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Dois caminhos e um só destino
Armando Correa de Siqueira Neto
Psicólogo e professor
A natureza nos favoreceu com várias informações genéticas; destacam-se duas: sobrevivência e adaptação ao custo do egoísmo e convivência altruísta. A primeira já se evidenciou mais claramente desde os estudos evolucionários de Charles Darwin. A segunda, contudo, começa a despontar recentemente através dos trabalhos realizados na Universidade Harvard pelas mãos do biólogo evolucionário Marc Hauser, cuja publicação recebeu o nome de Mentes Morais – o cérebro possui um mecanismo geneticamente determinado para adquirir regras morais. Portanto, estamos diante de dois extremos severos que geram conflito em grossa parte do tempo de incontável número de pessoas: por que coexistem dentro de nós duas informações de peso que se chocam tão intensamente, podendo causar, em última análise, alguns distúrbios mentais. Um desatino aparentemente desnecessário.
Para que o ser humano pudesse sobreviver, constou em seu DNA o vale-tudo da sobrevivência e do aperfeiçoamento, levando-o a se modificar e a alcançar aptidão necessária à seleção natural. Do contrário, ele (e qualquer projeto de descendência) já se encontraria extinto. Por sorte, a inteligente e instintiva informação genética é superior à nossa capacidade de raciocinar, sobrepondo-se à ingenuidade e à passividade que inevitavelmente já teriam nos apagado do livro da vida. Há algo grandioso e imperceptível nessa sábia arquitetura, não acha? Mesmo Darwin concordou, à sua maneira, ao descrever: “Não me parece haver qualquer incompatibilidade entre a aceitação da teoria evolucionista e a crença em Deus”.
Por outro lado, a programação genética que deve facilitar a aquisição e a aceitação psicológica das regras para o adequado convívio social e o consequente desenvolvimento do altruísmo incide sobre o lado sobrevivência-a-qualquer-custo (e vice-versa), controlando parte da sua potência, a princípio perigosa caso nada lhe detenha, sem, no entanto, enfraquecê-la em demasia naquilo para o que foi previamente determinada. Novamente nos deparamos com a providencial sabedoria invisível, não é? Sem esse sentimento de preocupação alheia (ainda que lhe falte aperfeiçoamento na transição ego-mundo), também já teríamos nos extinguido.
Então, faltam-nos consciência e ajuste à frente, pois se trata de uma enorme jornada acerca do desenvolvimento humano. Por tal razão, dispomos das essenciais informações genéticas que tanto nos estimulam ao movimento, ora conflitante, ora evolutivo. Dois caminhos e um só destino. Sobrevivência e altruísmo opondo-se, regulando-se e, finalmente, gerando o terceiro e vital elemento: a evolução.
Publicado em 9 de junho de 2009
Publicado em 09 de junho de 2009
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