tornar mais efetiva.

EP - Qual a diferença entre trabalhar filosofia com crianças, adolescentes e adultos? 

WK - Há muitas diferenças próprias dos estilos de pensamento, dos interesses, das inquietações, das expectativas. Contudo, em algum sentido, o que se faz não muda muito: pensar; problematizar; conceitualizar. Mudam talvez os caminhos e as formas que se seguem.

EP - Quais filósofos ou temas filosóficos são trabalhados com crianças?

WK - Não são trabalhados explicitamente filósofos, a não ser ocasionalmente. Não nos interessa que as crianças aprendam uma filosofia em particular ou a filosofia de um filósofo. Interessa-nos que as crianças façam o que os filósofos fazem: filosofar.

EP - Apesar de o curso já ter começado, as pessoas ainda podem se inscrever? Até quando? 

WK - Oferecemos um curso aberto, livre, de 15 encontros durante o ano. Temos sentido necessidade de abrir espaço para a reflexão sobre os aspectos metodológicos que envolvem essa prática a partir da realização de experiências, ao modo das que realizamos na escola com as crianças e os adultos. Com esse espírito, o espaço está aberto para quem estiver interessado em pensar conosco sobre as condições e possibilidades de um tipo de prática que pretende fazer da filosofia uma experiência de pensamento coletivo na escola pública. Até agora fizemos uma experiência; a próxima será dia 8 de abril entre as 14h e as 17h na UERJ, na sala 12058, do bloco F do 12º andar, no campus Maracanã, com uma turma de crianças da Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha, de Duque de Caxias-RJ. Mas outras edições acontecerão no futuro.

Para mais informações sobre o Núcleo de Estudos de Filosofia e Infância, consulte www.filoeduc.org. Sobre o projeto, especificamente, visite www.filoeduc.org/caxias.

07/04/2009

Publicado em 07 de abril de 2009

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