História das Ciências e Ensino da Física: uma revisão bibliométrica da produção de comunicações orais nos Simpósios Nacionais de Ensino de Física (SNEF) dos últimos dez anos
Marciel José do Monte
Mestre em Educação Matemática e Tecnológica (UFPE), gerente de Convênios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco
Mario Marcos Lopes
Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (Universidade de Araraquara), docente do Centro Universitário Barão de Mauá, professor-tutor da Faculdade de Educação São Luís, professor coordenador da Rede Estadual de Ensino de São Paulo – Diretoria Regional de Ribeirão Preto
Há anos, educadores de diversos países entenderam a relevância da História da Ciência no ensino de todos os níveis. No Brasil, por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Básico apontam a importância da contextualização dos conteúdos (dentre as quais se enquadra a contextualização histórica), para o alcance de uma aprendizagem considerada relevante e significativa para os estudantes (Brasil, 2013). Segundo essas Diretrizes,
os conhecimentos escolares são reconhecidos como aqueles produzidos pelos homens no processo histórico de produção de sua existência material e imaterial, valorizados e selecionados pela sociedade e pelas escolas que os organizam a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, tornando-se elementos do desenvolvimento cognitivo do estudante, bem como de sua formação ética, estética e política (Brasil, 2013, p. 179).
Nesse sentido, podemos partir de acontecimentos do dia a dia do mundo à nossa volta em direção à construção do conhecimento dos saberes escolares. Podemos estabelecer, inclusive, de forma mais clara, a relação da Física com o cotidiano dos alunos.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, a LDB (Lei nº 9.394, de dezembro de 1996), a Educação Básica é constituída da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Para esse documento, as principais finalidades da Educação Básica são: “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Brasil, 1996).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) estabelecem que
o exercício da cidadania exige o acesso de todos à totalidade dos recursos culturais relevantes para a intervenção e a participação responsável na vida social. O domínio da língua falada e escrita, os princípios da reflexão matemática, as coordenadas espaciais e temporais que organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação científica, as condições de fruição da arte e das mensagens estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas diferentes concepções do papel da educação no mundo democrático, até outras tantas exigências que se impõem no mundo contemporâneo (Brasil, 1997, p. 27).
Nesse raciocínio, é preciso criticar o ensino tradicional da Física, muitas vezes realizado com a apresentação de conceitos, fórmulas e leis totalmente distanciadas da realidade dos alunos, bem como inteiramente desvinculada do contexto histórico. Assim, destacamos e defendemos, com base nos documentos que regem a Educação em nosso país, que uma retrospectiva (contextualização) histórica nas aulas de Física tende a proporcionar condições para que os alunos entendam como chegamos ao estágio atual de desenvolvimento, bem como tornar o ensino e a aprendizagem desse componente curricular menos maçantes e mais atrativos nos ambientes escolares; tais premissas também são reafirmadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ao mencionar que o ensino deve “favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da realidade e pela explicitação dos contextos de produção e circulação dos conhecimentos” (Brasil, 2018, p. 465).
Igualmente argumentamos quanto à relevância de pesquisas acadêmicas que abordam a temática História da Ciência (ou da Física) como possibilidade de metodologia para o ensino e a aprendizagem de(a) Física em sala de aula; em congressos como o Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), um dos mais importantes eventos científicos promovidos pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), a cada dois anos, que se firma desde 1970 como espaço relevante para trocas de experiências de pesquisadores de todo o território brasileiro, bem como para discussões acerca do ensino da Física em nosso país. Em 2017 foi realizada sua 22ª edição.
Revisão da literatura
Diversos autores têm defendido o advento da História da Ciência como ferramenta de ensino possível de ser implementada em sala de aula para ensino e aprendizagem da Física (Martins, 2006; Oliveira, 2009; Silva, 2010; Araújo, 2013; Lima, 2014; Rosa, 2015; Soares, 2016).
Para Martins (2006, p. 24),
o estudo detalhado de alguns episódios da História da Ciência é insubstituível na formação de uma concepção adequada sobre a natureza das ciências, suas limitações, suas relações com outros domínios. Esses episódios podem mostrar grandes sucessos e também grandes fracassos do esforço humano para compreender a natureza; a contribuição titânica de alguns cientistas, acompanhada no entanto por muitos erros gigantescos das mesmas pessoas; o papel de uma multidão de pesquisadores obscuros no desenvolvimento de importantes aspectos das ciências; o processo gradual de formação de teorias, modelos, conceitos e do próprio método científico; a existência de teorias alternativas; (...) ; e muitos outros aspectos da dinâmica da ciência.
O autor defende que o estudo apropriado de determinados fatos históricos oportuniza perceber melhor as inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade. Nesse sentido, a História das Ciências apresenta-se como possibilidade real de passar adiante (aos alunos) uma perspectiva mais adequada acerca da natureza da ciência, assim como é capaz de auxiliar no próprio aprendizado dos conteúdos científicos em sala de aula.
Para Oliveira (2009, p. 20),
a Física não é trivial em sua essência, mas o uso de um dado conceito por muito tempo pode banalizá-lo, torná-lo óbvio. Estudando a História da Ciência é possível perceber não somente como o conceito foi criado, mas, sobretudo, seu porquê: a História mostra as questões para cujas soluções o conceito foi introduzido, revela o que o conceito faz na teoria, sua função e seu significado. A História revive os elementos do pensar da época, revelando, pois, os ingredientes com que o pensamento poderia ter contado na época em que determinada conquista foi feita. Ela desvenda a lógica da construção conceitual; nesse esforço, ela revela, também, os “buracos lógicos” que o conceito preenche, revivendo o próprio ato intelectual da criação científica.
O autor advoga que a utilização de elementos históricos na sala de aula humaniza a Física, fortalece o ensino e transforma em mais efetivo o aprendizado da matéria. Nessa mesma linha, Silva (2010) considera muito relevante e até necessário, perante vários enfoques, que a Ciência – em particular a Física – seja tratada tanto de maneira teórica quanto sob uma perspectiva histórica em sala de aula com os alunos do Ensino Básico. Em seu trabalho, o autor entende que,
para uma reflexão mais profunda dentro da pesquisa no ensino da ciência, é necessário fazermos uma menção à história do surgimento da mesma, procurando enfocar para aqueles que estão tendo os primeiros contatos com esse componente curricular (em nível escolar) como se deu a evolução das ideias ao longo do tempo, procurando fazer referências às questões fundadoras dessa complexa ciência, oferecendo assim, mesmo que superficialmente, um panorama dos seus mais importantes postulados teóricos (Silva, 2010, p. 15).
Nesse sentido, o enfoque histórico poderia despertar nos alunos maior interesse pela Física. Esse envolvimento poderia acarretar uma aprendizagem mais significativa da ciência, uma vez que contribuiria para uma reflexão mais profunda, por parte dos estudantes, acerca da evolução das ideias e conceitos desenvolvidos ao longo do tempo.
Igualmente, Araújo (2013) assume que a História da Ciência é um “elemento facilitador para o surgimento de discussões mais profundas sobre a ciência e sua natureza, exatamente por proporcionar aos alunos uma maior reflexão sobre os fenômenos científicos” (Araújo, 2013, p. 23). Para o autor,
a escolha por uma adequada abordagem histórica em sala de aula gera espaço para que discussões acerca dos inúmeros acontecimentos evidenciados no decorrer do processo de determinada construção científica, ou seja, sua natureza, seja colocada em xeque, como por exemplo, seus reais motivos e interesses, o que se diferencia da ciência baseada meramente em um método científico, fruto de experimentações e induções, que lamentavelmente ainda é percebida em diversas salas de aula e na grande maioria dos livros didáticos, mas que atualmente não são mais adequadas ao ensino de ciências (Araújo, 2013, p. 25).
Por esse ângulo, o conhecimento da Física não se concentraria na simples assimilação de suas leis e teorias. O entendimento da ciência poderia se dar por meio da construção do conhecimento dos meios pelos quais foram alcançadas suas leis e teorias. Tudo (é claro) reforçado dentro de um contexto histórico.
Ademais, Lima (2014) aponta que o destaque concedido às pessoas ou aos personagens que colaboraram de alguma forma para a estruturação de um conceito físico, em uma abordagem histórica, permite aos alunos melhor aprofundamento do próprio conceito estudado. O autor defende que
o aluno em formação poderá se apropriar dos conceitos físicos, conhecendo um dos exemplos de como se desenvolve o conhecimento científico, percebendo a ciência como o produto da elaboração de ideias de seres humanos e não de gênios, assim como qualquer outro empreendimento de natureza humana, que não é produto de um único grupo ou de personagens isolados (Lima, 2014, p. 108).
O pesquisador estudou a contribuição das controvérsias de opiniões acerca da construção do conceito do Princípio da Ação Mínima. Para ele, esses desacordos nos momentos históricos configuraram-se como pontos positivos para o desenvolvimento da ciência, uma vez que a elaboração, a aceitação ou a rejeição de determinado conceito sempre envolve direta ou indiretamente uma discussão de ideias e opiniões. Esse fato culminaria então no aprimoramento de todo e qualquer conceito estudado. Mais um motivo para reforçar a importância desse tipo de abordagem em salas de aula de Física em todos os níveis de ensino.
Aliás, Rosa (2015, p. 15) pontua que
a Epistemologia da Ciência é o estudo da origem do conhecimento científico, sendo fundamentada na História da Ciência. Ela procura responder questões sobre o que é a ciência, quais os aspectos importantes no processo da ciência, quais as relações existentes entre observação e teoria, (...) o verdadeiro papel do cientista na construção da Ciência etc.
Para o autor, é importante aprimorar as concepções sobre a ciência com o enfoque histórico nas turmas de licenciatura e bacharelado em Física para fomentar nesses futuros professores o desejo de compreender melhor a natureza da ciência.
Soares (2016), do mesmo modo, destaca que a abordagem do ensino da Física com a incorporação de elementos históricos não somente enriquece a construção dos conceitos pelos alunos como também desmistifica a “concepção criada de grandes gênios, a fim de humanizar um pouco mais a ciência, permitindo uma melhor contextualização do conhecimento” (Soares, 2016, p. 11). Para ele,
a História da Ciência deixou de ser uma discussão de conteúdo e vem sendo utilizada para o desenvolvimento científico prático e para entender o mundo de uma maneira geral, pois a ciência nos explica desde a produção da comida, medicina, guerra, indústria, até a origem do universo. Enfim, uma infinidade de fatores pode ser discutida com o aporte teórico da ciência. Isso nos faz crer que é preciso capacitar o indivíduo para essa compreensão, pois acreditamos que esses fatores sofrem influência direta do processo histórico (Soares, 2016, p. 47).
O pesquisador defende a incorporação da História da Ciência nas salas de aula de Física, por se tratar de uma abordagem que conseguiria contextualizar a construção do conhecimento científico com os fatos ocorridos na história da humanidade.
Assim, em nossa pesquisa esperamos contribuir para as discussões sobre a inserção da História da Ciência como estratégia de ensino e aprendizagem da Física em todos os níveis de ensino, e mais uma vez reforçamos a relevância dessa pesquisa para podermos ter um panorama da produção de trabalhos científicos (comunicações orais) discutidos ao longo dos últimos 10 anos, na área temática de História, Filosofia e Sociologia da Física num dos congressos mais importantes de ensino de Física no Brasil – o SNEF.
Procedimentos metodológicos
Para Marconi e Lakatos (2003, p. 83),
o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões.
Nesse raciocínio, para atingir nosso objetivo geral, que consistiu em levantar, reunir e avaliar publicações científicas (comunicações orais) sobre a História das Ciências e o Ensino da Física nos SNEF no período de 2008 a 2018, realizamos uma revisão bibliométrica. Segundo Silva, Hayashi e Hayashi (2011, p. 113-114), “a análise bibliométrica é um método flexível para avaliar a tipologia, a quantidade e a qualidade das fontes de informação citadas em pesquisas”.
Para fins de coleta de dados, para recuperar os números totais de comunicações orais publicadas por evento, realizamos um método de busca simples nas páginas on-line de cada um dos anais dos SNEF dos últimos 10 anos:
- XVIII SNEF, realizado em Vitória/ES, de 26 a 30 de janeiro de 2009;
- XIX SNEF, realizado em Manaus/AM, de 30 de janeiro a 4 de fevereiro de 2011;
- XX SNEF, realizado em São Paulo/SP, de 21 a 25 de janeiro de 2013;
- XXI SNEF, realizado em Uberlândia/MG, de 26 a 30 de janeiro de 2015;
- XXII SNEF, realizado em São Carlos/SP, de 23 a 27 de janeiro de 2017.
Em seguida, particularmente, recuperamos todos os dados disponíveis das comunicações orais na área temática específica de História, Filosofia e Sociologia da Física. Depois, para afinar a pesquisa, foi decidido como critério para busca no campo palavra-chave dos trabalhos, dentro dos dados recuperados na área temática específica, o termo indexador “Ensino de Física”. Dessa forma, pudemos recuperar comunicações orais mais particulares, uma vez que a palavra-chave é a “palavra representativa do conteúdo do documento” (ABNT, 2003, p. 1).
Para o assentamento dos dados, foi elaborado um protocolo de registro de dados bibliométricos em uma planilha do Microsoft Excel com campos distintos, tais como: base de dados (atas dos anais dos SNEF pesquisados), ano da publicação, autor(es), título da comunicação oral, resumo e palavras-chave, dentre outros.
Todos os resultados encontram-se descritos e analisados na seção a seguir.
Resultados e discussões
Ao realizamos a primeira busca nas páginas on-line de cada um dos anais dos SNEF, foram identificadas as quantidades de comunicações orais publicadas por evento e por área temática mostradas no Quadro 1.
Quadro 1: Número de comunicações orais publicadas por área temática por SNEF
Áreas temáticas - SNEF 2009 |
Número de comunicações orais publicadas nos anais |
1. Didática da Física: materiais, métodos, estratégias e avaliação |
114 |
2. O Ensino de Física para a graduação: Física, Química, Biologia, Oceanografia, Engenharias, Arquitetura, Arte e áreas afins |
11 |
3. Formação inicial e continuada do professor em todos os níveis de escolaridade |
65 |
4. Educação científica e formação profissional |
7 |
5. História, Filosofia e Sociologia da Ciência e o Ensino de Física |
19 |
6. Tecnologias da informação e comunicação no ensino teórico e experimental de Física |
33 |
7. Física Moderna e Contemporânea e a atualização curricular |
22 |
8. Interdisciplinaridade e Ensino de Física |
24 |
9. Arte, cultura e educação científica |
6 |
10. Alfabetização científica e tecnológica e Ensino de Física |
23 |
11. Divulgação científica e comunicação no Ensino de Física |
23 |
12. Ensino de Física e estratégias para portadores de necessidades especiais |
11 |
13. Políticas públicas e questões institucionais para o ensino de ciência e de tecnologia |
6 |
Total de trabalhos |
364 |
Áreas temáticas - SNEF 2011 |
Número de comunicações orais publicadas nos anais |
1. Formação e prática profissional de professores de Física |
47 |
2. Aprendizagem em Física |
47 |
3. Filosofia, História e Sociologia da Ciência e o Ensino de Física |
21 |
4. Linguagem e cognição no Ensino de Física |
14 |
5. Didática, currículo e avaliação no Ensino de Física |
23 |
6. Divulgação e comunicação de Física em espaços formais e não formais |
26 |
7. Tecnologia da informação, difusão tecnológica e o Ensino de Física |
27 |
8. Políticas públicas e o Ensino de Física |
5 |
9. Questões teórico-metodológicas da pesquisa em Ensino de Física |
3 |
10. Ciência, tecnologia e sociedade |
14 |
11. Ensino de Física e experiências em ensino e aprendizagem em Ciências Naturais e Matemática na Amazônia |
4 |
12. Materiais, métodos e estratégias de Ensino de Física |
0 |
Total de trabalhos |
231 |
Áreas temáticas - SNEF 2013 |
Número de comunicações orais publicadas nos anais |
1. Processos cognitivos de ensino e aprendizagem em Física |
24 |
2. Materiais, métodos e estratégias de Ensino de Física |
188 |
3. Seleção, organização do conhecimento e currículo |
25 |
4. Formação de professores e prática docente |
111 |
5. História, Filosofia e Sociologia da Física |
27 |
6. Alfabetização científica e tecnológica e abordagem CTS no Ensino de Física |
27 |
7. Divulgação científica e educação não formal |
38 |
8. Tecnologia da informação e comunicação |
33 |
9. Ciência, cultura e arte |
14 |
10. Educação, política e sociedade |
8 |
11. Pesquisa em educação em Física |
36 |
12. Linguagem e Ensino de Física |
22 |
Total de trabalhos |
553 |
Áreas temáticas - SNEF 2015 |
Número de comunicações orais publicadas nos anais |
1. Processos cognitivos de ensino e aprendizagem em Física |
27 |
2. Materiais, métodos e estratégias de Ensino de Física |
192 |
3. Seleção, organização do conhecimento e currículo |
23 |
4. Formação de professores e prática docente |
80 |
5. História, Filosofia e Sociologia da Física |
23 |
6. Alfabetização científica e tecnológica e abordagem CTS no Ensino de Física |
35 |
7. Divulgação científica e educação não formal |
31 |
8. Tecnologia da informação e comunicação |
34 |
9. Ciência, cultura e arte |
13 |
10. Educação, política e sociedade |
6 |
11. Pesquisa em educação em Física |
16 |
12. Linguagem e Ensino de Física |
19 |
13. Políticas públicas em Educação e o Ensino de Física |
9 |
Total de trabalhos |
508 |
Áreas temáticas - SNEF 2017 |
Número de comunicações orais publicadas nos anais |
1. Ensino e aprendizagem em Física |
57 |
2. Materiais, métodos e estratégias de Ensino de Física |
92 |
3. Formação de professores e prática docente |
43 |
4. O Ensino de Física para a graduação |
10 |
5. Alfabetização científica e abordagens CTS no Ensino de Física |
18 |
6. História, Filosofia e Sociologia da Física |
15 |
7. Divulgação científica e educação não formal |
27 |
8. Tecnologia da informação e comunicação |
16 |
9. Cultura, linguagem e cognição no Ensino de Física |
17 |
10. Educação científica, política e sociedade |
10 |
11. A Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental |
9 |
12. Equidade, inclusão social e estudos culturais e o Ensino de Física |
15 |
Total de trabalhos |
329 |
Conforme podemos observar no Quadro 1, foram publicadas 1.985 comunicações orais ao longo dos últimos anos de realização dos SNEF; de forma geral, a quantidade total de publicações por evento não obedece a uma regularidade. Pode-se inferir, dentre outros aspectos, que a quantidade de trabalhos aceitos por evento não é limitada.
Quanto ao número total de trabalhos por SNEF, o Quadro 1 mostra ainda que o XX SNEF, realizado em São Paulo/SP em 2013, foi o evento com a maior quantidade de comunicações orais publicadas nos anais (553 trabalhos); e o XIX SNEF, realizado em Manaus/AM em 2011, foi aquele que publicou o menor número de trabalhos nos últimos 10 anos (231 comunicações orais). Destaque-se que no SNEF de 2011 não houve trabalhos publicados na área temática de materiais, métodos e estratégias de Ensino de Física, o que pode ter contribuído para uma menor quantidade de publicações naquele ano.
Ainda analisando o Quadro 1, verificamos que a área temática foco do nosso artigo foi sofrendo alteração de denominação de um evento para o outro ao longo dos anos, permanecendo História, Filosofia e Sociologia da Física, a partir do SNEF de 2013. Notamos também que apenas 57 comunicações orais, isto é, 2,87% do total, foram publicadas na área temática de História, Filosofia e Sociologia da Física.
A Figura 1 mostra, percentualmente, as quantidades totais de comunicações orais publicadas na área temática História, Filosofia e Sociologia da Física em relação ao total de publicações dessa natureza por SNEF.
Figura 1: Percentual de comunicações orais na área temática de História, Filosofia e Sociologia da Física em relação ao total de comunicações orais por SNEF
Segundo a Figura 1, o percentual de comunicações orais publicadas por evento ficou em torno dos 4% do total nos anos de 2009, 2013, 2015 e 2017. Apenas em 2011 esse percentual aumentou para pouco mais de 8%. Conforme destacamos em passagem anterior, no SNEF de 2011, não existiram trabalhos publicados na área temática de Materiais, Métodos e Estratégias de Ensino de Física, que historicamente é a área com maior concentração de publicações no evento, conforme podemos observar no Quadro 1. Esse fato pode ter colaborado para um maior percentual de publicações na área foco de nosso estudo naquele ano.
No âmbito dos resultados, a Figura 2 apresenta os dados comparativos entre trabalhos específicos que relacionam História da Ciência (ou da Física) e Ensino de(a) Física publicados nos anais dos SNEF de 2008 a 2018.
Figura 2: Comunicações orais sobre História da Ciência e Ensino de Física
Conforme podemos observar na Figura 2, foram publicadas 28 comunicações orais que versavam especificamente sobre a História da Ciência (ou da Física) como possibilidade de metodologia de Ensino de(a) Física no período de 2008 a 2018.
Ainda segundo a Figura 2, quando observamos dentro da área temática de História, Filosofia e Sociologia da Física, as quantidades de trabalhos que tratam particularmente da História da Ciência (ou da Física) e Ensino de Física publicados por SNEF, isto é, os 28 trabalhos supracitados, variam e não obedecem a uma regularidade ano a ano. Mesmo assim, representam, em média, menos de um terço das publicações desse grupo por ano de realização do evento.
Ademais, ampliando a análise e comparando os dados do Gráfico 2 com o total de comunicações orais publicadas por evento, os resultados apontam que nos últimos cinco SNEF, isto é, no período equivalente à última década de realizações do evento, a quantidade de trabalhos publicados especificamente sobre o Ensino de(a) Física aliado à História da Ciência (ou da Física) como possibilidade de metodologia de ensino foi incipiente, uma vez que representa somente 1,41% do total de comunicações orais publicadas nos SNEF no período pesquisado.
Esse resultado mostra um panorama de certa forma negativo para a temática, dada a importância defendida por autores como Martins (2006), Oliveira (2009), Silva (2010), Araújo (2013), Lima (2014), Rosa (2015) e Soares (2016). Faz-se necessário então envidar esforços para despertar nos pesquisadores o desejo de discutir o tema em publicações dessa natureza, tão importantes para a construção do conhecimento de estratégias relevantes e eficientes para o Ensino de(a) Física em todos os níveis escolares.
A partir de agora analisamos particularmente as 28 comunicações orais que relacionam a História da Ciência (ou da Física) ao próprio ensino da matéria em sala de aula. A esse grupo chamaremos de “comunicações orais específicas”.
A Tabela 1 apresenta a quantidade de autores por instituição de ensino envolvidos na produção das comunicações orais específicas ao longo do período pesquisado.
Tabela 1: Número de autores por instituição de ensino envolvidos na produção das 28 comunicações orais específicas
Instituição de ensino |
Quantidade de autores vinculados |
Universidade de São Paulo – USP |
13 |
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET-RJ |
7 |
Universidade Federal do Paraná - UFPR |
5 |
Universidade Estadual Paulista - UNESP |
4 |
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM |
3 |
Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN |
3 |
Instituto Federal Fluminense - IFF |
3 |
Universidade Estadual de Londrina - UEL |
3 |
Universidade Federal da Bahia – UFBA |
3 |
Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS |
2 |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ |
2 |
Universidade Estadual de Maringá - UEM |
2 |
Universidade Federal do Ceará – UFC |
2 |
Universidade São Judas Tadeu |
1 |
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO |
1 |
Universidade Estadual da Paraíba - UEPB |
1 |
Colégio Pedro II |
1 |
Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ |
1 |
Total de autores envolvidos |
57 |
Conforme podemos verificar na Tabela 1, estiveram dedicados à produção das 28 comunicações orais específicas publicadas nos SNEF 57 pesquisadores de 18 instituições de ensino do país. Destaque-se que a maioria desses autores estavam vinculados à Universidade de São Paulo (13) quando da publicação de seus trabalhos. Conjecturamos que o fato de dois dos 5 cinco eventos aqui analisados terem sido realizados em São Paulo/SP e São Carlos/SP pode ter contribuído para esse resultado. Saliente-se também a participação de sete autores do CEFET-RJ e de cinco da Universidade Federal do Paraná.
A Figura 3 apresenta a distribuição das comunicações orais específicas por estado da instituição de ensino do(s) autor(es).
Figura 3: Número de comunicações orais específicas publicadas nos anais dos SNEF dos últimos 10 anos por estado da instituição do(s) autor(es)
Conforme podemos observar na Figura 3, São Paulo foi o estado da Federação que mais publicou comunicações orais específicas nos SNEF no decorrer do período aqui analisado, seguido por Rio de Janeiro e Paraná.
De acordo com os resultados da pesquisa, a Região Sudeste foi aquela que mais produziu comunicações orais que tratassem especificamente do Ensino de(a) Física com a apropriação da História da Ciência (ou da Física) como metodologia de ensino e aprendizagem em sala de aula.
Destaque-se que esses resultados devem estar diretamente ligados ao fato de que quatro dos 5 cinco eventos analisados neste artigo tenham sido realizados exatamente nos estados da Região Sudeste: Vitória/ES em 2009; São Paulo/SP em 2013; Uberlândia/MG em 2015; e São Carlos/SP em 2017.
A Figura 4 apresenta os resultados quanto ao número de autores por comunicação oral específica.
Figura 4: Número de autores por comunicação oral específica
Conforme podemos observar na Figura 5, a maioria dos trabalhos (69,86%) foi realizada por dois autores, seguida de comunicações orais específicas realizadas por três autores (21,43%) e daquelas desenvolvidas por autor único (7,14%). Apenas um trabalho foi realizado por quatro autores, o que representa 3,57% desse grupo de trabalhos analisados.
Ainda em relação à análise das autorias e coautorias, os resultados revelaram que, entre os 28 trabalhos específicos analisados, cinco pesquisadores contribuíram com a publicação de duas comunicações orais cada: Andreia Guerra (dois artigos em 2011); Cristiano Rodrigues de Mattos (um artigo em 2009 e o outro em 2011); Irinéa de Lourdes Batista (um artigo em 2013 e o outro em 2015); Maria Cristina Martins Penido (um artigo em 2013 e o outro em 2017) e Sérgio Camargo (um artigo em 2013 e o outro em 2017). Nenhum autor principal publicou mais de um artigo no período analisado.
Os resultados da pesquisa apresentam um número muito pequeno de publicações na temática investigada, em relação ao total de comunicações orais publicadas ao longo dos últimos SNEF. Entretanto, não podemos deixar de pontuar que é certo o caráter colaborativo desses 28 trabalhos específicos, uma vez que exprimem a preocupação dos pesquisadores envolvidos com o aperfeiçoamento do Ensino de(a) Física em sala de aula aliado à História da Ciência (ou da Física) como alternativa de metodologia de ensino e aprendizagem.
Considerações finais
O presente artigo teve objetivou realizar um levantamento, reunindo e avaliando as publicações científicas (comunicações orais) sobre a História da Ciência (ou da Física) e o Ensino de(a) Física nos SNEF no período de 2008 a 2018 com a utilização do tratamento bibliométrico.
Realizamos um método de busca simples nas páginas on-line dos anais dos SNEF no período mencionado e recuperamos os dados disponíveis das 1.985 comunicações orais publicadas, das quais apenas 57, isto é, 2,87% do total, foram publicadas na área temática de História, Filosofia e Sociologia da Física.
Os resultados apontaram que, de maneira geral, a quantidade total de comunicações orais publicadas por evento não obedece a uma regularidade. Quando afinamos os critérios da busca para recuperar apenas as comunicações orais que versavam sobre a História da Ciência (ou da Física) como opção de metodologia de ensino em sala de aula, apenas 28 trabalhos foram encontrados, o que representa 1,41% do total de comunicações orais publicadas nos SNEF no período pesquisado.
Esse resultado mostra um panorama de certo modo negativo para a temática, dada a importância defendida por diversos autores citados ao longo do trabalho. Das comunicações orais específicas, verificou-se que estiveram dedicados à sua produção 57 autores de 18 diferentes instituições de ensino do país; a maioria desses autores estava ligada à USP. Os resultados apontaram que a Região Sudeste foi a que mais produziu comunicações orais que tratam consideram e/ou utilizam a História da Ciência (ou da Física) como metodologia de ensino e aprendizagem em sala de aula para o Ensino de(a) Física. Por fim, os resultados apontam uma quantidade muito pequena de publicações de comunicações orais, ao longo do período analisado nos SNEF, dedicadas à discussão do uso da História da Ciência (ou da Física) como metodologia de ensino e aprendizagem em sala de aula. No entanto, devemos destacar o esforço dos pesquisadores envolvidos, pois exprimem a preocupação com a melhoria do Ensino de(a) Física, associado à História da Ciência (ou da Física) como uma possibilidade de caminho a ser seguido para o ensino e aprendizagem em sala de aula.
Referências
ARAÚJO, B. C. de. História da ciência como estratégia didática no Ensino Médio: um breve olhar de conteúdos da Óptica. 2013. 159 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências Naturais e Matemática) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6028. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: http://unicentroagronomia.com/destino_arquivo/norma_6028_resumo.pdf. Acesso em: 31 jan. 2018.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Presidência da República, 1996.
______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 06 out. 2020.
______. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC/SEB/Dicei, 2013.
______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
LIMA, I. P. C. de. O uso de controvérsias científicas para a compreensão da natureza da ciência: o caso do princípio de ação mínima. 2014. 116 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2014.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MARTINS, R. de A. Introdução: A História das Ciências e seus usos na educação. In: SILVA, C. C. (Org.). Estudos de História e Filosofia das Ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, 2006. p. 21-36.
OLIVEIRA, L. D. de. A História da Física como elemento facilitador na aprendizagem da mecânica dos fluidos. 2009. 162 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Física) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
ROSA, V. M da. Dinâmica das concepções sobre a natureza da ciência de estudantes de graduação em Física. 2015. 111 f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015.
SILVA, J. P. da. Livro didático de Física: qualidade e utilidade em sala de aula. 2010. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
SILVA, M. R. da; HAYASHI, C. R. M.; HAYASHI, M. C. P. I. Análise bibliométrica e cientométrica: desafios aos especialistas que atuam no campo. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, Ribeirão Preto, v. 2, p. 110-129, 2011.
SOARES, J. M. S. Análise da história do efeito fotoelétrico em livros didáticos de Física para a graduação. 2016. 86 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2016.
XVIII SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA (XVIII SNEF), 2009, Vitória/ES. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2009. Disponível em: http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xviii/atas/listatrabarea.htm. Acesso em: 31 jan. 2018.
XIX SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA (XIX SNEF), 2011, Manaus/AM. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2011. Disponível em: http://www.sbfisica.org.br/~snef/xix/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=16. Acesso em: 31 jan. 2018.
XX SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA (XX SNEF), 2013, São Paulo/SP. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2013. Disponível em: http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xx/atas/listatrabarea.htm. Acesso em: 31 jan. 2018.
XXI SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA (XXI SNEF), 2015, Uberlândia/MG. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2015. Disponível em: http://www1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xxi/atas/listatrabarea.htm. Acesso em: 31 jan. 2018.
XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA (XXII SNEF), 2017, São Carlos/SP. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2017. Disponível em: http://www1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xxii/programa/. Acesso em: 31 jan. 2018.
Publicado em 20 de outubro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
MONTE, Marciel José do; LOPES, Mario Marcos. História das Ciências e Ensino da Física: uma revisão bibliométrica da produção de comunicações orais nos Simpósios Nacionais de Ensino de Física (SNEF) dos últimos dez anos. Revista Educação Pública, v. 20, nº 40, 20 de outubro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/40/historia-das-ciencias-e-ensino-da-fisica-uma-revisao-bibliometrica-da-producao-de-comunicacoes-orais-nos-simposios-nacionais-de-ensino-de-fisica-snef-dos-ultimos-dez-anos
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
1 Comentário sobre este artigo
Deixe seu comentário
Bom dia!
Não consigo fazer o download deste artigo: História das Ciências e Ensino da Física: uma revisão bibliométrica da produção de comunicações orais nos Simpósios Nacionais de Ensino de Física (SNEF) dos últimos dez anos.
Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.