Saúde na escola: posso ajudar

Maria Vilani Soares

Professora ajunta (CCE/DMTE/UFPI), coordenadora do projeto de extensão Laboratório de Produção Textual (PREX/UFPI) e do Pibic Núcleo de Estudos em Refacção Textual (NERT/PIBIC/UFPI)

Arthur Soares Nunes

Acadêmico bolsista de Medicina em Parnaíba/PI (CMRV/UFPI)

Maxwel Soares Santos

Acadêmico bolsista de Engenharia Elétrica (UFPI/CMPP)

Michelly Kelliny de Lima Sousa

Acadêmica voluntária de Biomedicina em Parnaíba/PI (CMRV/UFPI)

Maria Mônica Soares de Paulo

Acadêmica voluntária de Enfermagem em Teresina/PI (FAPI)

Alex Soares Nunes

Acadêmico voluntário de Engenharia em Teresina/PI (CMPP/UFPI)

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Considerações iniciais

Não há como falar em Educação desconsiderando conhecimentos, atitudes, aptidões, comportamentos e práticas pessoais que possam ser aplicados e compartilhados com a sociedade em geral. Dessa forma, compreende-se que o processo educativo favorece o desenvolvimento da autonomia, ao mesmo tempo que atende a objetivos sociais. Educação e Saúde estão intimamente relacionadas, sendo a Educação para a Saúde resultante da confluência desses dois fenômenos. A despeito de que educar para a saúde seja responsabilidade de muitas outras instâncias, em especial dos próprios serviços de saúde, a escola se destaca como a instituição que pode se transformar num espaço de promoção da saúde (Novaes, 2013).

Partindo de tais pressupostos é que propomos, neste artigo, descrever uma intervenção vivenciada no projeto de extensão Laboratório de Produção Textual (PREX/UFPI), no segundo semestre de 2015, na cidade de Parnaíba, no Piauí (UFPI/CMRV). Trata-se de uma atividade multidisciplinar, com o tema Saúde na Escola, envolvendo profissionais da saúde e da educação, comunidade acadêmica de instituição de ensino superior, comunidade em geral e famílias.

Com o curso intitulado Saúde na Escola: Posso Ajudar?, propomos um conjunto de reflexões capazes de estimular e enriquecer o trabalho educativo dos profissionais de Saúde e dos que fazem a educação no Piauí, dando início a uma mobilização temática prioritária de saúde, que precisa ser trabalhada ao longo do ano letivo nas escolas, visando à prevenção de agravos à saúde associada a um desempenho mais significativo no contexto escolar.

Buscou-se, com base nessa proposta, mobilizar ações prioritárias de políticas públicas no âmbito da Saúde e da Educação; relevar ações multidisciplinares realizadas por profissionais da Saúde e da Educação em prol da melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem; incentivar a integração e a articulação das redes de educação e atenção básica; fortalecer a integração e articulação entre os setores da saúde e da educação em nível local; socializar as ações desenvolvidas pelas escolas; e fomentar o envolvimento da comunidade escolar e de parcerias locais.

A inter-relação entre Educação e Educação para a Saúde

Em palestra de abertura proferida por Keila Rejane Gomes, do CCS/CMPP/UFPI, pôde-se perceber que muitas iniciativas locais vêm sendo tomadas para implementar a Educação para a Saúde, e o desafio no momento é construir referenciais que contemplem esse direito para todos os alunos do Ensino Fundamental.

A professora assevera que, segundo a Organização Mundial da Saúde, as escolas que fazem diferença e contribuem para a promoção da saúde são aquelas que conseguem assegurar as seguintes condições: tomar a escola como ambiente saudável favorecedor da aprendizagem não só nas salas de aula, mas também nas áreas destinadas ao recreio, nos banheiros, nos espaços em que se prepara e é servida a merenda, enfim, em todo o prédio escolar, interagindo os aspectos físicos, psíquicos, socioculturais e ambientais.

A OMS releva questões importantes como promover a participação ativa de alunos e alunas, desenvolvendo questões como a autoestima e a autonomia pessoal, fundamentais para a promoção da saúde. Pontua ainda a necessidade do reconhecimento de conteúdos de saúde incluídos nas diferentes áreas curriculares, valorizando a promoção da saúde na escola para todos os que estudam e trabalham nela (Brasil, 2010).

Em sua palestra, Gomes afirmou que, “para muitos, essa perspectiva pode parecer ambiciosa e levantar a polêmica já conhecida dos educadores: é responsabilidade da escola também trabalhar com a Educação para a Saúde?”.

O Ministério da Saúde (1998) compreende que o período escolar é fundamental para trabalhar a saúde na perspectiva de sua promoção, desenvolvendo ações para a prevenção de doenças e para o fortalecimento dos fatores de proteção. Além de a escola ter uma função pedagógica específica, tem uma função social e política direcionada para a transformação da sociedade, relacionada ao exercício da cidadania e ao acesso às oportunidades de desenvolvimento e de aprendizagem, razões que justificam as ações voltadas para a comunidade escolar, dando assim concretude às propostas de promoção da saúde (Brasil, 2002).

Segundo Sícoli e Nascimento (2003), a promoção da saúde supõe uma concepção que não restrinja a saúde à ausência de doença, mas que seja capaz de atuar sobre seus determinantes. Incidindo sobre as condições de vida da população, extrapola a prestação de serviços clínico-assistenciais, supondo ações intersetoriais que envolvam a educação, o saneamento básico, a habitação, a renda, o trabalho, a alimentação, o meio ambiente, o acesso a bens e serviços essenciais e o lazer, entre outros determinantes sociais da saúde.

Muitas escolas e professores não têm conseguido acompanhar as profundas mudanças do mundo atual, o que tem provocado frequentes debates e publicações sobre educação nos diferentes níveis de ensino, discutindo tanto a premência de mudanças no projeto educativo das escolas quanto de formação, atuação e desenvolvimento dos que nela ensinam (Alarcão, 2001).

Aspectos metodológicos

O curso, com carga horária de 30h, foi composto de palestras contínuas que ocorriam simultaneamente, cada uma abordando temáticas relacionadas à Saúde na escola e proferidas por profissionais credenciados no assunto, como está no quadro a seguir, com a programação do evento.

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Fonte: Elaborado pelo Projeto Laboratório de Produção Textual (2015).

No grupo de trabalho Ambiente Escolar: Equilíbrio Emocional e Físico, consideramos que, perante uma situação, temos de saber de que forma deveremos regular a interpretação que fazemos do contexto em que estamos inseridos e tomar decisões de forma consciente. A escolha desse GT considerou a premissa de que “a consciencialização é o primeiro passo para a mudança”.

Conseguindo perceber o que se está se passando no nosso corpo ou por que estamos nos sentindo de determinada forma ou ainda por que razão temos vontade de reagir ou agir de certa maneira, de modo agressivo ou irritado, ou seja, se conseguirmos aprender a ler as reações fisiológicas que acontecem no nosso corpo, em situações críticas do dia a dia, teremos a possibilidade de impor a nossa vontade, tomando decisões que nos sirvam, decisões ajustadas e adequadas à situação, sem que mais tarde possamos nos arrepender.

Desse modo, nesse GT, tivemos a colaboração da professora doutora Liene Leal com a discussão sobre o tema “Agressividade: qual o teu papel na Educação?” e a colaboração da professora mestra Socorro Andrade com o tema “A importância da afetividade na aprendizagem escolar: o afeto na relação aluno-professor” e ainda “A interferência das emoções na aprendizagem”, com a colaboração da professora doutora Vilani Soares.

As emoções, como pontuou Vilani Soares em sua palestra, têm importante papel no processo de ensino e aprendizagem, pois atuam como definidoras do sentido subjetivo que é dado às experiências vividas; assim, atuam como organizadoras do nosso comportamento.

Segundo a palestrante, Vygotsky (2001) chama essa relação de “regra pedagógica”, que se refere à utilização de reações emocionais no processo de aprendizagem como estratégia de ensino e motivação por meio dos sentimentos despertados ao aprender algo novo.

Tal assertiva de Vygotsky justifica a escolha do tema proposto, já que, apesar da diversidade de conhecimentos adquiridos e socializados, muito pouco é sabido sobre o próprio ser humano, sobre os sentimentos e as emoções que envolvem a aprendizagem.

Tomando como foco tais premissas sobre a importância das emoções no processo de ensino e aprendizagem é que Vilani Soares teceu sua palestra, com base na seguinte problematização: até que ponto as posturas dos docentes, seja nos momentos de formação, no planejamento das atividades e/ou nas práticas efetivas de sala de aula, consideram as emoções para o desenvolvimento do autoconhecimento intelectual e social dos estudantes? Nesse contexto, segundo a palestrante, a ação docente assume lugar de relevância, visto que, por meio de seu trabalho, o professor pode contribuir para a transformação de certas realidades pouco humanizadas, dando maior importância ao ambiente emocional, revelando o papel das emoções como característica fundamental para odesenvolvimento da aprendizagem.

No segundo grupo de trabalho, Hábitos de Vida Saudável no Contexto Escolar, discutimos o uso de álcool, tabaco e outras drogas no contexto escolar e os transtornos da fala e distúrbios da aprendizagem, com a valorosa colaboração das professoras doutoras Brunna Verna Gondinho e Mayanna Magalhães, respectivamente.

No terceiro grupo de trabalho, Educação para a Saúde Sexual, contamos com a participação da professora doutora Juliana Melo (UFPI/CMRV), que trouxe à discussão o tema “Doenças sexualmente transmissíveis: saúde e prevenção nas escolas”, que teve impacto surpreendente em decorrência das diversas “dúvidas” apresentadas pelos participantes.

Outro assunto de grande repercussão foi homofobia, lesbofobia e transfobia no contexto universitário, com a apresentação de um vídeo tratando da diferença terminológica desses itens lexicais e do preconceito nos diversos ambientes sociais.

O impacto entre os acadêmicos e profissionais foi muito animador, uma vez que eles puderam se manifestar livremente, com depoimentos e opiniões sobre o tema. Esse GT permitiu a radiografia dos níveis de compreensão, apontando para a necessidade da educação da população e da implementação de políticas públicas focadas na diversidade sexual e identidade de gênero, o que requer a construção de uma nova política educativa.

Considerações finais

Na Educação para a Saúde, o papel mais importante do professor é como motivador que introduz os problemas presentes, busca informação e materiais de apoio, problematiza e facilita as discussões por meio da formulação de estratégias para o trabalho escolar.

O que se pretendeu no evento foi incentivar debates e reflexões sobre os temas categorizados nos grupos de trabalho, mais especificamente no contexto universitário. Vale ressaltar que essa foi apenas uma tímida tentativa de propor reflexões para temas tão importantes relacionados à promoção da Saúde na Escola, já que é preciso que atentemos para questões físicas, emocionais e/ou psicológicas, na preocupação não somente com o ensino, mas, primordialmente, com a preparação do nosso aluno para o aprendizado.

Sabemos da necessidade de outras tantas reflexões importantes sobre esses temas e de que essa proposta não seja vista como conclusa, nem árida e solitária e, sim, colaborativa, partilhada reflexivamente.

Referências

ALARCÃO, I. (Org.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. Informes Técnicos Institucionais. A promoção da saúde no contexto escolar. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 533-535, 2002.

CASASSUS, J. Fundamentos da educação emocional. Brasília: Unesco/Liber Livro, 2009.

FIGUEIREDO, T. A. M.; MACHADO, V. L. T.; ABREU, M. M. S. A saúde na escola: um breve resgate histórico. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 397-402, mar. 2010.

LIBERALI, F. Formação de professores de línguas: rumos para uma sociedade crítica e sustentável. In: GIMENEZ, T.; MONTEIRO, M. C. G. Formação de professores de línguas na América Latina e transformação social. Pontes, p. 71-91, 2010.

NOVAES, C. B. de. Promoção da saúde na educação básica: possibilidades e desafios para Licenciatura em Enfermagem. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Psiquiátrica. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Ribeirão Preto, 2013.

VYGOTSKY, L. S. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Publicado em 11 de setembro de 2018

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