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Por um mundo melhor
Ivone Boechat
O homem busca, em desespero, mas antes tarde do que nunca, a preservação do que sobrou neste Planeta. Não é impossível, até porque atitudes simples têm o poder de mudar o rumo de coisas importantes. Mas eis o impasse: por que não se começa a educar para o equilíbrio da ecologia humana? Quanto custa o esforço por um abraço, um sorriso, pela demonstração de afeto?
A escola gasta quase todo o tempo destinado a ela resolvendo equações de primeiro e segundo graus e a criança vive refém de deveres de casa. Não há tempo nem espaço para brincar. Dirão muitos que a concorrência exige tudo isso na corrida desenfreada ao mercado de trabalho: passar nos concursos, nos vestibulares e arranjar emprego...
Certa vez, perguntaram a uma famosa atriz, centenária, o que a levou ao sucesso nos palcos do teatro e ela nem pestanejou: a fome. Estudar não lhe fez falta? Perguntou o repórter, e ela disse que não, porque a professora só ensinava algarismos romanos até 100.
Por incompetência, muitas escolas deixaram de ensinar a preservar, a amar uns aos outros, a compartilhar, a viver em grupo e tantas outras coisas fundamentais à felicidade humana!
A educação tem os recursos pedagógicos para ajudar a transformar a humanidade. Quem falhou? Ao invés de se ensinar somente doutrinas, porque não se ensinam valores? Fé, amor, paz, união, misericórdia, fraternidade, solidariedade? Ensinar ao homem a ser bom é um grande desafio. Todas as guerras do Planeta têm origem nas doutrinas.
Quando o homem reflorestar as ideias, podar os galhos secos da ira, regar suas raízes no manancial da fé, vai colher os frutos de um mundo oxigenado de amor. O homem equilibrado vai equilibrar o Planeta!
O Brasil tem recursos para investir na educação, sim. Todavia, o ministro da educação, Fernando Haddad, afirmou, em viagem a Portugal, que o Brasil investe “menos do que 4% do PIB (Produto Interno Bruto) na sua área”. Segundo ele, gastos em outras áreas, como saúde, são contabilizados como despesas em educação.
Estudo feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) revela que o Brasil gasta 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação pública. Esta porcentagem está abaixo da média verificada nos países que pertencem à Organização, que é de 4,9%. No ranking, a França é líder, com 5,61%, seguida do México (5,12%), Estados Unidos da América (5,02%), Coréia do Sul (4,79%), Grã-Bretanha (4,66%) e Espanha (4,33%).
O país deveria investir, durante 20 anos, pelo menos 6% do PIB, se quiser realmente amenizar seus problemas na área educacional. Com PIB de R$ 1,9 trilhão, o Brasil é a maior economia da América Latina. Há um déficit de, no mínimo, 254 mil professores na rede esfarrapada do sistema. Precisa falar mais o quê? Distribuem-se computadores a analfabetos funcionais como se isto fosse inclusão.
O mundo, cada vez mais perto e visível, fica ao alcance de um mouse e, muitas vezes, na mira de uma bala perdida. Às vezes, o educador, sim, fica invisível. Cadê o educador?
Diz-se que um certo rei mandou colocar uma enorme pedra no centro de uma estrada bastante movimentada e ficou, à distância, observando as reações daqueles que por ali passavam. Ele desejava ver quem tomaria a iniciativa de retirar a pedra, que atrapalhava o livre trânsito. Os homens de todas as camadas sociais passaram e todos igualmente se desviavam da pedra, subindo no acostamento. O rei notou que a maioria daqueles que caminhavam, apressados, queixava-se do rei por não se interessar pela conservação da via.
Finalmente, um lavrador aproximou-se da pedra e, com grande esforço, retirou a pedra do caminho. Acontece que, ao transportar a pedra para fora da estrada, sentiu que pisara em alguma coisa que certamente estaria embaixo dela. Depois de afastá-la do caminho, voltou e viu que no lugar ocupado por ela estava uma carteira. Abrindo-a, encontrou, além de uma respeitável soma de dinheiro, também uma notificação do próprio rei, esclarecendo que aquela importância se destinava a quem demonstrasse respeito, consideração mútua e urbanidade ao retirar da estrada a pedra que mandara colocar de propósito.
Moral da história: o educador sabe o que fazer das pedras. A educação precisa mudar o ritmo, a postura e o tom do discurso para garimpar tantas pedras preciosas que encontra pelo caminho. E sobre pedras edificar escolas. Afinal de contas: “tu és Pedro e sobre esta pedra...”.
Publicado em 28 de julho de 2009
Publicado em 28 de julho de 2009
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