Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

O valor das histórias em quadrinhos: entrevista com Natânia Nogueira

Alexandre Rodrigues Alves

Muitas crianças, antes mesmo de aprender a ler, já leem histórias em quadrinhos. Além disso, por seus textos ágeis, diretos, repletos de diálogos e apoiados nas imagens, as HQs são uma forma de entretenimento fácil, de comunicação clara, da qual todos guardam lembranças agradáveis ao crescer. Tanto que são inúmeros os títulos para adultos – aqueles que não esquecem das primeiras tirinhas. Mesmo que sejam alvo de preconceito por parte de alguns educadores, as histórias em quadrinhos podem ser uma ótima ferramenta de alfabetização; os Parâmetros Curriculares Nacionais, do MEC, incentivam o uso dos gibis em sala de aula.

Uma educadora que segue essa sugestão dos PCN é Natânia Nogueira, de Leopoldina-MG, que criou e mantém na Escola Municipal Judith Ginrz Guedes Machado uma Gibiteca com mais de 4.000 exemplares, à disposição de todos os alunos daquela escola. Para divulgar seu trabalho e trocar experiências com outros professores, Natânia fez seu blog, em que coloca também textos teóricos sobre o emprego das HQs na educação. Um dos laureados com o prêmio Professor do Brasil, do MEC, Natânia conversou conosco logo depois de voltar de Brasília.

Educação Pública - Como surgiu a ideia de fazer a Gibiteca?

Surgiu, em parte, da dificuldade que eu enfrento na sala de aula, pois meus alunos não têm o hábito de ler. Sou professora de História e trabalho com documentos escritos, com texto. Se meus alunos leem pouco, ficam com poucas referências, com vocabulário limitado, o que torna minha disciplina mais difícil e cansativa.

EP - Como é e como funciona a oficina de técnicas de quadrinhos da Gibiteca?

Na Gibiteca nós procuramos fornecer aos nossos alunos e aos nossos professores várias atividades. Os professores da escola já passaram por oficinas de quadrinhos e por dois seminários para conhecer e aprender a utilizar esse recurso da melhor forma possível. Com os alunos, são feitos trabalhos com oficinas e concursos de quadrinhos, de desenhos e de produção de texto. Promovemos essas atividades e procuramos incentivá-los a participar de concursos dentro e fora da cidade. As oficinas – já tivemos duas – ocorrem na própria escola, no contraturno, com a ajuda de voluntários da cidade. As oficinas servem para mostrar aos alunos que, para fazer quadrinhos, é preciso muito mais do que saber desenhar. Requer disciplina, organização... Em 2009 iremos fazer oficinas tanto para alunos quanto para professores com o programa de edição de quadrinhos Hagaquê. Nos concursos que fazemos e nas aulas de outros conteúdos, eles utilizam o que aprenderam nas oficinas.

EP - Como é, o que faz, como é possível obter esse software Hagaquê?

O Hagaquê foi desenvolvido para ser usado para ser usado por crianças que não têm domínio sobre o uso do computador; tem sido muito utilizado por estudantes com necessidades especiais. Ele foi criado pela Unicamp e pode ser copiado gratuitamente. Vem com um tutorial muito simples. Eu quero instalá-lo nos computadores da escola e fazer oficinas com professores e alunos. Ele permite a publicação das HQs produzidas on line. Há outros programas na Internet, mas acho o Hagaquê mais fácil, ainda mais para uma primeira experiência. Aqui está o link para baixar o arquivo e conseguir mais informações.

EP - Do acervo da Gibiteca, mais de 10% são classificados como “educativos”. Que obras você enquadra nessa categoria?

Optamos por classificar como educativas aquelas que tem por finalidade "ensinar" alguma coisa. Temos, nessa categoria, desde uma adaptação de O Capital, de Karl Marx, até HQs como Dom João Carioca, Chico Rei, Zumbi e quadrinhos distribuídos pelo MEC ou por empresas com finalidade de informar ou prevenir doenças e acidentes.

EP - Que características deve ter um gibi com finalidade educativa (como a HQ sobre HIV que você menciona no seu blog) para obter sucesso como gibi e como formador?

Costumo falar que quase todo gibi pode ser utilizado como instrumento de ensino se o professor usar a criatividade. Para um quadrinho educativo, não basta ser criativo, apenas; é necessário ser informado. Não posso dar uma aula usando um quadrinho que fala sobre Zumbi se eu não sei nada sobre o tema. O professor, para usar um quadrinho, educativo ou não, tem que estudar, pesquisar, se preparar. Caso contrário, a ação não alcança o objetivo, que é a aprendizagem. Por isto promovemos anualmente seminários: para formar o professor, para mostrar a ele que todo instrumento de ensino precisa ser bem manejado. Eu, particularmente, gosto de quadrinhos educativos que sejam descontraídos e que não abusem das descrições. Os alunos gostam de uma leitura mais envolvente, com linguagem mais "leve" (aí incluindo texto escrito e imagem). Esse tipo de quadrinho geralmente agrada aos alunos e facilita o processo de aprendizagem – não descartando, é claro, um bom planejamento. O quadrinho é um complemento; ele ajuda, mas não substitui o livro, as pesquisas e as demais atividades escolares. Nem deve ser usado em excesso.

EP - Como você trabalha as histórias em quadrinhos em suas aulas de História?

Em 2008 eu fiz uma experiência que deu muito certo: montei uma cartilha para meus alunos do 6° ano em que combinei o conteúdo de História como ilustrações e atividades baseadas em quadrinhos. A aceitação foi ótima e a aprendizagem também. Os quadrinhos prendem a atenção dos alunos, mesmo quando misturados ao texto. Costumo usar quadrinhos como complemento de atividades, em avaliações e em trabalhos feitos em grupo. Gosto muito de usar aquela série Você sabia?, da Turma da Mônica, para fazer trabalhos em grupo com os alunos. A série tem temas ótimos ligados a História, e tem sido vendida como encalhe nas bancas por R$ 1,20, R$ 1,90.

EP - No caso de adaptações de outras obras, que características você considera essenciais?

Uma boa adaptação deve tentar caracterizar bem os personagens e utilizar bem as imagens, de forma a tornar o texto menos cansativo. No caso dos quadrinhos, narrativas em excesso deixam a leitura morosa. Por isso eu acho que, quando se trabalha a adaptação, deve-se trabalhar o texto original junto com o aluno. Da mesma forma que muda o texto quando se adapta um livro para o cinema, acontece com os quadrinhos.

EP - Que histórias em quadrinhos você indicaria para trabalhar com crianças? E com adolescentes?

Crianças gostam muito da Turma da Mônica, de Disney e de quadrinhos com personagens que elas vêem na TV, como Pica-Pau, Tom e Jerry e mesmo Dragon Ball (é interessante o efeito que Dragon Ball tem, principalmente entre os meninos; eles adoram). Adolescentes gostam muito de mangás e super-heróis, mas não abrem mão dos quadrinhos da Mônica e da Disney. Acho que o professor deve sempre procurar trabalhar com aquelas HQs que têm mais aceitação. Mas vai depender muito do que ele (o professor) quer trabalhar com os alunos. Professores de Língua Portuguesa, Geografia e História gostam muito de usar tiras da Mafalda e do Snoopy. Quando trabalhei Segunda Guerra Mundial, usei Maus. Há muita variedade de quadrinhos a serem usados, citei apenas alguns. É sempre bom o professor encontrar espaço para novidades, para apresentar novos personagens, novos estilos etc.

03/02/2009

Publicado em 03 de fevereiro de 2009

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.