Ciência e arte no ensino de Astronomia: um relato de experiência no âmbito do Proemi
Adriana Oliveira Bernardes
Mestre em Ensino de Ciências (UENF)
Introdução
As dificuldades existentes para o ensino e aprendizagem da Física nos levam a pensar na importância de que sejam utilizados outros recursos pelo professor para sua atividade. Aliar uma das formas de arte ao ensino de Física é algo que tem grandes possibilidades de inclusão para a disciplina, que é responsável por elevado número de reprovações no Ensino Médio.
O trabalho que foi desenvolvido em colégio público do Estado do Rio de Janeiro em turma do Ensino Médio do ProEMI (Programa Ensino Médio Inovador) tinha por objetivo motivar o aluno para o aprendizado da Física, oferecer recurso lúdico aliado à arte para seu aprendizado e divulgar Astronomia na escola.
Foram então produzidos vinte painéis que formaram a exposição Ciência e Arte: a exploração do Sistema Solar. Pesquisando junto a alunos e professores sobre o que pensam de tal recurso, obtivemos significativo índice de aprovação, mostrando que um trabalho que envolva conhecimento de Física utilizando a arte como aliada pode contribuir não só para o aprendizado do aluno como para a divulgação do tema.
Ciência aliada à arte
A ciência aliada à arte é um excelente recurso para despertar o interesse dos alunos e das pessoas em geral. A divulgação da Astronomia pode contar com esse recurso, no qual podem-se expor imagens sobre determinados temas.
O trabalho realizado consta de uma exposição de vinte painéis com o objetivo de divulgar Astronomia. A exposição tem passado por várias instituições de ensino, além de locais públicos.
Em relação à Arte, os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam que:
esta área também favorece ao aluno relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo. Por exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático. Conhecendo a arte de outras culturas, o aluno poderá compreender a relatividade dos valores que estão enraizados nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana (PCN, Arte, 2006, p.14).
Muitos pensam que a relação entre arte e ciência é improvável, porém tanto o desenvolvimento de uma quanto o de outra estão arraigados na sociedade, sendo determinante sobre suas produções; em relação a esta questão, os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam que:
Tanto a ciência quanto a arte respondem a essa necessidade mediante a construção de objetos de conhecimento que, juntamente com as relações sociais, políticas e econômicas, sistemas filosóficos e éticos, formam o conjunto de manifestações simbólicas de uma determinada cultura. Ciência e arte são, assim, produtos que expressam as representações imaginárias das distintas culturas, que se renovam através dos tempos, construindo o percurso da história humana. A própria ideia de ciência como disciplina autônoma, distinta da arte, é produto recente da cultura ocidental (PCN, Arte, 2006, p. 26).
Podemos observar no contexto social que tanto artistas expressam-se em relação à ciência como cientistas em relação à arte; por isso uma discussão da arte no contexto do ensino de Ciências é válida, sendo pertinentes as análises de trabalhos artísticos que foram inspirados pelo desenvolvimento científico ou mesmo sua produção, retratando aspectos científicos; podemos dizer que ambas as atividades contribuem para uma Física contextualizada na escola.
Nesse sentido, temos que:
pensar numa educação com arte é, antes de tudo, pensar numa educação que dê ao aluno a chance de poder desenvolver seu potencial de criação, de produção, de execução de suas atividades. Nesse momento, a escola entra como uma espécie de elo entre o que a sociedade propaga e o desejo do aluno em poder desenvolver atividades que suas vontades e seus sonhos representem suas fantasias (NASCIMENTO, 2012, p. 7).
Os PCN (2006, p. 22) registram que
Malba Tahan, um dos mais importantes educadores brasileiros no campo da Matemática, disse, no início da década de 1930, que a solução de um problema matemático é um verdadeiro poema de beleza e simplicidade.
A Figura 1 mostra o trabalho sendo apresentado na escola para turmas do curso noturno regular de jovens e adultos.
Figura 1: Os planetas do Sistema Solar em discussão a partir da arte
É um trabalho de divulgação de Astronomia no qual utilizamos recursos ligados à arte, como o desenho, para abordar o tema “Planetas do Sistema Solar e sua exploração”.
Os planetas do Sistema Solar
A Astronomia foi introduzida no Currículo Mínimo estadual de Física em 2012, contando com vários tópicos pertencentes à temática planetas.
De modo geral, o conhecimento do sistema solar é importante, desde a discussão das teorias geocêntrica e heliocêntrica à discussão do conceito de planeta e as características de cada planeta.
Sabemos hoje que habitamos um planeta rochoso, devido à formação da sua superfície, que é o quarto a partir do Sol e que se encontra no que chamamos zona habitável, local com possibilidades de encontrar água e, consequentemente, existir vida, tal conhecemos nos dias de hoje.
Pertencente à Via Láctea, nosso sistema solar se encontra na periferia, a 30.000 anos-luz do turbulento centro de nossa galáxia, no qual se encontram buracos negros e anãs brancas, entre outros corpos celestes.
Segundo Daminelli (2009, p. 19), “o Sistema Solar é composto por uma estrela, oito planetas clássicos, 172 luas, um grande número de planetas anões, como Plutão, um número incalculável de asteroides e dezenas de bilhões de cometas”.
São quatro planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e quatro planetas gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno).
Os planetas gasosos, também chamados gigantes, possuem um sistema de anéis; os mais bem definidos pertencem a Saturno, que são os únicos visíveis ao telescópio, tendo sido observados por Galileu com a luneta construída por ele.
No século XX, várias sondas foram enviadas, tanto pelos Estados Unidos quanto pela Rússia, para estudar os planetas mais próximos; neste último ano uma delas chegou a Plutão, o último a ser explorado.
No trabalho, tentamos retratar detalhes das superfícies dos planetas, anéis e manchas, entre outros detalhes, explorando aspectos das características dos planetas e a aparência de algumas sondas espaciais.
Objetivos
Elaborar uma exposição que una ciência à arte, retratando o Sistema Solar e sondas espaciais, que possa percorrer colégios públicos de Nova Friburgo e contribuir com a divulgação de Astronomia dentro e fora da escola.
Metodologia
Inicialmente foram realizadas pesquisas para o entendimento das características dos planetas solares, como sua superfície, temperaturas e localização em relação ao Sol, entre outros. Esse conhecimento era importante, já que favorecia mais tarde a elaboração de desenhos; no caso, foram criados vinte painéis: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, a nave Vostok e o telescópio espacial Hubble, entre outros.
Com a elaboração da exposição, iniciamos um trabalho de divulgação na escola; a mostra participou de vários eventos:
- I Semana de Física
- Noites de Astronomia (promovidas na escola)
- Visita a escolas para participação em feiras de ciências
- Exposições em eventos de outras instituições de ensino, como a II Mostra de Arte do Cederj, entre outros
- FECTI (Feira Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação).
Com a divulgação do trabalho na escola, realizamos entrevistas com professores sobre o que pensavam de aliar suas disciplinas à arte, obtendo depoimentos de educadores de várias áreas do Ensino Médio.
O questionário é apresentado na Figura 2.
Figura 2: Questionário aplicado a professores e alunos
Resultados
Foram elaborados 20 painéis para a mostra “Planetas do Sistema Solar e sua exploração”. A mostra participou da I Semana de Física do Colégio Estadual Canadá e da II Noite de Astronomia promovida pelo GACEC (Grupo de Astronomia do Colégio Estadual Canadá), tendo ainda visitado colégios públicos e instituições de ensino e cultura de Nova Friburgo.
A mostra participou da feira de ciências municipal, que contava com a presença de colégios particulares e públicos, e obteve o 2o lugar.
Na pesquisa realizada com os alunos, foram obtidos os resultados apresentados nos gráficos a seguir.
Pergunta 1: Qual a importância de um trabalho que discute ciência a partir da arte?
Gráfico 1: 91% dos entrevistados acreditam que esse trabalho é de grande importância
Pergunta 2: Você acredita que o aluno que desenvolve tais trabalhos aprende com eles?
Gráfico 2: 86% dos entrevistados afirmaram que os alunos aprendem com esses trabalhos; 14% acham que não
Pergunta 3: Você aprendeu tomando conhecimento deste trabalho?
Gráfico 3: 66% dos respondentes acham que aprenderam com esses trabalhos; 34% acham que não
Pergunta 4: De maneira geral, o que você pensa de um trabalho com este?
Gráfico 4: 74% dos respondentes acreditam que o trabalho foi bom, 17% acham regular e 9% acham ótimo
Pergunta 5: Você considera o uso da arte uma boa prática para o ensino e divulgação de Astronomia?
Gráfico 5: 57% acreditam que é uma boa prática, 34% entendem que talvez seja e 9% acham que não
O concurso promovido na escola contou com grande participação dos alunos, despertando o interesse deles em se expressar através da arte.
A Figura 3 mostra alunos que participam da mostra envolvidos com os trabalhos.
Figura 3: Mostra Ciência e Arte no Colégio Estadual Canadá
O trabalho contou também com palestras, tentando sensibilizar principalmente os professores para a importância da utilização da arte como recurso.
Figura 4: A exposição participou da II Mostra de Artes do Cederj Nova Friburgo
Considerações finais
A divulgação da Astronomia vem sendo realizada de forma diversificada, com iniciativas provenientes de instituições formais e não formais de ensino. A iniciativa em questão é fruto do trabalho do Grupo de Astronomia do Colégio Estadual Canadá, que se encontra na categoria de ensino não formal.
Nesse trabalho, utilizamos a arte como forma de expressão, por meio de desenhos de planetas e sondas, obtendo resultados positivos quanto à visão dos alunos da escola sobre o trabalho.
A pesquisa, que possui resultados ainda preliminares, mostra a importância do trabalho de divulgação científica nas escolas e como uma grupo de Astronomia, na educação não formal, pode contribuir para a disseminação de conhecimento na escola.
Concluímos que a mostra pode ser um excelente recurso para a divulgação da Astronomia e para o aprendizado dos alunos.
O trabalho realizado no âmbito ProEMI possibilitou a seus alunos o entendimento da Astronomia, um dos temas trabalhados pela Física, de forma prazeroza e permitindo que eles pudessem vivenciar a aprendizagem de forma interdisciplinar.
Referências
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1997.
______. PCN+ para o Ensino de Ciências e Matemática. Brasília: Ministério da Educação, 2002.
BRASIL. Lei nº 9.396 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acesso em 7 mar. 2016.
DAMINELI, A.; STEINER, J. O fascínio do universo. Disponível em: http://www.astro.iag.usp.br/fascinio.pdf. Acesso em 6 ago. 2016.
NASCIMENTO, V. S. J. Ensino de arte: contribuições para uma aprendizagem significativa. II Encontro Funarte de Políticas para as artes.
Publicado em 16 de agosto de 2016
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