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Visite Conservatória. Do café à seresta, um lugar que tem história

Beatriz Fontes

Professora e jornalista

Juliana Carvalho

Professora e redatora

Realizar atividades que contribuam para ampliar o capital cultural é importante para todos, mas para nós, professores, isso é fundamental. Lidamos diretamente com a formação de pessoas – crianças, adolescentes ou adultos –, estamos em posição de destaque na sala de aula e muitas vezes somos referência na vida dessas pessoas.

Quantas vezes somos questionados pelos alunos sobre os mais variados assuntos – e sobre alguns nem sabemos responder? Por isso, é importante ir ao cinema e ao teatro, estar atualizado no que diz respeito à informática, ouvir boa música, acompanhar as notícias e, por que não?, viajar. No Estado do Rio, é possível encontrar cidades que são verdadeiras aulas de História, onde podemos passar um dia (ou mais) no século passado (ou até retrasado). Uma dessas cidades é Conservatória, um lugar perfeito para recarregar as baterias, descansar à beira de um riacho ou conhecer um pouco do Estado do Rio de Janeiro de antigamente.

Quando se fala em Conservatória em geral se pensa em seresta. Realmente, essa parece ser a vocação desse pequeno distrito de Valença. Afinal, não é à toa que lá existe o Museu da Seresta e Serenata, que reúne o maior acervo de músicas tradicionalmente cantadas em serestas. Criado em 1960 pelos irmãos Joubert e José Borges, o espaço funciona como ponto de encontro para seresteiros às sextas-feiras e sábados à noite. É de lá que os músicos partem em serenata pelas ruas da cidade.

Esta não é a única entidade de Conservatória relacionada à música. Existem também os Museus Silvio Caldas, Gilberto Alves, Guilherme de Brito e Nelson Gonçalves, o Vicente Celestino e Gilda de Abreu e o da Música. Todos estão instalados em antigas casas residenciais e têm amplo horário de visitação, o que confirma a vocação boêmia do lugar. Além desses, há espaços culturais variados, como a Casa de Cultura, que abriga exposições, a Casa do Poeta e o Cinema Centímetro.

Este último merece destaque. Trata-se de uma réplica perfeita do cinema Metro Tijuca, inaugurado na década de 1940 e que teve fim em 1977, dando lugar a uma loja de departamentos. Ela foi minuciosamente construída pelo delegado aposentado Ivo Raposo, um apaixonado por cinema que recolheu peças originais do cinema demolido e que praticamente reconstruiu-o no quintal de sua casa. São móveis, tapetes, lustres, bilheteria e projetores que garantem o charme da sala de 60 lugares.

O Centímetro abriga eventos como o CineMúsica e, nas noites de sábado, exibe sessões curtas, com trechos de desenhos e musicais da Metro que dão direito a pipoca no final. Para garantir a viagem no tempo, é só entrar, sentar e aguardar o apagar das luzes. As cortinas começam a abrir, o gongo toca e... Está feita a mágica!

Por ser um destino turístico, Conservatória tem uma ampla rede de hospedagem, com ofertas que vão dos grandes hotéis-fazenda às pequenas pousadas caseiras. Há opções para todos os gostos (e bolsos). Há ainda boa variedade de bares e restaurantes, muitos com música ao vivo. A proximidade dos grandes centros urbanos faz com que o lugar seja uma boa opção para viagens curtas de fim de semana, quando há sempre um evento programado. São famosas as festas juninas, especialmente a de Santo Antonio, padroeiro do lugar. Outro evento importante é o festival Café, Cachaça e Chorinho, que ocorre todos os anos e tem atrações espalhadas por várias outras cidades da região conhecida como Vale do Café.

O lugar em si resume-se a um grande quarteirão, com duas ruas principais que têm calçamento do tipo pé-de-moleque. É fácil chegar de carro, pois as estradas estão em boas condições, e não é difícil de estacionar. Antigamente era possível viajar de trem, mas dessa época sobrou apenas a Locomotiva 206, que fica em exibição perto da antiga estação ferroviária (hoje rodoviária). Para quem depende de ônibus, há linhas apenas para o Rio e para Valença, com horários restritos.

A região de Conservatória teve seu apogeu no século XIX, no chamado Ciclo do Café da economia brasileira. À sua volta ainda existem diversas antigas fazendas que hoje sobrevivem basicamente do turismo histórico, estando abertas à visitação (quase sempre com hora marcada). Algumas delas, como a Florença e a Santa Clara, já serviram também como cenário para algumas novelas de televisão. Outras, como a São José, merecem atenção especial. Ainda hoje está lá, resistindo, uma comunidade quilombola famosa por suas festas santas: Santo Antonio, São João, São Pedro etc., onde se dança o caxambu.

O lugarejo oferece ainda algumas construções históricas, como a Igreja Matriz de Santo Antonio, datada de 1868, que abriga um museu sacro. Também vale a pena visitar locais construídos para escoamento da produção do café, como a Ponte dos Arcos, o Túnel do Capoeirão e o Túnel que Chora, conhecido dessa forma por possuir uma fonte de água pura em seu interior. Essa água vem da Fonte da Saudade, logo acima, que também pode ser visitada.

Os adeptos do ecoturismo também têm motivos para visitar Conservatória. A seu redor existem locais como o Balneário Municipal João Raposo, onde está localizada a Cachoeira da Índia. Também abertas a visitantes existem as cachoeiras Ronco d’Água e São Fernando.

Para quem não dispensa uma caminhada em meio à natureza, a Serra da Beleza é uma boa sugestão. Seu ponto mais alto é o Pico do Piris, com 1.300m, mas há a opção do Pico do Cavalo Ruço, com 1.296m. Lá do alto se avista todo o Vale do Rio Preto e a torre da Matriz de Santa Rita de Jacutinga, já em território mineiro. Por exigir preparo físico e conhecimento da região, é aconselhável procurar a orientação de um guia antes de dar início ao passeio.

Música, cinema, fazendas e locomotiva abertas à visitação, igrejas, pontes... Com tantos convites ao enriquecimento cultural, somados às belezas naturais, vai ser difícil descansar. Ao visitar Conservatória, você certamente conhecerá um pouco do Rio de Janeiro que está nos livros de história.

Isso vai dar a você ainda mais propriedade para trabalhar temas de suas aulas de história e geografia ou simplesmente o prazer de ver todas essas coisas de perto para contar a seus alunos. Quem sabe eles não dão uma escapadinha até lá, levando suas famílias?

Publicado em 29/09/2009

Publicado em 29 de setembro de 2009

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