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Questões em aberto: uma discussão filosófica da pedagogia atual

Luiz Canelhas Jr.

Professor, pós-graduado em Docência do Ensino Fundamental e Médio

Este texto procura apresentar uma visão – simples a meu ver – de como nós, professores, poderíamos trabalhar, caso as instituições públicas realmente desejassem ver as leis sendo cumpridas. Então coletemos boas ideias. Aí vão elas:

Educação é muito mais do que transmitir conhecimento e habilidades por meio dos quais se atingem objetivos limitados. É também abrir os olhos das crianças para as necessidades e direitos dos outros. Precisamos mostrar às crianças que suas ações têm uma dimensão universal. E precisamos encontrar uma forma de estimular seus sentimentos naturais de empatia, para que venham a ter uma noção de responsabilidade afetiva em relação aos outros. Pois é isso que nos motiva a agir. Se tivéssemos de escolher entre conhecimento e virtude, a última seria sem dúvida a melhor escolha, pois é mais valiosa. O bom coração que é fruto da virtude é, por si só, um grande benefício para a humanidade. O mero conhecimento, não.
Dalai-Lama, em O caminho da tranquilidade

Tendo isso em mente, podemos apreciar o que o próximo “pensador” coloca como uma visão do futuro.

O planejamento de minha escola ideal do futuro baseia-se em duas suposições. A primeira delas é a de que nem todas as pessoas os mesmos interesses e habilidades; nem todos aprendem da mesma maneira. (E agora nós temos os instrumentos para começar a tratar dessas diferenças individuais na escola.) A segunda suposição é uma que nos faz mal: é a suposição de que, atualmente, ninguém pode aprender tudo o que há para ser aprendido.
Todos nós gostaríamos, como os homens e mulheres da Renascença, de saber tudo ou pelo menos de acreditar no potencial de saber tudo, mas esse ideal claramente já não é mais possível. Consequentemente, a escolha é inevitável, e uma das coisas que gostaria de defender é que as escolhas que fazemos para nós mesmos e para as pessoas que estão sob nossa responsabilidade deveriam pelo menos ser escolhas informadas.
Uma escola centrada no indivíduo seria rica na avaliação das capacidades e tendências individuais. Ela procuraria adequar os indivíduos não apenas a áreas curriculares, mas também a maneiras de ensinar esses assuntos.
E depois dos primeiros anos, a escola também procuraria adequar os indivíduos aos vários tipos de vida e de opções de trabalho existentes em sua cultura.
Eu gostaria de propor um novo conjunto de papéis para os educadores que poderia transformar essa visão em realidade. Em primeiro lugar, nós poderíamos ter o que chamarei de “especialistas em avaliação”. A tarefa dessas pessoas seria tentar compreender, tão sensível e completamente quanto possível, as capacidades e interesses dos alunos de uma escola. Entretanto, seria muito importante que os especialistas em avaliação utilizassem instrumentos “justos para com a inteligência”. Queremos ser capazes de observar, específica e claramente, capacidades espaciais, capacidades pessoais e assim por diante, e não através das lentes das inteligências linguística e lógico-matemática. Até o momento, quase toda avaliação dependia indiretamente da medida dessas capacidades; se os alunos não são bons nessas áreas, suas capacidades em outras áreas podem ficar obscurecidas. Quando começarmos a tentar avaliar outros tipos de inteligência diretamente, estou certo de que determinados alunos revelarão forças em áreas bastante diferentes, e a noção de inteligência geral irá desaparecer ou atenuar-se imensamente.
Além do especialista em avaliação, a escola do futuro poderia ter o “agente do currículo para o aluno”. Sua tarefa seria ajudar a combinar os perfis, objetivos e interesses dos alunos a determinados currículos e determinados estilos de aprendizagem. Incidentalmente, penso que as novas tecnologias interativas são consideravelmente promissoras nessa área: no futuro, provavelmente será muito mais fácil para esses “agentes” combinar cada aluno com o modo de aprendizagem mais confortável para ele.
Eu penso que também deveria haver um “agente da escola-comunidade”, que adequaria os alunos a oportunidades de aprendizagem na comunidade mais ampla. A tarefa dessa pessoa seria encontrar situações na comunidade, determinadas opções não disponíveis na escola, para as crianças que apresentam perfis cognitivos incomuns. Eu tenho em mente aprendizados, atividades acompanhadas por um mentor e estágios supervisionados em organizações, “irmãos mais velhos”, “irmãs mais velhas” – indivíduos e organizações com os quais esses alunos poderiam trabalhar para assegurar uma sensibilidade em relação a diferentes tipos de papéis profissionais e de passatempos na sociedade. Não me preocupo com aquelas ocasionais crianças que são boas em tudo. Elas vão se sair muito bem. Eu me preocupo com aquelas que não brilham nos testes padronizados e que, consequentemente, tendem a ser consideradas como não tendo nenhum tipo de talento. Parece-me que o agente da escola-comunidade poderia identificar essas crianças e encontrar colocações na comunidade que lhes dariam uma chance de brilhar.
Existe um espaço imenso nessa visão para os professores, igualmente, e também para os professores-mestres. Em minha opinião, os professores seriam liberados para fazer aquilo que devem fazer, que é ensinar o assunto da sua matéria, em seu estilo de ensino preferido. A tarefa do professor-mestre seria bastante exigente. Envolveria, antes de tudo, supervisionar e orientar os professores inexperientes; mas o professor-mestre também procuraria assegurar que a complexa equação aluno + avaliação + currículo + comunidade estivesse adequadamente equilibrada. Se a equação estivesse seriamente desequilibrada, os professores-mestres interfeririam e sugeririam maneiras de melhorar as coisas.
Certamente, o que estou descrevendo é uma tarefa difícil; poderia inclusive ser chamado de utópico. E existe um grande risco nesse programa, do qual estou bem consciente. É o risco da destinação prematura – de dizer: “Bem, Jonny está com quatro anos de idade, ele parece ser musical, então vamos mandá-lo para Juilliard e suspender todas as outras coisas”. Entretanto, nada existe de inerente nesta abordagem descrita por mim que exija essa supradeterminação precoce – muito pelo contrário. Parece-me que a identificação precoce das forças pode ser muito útil para indicar os tipos de experiências das quais as crianças poderiam se beneficiar; mas a identificação precoce das fraquezas pode ser igualmente importante. Se uma fraqueza é identificada precocemente, existe a chance de cuidarmos disso antes que seja tarde demais e de planejarmos maneiras alternativas de ensino ou de compensarmos uma área importante de capacidade.
Nós agora temos os recursos tecnológicos e humanos para implementar essa escola centrada no indivíduo. Consegui-la é uma questão de vontade, incluindo a vontade de resistir às enormes pressões atuais para a uniformidade e para as avaliações unidimensionais. Existem fortes pressões atualmente, sobre as quais você pode ler todos os dias nos jornais, para comparar os alunos, para comparar os professores, até mesmo países inteiros, utilizando uma dimensão ou critério, uma espécie de avaliação de QI-universal. Evidentemente, tudo que eu descrevi hoje se opõe diretamente a essa determinada visão de mundo. Na verdade, a minha intenção é esta – acusar formalmente esse pensamento de via única.
Eu acredito que temos três preconceitos em nossa sociedade, que apelidei de Ocidentalista, Testista e Melhorista. O Ocidentalista significa colocar certos valores culturais ocidentais, que remontam a Sócrates, num pedestal. O pensamento lógico, por exemplo, é importante; a racionalidade é importante; mas eles não constituem as únicas virtudes. O Testista sugere um preconceito no sentido de focar aquelas capacidades ou abordagens humanas que são prontamente testáveis. Se ela não pode ser testada, às vezes parece, não vale a pena prestar atenção a ela. Meu sentimento é de que a avaliação pode ser muito mais ampla, muito mais humana do que é atualmente, é de que os psicólogos deveriam passar menos tempo classificando as pessoas e mais tempo tentando ajudá-las.
O Melhorista é uma referência não muito velada ao livro de David Halbertam, intitulado The best and the brightest. Halbertam referiu-se ironicamente a algumas figuras, como membros da Universidade de Harvard, que foram trazidos a Washington para ajudar o presidente John F. Kennedy e, no processo, lançaram a guerra do Vietnã. Em minha opinião, qualquer crença de que todas as respostas para um dado problema estão numa determinada abordagem, como o pensamento lógico-matemático, pode ser muito perigosa. As atuais visões do intelecto precisam ser impregnadas com outros pontos de vista mais abrangentes.
É da máxima importância reconhecer e estimular todas as variadas inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Nós todos somos tão diferentes em grande parte porque possuímos diferentes combinações de inteligências. Se reconhecermos isso, penso que teremos pelo menos uma chance melhor de lidar adequadamente com os muitos problemas que enfrentamos neste mundo. Se pudermos mobilizar o espectro das capacidades humanas, as pessoas não apenas se sentirão melhores em relação a si mesmas e mais competentes; é possível, inclusive, que elas também se sintam mais comprometidas e mais capazes de reunir-se ao restante da comunidade mundial para trabalhar pelo bem comum. Se pudermos mobilizar toda a gama das inteligências humanas a aliá-las a um sentido ético, talvez possamos ajudar a aumentar a probabilidade da nossa sobrevivência neste planeta e talvez inclusive contribuir para a nossa prosperidade (Howard Gardner, em Inteligências múltiplas – a teoria na prática

Também podemos apreciar filosoficamente o que temos visto nestes milênios em nosso planeta. Vejamos com olhar crítico o texto:

Se tivessem contado com um príncipe planetário honesto e com uns Filhos Materiais firmes, as raças humanas do teu mundo, como todas as do espaço e do tempo, teriam conhecido os seguintes estágios:
A Era da Nutrição: nessas épocas, as criaturas pré-humanas e as raças iniciais de um planeta vivem principalmente para a sua alimentação e sobrevivência física. A busca de comida é o seu horizonte único e básico.
A Era da Segurança: tão logo os caçadores primitivos disponham de alimentação abundante, todo o seu tempo se destinará a reforçar sua segurança e a do seu clã. Nascem assim novas técnicas guerreiras e de construção de vivendas.
A Era da Comodidade e dos Prazeres: depois de ter resolvido seus problemas de alimentação e segurança, os homens caem no luxo e na esfera dos prazeres. São épocas que se caracterizam pela tirania em todos os níveis, pela intolerância, gula, embriaguez e o que hoje chamais ‘consumismo desenfreado’.
A Era da Busca da Sabedoria e do Conhecimento: a alimentação, a segurança, o prazer e o ócio são as bases que permitem o desenvolvimento da cultura e da inteligência. O esforço para pôr em prática os conhecimentos desemboca na sabedoria. A obsessão pelo bem-estar material domina ainda essa civilização, mas muitos dos seus indivíduos visam já outro horizonte: o do conhecimento. Em geral, a educação e a cultura é o grande triunfo dessa era.
A Era da Filosofia e da Fraternidade: quando os mortais aprendem a pensar por si mesmos e a tirar proveito da experiência, surge a Filosofia. A sociedade então se faz ética e seus homens, morais. E somente esses seres sábios e realmente morais estão capacitados para estabelecer uma autêntica irmandade humana.
A Era do Esforço Espiritual: quando os mortais evoluem e passam pelos estágios de desenvolvimento físico, intelectual e social, cedo ou tarde alcançam os níveis de clarividência que os leva, irremissivelmente, à busca de satisfações espirituais e à compreensão das verdades cósmicas. As religiões conseguem elevar-se acima das motivações do medo e da superstição, até a verdadeira sabedoria da experiência pessoal. Os humanos desta era conhecem, por vez primeira, a plenitude da palavra Deus.
A Era da Luz e da Vida: é o florescimento das idades sucessivas da segurança física, da expansão intelectual e espiritual. Os desejos e objetivos humanos se fundem, então, com os de outros seres celestes. É a época final, época em que não existem fronteiras. O intercâmbio com outras civilizações é total. Nesses tempos, os príncipes planetários dos mundos "ancorados na luz" ascendem à posição de soberanos planetários.
Não era preciso ser muito sagaz para deduzir que a Terra não superara ainda a terceira dessas eras: a da Segurança. E mais: em algumas regiões do globo, os humanos se debatem ainda na primeira e na segunda. E, embora não seja menos certo que no planeta se "pressinta" uma mudança – um "salto" talvez para essa outra Era da Busca do Conhecimento –, a verdade é que o caminho a percorrer é ainda imenso.
J. J. Benitez, A rebelião de Lúcifer

Outro pensador:

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social; sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social.
Vygotsky

Como podemos pensar em instituir “saberes” voltados para a construção de uma prática pedagógica com o dito “material humano”? Será que Howard Gardner é apenas um gerador de pensamentos utópicos? Realmente desejamos a “sabedoria”? Podemos pensar em resolver nossos problemas sem pensar em modificar nossas práticas, sem cobrar responsabilidades daqueles que detêm o poder de solucionar as questões? Será que as esferas governamentais não estão deixando muito a desejar, colocando múltiplas funções nas mãos de um único ator – o professor –, prejudicando assim o processo de ensino-aprendizagem, e consequentemente fazendo-o passar por incompetente? Será que devemos apenas nos tratar com os médicos de clínica geral, deixando de lado todos aqueles médicos que detêm conhecimento mais especifico, entregando as cirurgias de qualquer escopo a um que só conhece as generalidades? Será que os senhores realmente agiriam assim quando suas vidas estivessem em risco?

Poderia ficar horas aqui escrevendo sobre as indagações que me acossam no dia-a-dia em sala de aula... Pensem na família, no convívio social, na segurança pública, no entretenimento oferecido aos nossos jovens... Pensem em quantas questões poderíamos suscitar durante o processo! A Lei é clara... Que se cumpra.

Bases legais

Analisando a Constituição Federal de 1988, a Constituição Estadual do Rio de Janeiro (provavelmente a de outros estados têm artigos semelhantes) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e outros documentos relativos à educação no Brasil, fica claro que não é nenhum problema utópico que impede a formação adequada de nossos discentes. Se o poder público cumprir a Lei em sua totalidade todos os projetos éticos e filosóficos, essa formação será perfeitamente exequível. As pessoas para cumprir as várias funções descritas por Howard Gardner já estão previstas em Lei; basta realmente tornar efetiva essa realidade. Como sempre, estaremos encarando a tal “vontade política”, enfrentando o infortúnio dos gestores que querem “mostrar serviço” visando o prestígio pessoal ou simplesmente se mantendo em funções de maior remuneração visando ganho pessoal, isto à custa do bem-estar social.

Como ocorreu uma vez com a nossa heroína nos quadrinhos do grande Henfil, a Graúna, ao interpelar as “almas do outro mundo”: “Escuta aqui, almas do outro mundo, observem só minha cara de indignação” (após várias tentativas de esboçar a expressão facial correta). “Como é que é se indignar mesmo, gente? Alguém lembra?” (com um olhar constrangido desabafa) “Eta nós, hein?”.

Então vamos pensar em fornecer recursos àqueles que querem caminhar pelas próprias pernas – aprender a aprender. A questão é: como estudar? Se meus alunos, após nossos enfrentamentos, tiverem condições de não mais necessitar de minha assistência, já estarei dando por realizada minhas competências. Podemos desejar mais, dentro de nossa realidade? Eu acredito que não!

Seguem duas visões, compiladas, de como o aluno pode realizar a “sua parte” nessa etapa do caminho, a partir de sites na Internet.

Como estudar

Como estudar? Como proceder de modo a reter o conteúdo estudado? Que fazer quando, após várias horas de estudo, tem-se a sensação de que nada foi aprendido? Essas são questões que povoam a mente do estudante e que sempre o preocupam. Embora não exista um processo único e definitivo que dê bons resultados para todos, alguns procedimentos e fatores são, sem dúvida, benéficos. Este trabalho apresenta alguns deles.

Interesse:

A primeira condição para um bom aprendizado é interesse. Não duvide: aprendizado sem um mínimo de interesse não existe! Torna-se esforço cansativo e inútil.

O meio ambiente:

O local onde se estuda é importante. Algumas condições desejáveis para o local e quanto à postura do estudante são:

  1. Procure um local tranqüilo e isolado, livre de ruídos e de trânsito de pessoas. Essas condições vão favorecer sua concentração.
  2. Evite estudar com rádio ou outros aparelhos de música ligados. A atenção tende a se fixar naquilo que é mais interessante, mais light.
  3. Combine com seus amigos os horários para o papinho ao telefone. Evite estudar perto do telefone e desligue seu celular enquanto estuda. Nada é mais exigente e autoritário que o som de uma chamada telefônica!
  4. Evite estudar deitado. O sono vem e o trabalho se perde.
  5. Mantenha na mesa de estudos todo o material a ser usado, mas somente o necessário para aquele período.

O período de estudo:

  1. Elabore um horário e siga-o. Ao elaborar o horário, dê preferência às matérias cujas aulas foram ou serão dadas naquele dia. Monte um horário de estudo semanal, colocando primeiro todos os blocos de atividade fixa que você tenha (horários de trabalho, por exemplo). Adapte-o às suas necessidades e preferências.
  2. Estude por um período de no máximo uma hora e meia, com intervalos de 10 a 15 minutos.

O método:

  1. Comece por uma leitura geral de todo o assunto a ser estudado. vá direto até o fim; não se detenha em detalhes. Nessa fase você está "esquentando o motor".
  2. É evidente que a matéria a ser estudada não pode ser demasiadamente longa.
  3. Volte a ler o material, desta vez separando as ideias principais de cada parágrafo. Sublinhe os trechos mais importantes. procure o significado de cada termo ou de cada palavra desconhecida.
  4. Faça um resumo escrito do conteúdo, usando frases curtas e objetivas.
  5. Procure relacionar o conhecimento novo ao já adquirido anteriormente.
  6. Faça a si próprio a pergunta: "que significa isso?" Se houver dúvida, volte a estudar, esclarecendo conceitos que ainda lhe parecem obscuros.
  7. Terminada essa fase, passe à resolução de questões envolvendo o conteúdo estudado. Caso não consiga resolver algum, pode ser porque alguns aspectos do conteúdo não ficaram claros ou porque não estão totalmente compreendidos. Volte e faça uma revisão.
  8. Lembre-se: bons resultados podem ser conseguidos com uma pequena dose de inspiração, mas apenas 10%; os outros 90% são de transpiração, trabalho e, sobretudo, perseverança.

Onde está dizendo que é possível estudar sem esforço?

Universidade Federal da Paraíba – Departamento de Física (PET – Programa de Educação Tutorial)

Autores: Bruno C. B. N. de Souza (bolsista), Geraldo F. de Santana Jr. (bolsista), Marcelo Vieira (agregado), Nadílson Rocha (bolsista), Pedro L. Christiano (tutor) e Thadeu O. Formiga (bolsista).

Introdução

Toda atividade humana, para ser bem realizada, requer a utilização de técnicas adequadas. Até mesmo o ato de apertar um parafuso pode ser fácil ou difícil, dependendo da utilização (ou não) das técnicas e ferramentas adequadas. Estudar, assim como qualquer outra atividade humana, para ser eficiente, requer a utilização de técnicas adequadas. É através da utilização dessas técnicas que se pode maximizar a eficiência na aprendizagem, reduzindo-se ao mesmo tempo o esforço para consegui-la. Este material tem o objetivo de apresentar técnicas que vão lhe permitir aumentar sua capacidade de aprendizagem reduzindo o esforço despendido nesse processo. Para que esse procedimento funcione, é recomendável que adote a seguinte atitude:

Aceite: Acredite que o sistema funciona e se esforce para dominar as técnicas.

Adote: Adote as técnicas e passe a utilizá-las sempre que for estudar.

Adapte: À medida que for utilizando essas técnicas, você vai perceber que algumas modificações podem fazer com que elas fiquem mais ajustadas ao seu temperamento. Não hesite em fazer e testar essas modificações.

Com o intuito de atingir os objetivos acima mencionados, este material foi dividido da seguinte forma: na segunda seção apresentamos um procedimento que vai lhe permitir tomar notas em sala de aula de forma mais eficiente, ao mesmo tempo que permite revisar essas notas de forma sistemática, rápida e eficiente. Na terceira seção é apresentada uma técnica para determinar de forma muito rápida de que assunto trata um determinado texto. Recomendamos que você a utilize para dar uma olhadinha no livro-texto antes da aula. Você verá que, mesmo sem ter lido o assunto completamente, seu rendimento vai melhorar. A partir da quarta seção é que vamos nos dedicar à técnica de estudo propriamente dita. Começaremos por apresentar, nessa seção, algumas dicas de como você pode melhorar a sua concentração e, consequentemente, seu desempenho quando vai estudar. Finalmente, na quinta seção, apresentamos a técnica de leitura (estudo) conhecida como SQ3R, que, esperamos, vai fazer com que seu rendimento ao estudar melhore significativamente.

Como tomar notas em sala de aula?

O ato de tomar notas de aula, além de economizar tempo na aprendizagem, é a maneira mais eficiente de reter informações obtidas em sala de aula. Siga os seguintes passos para que suas notas de aula atinjam esses objetivos:

Use um caderno de notas com folhas largas, de preferência espiral ou do tipo fichário, de modo que as folhas possam ser ''viradas'' com facilidade. Não deve ser muito grosso para não dificultar a escrita, mas deve ser grosso o suficiente para conter todo o material da disciplina. Trace uma linha vertical criando uma coluna com pelo menos 4cm de largura. Essa coluna pode ser criada do lado esquerdo ou direito das páginas e será usada para fazer destaques (escrever palavras-chave, por exemplo), dúvidas e observações. As anotações feitas pelo professor no quadro devem constar na outra parte da folha.

As anotações devem ser limpas, sem rasuras e detalhadas, a fim de facilitar seu entendimento após a aula (ver item 3); podem conter abreviações, sinais que só você entende, desde que você tenha certeza de que vai entendê-los depois. Use letras maiúsculas, cores e marca-textos para destacar os pontos/conceitos importantes.

Escreva de forma legível.

Não anote apenas o que está escrito no quadro; anote também pontos importantes que o professor fala. Não tente anotar tudo que o professor diz. Anote o que é importante, da forma como você entendeu; faça distinção entre meros detalhes e pontos-chave (idéias gerais); faça suas anotações na forma de parágrafos; pule linhas para destacar o final de ideias ou argumentos.

As notas de aula não são resumos, mas anotações com as informações mais relevantes. Estas não substituem o raciocínio, apenas facilitam a rememorização. As notas de aula não devem ter como objetivo substituir o livro-texto.

Depois da aula, releia as notas e torne-as legíveis, se for o caso (utilizando as memórias auditiva, visual e mecânica); marque os pontos importantes na coluna que você criou. Escreva nela se uma dada frase se trata de uma definição, por exemplo. Identifique as partes que contêm demonstrações (escreva demonstração no espaço ao lado). Faça o equivalente com as conclusões.

Após a aula, faça resumo; para isso, procure uma fonte mais extensa (como o livro-texto, se houver); releia essa coluna e reflita sobre o que você anotou; cubra o lado da página com suas anotações e tente repetir as ideias e conceitos mais importantes da aula. Para a aula seguinte, anote a lápis na coluna que você criou as suas dúvidas, a fim de consultar o professor; não deixe suas dúvidas acumularem.

Skimming: como dar uma olhadinha rápida em um texto científico?

A compreensão de um texto cientifico deve ocorrer de maneira fácil e no menor tempo possível. O skimming é uma técnica preciosa que auxilia na compreensão do texto. O skimming objetiva ter uma visão panorâmica do assunto, descobrir o objetivo do autor ao escrevê-lo.

Como fazer um skimming?

Leia o título, o primeiro e o último parágrafos. Pense neles e tente descobrir o que significam. Preste atenção às palavras-chave (em geral elas estão escritas em maiúscula, negrito, sublinhado, itálico); essas palavras devem ser compreendidas, anotadas e memorizadas. O que elas têm a ver com o título? Preste a atenção em fotos, figuras e gráficos, caso apareçam. Os gráficos muitas vezes trazem mais informações e mais claras do que equações. Leia as legendas. O que elas têm a ver com o restante? Se você já tem uma ideia do assunto de que trata o texto, seu skimming está concluído.

Como melhorar sua concentração ao estudar

Você deve reservar alguns lugares para estudar (salas de aulas vazias, seu quarto, bibliotecas, etc.). Este ambiente de estudo não deve ser utilizado para outras tarefas (bate-papo, escrever cartas, pensar na vida, etc.).

Seu ambiente de estudo tem que ter: boa iluminação, ventilação, uma cadeira confortável, contudo não tão confortável – um conforto exagerado pode levar à sonolência; uma mesa (escrivaninha) grande o suficiente para colocar todo os materiais (livros, caderno, artigo, lápis, caneta, etc.) sem lhe causar incômodo.

Seu ambiente de estudo não deve ter telefone, televisão e/ou aparelho de som ligado, um companheiro ou um amigo com conversas paralelas, geladeira cheia de comida. Sempre que for estudar, não estude várias horas seguidas. Divida seus estudos em pequenos objetivos (etapas). Esses objetivos devem ser traçados antes do inicio da leitura, tendo sempre a certeza de que irão ser cumpridos. Se você achar conveniente, você pode até programar uma recompensa para si próprio se o objetivo for atingido. Algo como um lanche, um breve papo com os amigos, um telefonema para a namorada ou alguma coisa assim. É sempre bom ter em mente que a recompensa deve ser proporcional ao tamanho da conquista.

O método SQ3R

Introdução

Como você lê um texto científico? Você lê da primeira linha até o final sem interrupções, como se lesse um romance ou uma história em quadrinhos? Se você faz isso num texto científico, sinto dizer que você não terá um bom aproveitamento na sua leitura. Para ter um bom aproveitamento na leitura de um texto científico, devemos saber mais ou menos do que se trata e o que vamos encontrar no texto. Então, para você que tem o mau hábito de ler um texto científico como se fosse um romance, saiba que nunca é tarde para mudar. Para isso, apresento aqui o SQ3R, que consiste numa técnica eficiente de leitura de um texto científico. Com o SQ3R, preparamos todo o caminho antes da leitura do texto propriamente dita. Consiste em cinco etapas que descrevemos a seguir (o termo SQ3R é montado usando-se as iniciais, em inglês, de cada uma dessas cinco etapas).

1ª Etapa – Survey: Esta é uma etapa preliminar à leitura propriamente dita. É aqui que verificamos o objetivo do texto. Esta etapa é importante também para saber se o texto vale a pena ser lido. Esta etapa é equivalente a fazer um skimming no texto. Leia o título; gaste alguns minutos pensando em seu significado. Leia a introdução e o resumo (se houver). Com isso, procure descobrir como o texto está organizado e o que o autor pretende com ele. Observe os tópicos em destaque e os subtópicos. A partir da forma como os tópicos e subtópicos são apresentados, você pode ter uma ideia de como o texto está estruturado, ou seja, como ele está organizado. Observe os gráficos, cartas, mapas e diagramas etc. Eles estão no texto para completar algum ponto. Não os ignore. Pense um pouco em seu significado.

2ª Etapa – Question: Esta também é uma etapa preliminar à leitura. Uma vez feito o survey, volte aos tópicos em destaque e formule perguntas, que você acha que serão respondidas com a leitura do texto. No fundo, você deve perguntar-se: o que aprenderei se ler este texto? Veja se você já consegue ter uma ideia da resposta a essa questão só fazendo o survey. Isto o ajudará a lembrar e a fixar a informação.

3ª Etapa – Read: Esta etapa consiste na leitura propriamente dita. Leia cada tópico com suas questões em mente, olhe para as questões e veja se você precisa elaborar novas questões para fixar a informação do tópico. Tente separar os detalhes das ideias principais. Use os detalhes para ajudar a entender as ideias principais, mas não se exceda neles. Não deixe de entender a ideia principal porque ficou preso em um ponto por não entender um detalhe.

4ª Etapa – Recite: Depois de lido o tópico do capítulo, volte às questões que você elaborou antes da leitura e tente respondê-las sem consultar o texto. Escreva as respostas num pedaço de papel. Se não conseguir responder às questões repita a 3ª etapa (Read) e tente responder as questões novamente.

5ª Etapa – Review: Esta é a etapa de revisão. A revisão ajuda a fixar e a organizar a informação na mente, pois aprendemos através de repetição. Esta etapa é como se fosse um Recite de todo o capítulo. Uma vez usadas as etapas anteriores para cada tópico do capítulo, pegue todas as questões elaboradas no capítulo e veja se você consegue respondê-las silenciosamente. Caso não consiga, repita as etapas Read e Recite.

Para finalizar o exposto nesse documento farei uso novamente das palavras do Dalai-Lama:

As indagações fundamentais da existência humana – tais como por que estamos aqui, para onde vamos – produziram respostas diversas em diferentes tradições filosóficas. Mas é indiscutível que um coração generoso e ações íntegras levam a uma paz maior. É igualmente claro que seus opostos têm consequências indesejáveis. A felicidade provém de causas virtuosas. Se desejarmos de fato, não há outra maneira de proceder a não ser através da virtude: ela é o método pelo qual se alcança a felicidade. E podemos acrescentar que a base da virtude, o solo onde estão suas raízes, é a disciplina ética.
Constato que, de modo geral, as pessoas cuja conduta é eticamente positiva são mais felizes e satisfeitas do que aquelas que se descuidam da ética. Isso confirma minha convicção de que, se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reordenar nosso comportamento, não só aprenderemos a lidar mais facilmente com o sofrimento, como seremos capazes também, acima de tudo, de impedir o surgimento de uma porção significativa dele.
A atmosfera em que uma criança vive o seu dia-a-dia e que é percebida por ela é um dos elementos mais importantes para determinar se a sua vida será bem-sucedida. Em uma família em que existe amor e compaixão, as crianças serão adultos mais felizes e realizados. Sem amor, toda a sua vida futura corre o risco de ser estragada, arruinada. O afeto tem, portanto, influência decisiva no desenvolvimento das crianças... A compaixão e o amor não são artigos de luxo. São fundamentais para a sobrevivência de nossa espécie. São o que de fato dá sentido às nossas atividades e as torna construtivas (Dalai-Lama, A caminho da tranquilidade).

Publicado em 26 de maio de 2009

Publicado em 26 de maio de 2009

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