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Tecnologia em sala de aula: dificuldades, soluções, caminhos

Alexandre Rodrigues Alves

Conversei com César Bastos, Beth Bastos e Rosane Mello, três professores do curso de extensão em Informática Educativa da Fundação Cecierj, para conhecer suas experiências com alunos e de convivência com professores que estão interessados em utilizar recursos tecnológicos em sala – o que fazem para preparar suas aulas, que dificuldades encontram. Aproveitei para levantar algumas questões sobre a relação com os estudantes – já que estes estão mais predispostos a descobrir os encantos e recursos da tecnologia. Afinal, não adianta ficar só falando que o professor deve fazer isso ou aquilo; é bom saber o que ele tem feito e quais são suas dificuldades para levar os benefícios da tecnologia para a educação.

O primeiro obstáculo que César identifica é a falta de habilidade no uso dessas ferramentas – especialmente pelos professores mais velhos. Para ele, “a atitude de cada professor está relacionada à sua formação; poucos utilizam tecnologias que não aprenderam na graduação. Os cursos de licenciatura ainda reproduzem o que as gerações anteriores faziam”. Rosane exemplifica: “o professor tem em casa computador, DVDs, máquinas fotográficas digitais; mas não se lembra de usá-los como ferramenta didática”, e Beth complementa: “a maioria deles ainda não se mobilizou para buscar capacitação para o uso pedagógico desses recursos”. Com isso, só utilizam a tecnologia para tarefas como preparar provas, lançar notas, apresentar conteúdos. Para César, esse problema é mais nítido na educação pública, porque as escolas da rede privada já vêm optando por contratar aqueles docentes que dominam esses recursos.
           
Para Rosane, as ferramentas de tecnologia terão seu uso facilitado e disseminado se houver capacitação dos profissionais; ela acredita que elas se tornarão essenciais para o processo educativo, “pois seu uso estimula a aprendizagem”. Beth Bastos preferiu considerar o ponto de vista de hábito: pesquisas comprovam que os programas mais utilizados pelas pessoas de modo geral (e os professores em particular) são o editor de texto e o navegador da internet – e também são essenciais, porque reúnem a possibilidade de ter acesso a novas fontes de pesquisa e de provocar a interação de alunos e professores (o que exige o uso de algum tipo de editor de textos). César acredita que as tecnologias de ponta são as de utilização mais fácil, e exemplifica: “o nível de interatividade que a web 2.0 oferece é muito grande e motiva os alunos, mas é preciso que também os professores saibam utilizar esses recursos”.

Aliás, a experiência dos estudantes com a tecnologia pode contribuir para as aulas, visto que pedir apoio daquele aluno que domina esse conhecimento pode valorizá-lo, provocar a participação dele e dos demais estudantes no processo educativo; mas, para isso, é preciso que o professor conheça suas turmas e saiba quem pode dar uma colaboração mais efetiva nessas situações.

Beth destaca outro aspecto que pode ser aproveitado nos alunos dessa geração, que nasceu mergulhada em tecnologia: a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. “Eu pessoalmente faço isso há tempos, eu estudava ouvindo rádio. Acho que a diferença está no número de atividades simultâneas – eles falam no Messenger, respondem a e-mails, baixam músicas...” Para ela, o professor tem que reconhecer essa característica dos estudantes e saber aproveitá-la, propondo dinâmicas que não os obriguem a seguir um único caminho, por exemplo. César completa: “Não vamos mudar esses alunos; temos é que mudar os velhos métodos e usar vídeos, cinema e rádio em sala de aula. Não adianta querer que eles deixem de assistir à TV”.

A tecnologia está presente também nos momentos de pesquisa. Para Rosane, um elemento importante desse tipo de atividade é a orientação do trabalho. Beth acha que o que deve ser levado em consideração é a informação disponibilizada, e não o suporte – se é livro, CD-ROM ou internet. César lembra que a Fundação Cecierj oferece vários cursos para que os professores aprendam a contribuir para os processos de pesquisa dos alunos e desenvolvam objetos de aprendizagem que auxiliem os estudantes.

Já que estávamos falando em pesquisa, resolvi provocar: como fazer para evitar que os trabalhos sejam simples cópia de textos? Afinal, o processo de copia-e-cola é muito mais fácil no mundo digital. César foi enfático: “Primeiro devemos fazer com que os professores não copiem o que outras gerações já fizeram”, incluindo os temas e as fontes de pesquisa sugeridas. Beth e Rosane concordam quanto à solução: dar trabalhos com comandos mais específicos, objetivos claros e uma orientação mais próxima – de preferência com uma lista de fontes a serem consultadas e definição do produto que será confeccionado.

Um obstáculo bastante forte para o uso das tecnologias é o acesso. Nem todos os alunos têm computador; além disso, muitas vezes o acesso à internet é restringido pela velocidade ou pela disponibilidade de tempo (em casa, no trabalho ou na lan house). César considera que a melhor prática é oferecer ou indicar material de boa qualidade, atraente, de modo que o aluno não vá a essas lojas somente para jogar nem fique pesquisando em sites que divulgam informações de qualidade duvidosa. Rosane vê como solução o compartilhamento dos resultados, já que o acesso é quase individual. Para Beth, o fato de nem todas as escolas terem laboratórios de informática faz com que o professor não se aventure em utilizar computadores, porque, nesse caso, precisará propor atividades separadas para alunos que se encontram em diferentes condições.
           
Beth lembra, porém, que não basta haver distribuição de equipamentos e acesso à internet para os professores. É preciso que essas ações de democratização do acesso estejam integradas a outros programas de atualização e formação dos professores. César reforça: deve haver melhoria também nos salários e na infraestrutura de ensino, valorizando o profissional e sua atividade. Ele compara: “desde 2004 utilizo a lousa eletrônica em minhas aulas na rede privada; na rede pública, ainda estamos na idade da pedra: até hoje a escola pública onde trabalho me oferece como principal recurso o quadro de giz. Os professores da rede privada que, como eu, trabalham também em escolas públicas estão muito bem preparados para utilizar as novas tecnologias, mas ali infelizmente não têm acesso a elas”.

“É preciso reconhecer”, diz Beth, “que os governos vêm criando vários espaços de tecnologia”. Nesse momento, é fundamental o papel dos gestores escolares: “devem ser incentivadores, mobilizadores e definidores de políticas internas de uso da tecnologia”.

Ou seja, para incorporar à educação os benefícios da tecnologia, vai ter trabalho pra todo mundo: para professores, para diretores, para alunos e para as autoridades. Quem ganha? Todos os envolvidos, e especialmente a educação brasileira.

Publicado em 7 de abril de 2009

Publicado em 07 de abril de 2009

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