Tecnologias digitais: inovações pedagógicas contemporâneas

Valdecira Aparecida da Silva Moreira

Mestre em Ciências da Educação

Valdicéia de Cássia da Silva Balbinot

Mestre em Ciências da Educação

Cleonice Adriana Schmitz dos Santos

Mestre em Ciências da Educação

Maria Valdete da Silva Bolsoni

Mestre em Ciências da Educação

O presente artigo objetiva despertar reflexões sobre a forma de aprender e ensinar da nova sociedade, em tempos de alunos nativos digitais:

O cérebro dos “nativos digitais” se desenvolveu de forma diferente em relação às gerações pré-internet. Eles gostam de jogos, estão acostumados a absorver (e descartar) grande quantidade de informações, a fazer atividades em paralelo, precisam de motivação e recompensas frequentes, gostam de trabalhar em rede e de forma não linear (Tori, 2010 p. 218).

Para Tori (2010), alunos nascidos na era digital têm grandes habilidades em relação à aprendizagem por meio dos jogos e do lúdico. A experiência docente das pesquisadoras, traz à tona o fato de que esta geração tem dificuldade de concentração e memorização, precisando de estímulos virtuais para construir a sua aprendizagem.

Segundo Bauman (2001), vivemos um tempo de rápidas mudanças, em uma “sociedade líquida”. Diante da constatação de que os alunos estão aprendendo de forma diferente e de que o conhecimento mudou o seu significado, emerge a necessidade de reflexão sobre a metodologia utilizada nas escolas públicas brasileiras. Como está a escola pública frente ao surgimento da sociedade “líquida”, quando tudo parece instável? Na sociedade atual, o que significa manter-se conectado?

Macedo (2010) assegura que o indivíduo aprende de acordo com o contexto no qual está inserido. Em conformidade com a citação de Macedo, compreendemos que a sociedade está passando por grandes transformações, principalmente neste período da pandemia do covid-19.

Diante da iminência do ensino remoto emergencial, vivenciado no Brasil desde 17 de maio de 2020, as velhas metodologias de ensino passaram a não ser suficientes para cumprirem com os objetivos qualitativos de aprendizagem dos alunos.

Constata-se que, por meio da vivência educacional, os alunos passaram a ser bombardeados por inúmeras informações virtuais, em tempo real. As pessoas passaram a se conectar e a interagir, sem saírem de casa.

Sobre o novo cenário de aprendizagem, Guimarães (2011) afirma que:

O significado de “conhecer” mudou, pois, em vez de ser capaz de lembrar e repetir informações, é mais importante ser competente na busca e utilização destas. Hoje se encontram padrões distintos de aprendizagem, que prometem afetar profundamente as instituições educacionais (Guimarães, 2011, p. 128).

Os alunos, em sua maioria, são nativos digitais e têm grande facilidade no domínio tecnológico, enquanto os docentes, considerados imigrantes digitais, demonstram resistência em relação às mudanças na forma de ensinar, não compreendendo que os nativos digitais têm novas necessidades, exigindo novas metodologias. Desse modo, apenas o domínio dos conteúdos não é o suficiente para seduzir os alunos ao aprendizado.

Conhecimentos pedagógicos, conhecimentos conteudistas e uso adequado da metodologia

Kenski (2003, p. 51) defende que as tecnologias produzem transformações sociais em cada época.

As tecnologias existentes em cada época, disponíveis para utilização por determinado grupo social, transformaram radicalmente as suas formas de organização social, a comunicação, a cultura e a própria aprendizagem. Novos valores foram definidos e novos comportamentos precisaram ser aprendidos para que as pessoas se adequassem à nova realidade social vivenciada a partir do uso intenso de determinado tipo de tecnologia (Kenski, 2003, p. 48).

As tecnologias, na escola, devem ser usadas com um planejamento cuidadoso. Em consonância com o tema, a Base Nacional Comum Curricular, evidencia que as escolas devem “criar soluções tecnológicas para problemas; utilizar linguagem digital; e, compreender, utilizar e criar TDIC” (Brasil, 2019, p. 9-10). A BNCC afirma que durante todo o período da Educação Básica deve-se desenvolver competências gerais que estejam associadas diretamente às tecnologias, valorizando os conhecimentos dos discentes sobre o mundo digital.

Como principal objetivo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está o desenvolvimento das competências que orientarão os currículos escolares, possibilitando esse novo olhar para os recursos tecnológico, uma vez que ele é um documento oficial com foco na instrumentalização do docente, nos caminhos e meios para alcançar e despertar as habilidades e as competências de cada ano escolar.

Sobre currículo e tecnologia, veja:

Integrar currículo e tecnologia não se resume à digitalização do conteúdo. Em outras palavras, não se trata de substituir quadro e giz por lousas digitais ou cadernos por computadores portáteis. Isso porque a mera transposição não traz nada novo às práticas escolares – é apenas uma prática tradicional “fantasiada” de inovadora (Silva; Barreto; Silva, 2017, p. 455).

A utilização dos recursos tecnológicos de forma pedagógica precisa estar claramente definida no currículo escolar, além de ser trabalhada nos grupos de estudo e na formação de professores, visando o aprimoramento do seu uso para oportunizar novas aprendizagens e experiências às crianças. Segundo Brasil (2019, p. 467), os alunos devem “apropriar-se das linguagens das tecnologias digitais e tornar-se fluentes em sua utilização”.

Resultados e discussão

Evidenciou-se, por meio da pesquisa documental, que os docentes estão utilizando recursos tecnológicos em suas aulas, tais como, o Google Formulário, o Google Meet, o Google Classroom, o Canva e as bibliotecas digitais.

Os relatórios (arquivos da Semec) demonstram que a secretaria vem oferecendo constantemente aos professores da Educação Infantil e aos supervisores escolares formação envolvendo tecnologia e recursos pedagógicos por meio de convênio com uma editora que conta com profissionais altamente qualificados na área de metodologia e utilização de recursos digitais.

Em relação à importância das formações para trabalhar com esses recursos, Schlemmer (2020) defende que as inovações tecnológicas educacionais vão além do simples fato de equipar as escolas:

A inovação que precisamos na educação, vai além do uso e da apropriação de TD, ela é resultado de um processo de acoplamento, de coengendramento entre o humano, diferentes entidades, incluindo as TD e, a lógica das redes, o qual possibilita transformar significativamente a forma de pensar e fazer educação, provocando a sua transformação (Schlemmer, 2020, p. 12).

A autora citada alerta para o fato de que as tecnologias não podem ser usadas apenas como ferramenta de apoio, numa perspectiva apenas instrumental, reduzindo as metodologias e as práticas pedagógicas a um ensino instrucional (resultante de uma pedagogia diretiva), mas como instrumentos de transformação.

A pesquisa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), desvenda que o município de Colorado do Oeste - Rondônia, local da presente investigação, vem elevando o seu índice nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Schlemmer (2020) alerta que a normatização dos recursos tecnológicos na escola não produz efeitos positivos. Há a necessidade de se pensar e repensar sobre a utilização pedagógica desses recursos.

A transposição de uma aula pensada para a modalidade presencial física para plataformas digitais, em rede, não configura a modalidade de Educação a Distância ou Educação Online. A natureza e a propriedade do espaço e dos meios mudam, o que exige conhecimento das potencialidades e limites de cada tecnologia digital (TD) de forma a permitir, devido a característica da conectividade e a potência de liberação do polo de emissão, reconfigurar práticas pedagógicas, metodologias, currículos, cursos. Isso exige, portanto, novas competências para o desenvolvimento de uma docência de qualidade e, competências digitais que permitam desenvolver fluência técnico-didático-pedagógica, o que possibilita pensar em novas pedagogias (Schlemmer, 2020, p. 13)

Programas e projetos governamentais podem equipar as escolas com tecnologia, no entanto, cabe ao professor cuidar do fazer pedagógico, utilizando-se, de forma adequada, de cada recurso, aliando tecnologia, conteúdo e pedagogia, pois tudo depende da forma como o docente trabalha. Ela faz toda a diferença!

Considerações finais

Este trabalho é resultado de uma pesquisa bibliográfica e documental, evidenciando a necessidade do alinhamento curricular com as normatizações advindas da BNCC, 2018.

Rodrigues, Palhano e Vieceli (2021, p. 1) defendem que “nas escolas, os alunos devem ser protagonistas do seu próprio aprendizado, utilizando ferramentas digitais”.

Por meio dos relatórios arquivados na Secretaria Municipal de Colorado do Oeste/RO, podemos observar que os alunos têm grandes facilidades no uso e manuseio das ferramentas digitais. Entretanto, cabe ao professor o direcionamento pedagógico, com a definição de objetivos da aprendizagem.

Salienta-se que deve ser por meio do currículo e de projetos pedagógicos norteadores que as ações do docente precisam ser construídas, pois da tecnologia pela tecnologia não resulta um efetivo aprendizado escolar.

Ressaltamos que a consciência crítica em relação a utilização da tecnologia na escola é necessária. Ela se constrói por meio de formação continuada para professores, realizada de forma online ou presencial dependendo da realidade e do momento vivenciado.

Inovações tecnológicas são necessárias no caminho educacional rumo à excelência pedagógica e à equidade no aprendizado.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BRASIL. MEC. Base Nacional Comum Curricular, 2019. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 14 set. 2021.

FERREIRA, Jacques de Lima. Cultura digital e formação de professores: uma análise a partir da perspectiva dos discentes da licenciatura em Pedagogia. Educar em Revista, Curitiba, v. 36, e75857, 2020.

KENSKI, Vani Moreira. Aprendizagem mediada pela tecnologia. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, nº 10, p. 47-56, set./dez. 2003.

MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa crítica e etnopesquisa formação. Brasília: Liber Livro, 2010.

RODRIGUES, Greice Provesi Paes; PALHANO, Milena; VIECELI, Geraldo. O uso da cultura maker no ambiente escolar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 21, nº 33, 31 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/33/o-uso-da-cultura-maker-no-ambiente-escolar

SCHLEMMER, Eliane. Educação On Life: a dimensão ecológica das arquiteturas digitais de aprendizagem. Educ., Dossiê - Cultura digital e educação, v. 36, 2020.

SILVA, Leonardo; BARRETO, Marcelo; SILVA, Marimar. Tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) na aula de Língua Estrangeira: possibilidades para o desenvolvimento da criticidade. In: CERNY, Roseli Zen et al. (orgs.). Formação de Educadores na Cultura Digital: a construção coletiva de uma proposta. Florianópolis: UFSC/CED/NUP, 2017. p. 450-468.

TORI, Romero. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distância em ensino e aprendizagem. São Paulo: Editora Senac-SP, 2010.

Publicado em 19 de julho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

MOREIRA, Valdecira Aparecida da Silva; BALBINOT, Valdicéia de Cássia da Silva; SANTOS, Cleonice Adriana Schmitz dos; BOLSONI, Maria Valdete da Silva. Tecnologias digitais: inovações pedagógicas contemporâneas. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 26, 19 de julho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/27/tecnologias-digitais-inovacoes-pedagogicas-contemporaneas

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.