Afetividade no processo de aprendizagem
Eliane dos Santos Barbosa
Graduada em Pedagogia (FAP)
Este trabalho tem o intuito de verificar as relações de afetividade professor-aluno e de como elas podem contribuir no processo de ensino-aprendizagem. São vários os fatores que interferem no processo de aprendizagem da criança. Porém, dentre tantos, a emoção que a criança sente ao aprender as primeiras regras, as quais se aplicam depois à sociedade, ou seja, a formação cidadã, advém de uma boa formação emocional.
Grande parte dos teóricos reconhece que a afetividade é o berço da socialização do indivíduo, pois é com ela que são transmitidos os primeiros ensinamentos às crianças. Por isso, a emoção é responsável por grande parte do desenvolvimento delas nos anos iniciais. Nesse período elas necessitam de maior atenção daqueles que as cercam. A afetividade na escola, como complemento da afetividade na família, é de suma importância para seu desenvolvimento, tanto cognitivo quanto social. Assim, a necessidade de compreender se a dimensão afetiva entre professor-aluno influencia o processo de ensino-aprendizagem é o que justificou este trabalho.
Para realização dele, recorreu-se a referenciais importantes, tendo como base principal a luz dos estudos de pesquisadores da área da Psicologia.
Afetividade
Segundo Antunes (2008), o ser humano nasce extremamente imaturo; para sua sobrevivência, necessita da presença do outro e essa necessidade é traduzida como amor. Por outro lado, o instinto de sobrevivência e a percepção da necessidade de proteção fazem com que a mãe e o pai apresentem também o sentimento de amor pelo filho e a reciprocidade desse amor do filho e dos genitores funde-se ocasionando a afetividade. Esse sentimento não se manifesta apenas entre filhos e pais. No passado, os homens das cavernas ensinaram que a sobrevivência implica viver em grupo, expandindo a afetividade de um para o outro.
De acordo com Antunes (2008, p. 1),
a origem biológica da afetividade, como se percebe, destaca a significação do “cuidar”. O amor entre humanos surgiu porque sua fragilidade inspirava e requeria cuidados e a forma como esse cuidar se manifesta é sempre acompanhada da impressão de dor ou prazer, agrado ou desagrado, alegria e tristeza. Percebe-se, portanto, que afetividade é uma dinâmica relacional que se inicia a partir do momento em que um sujeito se liga a outro por amor e essa ligação embute um outro sentimento não menos complexo e profundo. A afetividade, ao longo da história, está relacionada com a preocupação e o bem-estar do outro; a solidariedade não apareceu na história humana como sentimento altruísta, mas como mecanismo fundamental de sua sobrevivência.
O ser humano necessita se relacionar com o outro, só assim procura maneiras de melhorar essas relações, que deram origem às regras, que mais tarde viraram leis que auxiliam esse processo. Com a evolução da cultura humana, a afetividade passou a ter grande importância nas relações interpessoais. A afetividade começa no âmbito familiar com o nascimento; esses laços afetivos duram a vida toda, sendo transmitidos para o outro. Desde os primórdios as relações entre professor-aluno foram e continuarão a ser motivo de preocupação das pessoas relacionadas com a educação, visto que esses sentimentos são mecanismo fundamental para a sobrevivência da humanidade (Antunes, 2008).
A afetividade e a autoestima
Segundo Ferreira (1999), a afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos experimentados e vivenciados sob a forma de emoções e de sentimentos de dor, prazer, satisfação, agrado, desagrado, alegria ou tristeza.
A afetividade é um dos fatores que favorecem a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo, fazendo com que o individuo aprenda através dos sentimentos, das emoções e das experiências que são trocadas na interação com o outro. Por isso, a afetividade é muito importante na vida das pessoas desde o nascimento e porque é a primeira fase do desenvolvimento humano. O ser humano é um ser afetivo, mas com o passar do tempo acaba se tornando racional (Davis; Oliveira, 1994).
Na relação professor-aluno, a autoestima é muito importante, porque é ela que dá a capacidade de sentir a vida, dá confiança ao seu modo de pensar e enfrentar os problemas e o direito de ser feliz, desfrutando os resultados de seu próprio esforço (Tiba, 1996).
Para Zagury (2007, p. 2),
autoestima (autoimagem ou amor-próprio) é a forma pela qual o individuo percebe o seu próprio eu. É o sentimento de aceitação ou rejeição da sua maneira de ser. Se a pessoa se vê de forma positiva, valorizando suas características, podemos dizer que tem autoestima elevada ou positiva. Se, ao contrario, ela não se aceita ou se desvaloriza, isto é, se há inconformidade consigo mesma, dizemos que tem baixa autoestima ou autoestima negativa.
Quando a autoestima é positiva, o individuo tem boa imagem de si mesmo, acreditando que os outros gostam dele e confiam em suas habilidades de lidar com os desafios. Quando a autoestima é negativa, acha que não merece o amor de ninguém, não acredita que é capaz de realizar nada sozinho, considerando-se incapaz e que não sabe fazer nada direito (Tiba, 1996).
A relação do afeto e da autoestima no âmbito escolar
De acordo com Pilette (2004), é no meio social que a criança passa a fazer parte de um novo meio, se adaptando a ele e submetendo as suas determinações, pois é nesse ambiente que encontrará novos amigos, formando vínculos afetivos que podem influenciar no desenvolvimento de sua identidade. A criança passa a conhecer o mundo através de suas relações com o outro. Pois é nas interações sociais que a criança tem acesso aos instrumentos e aos sistemas de signos que possibilitam o desenvolvimento de formas culturais de atividades, permitindo estruturar a realidade e o próprio pensamento. A escola é um espaço importante de trocas de um com o outro, promovendo o desenvolvimento da criança.
Nas palavras de Chalita (2001, p. 153), “o professor é a referência, o modelo, é o exemplo a ser seguido e, exatamente por causa disso, o pouco que fizer afetuosamente, uma palavra, um gesto, será muito para o aluno com problemas”.
Pode-se concluir que o clima afetivo escolar de ajuda mútua que valoriza o aluno, respeita seu ponto de vista e estimula sem pressionar está nutrindo o desenvolvimento de sua autoestima e ensinando o prazer de aprender. Portanto, a relação afetiva do educador pode fazer o aluno se sentir valorizado (alimentação psicológica) ou diminuído (desnutrição psicológica); isso vai depender do estado do desenvolvimento de sua autoestima. A melhor escola é aquela que leva o individuo a descobrir por si próprio a alegria de ser e o entusiasmo em viver, pois não existe pessoas felizes sem a autoestima de querer-se bem (Chalita, 2001).
Nesse sentido, Antunes (2008) afirma que o professor muitas vezes é quem melhor pode ajudar o aluno a desenvolver e descobrir qualidades, talentos e surpreender-se com as revelações, com a responsabilidade, com a disciplina e a felicidade. A disciplina aumenta a autoestima do aluno e quanto maior for a autoestima do aluno, mais se tornará disciplinado, nutrindo assim esse ciclo de disciplina e autoestima. A escola tem papel fundamental no desenvolvimento socioafetivo da criança, estabelecendo a relação com o outro para o desenvolvimento da aprendizagem. Afirma Almeida (2005, p. 106):
A escola tanto quanto a família têm o seu papel no desenvolvimento infantil, e a relação professor-aluno, por ser de natureza antagônica, oferece riquíssimas possibilidades de crescimento. Os conflitos que podem surgir dessa relação desigual exercem um importante papel na personalidade da criança.
De acordo com o texto, Almeida diz que, no desenvolvimento da criança, a família tem papel importante, assim como a escola. Cada uma dá sua contribuição a seu tempo e modo. A responsabilidade da escola inicia quando termina o da família e vice-versa. Sendo assim, a função da escola e da família não acaba nunca, pois cada uma tem de se preocupar com suas responsabilidades de estabelecer relações especificas no tempo certo.
A relação afetiva do professor ao trabalhar a autoestima da criança desde pequena é muito importante porque “criança com elevado grau de autoestima apresenta desempenho consistentemente melhor do que crianças de habilidades semelhantes com baixa autoestima” (Fontana; David, 1998, p. 162). Os autores afirmam que quando o professor proporciona ao aluno confiança em suas próprias conquistas está dando a oportunidade de sucesso, em vez de cobrar com severidade, pois quando o fracasso ocorrer dentro da sala de aula o aluno sabe que pode contar com a ajuda do professor, porque há entre ambos um vinculo de amizade, de afetividade. A escola tem ligação com a vida da criança acolhendo e oferecendo condições para o desenvolvimento da autoestima, autoconfiança e de um bom autoconceito, elementos importantes para a aprendizagem e para que construa sua identidade, situando-se na realidade para elaborar e realizar com determinação seus projetos de vida.
Aprendizagem
Celidônio (1998) concebe aprendizagem como um processo em que a personalidade da criança possa se desenvolver autonomamente e não como reflexo de um certo modelo de individuo que a família ou a sociedade julgam ideal. Assim sendo, o processo de aprendizagem, ao invés de ser visto de forma mecânica e estática, deve ser visto como um processo ativo em que a aquisição de padrões de conteúdos, por parte de um individuo, envolve um processo de atribuição de significado àquilo que é aprendido.
José e Coelho (1999) também focalizam a aprendizagem significativa e a aprendizagem como mudança de comportamento em função da experiência. Ressaltam que é comum as pessoas delimitarem os conceitos de aprendizagem somente ao que é apreendido na escola, como resultado de ensino. No entanto, devemos compreender os hábitos que formamos e os aspectos da nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais já construídos. Podemos citar ainda os aspectos funcionais resultantes de toda uma estimulação ambiental recebida pelo individuo no decorrer de sua vida.
O ato de conhecer é dinâmico; é mais do que memorizar ou reter informações; é mais do que assimilar de modo passivo um reconhecimento previamente elaborado. Conhecer envolve, além da assimilação, a reelaboração crítica, a reinterpretação ou a recriação de informações e de conceitos.
Segundo Wallon (1978), é a partir de suas próprias experiências, das repetições, das diferenças que se apresentam que a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer o que está de acordo ou não com suas expectativas e necessidades, o que consequentemente a leva ao aprendizado.
“A aprendizagem é um processo, isto é, uma atividade interior que tem inicio, desenvolvimento e fim. Nesse sentido, a aprendizagem é algo muito pessoal, mas que pode ser influenciada, com êxito, por pessoas habilitadas e através de estímulos e técnicas” (Xavier, 2003, p. 124). Essa concepção supõe a superação da noção comum, na nossa tradição educacional, que identifica o conhecimento somente como conteúdo expresso nos livros e programas de ensino, como algo pronto e acabado que só poucos podem produzir. Supõe também superar a concepção de currículo como algo estático, em que as preocupações se limitam somente a colocar ou retirar disciplina do plano curricular, aumentar ou reduzir a carga horária.
Para Vygotsky (2003), o processo de internalização do conhecimento envolve uma série de transformações que colocam em relação o social e o individual. Ele afirma que todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social; depois, no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Partindo desse pressuposto, o papel do outro no processo de aprendizagem torna-se fundamental e, consequentemente, a mediação e a qualidade das interações sociais. Exemplo disso é a interação dos alunos em sala de aula e nas suas brincadeiras na hora da recreação, pois um aprende com o outro.
Os educadores têm mostrado crescente preocupação com a preparação da criança que vai ser alfabetizada. É claro que essas habilidades têm sua função dentro do processo de aprendizagem. Porém, não podemos considerá-las o centro do processo de aprender a ler e escrever. A criança que aprende a ler e a escrever é um ser que pensa e que busca a compreensão do mundo de objetos à sua volta. Deve-se levar a criança a pensar e a descobrir os resultados, seja acertando ou errando, pois o aprendizado da criança que aprende a pensar vai além do que viu, pois ela cria hipóteses, ampliando seu repertório de aprendizagem.
Nesse sentido, Cool (1996, p. 47) afirma:
A aprendizagem é produzida como resultado da interação entre o sujeito e o ambiente e se traduz invariavelmente numa modificação comportamental, porém, ao mesmo tempo, concede grande importância aos processos mentais ou encobertos que subjazem a esta mudança comportamental, que são postuladas pelo autor como conceitos, constructos, hipotéticos, a partir de resultados da pesquisa experimental.
Desde o inicio da Idade Moderna, os pensadores se preocupam com o processo cognitivo: como podemos conhecer? Como o ser humano constrói conhecimento? Por quais caminhos pode se chegar ao conhecimento? Pela razão ou pelos sentidos. Para John Locke (1632-1704), a criança nasce sem nenhum conhecimento; segundo ele, é como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco, que, pela experiência dos sentidos, vai gravando as informações e construindo aos poucos o conhecimento por meio das ideias simples e complexas.
Relação afetiva professor-aluno
Pensar na construção de uma sociedade escolar mais justa e solidária é refletir sobre os valores e afetos que fazem a diferença humana nas relações escolares no dia a dia, em que cruzamos com alunos que carregam no rosto um ar de insatisfação e de mal-estar consigo mesmos e com todos à sua volta. O papel do professor é muito delicado porque necessita de um autoinvestimento afetivo na relação professor-aluno que ajudará no desenvolvimento da autoestima e eficácia na aprendizagem (Chalita, 2001). A relação do professor no desenvolvimento da autoestima, do autoconhecimento e da autoeficácia de alunos inseguros é muito importante para seu desenvolvimento escolar.
A influência exercida por cada pessoa sobre a criança varia muito; nos primeiros anos ela é influenciada pelos pais e familiares, com o crescimento aparecem os professores, os colegas e os amigos. Por isso, o mundo escolar é determinante na vida da criança, pois ela passa grande parte de sua vida e de seu tempo no ambiente escolar com os professores e colegas que contribuem ativamente para o seu desenvolvimento pessoal (Chalita, 2001) Diante disso, a conquista do disciplinar que possibilita o bom desenvolvimento da autoestima e eficácia na aprendizagem da criança depende da relação afetiva do professor, do conhecimento e da capacidade de intervir no processo. Sempre há possibilidade de ajudar e incentivar corretamente a criança no processo ensino-aprendizagem (Zagury, 2007). No relacionamento professor-aluno, a afetividade facilita o processo de ensino-aprendizagem, pois o forte vínculo afetivo dá à criança maior conforto e segurança nas suas construções.
Para Arantes (2002, p. 162), “o papel da afetividade para Piaget é funcional na inteligência. Ela é fonte de energia de que a cognição se utiliza para seu funcionamento”, pois a afetividade é o combustível que a cognição utiliza para funcionar. Por isso, afetividade e cognição são diferentes, mas inseparáveis em todas as ações simbólicas e sensoriais-motoras. Afeto e cognição são resultado de uma adaptação continua e interdependente, em que os sentimentos exprimem os interesses e os valores das ações ou das estruturas inteligentes.
A afetividade está esta interligada às funções cognitivas; uma não poderia funcionar sem as outras. O desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao cognitivo; por isso, para haver cognição na sala de aula é preciso ter afetividade com os colegas, professores e os conteúdos, mas isso não significa que se não tiver afeto não terá cognição (Arantes, 2002).
De acordo com Taille, Oliveira e Dantas (1992, p. 65),
quando se trata de analisar o domínio dos afetos nada parece haver de muito misterioso: a afetividade é comumente interpretada como uma energia; portanto, como algo que impulsiona as ações. Vale dizer que existe algum interesse, algum móvel que motiva a ação. O desenvolvimento da inteligência permite sem dúvida que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço.
Numa abordagem piagetianas, os autores Taille, Oliveira e Dantas (1992) dizem que a afetividade é a energia que impulsiona a ação; por isso ela é fundamental para o funcionamento da inteligência, mas não modifica a estrutura. A afetividade é a peça fundamental na constituição da inteligência, mas não é o suficiente. A inteligência permite organizar o mundo; a afetividade é a energia que move a ação, e a razão possibilita ao sujeito identificar seus desejos, sentimentos variados que o ajudarão a ter êxito nas suas ações. Para formar pessoas felizes, éticas, seguras de si mesmas e capazes de se relacionar com o outro e com o mundo que as cerca, faz-se necessária a afetividade desde o nascimento, sendo fundamental cuidar do aspecto afetivo no processo de ensino-aprendizagem e no desenvolvimento da autoestima, porque a criança é diferente cognitivamente em cada estágio de seu desenvolvimento; por isso cabe ao professor proporcionar ao aluno situações de interação que contribuirão na formação da sua identidade. A afetividade pode despertar interesse , motivação, desejos, valores, emoções, perguntas, respostas e o desenvolvimento da inteligência.
A afetividade é um componente importante para a construção do autoconceito e da autoestima do aluno, pois quando o professor valoriza seu desempenho na sala, seu rendimento escolar também melhora. O sentimento de insucesso em sala de aula compromete o seu desempenho escolar; por isso é importante a relação afetiva do professor na construção da identidade dos alunos; essa relação aparece como solução milagrosa para resolver todos os problemas de aprendizagem (Souza, 2012).
Nesse sentido, Taille, Oliveira e Dantas (1992) registram a preocupação de Vygotsky de como os indivíduos enfrentam os conflitos diários, tanto sozinhos quanto em grupo, e até que ponto esses conflitos podem afetar o desenvolvimento da sua aprendizagem, pois o afeto é um elemento importante para fortalecer e aumentar a eficácia da aprendizagem do aluno, porque integra o aspecto cognitivo, sendo ambas inseparáveis. O desenvolvimento da afetividade depende, dentre outros fatores, da qualidade de estímulos que o ambiente oferece; por isso, o professor precisa compreender adequadamente a base afetiva do indivíduo para ter uma compreensão completa do seu pensamento. A interação com o outro determina padrões afetivos, despertando vários processos de desenvolvimento que estão inteiramente enraizados nas influências mútuas.
Arantes (2002, p. 164) afirma: “Na perspectiva genética de Henri Wallon, inteligência e afetividade estão integradas: a evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas”.
Considerações finais
As teorias da afetividade e do desenvolvimento humano que foram surgindo têm mostrado o quanto essas especificidades intervêm na individualidade humana; portanto, não podemos estabelecer leis psicológicas gerais que devem ser aplicadas igualmente a todos os seres humanos. São muitos os esforços praticados atualmente para adaptar o ensino às características individuais de cada um.
A afetividade só é estimulada por meio da vivência, na qual o professor-educador estabelece vínculo de afeto com o educando. A criança precisa de estabilidade emocional para se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de chegar perto do educando; a ludicidade, em parceria, é um caminho estimulador e enriquecedor para atingir uma totalidade no processo do aprender, quando há aprendizado de fato.
Todo ser humano precisa de limites, mas de carinho e amor também. Um educando aprende o que é respeito e respeita a partir do momento em que vê o educador como um amigo que tem e espera respeito, como alguém que se preocupa de verdade com ele e que lhe mostra os caminhos.
Todos esses aspectos devem ser compreendidos como importantes na construção global do individuo. Não intencionando tornar um fator mais importante que o outro, ressalvo a importância do professor na construção e no desenvolvimento da aprendizagem como mediador dos interesses que se faz entre a aprendizagem e a afetividade. As considerações apresentadas como positivas na relação professor-aluno descrevem as mudanças que ocorreram no processo de ensino-aprendizagem ao longo dos últimos anos. A educação ideal é a construção progressiva de sistemas de significados compartilhados entre professor e alunos e a transferência progressiva do controle do professor para os alunos.
Dentre os fatores analisados quanto à influência da afetividade na aprendizagem, ressalto a motivação como instrumento que permeia todas as relações de aprendizagem professor-aluno. Mesmo que o aluno que domine as operações formais e disponha de conhecimento adequado, necessita atribuir um sentido ao que aprende. Tal sentido é transmitido pela interação professor-aluno e engloba os fatores psicológicos de caráter afetivo, que nessa relação são mediados pela percepção que o aluno tem de si mesmo (autoconceito), a percepção que tem do professor, suas expectativas e o valor que atribui a si próprio (autoestima).
Foram apresentadas algumas teorias da construção e do desenvolvimento do autoconceito e da autoestima que demonstram a importância da família, desde as condutas de apego até as práticas educativas realizadas nesse contexto que interferem nas relações sociais que serão estabelecidas pelo indivíduo durante toda a vida.
É imprescindível, então, que no contexto escolar trabalhemos a articulação afetividade-aprendizagem nas mais variadas situações, considerando-a essencial na prática pedagógica e não a julgando como simples alternativa da qual podemos lançar mão quando queremos fazer uma “atividade diferente” na escola. Essa articulação deve ser uma constante busca de todos que concebem o espaço escolar como locus privilegiado na formação humana. Os conhecimentos são construídos por meio da ação e da interação. O sujeito aprende quando se envolve ativamente no processo de produção do conhecimento, mediante a mobilização de suas atividades mentais e na interação com o outro. Portanto, a sala de aula precisa ser espaço de formação, de humanização, onde a afetividade em suas diferentes manifestações possa ser usada em favor da aprendizagem, pois o afetivo e o intelectual são faces de uma mesma realidade – o desenvolvimento do ser humano.
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Publicado em 27 de outubro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
BARBOSA, Eliane dos Santos. Afetividade no processo de aprendizagem. Revista Educação Pública, v. 20, nº 41, 27 de outubro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/41/afetividade-no-processo-de-aprendizagem
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1 Comentário sobre este artigo
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