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De Cecigua a Cecierj, lembranças de uma fundação
Raquel Menezes
Em entrevista ao Portal da Educação Pública, a Professora Marly Cruz Veiga da Silva, professora auxiliar na Uerj, fala de seu passado intrínseco ao da Fundação Cecierj. Especialista em Genética e evolução pela UFRJ, possui também experiência na área de Biologia geral, com ênfase em ensino de Ciências e Biologia. E o mais importante de tudo (aqui, pelo menos), é uma das fundadoras do Cecigua, atual Cecierj.
A primeira etapa da entrevista deu-se no atual local de trabalho da professora Marly, uma sala digna de ser cenário de um filme de ficção científica, onde está cercada de seus ajudantes e (ex-)estagiários. Esse primeiro encontro foi notório, pois houve a chance de discutir sobre ensino a distância e a importância da Internet hoje. Ademais, pensar, juntamente com a entrevistada, como, sem sentido necessariamente pejorativo, esse meio de comunicação e pesquisa pode ser viciante.
A entrevista passou a ser por e-mail, tendo como origem o texto “O centro de ciências: uma história ‘vivida’ no século XX”, da professora Marly, no qual a história desse projeto é contada detalhadamente, desde a sua fundação, em 1965 até os anos 1990.
Para finalizar, foi feito este texto, que se despede com um agradecimento a Oneida, coordenadora da Praça da Ciência Itinerante, que gentilmente deu-me as primeiras informações sobre a fundação Cecierj, seguidas de um belo depoimento:
Gosto de trabalhar no Cecierj. Gosto desde o início. Tive uma grande oportunidade de crescimento, principalmente no que tange à área social, mais especificamente na relação entre a ciência e o social. Desde o início desse trabalho, que já dura quinze anos, percebo a importância de a ciência estar relacionada à vida da sociedade.
O convite para entrar na Fundação foi-me feito em virtude da necessidade de ter alguém com experiência para lidar com problemas sociais. Essa pessoa coordenaria um projeto na altura realizado na antiga Escola XV, em Quintino. Na verdade, eu tinha indicado duas outras assistentes para o cargo, mas como elas não puderam ficar e eu estava saindo da empresa onde eu trabalhava, a responsável pelo convite sugeriu-me assumir o cargo. No primeiro momento eu não aceitei, pois não pretendia mais trabalhar, mas depois de alguma insistência, estou aqui há quinze anos já.
Coordenar a Praça Itinerante é uma realização profissional, na verdade é uma segunda concretização profissional, visto que fui muito feliz na minha carreira como assistente social.
Meu trabalho como coordenadora é feito com muito entusiasmo: tenho uma excelente equipe de profissionais, que eu incentivo a ter o mesmo ânimo que eu. Vir trabalhar no Cecierj foi uma oportunidade ímpar, tanto na minha vida pessoal, como na profissional.
Quanto à pedagogia do projeto, aqui na Fundação, tive a oportunidade de repetir tudo aquilo feito na área social, que é trazer aquilo que as pessoas já sabem, promovendo a construção do conhecimento. Tudo é feito passo a passo com o público-alvo – o aluno. Trata-se de um processo participativo de construção do conhecimento: observar o que o aluno tem a oferecer e trabalhar com isso.
A propósito de entusiasmo e pedagogia, a Marly foi nossa Diretora científica durante um bom período. Lembro-me de às vezes não ter ninguém para assumir a parte de Biologia e ela viajar comigo para substituir algum membro da equipe que não podia comparecer. A Marly estava sempre por perto, perguntando, ajudando. É uma profissional entusiasmadíssima com o que faz.
Educação Pública — O Cecierj, antigo Cecigua, foi fundado em 1965; neste mesmo ano, em outubro para ser mais precisa, começa o seu trabalho como estagiária, que dura até outubro de 1966, quando assume o cargo de professora. Como foi essa transição, do ponto de vista pessoal? E o que isso simbolizava para o projeto?
Marly Cruz Veiga da Silva — Tanto o estágio quanto o convite para trabalhar no Cecigua definiram meu caminho profissional: professora de Ciências. Para o Cecigua, a formação da equipe de treinamento – como eram chamados os cursos – com professores recém-formados, competentes e muito motivados consolidou o trabalho inicial de formação continuada de professores.
Educação Pública — Quando e como se deu a formação do grupo de professores?
Marly Cruz Veiga da Silva — Foram realizados dois estágios para 120 professores em 1965 e 1966. Destes professores foram selecionados os que tinham o perfil desejado para compor a equipe responsável pelos cursos, tanto na sede do Cecigua quanto nos estágios e escolas do Estado da Guanabara.
Educação Pública — Como a experiência com o trabalho como professora ajudou a dirigir o projeto nos primeiros oito anos (1975-1983)?
Marly Cruz Veiga da Silva — De 1965 a 1974, a direção do Cecigua esteve a cargo da equipe fundadora – professores Nelson Santos, Fritz de Lauro e Ayrton Gonçalves da Silva. Em 1975, com a extinção do Estado da Guanabara, o campo de atuação foi ampliado para o atendimento aos 62 municípios. Nessa ocasião, para a direção do Cecierj foi escolhido um professor da equipe que tivesse experiência administrativa junto à Secretaria de Educação. Fui escolhida e permaneci no cargo até 1983.
Educação Pública — O curso por correspondência teve início em 76. Como funcionava? Apesar de ser hoje a Internet o instrumento para os cursos a distância, podemos pensar que o curso por correspondência foi o embrião do método aplicado hoje?
Marly Cruz Veiga da Silva — Não considero o projeto de ensino de ciências por correspondência um embrião do método aplicado hoje, já que a Internet é um universo totalmente diferente do mimeógrafo, que imprimia o material, e dos Correios, que o distribuíam para 62 municípios. O projeto teve muito sucesso na ocasião, já que o correio atingia o professor das localidades mais distantes e que nunca teria oportunidade de comparecer aos cursos no Cecigua.
Capa e folha de rosto do material usado nos cursos por correspondência.
Educação Pública — A sua volta à direção do Cecierj foi em 1998 e durou um ano. Como diretora em um período anterior, uma das fundadoras do projeto e professora, quais as mudanças percebidas em mais de trinta anos de projeto?
Marly Cruz Veiga da Silva — Em 1998, o Cecierj já havia incorporado em seus cursos e atividades todo o avanço tecnológico da época. No entanto, desde a sua fundação até esta data permaneceu constante a consideração dos professores de Ciências, Física, Química e Matemática do Cecierj como um pólo de discussão e troca de ideias sobre o ensino de Ciências.
Educação Pública — O projeto começou no Boulevard 28 de setembro e hoje está na Mangueira, tendo estado sediado na Uerj por um período. Como essas mudanças ocorreram? Por quê? E quais foram as contribuições e/ou perdas desses deslocamentos?
Marly Cruz Veiga da Silva — A troca dos órgãos públicos que “gerenciaram” o Centro de Ciências ocasionou o deslocamento das suas atividades para diferentes locais. Mas em cada um desses locais a contribuição para a melhoria do ensino continuou seguindo as características de cada administração. Considero que a única perda ocasionada pela última mudança foram as salas ambientes – muito bem montadas, para a realização de cursos presenciais que ainda atraem um número considerável de professores.
Educação Pública — Além dos cursos a distância, o Cecierj/Cederj hoje atua na área de divulgação científica em diferentes projetos como, por exemplo, os Espaços da Ciência no interior do estado, o Jovens Talentos para Ciência, a Praça da Ciência Itinerante e a mostra Ver Ciência. Quais destes podem ser considerados como sendo vestígios do que era feito já em 1965?
Marly Cruz Veiga da Silva — Desde 1967, um dos programas do Centro de Ciências foi a interiorização dos cursos, oficinas, mostras e Feiras de Ciências. Acho que até hoje essas atividades vêm acontecendo com diferentes nomes.
Educação Pública — Apesar de não ter nenhum cargo burocrático, ainda há envolvimento seu com o projeto. Como e qual é a sua atual relação com o Cecierj?
Marly Cruz Veiga da Silva — Nunca deixei de me envolver com o Cecierj através do contato com professores, alunos e funcionários. O fato de desenvolver na Uerj um projeto de material didático – Ciência no dia-a-dia – facilita e contribui para esse envolvimento.
27/01/2009
Publicado em 27 de janeiro de 2009
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