Encontro entre Steiner, Freinet, Freire... e nós!

Jaqueline Rocha Oliveira

Doutoranda em Educação (UFMG), mestra em Extensão Rural, graduada em Geografia (UFV), graduanda em Pedagogia na Pedagogia para Liberdade, professora da rede pública de Minas Gerais

Keila Carla de Jesus Villière

Graduada em Turismo (PUC-Minas), graduanda em Pedagogia na Pedagogia para Liberdade, técnica ambiental da Prefeitura de Belo Horizonte

Cláudia de Carvalho Leão

Mestra em Educação, especialista em Educação Infantil, graduanda em Pedagogia na Pedagogia para Liberdade, coordenadora pedagógica de creche e pré-escola

Leonardo Moreira Gouvêa

Licenciado em Educação Física (UFRJ), graduando em Pedagogia na Pedagogia para Liberdade, professor da Escola Waldorf Michaelis do Rio de Janeiro

Mas como encantar o saber
Fechado na caixa da escola?
Olhar para si e pro mundo
Sentado, amarrado na sala?
Olhando na nuca do outro
Sem corpo, sem voz, sem ideia
Contando e cantando o A, B, C
Pra que ser aluno, pra quê?

Freinet:
– Experiência concreta vivida
É a forma por mim concebida
Descobertas lá fora procuro
Pra dentro voltar como escrita

Steiner:
– Amigo Freinet, não se esqueça:
Em cada passo que dê
Lá dentro, lá fora, a beleza
De mim e do outro se vê

Freinet:
Amigo Steiner, veja bem
Lá fora tem belezas e bondade
Mas também tem gente, feiras e trem
E um mundo da materialidade

Steiner:
Vejo, sim, um mundo material
Mas a experiência também é suprassensorial,
Deixamos as crianças experimentarem
No espaço social o ser individual

Freinet:
– Já que falamos de saberes, tempos e espaços,
Querido Steiner, quer olhe contar
Minhas aulas são passeios
Para a cultura do cotidiano experimentar

Steiner:
– Meu caro Freinet, quero lhe dizer
O mundo das infâncias é estético e poético
Experimentar na natureza é o que devemos fazer
Para a corporeidade no 1º setênio desenvolver

Freinet:
– Caro Steiner, quero acrescentar
Olhar para a natureza e experimentar
Utilizando o que há de moderno
Para na sala de aula criar e registrar

Steiner:
– Amigo Freinet, continuo a lhe falar:
No segundo setênio é que vamos escrever
A representação mental é para vivenciar
O conhecimento se dá no sentir e na arte de educar

Freinet:
– Amigo Steiner, eu sou base da nova escola
Onde as crianças é que falam e escolhem os temas
Agindo e interagindo com as professoras
Não esperam trocar os dentes para serem autoras

Steiner:
– Querido Freinet, digo de coração
Que no terceiro setênio é o tempo do pensamento
Em cada ritmo a contração e a expansão
Nessa fase a consciência está em movimento

Freinet:
Gosto da sua proposta, mas te conto uma novidade:
Respeito as crianças e suas individualidades,
Minha educação acontece através do trabalho,
Emancipação é a partir do desenvolvimento de habilidades

Steiner:
– Meu querido Freinet, preciso te confessar:
Na minha escola não tem livros didáticos
Mas tem tempo para escrever, cantar, bordar e respirar
E as crianças têm liberdade para brincar

Freinet:
– Te digo, Steiner, vejo bem seu lado:
Crianças devem produzir a sua própria cartilha,
Pois livro didático é algo arcaico e engessado
O que acontece no dia registra-se na imprensa escrita

Steiner:
– Veja bem, Freinet, gostei da sua ideia,
Pois essa pedagogia tradicional é rígida,
Resquício da Segunda Guerra Mundial,
De uma educação tarefista separada da vida

Freinet:
– Grande Steiner, concordo com você,
Brincar faz parte da vida da criança,
Na escola elas devem brincar e aprender
Sem levar tarefas para o mundo da infância

Steiner:
– Veja bem, Freinet, digo com confiança:
Preparar o nosso ecossistema interno
Para estar pleno diante de uma criança
Se faz com autoeducação do ser humano

Freinet:
– Meu querido, gosto da sua visão,
Pois educação se faz com motivação,
Utilizo a acuidade científica e a técnica,
Mas também a afetividade e a cooperação

Nós:
– Peraí, meu povo europeu!!
No Brasil não foi bem assim que se deu
Tem Tupi, Caiapó, Pataxó, Guimarães
Culturas são todas irmãs

Freinet:
– Verdade… verdade, camarada
Sem Paulo Freire nesse diálogo
Não há compreensão para os vários Brasis,
Pedagogias e encruzilhadas

Steiner:
– Sinto grande satisfação
De conhecer-te, amigo Freire,
Me diga, grande patrono da Educação:
No Brasil, como se dá o diálogo de saberes?

Paulo Freire:
– Meus caros, agradecido pelo convite,
Começo dizendo que
Não há saber mais
Ou saber menos
Há saberes diferentes.

– De uma coisa sei:
Tem gente que nasceu para ensinar
Outra para aprender
Embora uma ensine a outra

– Entendo sua frustração, Freinet,
Sua busca pela diversidade
Aqui, aí, lá, em todo lugar
O ensinar exige a rejeição
De qualquer discriminação

– Pra cada discente um docente
Pra cada docente um testemunho vivo
Do seu ensinar
Pra cada educando o aprender
Pra cada educador o escutar
Pra ambos haja sempre a consciência do inacabado

– Amigos, tenho algo a mais para lhes dizer:
Vocês sabem bem que educar é um ato de amor,
Portanto, não podemos esquecer
Que toda criança é um ser questionador

– Por isso devemos sempre instigar
A palavra geradora da curiosidade do ser
E com dialogicidade vamos tecer
Com horizontalidade de saber

– No país que ainda vive a colonialidade,
Educação é um ato de resistência;
Olhe para essa realidade;
Qual o nível de consciência?

– Da ingenuidade à crítica,
A leitura do mundo é no espaço da comunidade
A metodologia é o círculo de cultura que
Questiona: "Qual a intencionalidade?"

– Descolonizar a nossa história
As tentativas de apagamento
Das identidades, saberes ou memórias,
Pois ensinar não é transferir conhecimento

– E pra finalizar quero lembrar:
Peço a bênção aos nossos mestres de saberes,
Aqueles que fazem a educação popular,
Meu povo indígena, os afrodescendentes, camponeses...

– Pois a educação como prática da liberdade
É a dialética (práxis) da ação e reflexão,
Incluindo também as dimensões éticas e estéticas
Com os saberes que vêm do nosso chão.

Publicado em 18 de outubro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

OLIVEIRA, Jaqueline Rocha; VILLIÈRE, Keila Carla de Jesus; LEÃO, Cláudia de Carvalho; GOUVÊA, Leonardo Moreira. Encontro entre Steiner, Freinet, Freire... e nós! Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 39, 18 de outubro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/39/encontro-entre-steiner-freinet-freire-e-nos

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1 Comentário sobre este artigo

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Paulo Fernando Machado • 2 anos atrás

Excelente! Inovador e Motivador ! Uma nova maneira de se ensinar e aprender!

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