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Inquieto, Einstein
Luis Estrela de Matos
Ensaísta, escritor, professor universitário
Leitor, hoje vamos por outras sendas. Aproxime-se. Relativize-se.
Não sei se “o Senhor Deus não joga dados”. O que eu sei, e é quase nada, é que a Física joga Einstein. Impossível não jogá-lo. Os avanços de uma física contemporânea têm alguns pilares: Niels Bohr, Max Born, Werner Heisenberg, Max Planck e Albert Einstein. Impossível descuidarmos desses nomes. Resumo dos resumos, representam grande parte da inquietação do espírito científico e seus desdobramentos contemporâneos. Os avanços da ciência no início do século passado, em poucas décadas, transformaram radicalmente toda uma maneira newtoniana de pensar os fenômenos físicos. A teimosia estava a caminho e a cabeça de Einstein era de uma teimosia integral.
Biografias não têm faltado sobre a vida de Albert Einstein. Principalmente na era das biografias que estamos vivendo... Mas esta, Einstein, sua vida, seu universo (Companhia das Letras, 675 p.), de Walter Isaacson, merece algumas linhas, meu atento leitor. Principalmente pelo catatau (data venia, Paulo Leminski...) de cartas a que Isaacson teve acesso em 2006, liberadas por testamento após 20 anos de falecimento da enteada do renomado físico.
O biógrafo consegue percorrer os percursos, percalços, desvios e roteiros de uma mente (voltada à Teoria da relatividade) que dialogava com o acidentado viver biográfico (entenda-se, existencial), junto aos também acidentados anos 10, 20, 30 e 40 do século XX. Crise da vida Ocidental. Crise do pensamento científico tradicional. Era das incertezas. Era das indeterminações. Mas a obstinação permanecia; mais do que isso, fortalecia-se a cada tijolo da nova construção, uma nova arquitetura do universo.
Walter Isaacson é biógrafo de longa data. Jornalista renomado, ex-editor-chefe da revista Times e ex-diretor da CNN, o livro esteve na lista dos mais vendidos nos EUA. Com um escrita afetuosa (porque literária), ampla e profunda, Isaacson apresenta ao leitor um Einstein mais real, desapegado, ousado ao extremo, distante, irreverente, antidogmático, antinacionalista; enfim, desconstrói (e nisso sua biografia é original) um certo Einstein mais massificado. O biógrafo reconstitui o desenvolvimento de ideias, muitas vezes intuições, que Einstein assumia e pelas quais se debatia ferozmente, brigando com Deus e o mundo, se preciso fosse. “A imaginação é mais importante do que o conhecimento”, declarou ele certa vez. Sempre defendeu a individualidade na área de produção das novas ideias. Enfim, o pensamento autônomo, a liberdade para pensar aquilo que se está determinado a pensar.
É necessário saber muita Física para ler a biografia aqui comentada? Imagino ser essa a pergunta de meu inquieto leitor. Eu diria que não. Não é uma biografia sobre a Física, mas sobre um homem, físico de profissão e de espírito, que revolucionou o mundo. Eu acrescentaria que a inquietação é mais importante do que o conhecimento. Inquiete-se e comece a ler as primeiras páginas desse livro. Tempo e espaço, no mínimo, são relativos. E agora termino com um trecho do editorial do jornal New York Times de 1955, ano da morte do físico:
O homem posta-se neste planeta minúsculo, contempla as miríades de estrelas, os oceanos com suas grandes vagas, as árvores que balançam ao vento – e se pergunta: que significa tudo isso? Como surgiu tudo isso? E, de todos os curiosos que apareceram nos últimos três séculos, aquele que mais refletiu sobre tudo isso agora já se foi, na pessoa de Albert Einstein.
Inquiete-se, meu leitor. Elas brilham, as estrelas.
Ficha técnica do livro:
- Título: Einstein, sua vida, seu universo
- Autor: Walter Isaacson
- Gênero: Biografia
- Produção: Companhia das Letras
Publicado em 7 de abril de 2009
Publicado em 07 de abril de 2009
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