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Mitos inventados pelos alunos

Mariana Cruz

Como professora de Filosofia da rede estadual do Ensino Médio, tenho o costume de, nas primeiras aulas, falar um pouco sobre a Grécia pré-filosófica, cujo imaginário era povoado por deuses, semideuses, heróis e suas histórias. Essa breve incursão pelo mundo mitológico é geralmente bem recebida pelos alunos, muitos dos quais já conhecem diversos mitos. Grande parte de tal conhecimento, como vim a saber posteriormente, provém de desenhos animados que tratam do assunto – tais como Cavaleiros do zodíaco e Hércules.

Gasto duas ou três aulas com o tema. Divido a sala em pequenos grupos, entre os quais distribuo diversos mitos para serem lidos e posteriormente resumidos pelos alunos com-suas-próprias-palavras. Na aula seguinte, já íntimos da atmosfera mítica, é a vez de eles criarem – em dupla ou trio – um novo mito. Peço que usem bastante criatividade nesse trabalho. Podem criar uma história contemporânea, futurista ou passada na antiguidade... Não importa o tempo nem o lugar. Para evitar que fujam demais do assunto e me venham com histórias fantásticas muito distantes dos mitos, lembro-lhes que o mito é uma narrativa que fala sobre a origem, o nascimento de algo; pode ser um deus, um herói, um sentimento, um ser, o homem, o próprio mundo e o que mais quiserem. Curiosas histórias surgem daí.

Com a licença dos meus alunos, reproduzo aqui algumas delas:


Sonoro, o Deus da Música

Andréia Cristina e Beatriz Nogueira

Sonoro – o Deus da Música – perdeu seus pais em uma guerra. Desde muito pequeno via como uma distração o som que cada objeto produzia; juntando um som com outro foi formando ritmo. Desse ritmo surgiu a música.

Sonoro percebeu também que tinha uma linda voz. Resolveu então juntar sua voz com o som dos objetos, formando uma canção. Para compor suas músicas, ele tirava ideias de coisas bobas que ele via no seu dia-a-dia, e resolveu dar a esse ritmo o nome de Bossa Nova. Sua primeira música de sucesso foi Sentado na calçada. No dia de estreia de sua música, ele viu uma linda garota na plateia; mal sabia ele que se tratava de Poliana, a deusa da rima. Decidiu então ir falar com ela:

- E aí, linda! Qual é o seu nome?

- Meu nome é Poliana, venho da Bahia, por isso sou baiana. Já que perguntou meu nome, agora diga o seu, que ganha um beijo meu.

- Pô, meu nome é Sonoro. Vamos lá fora.

Depois disso começou um lindo romance. E do fruto desse amor nasceu Frank, o deus do funk. Frank era um menino muito rebelde e logo saiu de casa e foi morar na favela. Para lá ele levou esse ritmo que fala da realidade da vida de algumas pessoas; Frank virou MC e fez sucesso no mundo inteiro. Mas a briga com seus pais ainda incomodava ele. Resolveu pedir desculpas a eles. Então, chamou-os para uma conversa:

- Pô, pai! Estou arrependido de ter saído de casa daquele jeito. Queria que vocês me perdoassem.

- A porta de nossa casa sempre estará aberta para você. Além de tudo, estamos muito felizes, pois agora você é famoso.

- E com o perdão de vocês minha carreira vai decolar ainda mais.

Com o novo ritmo surgiram outros MCs, mas sempre respeitando Frank, o Deus que inventou esse ritmo que hoje contagia todo mundo. E assim, Sonoro, Poliana e Frank seguiram felizes com todo aquele brilho.


Torrone, o deus da beleza

Gabriela Gonçalves e Thetyane Rodrigues

Torrone era o jovem mais belo de todo o planeta. Sua pele era negra como a noite, seus olhos eram da cor do mais puro mel, seu corpo era um desenho feito de primeira, sem erro algum – músculos mais que torneados –, e sua voz era suave como uma onda. Era um jovem com um poder de sedução fatal.

Todas as moças o desejavam, mas a timidez do rapaz dificultava os romances. Até que um dia, enquanto Torrone se banhava no rio, uma bela moça lhe chamou atenção. Chamava-se Zulleyca; era morena cor de jambo, dona de um olhar penetrante, um corpo perfeito. Torrone a viu nadando no rio e, vencendo sua timidez, decidiu ir até ela para conhecê-la. Zulleyca, toda sorridente, se encantou pelo belo rapaz. Após uma curta conversa, Torrone a beijou. Nesse mesmo segundo nasceu um novo sentimento entre os dois: o amor incondicional.

Zulleyca era a Deusa das águas; sendo assim, não podia ficar muito tempo fora do rio. Torrone, inconformado pedia à Lua que o transformasse no deus dos mares. Seu pedido foi realizado. Agora, todas as tardes o rio e o mar se encontravam, selando o amor mais perfeito que existiu.


Deus Ecos

Bruna dos Santos e Raquel da Silva

Assim como nasceu o Amor, a Tristeza nasceu também. Era uma época de guerras, e a deusa Tristeza estava reinando entre os mortos e feridos. Porém, no meio desse caos, uma mulher se relaciona com um deus. Como dizem: os opostos se atraem! Do oposto da tristeza de toda aquela guerra, nasce a alegria em um ser imortal, trazendo assim toda a graça, harmonia e extravagância.

A guerra é pausada. O ser que nasce chama-se Ecos; ele é muito engraçado, faz trocadilhos e piadas sobre os soldados, eles riem e pedem para ele continuar, até que se dão conta de que se trata de uma história bem parecida com vida deles, e cai e ficha: a guerra é uma bobagem! Além disso, o motivo da guerra era quem era o mais bonito.

Deus Ecos, o Deus da extravagância diz:

- Quem é o mais bonito? Você aí parece um leão com essa juba dourada, você nasceu de quem? Não conheço ninguém da sua espécie! Hahaha, ri Ecos.

Todos riem juntos. E percebem que não há ninguém que seja “o mais bonito”.

- Tinha que ocorrer a guerra para ver quem era o mais feio!, diz Ecos, em alto e bom som.

Assim nascem as piadas, os palhaços, as brincadeiras e tudo mais que tiver a ver com alegria, riso e diversão.


Shade, o cordeiro do Abismo

Cley Oliveira de Vaz e Octávio Cesar

Apolo, o deus do Sol, tinha um romance secreto com Afrodite, a deusa da beleza. Eles se encontravam nos campos Elision e namoravam por dias. Desse romance nasceu Shade.

O menino foi criado no templo de Hades, em uma caverna secreta. Aos cinco anos, o pequeno Shade já dava demonstrações de ser um ser especial: havia herdado o poder de seus pais.

Quando Shade completou quinze anos, Hades, o deus do submundo, viu que ele seria um grande guerreiro, então começou a treiná-lo, em segredo, e lhe ensinou a arte das trevas.

Depois de cinco anos de treinamento, Hades havia corrompido Shade completamente para o lado obscuro; sendo assim, ele se tornou um guerreiro impiedoso e de vastos poderes. Quando Hades tentou controlá-lo por completo, Shade se mostrou mais forte e aprisionou Hades no mundo dos mortos.

Shade usou seus poderes e foi para o mundo dos humanos, saindo do fundo de um abismo nos confins da escuridão. Quando lá chegou, os deuses logo perceberam o grande poder que ele tinha e, com medo de que ele ainda tivesse algo de obscuro na mente, decidiram nomeá-lo deus do abismo.

Mas não tinham o que temer: Shade havia se afeiçoado aos mortais e se tornou um defensor da Terra.


Alegrae

Anthony Adriano de Oliveira e Ana Carla Faria Lopa

O mundo de Glingo era dominado por dois deuses de supremos poderes. Naquele mundo o sentimento era a lei principal. Assim, o deus maior Fraternit nomeou seus filhos: Amorea e Felicit. A cada dia o reino se tornava mais entediante para esses deuses, nada daquilo que o pai supremo, Fraternit, colocava no mundo os satisfazia.

Algo faltava, dizia sempre o rei Felicit, pois tudo o que eles achavam para fazer era inútil e não havia nada no coração. Até que um dia Amorea teve uma grande ideia: o deus do amor convidou seu irmão para experimentar um sentimento novo. As grandes divindades e seres fantásticos acharam aquilo um absurdo, pois um novo sentimento seria impossível de existir. Afinal, o deus supremo Fraternit já havia criado todos os sentimentos necessários.

Eles, mesmo assim, insistiram na criação. E quando o Sol se pôs e a esposa do mar subiu ao templo sagrado, eles se uniram. E com uma grande luz do templo, surgiu uma deusa criança chamada Alegrae.

No instante em que Alegrae chegou ao mundo, estrelas coloridas penetraram nos corações das grandes divindades e dos seres fantásticos. Ali nascia o sentimento de alegria.

Quando o Sol nasceu novamente no templo sagrado, todo mundo se sentia renovado, com aquele sentimento maravilhoso que fazia com que o amor e a felicidade se tornassem uma só coisa. Ali se fez o melhor sentimento e tudo melhorou, pois agora existia Alegrae.

Publicado em 28 de abril de 2009

Publicado em 28 de abril de 2009

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