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Música absoluta: uma pequena análise metacrítica
Andersen Viana
Professor, maestro, compositor, produtor musical e doutorando em Composição Musical pela UFBA
Existem pontos polêmicos entre dois dos mais representativos pensadores da música culta da atualidade, Susan MacClary e Kofi Agawu, dentro de uma perspectiva criativa, educacional e musical.
Susan MacClary defende a posição de que uma das mais importantes correntes da Musicologia tem estado no processo de desmistificação da música absoluta, baseando-se em códigos de significado social, bem como afetivos e narrativos. O projeto de MacClary está intrinsecamente ligado à critica musical de Theodor Wisegrund Adorno, que traçou a história da subjetividade burguesa e suas contradições através da mesma música instrumental que aparenta ser tão impenetrável para esta análise.
Sobre o fundamento da Teoria da Música, Kofi Agawu nota que a análise contemporânea exerce cada vez mais um papel central e que é uma disciplina relativamente jovem. A análise é associada ao formalismo. Desde que a análise é associada ao formalismo; desde que a nova musicologia é, dentre outras coisas, um movimento antiformalista; e desde que a disciplina da teoria é constituída em grande maioria por analistas praticantes, os objetivos da teoria e da nova musicologia seriam fundamentalmente incompatíveis.
MacClary oferece não somente uma, mas várias narrativas. Narrativas que não investem pesadamente na estrutura técnica (no senso de Adorno) do movimento da sinfonia. Em sua critica a MacClary, Agawu ressalta a atipicidade da dissonância com respeito às convenções que sustentam os procedimentos da narrativa no movimento, colocando o tema masculino protagonizado pelo Pai como atípico e uma aberração.
Ao mesmo tempo que Agawu reconhece que existem detalhes suficientes para sustentar as caracterizações específicas para o que ela deseja realizar, ele questiona se um teórico poderia forçar narrativas precoces tais como esta para dentro dos detalhes da música. Não poderia a análise – que não é apenas relacionada com a questão do A-Ab, que ela diz ser o real dilema do movimento – caminhar para outras relações semitonais, tais como: terças com expansão e contração motívica e algumas grandes trajetórias construídas pela periodicidade de Brahms? Mas a grande questão, contudo, não seria trazer o questionamento do real valor dessa mesma análise para as condições das caracterizações de MacClary?
Susan MacClary relaciona os temas “masculino” e “feminino”, localizando-os em janelas particulares nos parâmetros convencionais do sistema tonal e da sonata, e diz que o respectivo trajeto já está definido antes mesmo de a composição começar. O masculino está predestinado ao triunfo; o feminino, à solução.
De acordo com Agawu, a análise teórica orgulhosamente conduz o analista ao verdadeiro conteúdo da obra intermediado pela estrutura técnica (em referência a Adorno), o qual permite à mente musical se engajar diretamente com os elementos composicionais – como análise, parece ser de utilidade limitada em um projeto que interpreta música como discurso social. A verdade parece ser que os novos musicólogos não têm encontrado uso para os excessos de detalhes dos procedimentos da análise na teoria da música. O fracasso da analista para alcançar um objetivo extramusical, o fracasso dela em providenciar uma tradução da análise para o que não tem rótulo ou tradução necessariamente reside fora das fronteiras do discurso social. Este e outros aspectos merecem menção.
Publicado em 11/08/2009
Publicado em 11 de agosto de 2009
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