Cartas para a cidade: intervindo na realidade urbana com caneta e papel

Luiz Fernando Nunes

Professor da rede estadual e privada do Rio de Janeiro, licenciado em História, especialista em Educação Tecnológica e Educação e Contemporaneidade (CEFET/RJ)

O Proemi – Programa Ensino Médio Inovador de tempo integral – foi implantado no Colégio Estadual Canadá, localizado na cidade de Nova Friburgo/RJ em 2013, mas ganhou maior fôlego a partir de 2015. Por garantir um maior tempo com o aluno na escola, o programa permite maior integração com propostas alternativas, visando a uma aprendizagem significativa e diferenciada.

Sempre com essa intenção em mente, alunos do 1º ano, nas aulas de Filosofia, participaram do Projeto Hackeando a Cidade.


Foto 1: Cartas produzidas pelos alunos que participaram do projeto

Hackeando a Cidade é uma proposta desenvolvida pela Escola de Jornalismo em parceria com o Énois | Inteligência Jovem, “uma agência-escola que trabalha na formação de jovens e depois constrói, com eles, diversos produtos de comunicação, como revistas, sites, campanhas etc.”.  O objetivo é intervir de forma bem-humorada e significativa no cotidiano da cidade, atacando problemas que podem ser grandes ou minúsculos, buscando soluções nem sempre convencionais para os transtornos do dia a dia.

No mundo existe uma série de atividades que vão ao encontro da proposta do Hackeando a Cidade. Alguns grupos chamam as ações diretas de “ativismo urbano” e julgam que simples atitudes de gentileza, por exemplo, podem revolucionar o espaço onde vivem.

Na realidade do Colégio Estadual Canadá e da cidade de Nova Friburgo, depois da exibição de vídeos e debates sobre o “como fazer”, os alunos decidiram escrever cartas anônimas para desconhecidos. Essas cartas foram colocadas posteriormente em locais de grande circulação de pessoas na cidade. As mensagens conclamavam à amizade, a um maior uso da gentileza no cotidiano, traziam desejos de bom dia, boa sorte, bom trabalho... Insistiam para que as pessoas largassem seus telefones celulares por alguns instantes para observar a cidade onde vivem; incentivavam a escrita de cartas com pedido de desculpas por algo que tenham feito a alguém. Enfim, eram mensagens positivas para um dia cheio e corrido, como ocorre na maioria das cidades.

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Foto 2: As cartas anônimas foram deixadas em locais de grande movimentação na cidade

Nenhum texto possuía remetente ou destinatário. Apenas uma folha anexada explicava o projeto em linhas gerais e oferecia um endereço de internet para alguma mensagem de retorno, caso fosse esse o desejo da pessoa escolhida pela carta.

O objetivo era sair do comum, da aula comum. Intervir na realidade das pessoas de forma simples gerou um ganho pedagógico impossível de ser medido. Muito além da prática social, os alunos desenvolveram seus textos de forma coletiva, opinando e recebendo sugestões, bem como ambicionaram aumentar o projeto, encaminhando cartas para outras cidades e estados. Muitos foram os erros tanto na grafia de algumas palavras quanto na timidez em colocar no papel alguns sentimentos para pessoas desconhecidas. Nenhum desses erros, no entanto, permaneceu. Todos foram vencidos e as cartas ganharam as ruas, as igrejas, os pontos de ônibus ou os telefones públicos.

Escrever cartas para desconhecidos desejando-lhes novas visões de mundo num ambiente tão tumultuado como o atual, serve para despertar nos alunos e nos leitores sentimentos que andam esquecidos recentemente: amizade, amor, benevolência, gratidão... Não há resultado científico melhor para um projeto que pode ser ampliado com ideias simples, mas com significativos resultados.

Referência

GARCIA, Natália. Como hackear a cidade. Escola de Jornalismo. Disponível em http://escoladejornalismo.org/curso/como-hackear-a-cidade/ Acesso em 05 jan. 2016.

Veja todos os artigos da série Refletindo sobre o Proemi

Publicado em 10 de maio de 2016

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