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Ensino Médio carece de identidade

Louise Biral

Estudante de jornalismo

A questão do ensino no Brasil sempre foi algo bastante delicado. Problemas com vagas para alunos, salário dos professores e agora é a própria qualidade do ensino que está em crise. A situação vem piorando a cada ano e quem acaba sendo afetado com isso são os próprios estudantes, a quem o problema é diretamente ligado – ainda mais quando se fala de ensino público. Medidas são devidamente tomadas, mas nunca suficientes para acabar de uma vez com o problema. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, o Ensino Médio é o elo fraco da educação básica brasileira.

Hoje, o avanço ocorre em maior escala no ensino de base, que para uns profissionais é melhor no Brasil, onde os alunos são preparados para, assim, chegar ao Ensino Médio. Porém parece que a realidade não é bem assim. A maioria dos estudantes chega ao antigo segundo grau sem preparo algum, às vezes eles nem sabem como estão ali. Mas quem acaba sofrendo isso tudo são as classes mais pobres, as famílias que não podem pagar uma mensalidade absurda de colégio particular para seus filhos. Grande parte dos colégios públicos não atende à total demanda de alunos, além de não possuir infraestrutura, como afirma o Censo Escolar de 2005, que diz que apenas 56% das escolas que ofereciam Ensino Médio possuíam biblioteca; 51% tinham laboratório de informática; 38%, laboratório de ciências; 59%, quadras de esportes e 59%, acesso à internet.

“A qualidade do Ensino Médio nas escolas públicas nunca vai melhorar, já que as verbas que deveriam ser destinadas a elas são extraviadas pelo meio do caminho. Não disponibilizam nem infraestrutura básica para se poder lecionar corretamente nem o salário pra que a gente possa trabalhar sabendo que no final do mês poderemos pagar nossas contas. Se não corrermos para conseguir empregos em colégios particulares, sem dúvida passaremos fome, essa é a realidade”, é o que diz Alexandre Freitas, professor de Matemática do Ensino Médio de escolas públicas e particulares. Contudo, o baixo investimento na rede pública escolar atinge diretamente quem não deveria ser atingido: os professores, que são a peça-chave para que os alunos possam obter um aprendizado de qualidade. Sem a devida remuneração, é praticamente impossível atrair e manter profissionais no sistema público de ensino; afinal, ninguém vive de boa vontade.

Os colégios públicos mais rígidos, que têm infraestrutura para capacitar alunos e fazê-los ingressar em faculdades do governo, estão cada vez mais raros e de acesso cada vez mais difícil. O Brasil é o país que dá oportunidade a quem tem dinheiro.

Com relação à demanda de vagas, a maioria atende ao período noturno, prejudicando assim a grande maioria dos estudantes. É nesse período que os índices de evasão e repetência são altíssimos. É claro que oportunidades devem ser dadas a todos, mas a demanda de alunos que trabalham e por isso estudam à noite é menor que as dos alunos que não trabalham e precisam das vagas no período diurno.

Garantir a qualidade do Ensino Médio brasileiro, o antigo colegial, é o maior desafio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), do MEC. Para o professor Alexandre, o Ensino Médio vive uma grande crise, e é quase impossível esperar algo de diferente nos próximos anos. Para ele, é preciso avançar primeiro no ensino público, e algo precisa ser feito para prender os estudantes na escola, pois os níveis de abandono aumentam, ao invés de diminuir. “Já cansei de dar aula para meia dúzia de alunos e depois encontrar o restante da turma conversando no pátio. E, se formos reclamar, ainda somos levados a mal. Temos que zelar pela nossa segurança também.”

O próprio Ministério da Educação se diz preocupado com esse ensino, que tem o menor IDEB (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica) e sua meta é muito menos exigida, por seu ponto de partida ser mais baixo. Mesmo com essa colher-de-chá, os resultados passaram longe de ser pelo menos satisfatórios. O site do IDEB mostra resultados e metas de 2005-2007 com relação à taxa de ensino do Brasil.

Resultados e metas 2005-2007
  Anos iniciais do Ensino Fundamental Anos finais do Ensino Fundamental Ensino Médio
IDEB Metas IDEB Metas IDEB Metas IDEB Metas IDEB Metas IDEB Metas
2005 2007 2007 2021 2005 2007 2007 2021 2005 2007 2007 2021
Total 3,8 4,2 3,9 6,0 3,5 3,8 3,5 5,5 3,4 3,5 3,4 5,2
Dependência administrativa
Pública 3,6 4,0 3,6 5,8 3,2 3,5 3,3 5,2 3,1 3,2 3,1 4,9
Federal 6,4 6,2 6,4 7,8 6,3 6,1 6,3 7,6 5,6 5,7 5,6 7,0
Estadual 3,9 4,3 4,0 6,1 3,3 3,6 3,3 5,3 3,0 3,2 3,1 4,9
Municipal 3,4 4,0 3,5 5,7 3,1 3,4 3,1 5,1 2,9 3,2 3,0 4,8
Privada 5,9 6,0 6,0 7,5 5,8 5,8 5,8 7,3 5,6 5,6 5,6 7,0
Fonte: Saeb e Censo Escolar

Os índices são bem mais altos para alunos de instituições privadas e federais, enquanto os de instituições públicas estaduais e municipais são baixíssimos. O ministro da Educação lembra que, apesar de a meta de 2009 ter sido cumprida, mesmo com a exigência menor muitos estados não conseguiram bons resultados.

 “Enquanto não resolverem direcionar a verba aos seus devidos postos, nada vai melhorar com relação ao ensino no país. Nossa intenção é de sempre auxiliar o aluno a formar expectativas para o futuro, mas precisamos ter ferramentas para isso”, afirma o professor Alexandre. Uma mudança recente no padrão de financiamento da educação no Brasil foi a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Modelos internacionais bem-sucedidos de ensino estão sendo estudados, e Haddad está apostando no crescimento na rede federal de educação profissional e tecnológica. Perante os indicadores de qualidade adotados pelo Ministério da Educação, os CEFETs (centros federais de educação profissional e tecnológica) têm apresentado desempenho acima da média nacional.

Por enquanto, o Ensino Médio está deixando de cumprir sua função principal: formar e orientar os jovens para a vida e para o ingresso ao ensino superior.

02/06/2009

Publicado em 02 de junho de 2009

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