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Os olhos ainda comentam o que não conseguem enxergar

Janete Andrade Lemos

Professora do 1º ciclo e licencianda de Ciências Biológicas do Consórcio Cederj

Etnocentrismo é uma palavra que já não cabe nem em si mesma. Quanto mais no julgamento das pessoas. Quando fiz o curso de Formação de Professores, no início da década de oitenta, já se falava sobre isso, mesmo que muito vagamente.

Será que alguma coisa visivelmente mudou?...

Vamos falar em má educação, separação, preconceitos de todas as formas. Quais são as palavrinhas que a humanidade reconhece só por ouvir longe e  perto em demasia? São palavras conjugadas em nosso cotidiano, vinculadas, omitidas ou substituídas pelos verbos “gostar”, “aceitar”  e “poder”, sempre no presente do indicativo.  Algo bem atual mesmo e que vai destruindo todos os bons futuros e tentativas de boa convivência de pessoas que são consideradas “diferentes”, porque não pensam como a maioria, que ainda são forçadas a pensar atravancadas a uma educação arcaica que nada tem de bom para somar no caráter de cada pessoa que se diz tão semelhante às outras.

O termo que mais me assusta no momento nasceu do latim: é “religare”. E religião, em péssimo português. Religare,que deveria, ao pé da letra, religar ao todo. A humanidade deveria se voltar para os princípios de respeito e solidariedade, fazendo jus ao etimológico e aos ensinamentos desta, que tanto se prega, carregando em mãos acima da cabeça impensante,  um punhado de testemunhos [no mínimo, quem os assistiu e/ou escreveu devia ter testículos; como uma frase muito bem colocada num desses auges da corrupção em plena cadeia aberta, para que todos pudessem acompanhar, em lugares que não sabem ouvir, analisar, concluir de forma justa o que é realmente certo ou errado, quase todo verdadeiro crime torna-se impune]. Religião que só consegue separar, formar grupos de pessoas afins, facilmente coordenadas, fantoches humanos em sua maioria. Há pessoas boas e amadurecidas também, mas tão poucas que não somam números suficientes para aparecer nas estatísticas.

Quando a ciência descobrir de fato que o comportamento humano é influenciado por fatores genéticos (e a religião resolver aceitar); que o desenvolvimento das capacidades das pessoas é algo muito particular que não inclui somente as oportunidades; que existe toda uma maquinaria humana e psicológica ligada a essas particularidades;  que sexualidade não é  escolha... não é algo que se possa falar “eu vou ser ou não assim ou assado”... Quem é ou quem tem caso direto na família sabe do que falo. Aí, sim, as coisas poderão melhorar para todos. Todos, sem via de regra.

A hipocrisia anda por toda parte. Ainda fomenta cabeças  e atitudes descabidas. Nós podemos e devemos educar nossos filhos para tornarem-se pessoas de bem, mas não podemos fazer suas escolhas, ainda mais quando é realmente algo que não se pode escolher, como a sexualidade, por exemplo.

A má educação faz um estrago imensurável nas pessoas, na sociedade inteira, que é quase irreversível. Tenho um amigo que dizia desde criança, influenciado pelos pais (que também foram estes influenciados pelos pais dos pais dos pais dos pais), que queria ser militar (uma espécie de “justiceiro”, que na época consideravam legal) só para poder acabar (para não usar uma palavra mais forte e mais feia) com todos os homossexuais e ladrões, igualando, assim, as características de ambos... Todos, para ele, não prestavam na mesma intensidade. A vida é justa e ouve muito bem... Guarda nossas experiências e o que fazemos delas... Ele cresceu, é  pastor e teve um filho que não pôde matar e sofre por esse filho até hoje. Desnecessariamente, porque o rapaz é feliz, só não é mais devido à rejeição dos pais, avós, tetravós e o vizinho da esquina que não sai do portão, observando o alheio e nunca volta o olhar para dentro do próprio lar e principalmente de si.

Já  passou a hora de mudar o ridículo.

Aqueles que estão formando família agora, planejando ser pais, eduquem seus filhos com mais dignidade e respeito. São as palavrinhas-chave para desenvolver o “amor” (o amor que as religiões ainda não conseguiram aflorar)... O respeito, que une todas as pessoas de forma solidária. Assim, quem sabe, conquistaremos aos poucos essa paz tão sonhada, que não sai dos muros pichados, livros didáticos e utopia das letras poéticas dos cantores de gerações que não passam... E tudo continua a mesma coisa.

Vamos educar de verdade. 

Os olhos ainda comentam o que não conseguem enxergar.

Publicado em 11 de agosto de 2009.

Publicado em 11 de agosto de 2009

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