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Cosmopoliticamente correto, Oswald

Luis Estrela de Matos

Escritor, ensaísta e professor universitário

Tupy or sem tupy, o certo é que Oswald ultrapassa os ditames pseudonacionalistoides de nossa sempre morna literatura e das velhas querelas sempre reinventadas por críticos de plantão. Nossa? Evitemos o pronome pessoal e fiquemos no abstrato, no geral, no cosmopolitamente correto. E o Oswald era um cosmopolita arraigado. E sabia o que escrevia e até o porquê de suas orações:

Senhor
Que eu não fique nunca
Como esse velho inglês
Aí do lado
Que dorme numa cadeira
À espera de visitas que não vêm
(Primeiro caderno do aluno de poesia)

Dono de uma voz própria e com uma acidez muito peculiar, Oswald conseguiu abrir, lá pelos anos 1910, 20 e 30, um caminho que vem sendo trilhado por muitos: um certo Drummond, Quintana, um certo Paulo Leminski e até, recentemente, algum diálogo com o fazer poético de Arnaldo Antunes.  A Semana de 22? Mas isso, diante do alcance e penetração dos versos e da prosa oswaldianos, é pouca coisa a ser citada. O efeito icônico da Semana tem lá os seus méritos. Mas a força de Serafim Ponte Grande e de Memórias Sentimentais de João Miramar rasga possibilidades estilísticas além-fronteiras de 22. Ainda que demorasse a se fazer sentir, a prosa oswaldiana é uma conquista cada vez mais visível. Clarice Lispector que o diga. O teatro oswaldiano? Realmente revolucionário (no sentido maiakovskiano). Um dia escreverei sobre suas peças. De qualquer maneira, fica o convite à leitura: o Rei da Vela.

Outro pedido de Oswald se apresenta nestas linhas:

Poesia de cada dia

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
de Cada Dia

Talvez não se consiga, não sem alguma atenção (em forma de estudo, é claro), entender a força com que essa aparente simplicidade se apresentava em um cenário parnasianicamente gasto e envelhecido dos literatos oficiais da República Velha. A literatura precisava respirar. E o modernismo sempre assumido de Oswald de Andrade foi um desses respiradouros mais do que necessários. Vitais, se quiserem. Tão modernista que chega a ser contemporâneo. A questão não é tupy or not tupy, that is the question. Isso é regionalizá-lo demais. A questão é que Oswald escrevia. Na melhor de todas as a aldeias: o mundo. Cosmopoliticamente, that is the question.

Publicado em 09/09/2009

Publicado em 09 de junho de 2009

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