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Não se educa com proibição!

Denise Vilardo

Descrever a img desde que não seja apenas ilustração

De acordo com a Lei 5.453/09, recém-sancionada pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, está proibido, nas salas de aula, bibliotecas e outros espaços de estudo das escolas da rede estadual, o uso de aparelhos MP3, MP4, walkman®, game boys, agendas eletrônicas e máquinas fotográficas, além dos celulares.

Convido todos os interessados a fazer uma reflexão comigo a partir da seguinte premissa: qualquer atitude de proibição, pura e drasticamente, deseduca mais do que educa.

Todas as vezes que lidamos com o que é proibido temos mais vontade ainda de realizá-lo. Isso é natural do ser humano. Proibir por proibir ou criar mecanismos de censura ao que julgamos que deva ser censurado costuma acirrar mais ainda a vontade de alcançar o objeto de desejo. E aí, fatalmente, as crianças e jovens (porque são saudáveis) vão procurar meios de burlar o que está sendo negado a eles.

Lidar com máquinas e aparelhos eletrônicos, para essa geração de crianças e jovens com os quais estamos convivendo, faz todo sentido. Não se trata de ser bom ou ruim. Estão aí, e a nossa tarefa é transformar essa relação em algo produtivo, que gere novos conhecimentos. Qualquer coisa menos que isso significa que estamos subutilizando as máquinas ou que temos medo delas...

Mas também não acredito no "pode tudo", porque essa atitude também não educa. É preciso conversar, reconversar, criar consciência, discutir os não-pode e estabelecer acordos. Acordos de horários, acordos sobre os tipos de jogos que são mais ou menos adequados, acordos sobre a utilização de aparelhos eletrônicos nos espaços de estudo etc. E cabe aos adultos da relação, cumprir os acordos. Isso significa educar.

Algumas questões são fundamentais, e, na minha experiência de mãe e educadora de jovens (trabalho com jovens na faixa dos 15 aos 21 anos), creio que a mais importante de todas é a coerência. Coerência entre o que pensamos, sentimos e agimos.

Não se educa com um discurso diferente da maneira como agimos.

Não dá pra ficar fazendo discurso de ter que ser respeitador se o jovem não percebe o respeito nas relações que ele vivencia. Não dá pra dizer pro menino não ser preconceituoso se ele observa a maneira pouco digna com que adultos (pais, professores) tratam as pessoas que são diferentes deles.

Vamos sair do senso comum e abandonar os estereótipos que marcam os jovens como aqueles seres difíceis, inadaptáveis, que “não querem nada”...

Eles querem, sim, querem ser tratados como pessoas que pensam, capazes de tomar decisões; querem também perceber que somos coerentes (nós, os adultos). Eles não acreditam é na hipocrisia e odeiam ser enganados pelos outros.

Olho no olho. Sempre. Verdade. Franqueza. Virtudes. Fragilidades. Consistência.

Outra coisa que considero fundamental, além da coerência, é não nos esquecermos de como éramos quando adolescentes. Quais eram nossos sonhos, em que pensávamos, o que fazíamos para “enganar” nossos pais e professores, como gostaríamos de ter sido tratados. Essa medida – de como éramos – nos ajuda muito a entender quem eles são e como eles agem.

E por último, da minha lista de “fundamentais”: não ter medo de dar limites, não ter medo de dizer não. E não é o não pelo não. É o não argumentado, denso, com propósito. É o não que convence.

Somos seres sociáveis e, como tais, estabelecemos compromissos de convivência para podermos avançar nos nossos propósitos comuns.

Nada do que falei é fácil de ser realizado no dia-a-dia, mas é possível e é bom que seja tentado.

Este texto aparentemente sem nexo vem questionar, por fim, por que os professores do Estado do Rio de Janeiro precisam de uma lei para lhes dizer o que pode/deve ou o que não pode/não deve ser feito dentro do espaço escolar. Por que os professores precisam dessa tutela?

Quer dizer que vamos abrir mão de todas as possibilidades educadoras que os MPs, celulares, câmeras fotográficas etc. nos trazem porque não sabemos dizer não? É isso mesmo, professores? Quer dizer que não sabemos mais educar? Precisamos de leis para dizer o que é adequado ou não nas nossas salas de aula?

Não é nosso dever, educadores que somos, ensinar nossos alunos a utilizar as tecnologias, sabendo tirar o melhor proveito delas, com espírito crítico e ético? Não somos nós que temos que estar na vanguarda do processo pra poder ajudar os nossos alunos a compreender melhor o mundo em que vivem?

Como vamos fazer isso nos escondendo do mundo?

Não se educa com proibição. Educa-se com consciência.

16/06/2009

Publicado em 16 de junho de 2009

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