Conceitos de teoria e prática na terapia psicomotora
Marcelo Bittencourt Jardim
Mestrando em Ensino de Educação Básica (UERJ), especialista em Psicomotricidade, Educação e Clínica (IBMR), bacharel e licenciado em Educação Física (Unipli), com aperfeiçoamento acadêmico em Saúde Coletiva SUS (UFRJ), em Formação Docente em Educação Pública (Cecierj), especialista em Autismo (SMPD/RJ), educador físico da Secretaria Municipal de Saúde Pública, no Núcleo de Apoio à Saúde da Família em São Gonçalo/RJ, professor universitário
Márcia Valadão dos Santos
Licencianda em História (Unesa - câmpus Alcântara/RJ), agente de Saúde Pública na Unidade de Saúde da Família Coelho, em São Gonçalo/RJ
Este estudo traz para a sociedade, profissionais da Saúde e Educação, estudantes de ensino superior e estudiosos na área a conscientização da importância do serviço público e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família do Estado do Rio de Janeiro para a melhoria da população carente que depende dos atendimentos. Esta pesquisa faz parte da atuação profissional na promoção da saúde física, mental, social e relacional em atendimentos de Educação Física como terapia psicomotora e estimulação das práticas corporais de idosos, pacientes com deficiências congênitas, adquiridas, adolescentes e sujeitos sedentários auxiliando na sua reabilitação motora e qualidade de vida em áreas de vulnerabilidade e risco social na cidade de São Gonçalo, apresentando os conceitos dos aspectos teóricos vinculados às práticas profissionais.
O método que utilizamos para o atendimento no desenvolvimento humano estimula os seus aspectos físico-motor, social, afetivo e emocional; está entrelaçado à metodologia de trabalho e estudo apoiada na Psicomotricidade Relacional, criada na década de 1970 pelo educador físico francês André Lapierre. Desenvolvemos um trabalho fundamentado no afeto: de afetar e ser afetado. O afeto é um dos aspectos básicos, juntamente com o cognitivo/intelecto e o movimento/função motora do sujeito. A Psicomotricidade (psico: mente; motricidade: faculdade de realizar movimentos) é a ciência que estuda o homem e suas funções – aquisições orgânicas como o cognitivo/intelecto, seu movimento – os elementos psicomotores e o social/relacional/afetivo, auxiliando na prevenção, reeducação e terapêutica. O intuito é contribuir para o desenvolvimento biopsicossocial do ser humano.
A Psicomotricidade é uma ciência que estimula fundamentalmente dois conceitos: o de esquema corporal e o de imagem corporal. A afetividade consegue determinar o modo como crianças, adolescentes, jovens e adultos visualizam o mundo e a forma como se manifestam nele. O afeto é de grande valor na prática da saúde, na área educacional e da docência. É preciso muito tato por parte do profissional para lidar com inúmeras situações desafiadoras que ocorrem com frequência no cotidiano. Neste estudo afirmamos que a maneira eficaz de um atendimento mais humanizado e coerente é pelo afeto. O sujeito que se sente acolhido e estimulado pelo profissional se desenvolve tanto no lado emocional/relacional quanto no motor e principalmente no intelectual.
Durante os atendimentos, estimulamos principalmente as relações sociais, pois a maioria dos pacientes da localidade onde este trabalho é desenvolvido reside em locais de permanente risco e vulnerabilidade social; eles se adaptam e, de acordo com Piaget, aprendem outras maneiras de se relacionar, outras vivências corporais. Como afirma Vygotsky, cada discente é um agente ativo nesse processo, pela reflexão do sujeito e da estimulação pelo docente conduzindo o indivíduo à conscientização, no ambiente social, podendo desconstruir visões negativas que possui de si, do seu presente e do futuro, resgatando a autoestima e mostrando que existem outros caminhos, outras formas e que ninguém nasce fadado ao fracasso, por mais que tenha nascido em um lar desestruturado com sérios problemas afetivos, sociais e financeiros.
A terapia, a educação e a reeducação psicomotora, junto com a ação de ensinar dos profissionais, devem formar cidadãos críticos, conscientes e reflexivos, capazes de enxergar uma realidade além do que a mídia mostra. O afeto anuncia que podemos construir mais pontes entre a teoria e a prática, e menos muros. A metodologia propõe ampliar as áreas de atenção dos profissionais e indica necessidades que devem ser percebidas nos pacientes em geral. Assim, é preciso mais que conhecimento teórico científico para atender; estar aberto a entender o mundo do outro (empatia) faz parte da caminhada para construir um conhecimento sólido, em que não somente o conteúdo seja ensinado/ministrado/discursado, mas também valores, cooperação, compaixão e empatia. Plantar bons valores nos nossos pacientes para colherem um futuro melhor e com uma boa saúde mental deve ser o objetivo da saúde pública, para uma verdadeira promoção de saúde.
Esse trabalho é desenvolvido em comunidades carentes (que carecem de vários aspectos, principalmente de afeto); em alguns anos de profissão, observamos que a disponibilidade do profissional para o outro é a chave do sucesso para um bom atendimento humanizado. Ao longo da carreira, me conscientizei, principalmente no serviço público, de que todos os pacientes precisam de um olhar diferenciado dos profissionais; para os profissionais terem esse olhar, devem primeiro refletir quanto às seguintes perguntas: qual é o meu papel na sociedade? Qual é o meu propósito na vida? O que significa serviço público e ser servidor público? Diante dessas perguntas, nós, profissionais, devemos fazer uma reflexão em nosso cotidiano e olhar a população com mais empatia, carinho e amor, pois essas pessoas precisam e muito de um serviço público de qualidade.
Respondendo a essas perguntas, começo explicando que considero que meu papel (dever) na sociedade é contribuir (cooperar) de forma que meu estudo e minha atuação na realidade faça a diferença (mudança) na vida do próximo (de quem está perto) e, fazer diferente (ruptura) do sistema de reprodução de conceitos que está moldado (copiado, imitação de pensamentos e atitudes); compreendendo isso, o meu propósito (saber o que faz e para que faz) na vida tornou-se passar o meu conhecimento de forma humanizada (com sociabilidade), afabilidade (com educação, atenção, afeto), hospitalidade (maneira de tratar que expressa gentileza) e com empatia (ação de se colocar no lugar de outra pessoa) para os sujeitos que precisam do serviço público (efeito de servir); tive o entendimento de que ser servidor público (aquele que serve a alguém, ao povo) e atuar no serviço público, significa servir ao público (pessoas) e não se servir dele, chegando à conclusão de que o estudo, o conhecimento, o entendimento só fazem sentido na vida quando praticamos.
Como educador físico, desenvolvo trabalhos com idosos, pessoas com deficiências, crianças, sujeitos com depressão, hipertensão, AVC, problemas articulares e entre outras comorbidades. Procuro estimular as partes afetivas desenvolvendo a cooperação, o toque, a interação por meio de atividades em grupo durantes as aulas, o cognitivo estimulando as pessoas a se concentrar, gravar os exercícios, os objetos usados e até mesmo os nomes de seus colegas na atividade e, por último, o aspecto físico, com exercícios de circuito funcional estimulando os elementos psicomotores: percepção óculo-pedal, manual, lateralidade, equilíbrio, flexibilidade nos alongamentos, coordenação motora e desenvolvendo exercícios contra resistência para fortalecimento articular e muscular, além de caminhadas e conversas a respeito do seu cotidiano.
A seguir estão algumas fotos do trabalho.
Referências
EDUCAÇÃO PÚBLICA. Resenha do livro Amor que educa. v. 16, 19 de janeiro de 2016. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/16/2/resenha-do-livro-amor-que-educa?fbclid=IwAR3rzv-qUkYdLbMV3NPzjHQoHXkdZf_fajNvE99H5ciF2TkkavHqx6WQbOk.
FREITAS, Maria Tereza de Assunção. Vygotsky e Bakhtin – Psicologia e educação: Um intertexto. São Paulo: Ática, 1994.
JARDIM, M. B. A importância do educador físico no Núcleo Ampliado de Saúde da Família de São Gonçalo. Educação Pública, v. 17, 12 de dezembro de 2017. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/17/24/a-importncia-do-educador-fsico-no-ncleo-ampliado-de-sade-da-famlia-de-so-gonalo.
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PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.
VINHOLES, Sandro. Análise e contribuição universitária da pesquisa educacional Amor que Educa para formação de docentes e professores de Educação Física no Rio Grande do Sul. Educação Pública, 28 de maio de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/10/analise-e-contribuicao-universitaria-da-pesquisa-educacional-amor-que-educa-para-formacao-de-docentes-e-professores-de-educacao-fisica-no-rio-grande-do-sul.
Sites
Conselho Federal de Educação Física: https://www.confef.org.br/
Ministério da Saúde: https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/nucleo-de-apoio-a-saude-da-familia-nasf
Publicado em 28 de abril de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
JARDIM, Marcelo Bittencourt; SANTOS, Márcia Valadão dos. Conceitos de teoria e prática na terapia psicomotora. Revista Educação Pública, v. 20, nº 15, 28 de abril de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/15/conceitos-de-teoria-e-pratica-na-terapia-psicomotora-na-saude-publica
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