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Por que um professor deve dominar uma língua estrangeira?

Juliana Carvalho

Professora e redatora

Quem não sabe línguas estrangeiras não sabe nada de si próprio.

Goethe

Aprender uma língua estrangeira no mundo globalizado em que vivemos é uma necessidade básica para profissionais que atuam nas mais diversas áreas. Seja pelo exercício intelectual, pela ampliação cultural ou pela necessidade de comunicação, só existem benefícios para quem se aventura a aprender idiomas. Quem ainda não aprendeu inglês, por exemplo, sonha em ver os filmes de Hollywood sem precisar de legendas. E quanto às piadas que só os norte-americanos entendem? Para entender o humor norte-americano ou o inglês, por exemplo, é preciso aprender sobre sua sociedade, costumes e hábitos. Aprendendo um idioma, fazemos uma imersão na cultura de outros povos e aprendemos a pensar como eles. Qual pessoa não gostaria de ler gênios como Cervantes, Shakespeare, Proust ou Goethe exatamente como foram escritos? Ou de entender músicas lindas, que emocionam, sem ter que recorrer à letra traduzida?

O acesso à informação e aos diversos meios de comunicação multiplica-se incontavelmente. A pessoa que domina outra língua começa a entender o que se passa no resto do mundo, incluindo o que é falado sobre seu próprio país, sua própria sociedade e sua própria cultura. Da mesma forma que se torna também habilitada a falar sobre si mesma para um número maior de pessoas.

Aprender idiomas é um requisito fundamental para inúmeras pessoas de qualquer profissão no mundo de hoje; para nós, professores, isso se torna ainda mais importante, pois estamos sempre aprendendo. De qual outra profissão ouvimos falar em formação continuada? Em meu cotidiano, geralmente encontro professores com várias especializações. Dependendo da área, são todas muito necessárias para o trabalho em sala de aula e não foram feitas apenas para realização pessoal. Um deles, professor de história com quatro especializações, contou que havia precisado ler textos em outros idiomas em todas elas. Eu mesma, que fiz especialização em Língua portuguesa, precisei ler textos em espanhol no curso.

Se para cursar uma especialização, que geralmente não pede uma língua estrangeira como requisito, nós nos deparamos com essas situações, para cursar mestrado e doutorado, elas são fundamentais. É vasta a bibliografia ainda não traduzida para o português em todas as áreas, e esperar que sejam traduzidas limita o acesso a estudos e teorias novos, que auxiliam não só na aquisição de novos conteúdos, mas também na prática docente. Além do acesso a textos originais na língua estrangeira, o outro idioma permite a comunicação com pesquisadores de outros países, a realização de cursos (inclusive à distância) ou a participação em congressos no exterior e o acesso a redes de informação mundiais.

Em matéria divulgada na imprensa recentemente, ouvi que o maior impedimento à realização de cursos no exterior é o desconhecimento de outros idiomas. Ao contrário dos países europeus, onde as crianças já começam a aprender outras línguas aos cinco anos de idade, aqui no Brasil não temos essa facilidade – exceto uma ou outra escola particular. E isso se reflete em nosso aperfeiçoamento profissional para o resto da vida. Ou até que nos dediquemos realmente a aprender outra língua.

Para mim, professora de português, estudar latim e espanhol foi fundamental para entender minha própria língua. Quantas vezes, preparando aulas de literatura, eu me deparei com palavras antigas, não mais utilizadas nos dias de hoje, e minha memória recorreu ao vocabulário em espanhol para compreendê-las? Sem contar que várias palavras na língua portuguesa são emprestadas de outras línguas e “aportuguesadas”. Para compreender os avanços da linguística, parte científica e fundamental do curso de Letras, precisamos ler textos em inglês e francês. Esperar pelas traduções me dá a sensação de não estar progredindo no ritmo dos profissionais de outros países, por exemplo.

Pensar em outra língua pode auxiliar também no domínio da língua portuguesa. Na medida em que internalizamos estruturas semânticas, morfológicas e sintáticas em outra língua, nós as comparamos com as estruturas existentes na nossa, e assim entendemos melhor como funcionam; e compreender uma estrutura serve como base para compreender outra mais complexa, e assim vamos aprimorando nossos conhecimentos.

Ao aprender uma língua estrangeira, além de exercitar nossas faculdades mentais, adquirimos maior flexibilidade cognitiva, desenvolvemos o pensamento crítico e apuramos nossa consciência linguística. Pessoas monolíngues demonstram forte dependência em relação à sua língua materna para estruturar seu pensamento, ao passo que os bilíngües são mais versáteis mentalmente, pois aprendem a pensar com outras estruturas. Essa versatilidade linguística vem acompanhada de uma versatilidade cultural, o que também facilita a identificação com a cultura do outro país.

Outro aspecto não menos interessante é o aumento da percepção auditiva. Quando falamos apenas uma língua, nosso aparelho articulatório de sons (cordas vocais, língua, cavidade bucal...) torna-se limitado, pois obedece ao universo linguístico criado pela nossa mente. Aprendendo outra língua, aprendemos a ouvir mais detalhadamente, a perceber diferenças mínimas entre os fonemas. Isso afeta não só a percepção, mas também a articulação de sons, pois esta depende diretamente do aparelho auditivo. Portanto, nós e nossos alunos podemos aprender a ouvir e falar melhor aprendendo línguas estrangeiras.

Além de ser essencial para a vida profissional, falar outras línguas é importante para a realização pessoal. É uma conquista, um desafio a ser superado. No mundo globalizado de hoje, estamos constantemente em contato com outras culturas; esse contato nos faz relacionar, associar e contrastar essas informações com nossa própria cultura. Fazemos isso o tempo todo, seja ouvindo nossos alunos falarem sobre jogos e desenhos animados cheios de referências ao inglês e ao japonês ou assistindo ao noticiário que mostra fatos sobre todo o mundo. Esse contato nos faz querer conhecer outras culturas para aproveitar e entender melhor as informações que recebemos.

Com a internet, há muitas formas de aprender um idioma sem gastar nada. Existem cursos on-line, fóruns, chats em idiomas estrangeiros e até comunidades (nos moldes do Orkut) para aprender idiomas com colaboração dos próprios nativos. Algumas universidades também oferecem cursos de idiomas ministrados por seus próprios alunos a preços muito baixos.

No final deste texto relacionei alguns sites que disponibilizam cursos de idiomas gratuitos; eles permitem que você escolha como começar o aprendizado.

Aprender uma língua estrangeira abre um leque de opções para todos aqueles que pretendem entender melhor o contexto que os cerca. Para conhecer melhor outras culturas e a nossa própria, é preciso vencer esse desafio. Quem se anima?

Dicas

  • Livemocha – Comunidade virtual para o aprendizado de vários idiomas
  • UOL educação – Curso de inglês oferecido pela estatal britânica BBC:
  • LangoLab – Nesse site é possível aprender idiomas com clipes de música.

Publicado em 26 de maio de 2009

Publicado em 26 de maio de 2009

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