As artes cênicas nas brincadeiras populares cantadas pelo Mestre Tadeu
Fernando Antonio Abath Luna Cardoso Cananéa
Doutor em Educação (UFPB)
Ailza de Freitas Oliveira
Doutoranda em Educação (UFPB)
Casa e escola: distintos ambientes de manifestações folclóricas
O folclore brasileiro é rico em diversidade cultural, o que amplia nosso leque de possibilidades quando atuamos profissionalmente na arte-educação com projetos pedagógicos envolvendo a disciplina de Artes Cênicas. Várias são as vertentes sobre nosso folclore que podemos abordar e que podem desencadear projetos qualitativos e prazerosos aos envolvidos. Neste artigo, vamos relatar uma experiência pautada nas brincadeiras populares folclóricas, desenvolvida numa turma de 36 estudantes de 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal da cidade de João Pessoa, na Paraíba, no terceiro bimestre letivo de 2017.
Lendas, parlendas, execução de brincadeiras populares, manuseio de brinquedos populares, contação de piadas, adivinhações, causos, cordéis, cantigas, execução de danças populares e demais aspectos relacionados ao folclore brasileiro estão envolvidos por artes cênicas em suas formas de execução. Praticar atos relacionados ao folclore é fazer teatro, encenar. Vivenciar essas ações folclóricas no espaço escolar com direcionamento pedagógico em prol de aprendizagens curriculares é possibilitar a disseminação de nosso folclore e a ampliação do alcance de nossa cultura popular.
Também averiguamos que os alunos conhecem várias brincadeiras que seus pais e avós brincavam, mas cabe ao professor [...] oferecer a oportunidade de valorizar essas brincadeiras, através de uma intervenção que favoreça o despertar e resgate para tais brincadeiras populares (MATIAS, 2016, p. 63).
De acordo com nossa experiência prática sobre o assunto e pesquisas relacionadas em textos de autores(as) que definem o tema, acostamo-nos ao que pontua Oliveira (2016, p. 255), ao afirmar que “assim podemos entender folclore como as tradições, conhecimentos e crenças populares expressas em manifestações folclóricas como costumes, culinária, literatura, canções, festas e a religiosidade que apontam uma região, grupo ou época”. Isso implica que, embora cristalizado pelas gerações que o transmitem, o folclore se situa vivo e mutável, pois as formas distintas de contar cada manifestação fazem com que elas se transformem e possam variar de uma região para outra.
As artes cênicas nas brincadeiras populares cantadas pelo mestre da cultura popular Tadeu Patrício propiciam de forma lúdica que direcionemos ações didáticas com estudantes tornando o processo de montagem atrativo a eles e qualificando pedagogicamente o que produzimos em nossas aulas de Artes Cênicas, pois, quando estão motivados, estudantes se envolvem com maior ênfase nas atividades, se debruçam sobre o processo de montagem de forma engajada, o que valoriza o resultado das atividades, ao mesmo tempo que amplia a aprendizagem, pois a torna significante.
Arte e arte-educação
Culturalmente, em nossa sociedade, pensar em arte é sinônimo de entretenimento, lazer, prazer, opção para passar o tempo, ocupar a mente, liberdade do como, quando e onde; ou seja, arte, em nossa sociedade, é colocada como futilidade desnecessária e inútil, digna dos desocupados, praticada por românticos improdutivos. Assim, não é séria nem importante, tampouco necessária. Por isso, a arte-educação, direcionada em escolas formais, carrega, desde sempre, esse fardo negativo imposto por uma sociedade que desqualifica o ser por estar pautada no ter.
Com efeito, a lógica neoliberal da concorrência tende a reduzir a educação a uma mercadoria escolar a ser rentabilizada no mercado dos empregos e das posições mecânicas e superficiais, desconectadas do sentido do saber e de uma verdadeira atividade intelectual (Charlot, 2013, p. 60-61).
Assim, a arte sucumbe historicamente numa categoria tida como inferior; “como é notório, é difícil falar de arte. Pois a arte parece existir em um mundo próprio, que o discurso não pode alcançar” (Geertz, 1998, p. 142), e esse lugar foi condicionado socialmente, pois a arte faz pensar, amplia o ser; entretanto, nossa sociedade se pauta no ter; portanto, desqualifica a arte e justifica que ela não cabe nos contextos de aprendizagens, apenas no mercado. No entanto, “poderíamos dizer que a arte fala por si mesma: um poema não deve significar, e sim ser, e ninguém poderá nos dar uma resposta exata se quisermos saber o que é o jazz” (Geertz, 1998, p. 142). Falando por si mesma, com autonomia, a arte não cabe no sistema capitalista que impõe.
Conforme mencionamos em artigo anterior, percebemos que, “embora a disciplina Arte tenha, como as demais disciplinas, conteúdos próprios e necessários em cada ano letivo escolar, é prática comum percebermos na Arte a possibilidade de incluir qualquer tema a ser trabalhado na escola” (Oliveira; Cananéa, 2016, p. 1). São pesos socialmente impostos e diuturnamente enfrentados por todos(as) que fazem arte-educação com qualidade e respeito. Dessa forma, “Escola e Artes permaneceram dois mundos quase estanques até o século XX, a não ser que fosse uma arte da palavra, como Literatura, Poesia e até texto de Teatro, sem palco” (Charlot, 2013, p. 197). O respeito à Arte na Escola padece do respeito à arte na sociedade, pois na escola o desrespeito é reflexo do que ocorre no social.
A Arte na Educação sofre barreiras sociais múltiplas, desde a sua implantação no currículo escolar até o recente golpe parlamentar, quando mais uma vez a disciplina foi ameaçada de extinção:
Tivemos no recente golpe parlamentar, ocorrido no Brasil em maio de 2016, uma série de modificações na legislação educacional, dentre elas mais uma demonstração de ataque à referida disciplina e aos que nela acreditam com a proposta de torná-la optativa (Medida Provisória nº 746/16) e depois o advento da Lei nº 13.415/17, que modifica o Art. 6º fazendo com que o Art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passe a vigorar com alterações (Cananéa et al., 2017, p. 1).
No entanto, resistir é, desde sempre, sinônimo de professores(as) de Arte; para nós, a resistência é a saída viável. Qualificando e diversificando nossas aulas em prol da formação integral dos seres humanos, vamos nos fortalecendo e resistindo, simultaneamente.
O fortalecimento pautado na resistência para qualificar a arte na educação precisa passar pela formação e pelo aperfeiçoamento de todos(as) os(as) envolvidos(as). “Mas defendo a ideia de que a educação, a arte, a arte-educação ou seja qual nome que se queira dar ao projeto, não pode ser apenas improvisação e espontaneidade; requer encontro com obras e trabalho reflexivo sobre a atividade” (Charlot, 2013, p. 218). É preciso estudar para poder ensinar, e não existe ensino sem estudo prévio; uma ação depende da outra para poder coexistir.
Projetos pedagógicos em Artes Cênicas
Desenvolver projetos pedagógicos em Artes Cênicas é algo que nos motiva a enfrentar o rígido calendário escolar com criatividade, driblando de forma criativa e envolvente as datas comemorativas impostas a nós todos – estudantes e docentes – com propostas diferentes das comumente apreciadas nas escolas; geralmente propomos atividades que passem pela pesquisa, reflexão e prática, ao mesmo tempo que nos distanciamos das dublagens musicais e coreografias marcadas.
Neste trabalho, durante o período do folclore, buscamos aprender com a biografia do folclorista e mestre da cultura popular Tadeu Patrício, estudamos as suas práticas pedagógicas e educacionais, visualizamos seus projetos artísticos e culturais, realizamos audições de suas músicas relacionadas ao folclore; dentre elas, selecionamos a canção Não vejo mais para aprofundamento em sala de aula, com montagem cênica e coreográfica, com composição de personagens individuais e criação coletiva de texto precedente à canção.
Em conversa informal com o artista, informei que esta seria a quinta vez que montava cenicamente sua canção em escolas diferentes; quando indaguei sobre sua motivação para a composição da música, ele informou que não vislumbrava fins pedagógicos; sua intenção era relatar, como forma de protesto, por perceber o desaparecimento progressivo das brincadeiras populares que habitavam a sua infância, em detrimento de brincadeiras tecnológicas e individualistas, que não propiciam a cooperação, o coletivo, o trabalho em grupo nem a liberdade de brincar na rua. Liberdade esta que o folclore brasileiro, por intermédio das brincadeiras populares, nos propicia. Acredito haver consonância entre o relato do artista e Charlot, quando este afirma:
a ideia de teatro político induz, ao mesmo tempo e, às vezes, de formas contraditórias, a levar até o povo o teatro consagrado, clássico ou moderno, e a dar a palavra ao povo, aos operários, aos oprimidos, tentando fazer teatro com essa palavra. Quer seja na forma épica de Brecht, na forma de Boal ou nas performances que desistem da sala à italiana e se oferecem na rua, o teatro com vocação social ou política pretende exprimir a experiência do povo, muitas vezes recuperando a sua própria fala ou criar uma oportunidade ou um evento para que o povo se exprima (Charlot, 2013, p. 202-203).
Mostrar, brincar e divulgar as brincadeiras populares do nosso folclore é uma forma de expressar nossas raízes culturais, transmitir às novas gerações valores de nossos antepassados e cultivar hábitos saudáveis com brincadeiras tradicionais que valorizam as atividades coletivas, a ludicidade, a cooperação e a interação entre grupos.
Para o mestre Tadeu, a sua canção Não vejo mais tem muita relação com a questão dos brinquedos e brincadeiras populares; em seu blog, refletindo sobre a música, o mestre escreveu que
é uma letra que propõe uma reflexão sobre os brinquedos e as brincadeiras populares que vêm desaparecendo, geração após geração, desde a chegada dos brinquedos da Estrela no Brasil e dos videogames e outros jogos eletrônicos existentes para programas do computador, cujos jogos têm tornado o ser humano distante do universo da cultura popular, da família e de uma infância sadia. Assim caminha o novo homem, uma figura individualista e antes social, totalmente o contrário daquilo que propõem os brinquedos e brincadeiras populares (Patrício, 2012, p. 1).
Podemos perceber o relato de um músico e compositor que se preocupa com a divulgação e manutenção de nosso folclore, por isso estimula a prática de brincadeiras populares cantadas em sua canção, ao mesmo tempo que reflete sobre o individualismo entusiasmado nas brincadeiras eletrônicas da atualidade.
O folclore brasileiro e as brincadeiras populares
Nosso rico folclore é dotado das mais variadas manifestações; as brincadeiras populares são exemplos de musicalidade, representação cênica, jogo cooperativo e trabalho em equipe. No universo escolar, os aspectos relacionados ao folclore são apresentados como possibilidade de ações práticas que estimulam a manifestação das mais variadas áreas de nossa cultura popular. Dessa forma,
como manifestação folclórica, podemos compreender os brinquedos e as brincadeiras populares, comidas típicas, festas e danças, literatura de cordel, trava-línguas, parlendas, contos, lendas e mitos, canções e cantigas de roda que são passadas, geralmente por linguagem oral, de geração a geração, de pai para filho, através dos tempos (Oliveira, 2016, p. 255).
Essa forma de transmissão do folclore remete ao convívio familiar, primeira escola onde as crianças aprendem e formam seus valores. Em nossa cultura, é comum presenciarmos familiares cantando cantigas folclóricas enquanto ninam suas crianças e contando histórias de lendas e personagens populares ou executando em grupo familiar alguma brincadeira que integra o universo folclórico. Na escola, geralmente essas manifestações folclóricas são retomadas e ampliadas, uma vez que o primeiro contato com elas comumente acontece no seio familiar.
Nossa montagem enfatizou a vivência de brincadeiras populares que cada estudante conhecia; partindo do universo individual, cada estudante trouxe e apresentou à turma seu mundo de brincadeira popular, e assim, por afinidade, conhecimento prévio e disponibilidade dos objetos necessários para o desenvolvimento de cada brincadeira – que muitas vezes são brinquedos populares – foram se formando as equipes de apresentação; e nossa montagem exibiu as brincadeiras de pular corda, soltar pipa, pião e ioiô, carrinho de madeira, bola de gude, boneca de pano, contação de histórias, passa-anel, roda, toca, mímica e estátua. Todas acompanhadas por um trio de protagonistas – recepcionista, professor e autor – que conduziu a ligação entre uma cena e outra, intercalando seus textos autorais com a execução das brincadeiras populares.
Figuras 1, 2 e 3: Brincadeiras populares: roda, pião e boneca de pano
Fotos: Ailza de Freitas Oliveira (2017).
A canção Não vejo mais (Correia, 2012) trata exatamente de um lamento do autor, ao perceber o desaparecimento dessas práticas populares no cotidiano infantil da atualidade. E a experimentação prática dessa canção como ferramenta metodológica nas aulas de Artes Cênicas possibilitou muito mais que o fortalecimento de nosso folclore no universo infantojuvenil escolar; permitiu também vivenciarmos algumas outras questões pedagógicas sobre as quais refletiremos a seguir.
Algumas das habilidades desenvolvidas
A oralidade foi estimulada com criatividade, pois, em círculo, cada estudante foi incitado a narrar como se executa cada brincadeira popular que conhecia, sendo observado pelos demais, com respeito ao momento de falar e ouvir.
Essa etapa ocorre após uma dinâmica que denominamos “tempestade de ideias”, em que o tema brincadeira popular é proposto e os estudantes são convidados a falar todas as palavras e ideias que vêm à sua mente sobre o tema. Essas ideias são anotadas no quadro, na sequência em que são externadas; após cessarem as ideias, ou seja, após a tempestade de ideias ocorrer, todos conversam sobre cada uma, selecionando as mais pertinentes para a execução na montagem cênica.
Outro aspecto desenvolvido foi a escrita, quando solicitamos que os estudantes escrevessem individualmente como se desenvolvem as brincadeiras selecionadas, incluindo materiais necessários, número de participantes e regras imprescindíveis; a escrita teve a sua execução destacada e estimulada em consonância com a ilustração, para melhor compreensão do leitor sobre cada brincadeira popular. Nessa etapa de execução, realizamos escrita e análise da letra da música encenada:
1. Não vejo não, não vejo mais...
Brincadeira de pião pela calçada;
Não vejo não, não vejo mais...
Bola de gude juntar a molecada.
Não vejo não, não vejo mais...
Pipas no ar colorindo o meu céu;
Não vejo não, não vejo mais...
A brincadeira de passar anel.
ESTRIBILHO:
Hoje tudo está mudado, tudo aqui modificou
O menino já não brinca, não é mais um sonhador...
O homem não é o mesmo depois do computador
O planeta agoniza porque está faltando amor (2 x)
VOCAL: Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô
2. Não vejo não, não vejo mais...
Carrinhos de madeira pela calçada.
Não vejo não, não vejo mais...
Jogo de castanha juntar a garotada.
Não vejo não, não vejo mais...
Brincar de roda e outras diversões
Não ouço não (não), não ouço mais...
Contar histórias, anedotas e canções.
ESTRIBILHO:
Hoje tudo está mudado, tudo aqui modificou
O menino já não brinca, não é mais um sonhador...
O homem não é o mesmo depois do computador
O planeta agoniza porque está faltando amor (2x)
VOCAL: Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô (Correia, 2012, p. 3).
Outra habilidade incentivada foi a formação de plateia, que tanto estimulamos em nossa prática pedagógica; acreditamos que a formação de plateia é uma transversalidade interdisciplinar. “A disciplina de Arte tem proporcionado aos estudantes a vivência como plateia, uma vez que promove e os induz a contemplar ações que conduzam os estudantes na representação do personagem plateia” (Oliveira; Cananéa, 2016, p. 3). Assim, estimulamos os estudantes a adotar as posturas desejadas e esperadas em plateias; nosso desejo é que essa postura de respeito e apreciação seja adotada em outras esferas além do ambiente escolar, em que nossos estudantes estejam como plateia, atingindo assim também o contexto social deles.
Desse modo, “nosso desafio, como professores(as) de Arte, é fazer refletir sobre a postura prática adequada e desejada de plateias” (Oliveira; Cananéa, 2016, p. 3); para que esse processo reflexivo ocorra, começamos “em experiências internas no ambiente escolar até que essa prática se transforme em frequente no dia a dia dos estudantes além da escola, independente de onde estejam atuando como plateia” (Oliveira; Cananéa, 2016, p. 3). Dessa forma, podemos perceber a educação cumprindo seu papel social, que supera o informativo e atinge o formativo.
A apreciação estética no teatro é um aspecto que julgamos muito importante; por isso, buscamos, ao longo da atividade, estimular nossos estudantes para observar os aspectos cênicos com atenção, debatendo coletivamente após todo espetáculo que presenciamos, para aprofundar nossos olhares a cada detalhe que se apresenta nas cenas. Apreciar esteticamente não significa aprender a gostar sempre, mas aprender a elaborar comentários construtivos, ampliar o olhar sobre cada aspecto que compõe os elementos do teatro existentes em cada atividade; assim, os estudantes vão percebendo que a maquiagem, a sonoplastia, o texto, a iluminação, a entonação, o silêncio, o figurino e todos os demais elementos significam uma riqueza de informações que auxilia a contar a história.
Apreciar esteticamente é também ter respeito pelo trabalho do outro, pois um olhar atento estimula quem apresenta, além de possibilitar maior compreensão de quem assiste. Não é só apresentando que se aprende; assistindo também, sobretudo se após assistirmos debatermos com direcionamento didático e postura pedagógica.
Figuras 4, 5 e 6: Brincadeiras populares: pipa, passa-anel, bola de gude e carrinho de madeira
A encenação das brincadeiras populares elencadas pelos estudantes, além de desenvolver a prática do teatro, também permitiu que a criação dramatúrgica acontecesse por internédio dos textos elaborados por cada estudante; ao intercalar com falas uma brincadeira e outra, encenando e criando textos assim, cada estudante participou como coautor da história a ser contada.
A improvisação cênica também é um aspecto que percebemos ao longo de nossa atividade. Ela perpassou as etapas de montagem das cenas, de elaboração do texto e de utilização dos brinquedos populares para a execução das brincadeiras populares. Ter liberdade para improvisar durante o processo estimula a criatividade e desenvolve características de segurança, confiança e resolutividade diante de situações inesperadas, como ao adaptar um brinquedo que quebrou durante a apresentação para realizar a cena com desenvoltura sem que o público percebesse o improviso.
Desenvolvemos também a prática da leitura ao estimularmos leituras da letra da canção selecionada, do texto elaborado coletivamente para ser encenado e dos textos desenvolvidos de forma individual para explicar como se executam as brincadeiras populares. Lemos em diferentes etapas da montagem cênica e por distintas motivações: informar, criar e decorar. Assim, a leitura se fez presente em todas as etapas de nossa atividade.
Dessa forma, observamos que em nossa atividade estiveram presentes o estímulo e a prática da oralidade, escrita, ilustração, formação de plateia, apreciação estética, encenação, improvisação, leitura e respeito ao outro. Aspectos pedagógicos e sociais que, como educadores(as), precisamos e devemos valorizar e perseguir em nossas atividades educacionais.
Considerações sobre a práxis
Percebendo a práxis como a prática imbricada da teoria e fortalecida por uma consciência social, refletimos sobre a ação desenvolvida com os estudantes envolvendo as brincadeiras populares que habitam o nosso folclore. Dessa forma, observamos ao longo de nosso trabalho pedagógico que, para fortalecermos os laços que fazem conhecer, valorizar e divulgar nossa cultura popular, se faz necessário desenvolver ações que coloquem em prática a reflexão e a execução dessas ações. A familiarização com o folclore brasileiro ocorre a partir da sua prática consciente, desenvolvida de forma prazerosa e direcionada.
A partir da familiarização com as brincadeiras populares, podemos aprofundar em nossos estudantes o prazer de executá-las, divulgando-as e, consequentemente, valorizando-as no enraizamento dessas práticas em nossa sociedade. “Nesse sentido, a transmissão oral, tida como um acontecimento lembrado, tem que ser revivida e incorporada, de maneira que essa transmissão se transforme numa história viva” (Nascimento, 2013, p. 114). Assim, transmitindo-o, manteremos vivo o nosso folclore.
O leque de possibilidades relacionadas ao folclore que aprendemos em casa, quando fortalecido de forma adequada na escola, faz emergir cidadãos que valorizam as suas raízes culturais, transmitem-nas com orgulho e compreendem que a valorização das nossas práticas folclóricas fortalece a nossa identidade tanto como grupo social quanto como individuo que pertence a um espaço, a um tempo e faz história.
Referências
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013.
CORREIA, Judas Tadeu Patrício. Campeão do brinquedo yo yo york, esteve em Cabedelo fazendo manobras na Escola José Guedes Cavalcanti. Postado em 21 out. 2012. Disponível em: http://professortadeupatricio.blogspot.com.br/2012/10/. Acesso em: 23 jan. 2018.
GEERTZ, Clifford. O saber local – novos ensaios em antropologia interpretativa. Trad. Vera Mello Joscelyne. Petrópolis: Vozes, 1998.
MATIAS, Ana Lidia Freire. Brinquedos e brincadeiras populares na escola. In: CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso (Org.). Educação – Olhares Diversos. João Pessoa: Imprell, 2016.
NASCIMENTO, Maria Ernestina Cornélio do. A oralidade como veículo na transmissão dos saberes tradicionais. In CANANÉA. Fernando Antonio Abath Luna Cardoso (Org.). Sentidos de leitura: sociedade e educação. João Pessoa: Imprell, 2013.
OLIVEIRA, Ailza de Freitas; CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. As múltiplas dimensões da arte na escola e da escola com arte. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/revista/artigos/as-multiplas-dimensoes-da-arte-na-escola-e-da-escola-com-arte. Acesso em: 22 dez. 2017.
OLIVEIRA, Ailza de Freitas; CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso; SILVA, Maria Cely de Sousa; OLIVEIRA, Soraya de Souza de. Clicando aprendizagens: relato de experiências coletivas no projeto Click Maré. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/revista/artigos/clicando-aprendizagens-relato-de-experiencias-coletivas-no-projeto-click-mare. Acesso em: 23 jan. 2018.
OLIVEIRA, Ailza de Freitas; CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. Formação de plateia enquanto transversalidade interdisciplinar. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/revista/artigos/formacao-de-plateia-enquanto-transversalidade-interdisciplinar. Acesso em: 23 jan. 2018.
OLIVEIRA, Soraya de Souza de. Lendas folclóricas: breves reflexões sobre o folclore no universo escolar. In: CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso (Org.). Educação - (re)discussões (im)pertinentes. João Pessoa: Imprell, 2016.
Publicado em 06 de fevereiro de 2018
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