Buscas pedagógicas em tempos de crise: sobre os pensamentos de Boaventura de Sousa Santos

Solange Cabral de Lima

Mestre em Educação, Gestão e Difusão em Biociências (UFRJ), integrante do Laboratório de Inclusão e Diversidade (LID/UERJ)

Flávia Barbosa da Silva Dutra

Doutora em Educação, Gestão e Difusão em Biociências, coordenadora do Laboratório de Inclusão e Diversidade (LID/UERJ)

Pensar sobre o alívio frente a tanto que nos exigimos em tempos recentes inicia a reflexão sobre o exercício destes últimos anos. A pandemia fragmentou o modo de vida das pessoas do mundo inteiro quando impôs o distanciamento social às escolas do Brasil em meados do primeiro semestre de 2020; isso fez com que a sociedade e muitos professores se ajustassem radicalmente. Santos (2020) revela que mudanças em atividades conservadoras dominantes surgem drasticamente decorrentes das crises pandêmicas:

E, de repente, elas tornam-se possíveis como se sempre o tivessem sido. Torna-se possível ficar em casa e voltar a ter tempo para ler um livro e passar mais tempo com os filhos, consumir menos, dispensar o vício de passar o tempo nos centros comerciais, olhando para o que está à venda e esquecendo tudo o que se quer, mas que só se pode obter por outros meios que não a compra (Santos, 2020, p. 6).

Nesse caso, o autor aponta que as resistências às novas propostas de comunicação se rompem, pois não mais podem contar com as metodologias que sempre conservaram estabilidade educacional, quando o “estado de segurança se evapora de um dia para o outro em consequência do surto viral” (Santos, 2020). O distanciamento se tornou medida básica de combate à pandemia da covid-19, provocou a modificação no mecanismo de comunicação escolar, impactou o processo de ensino-aprendizagem e lançou a educação à procura de não só entender as interfaces de uma guerra viral, quanto destacar conduções e ferramentas para sanar essa disparidade.

Este artigo relata um distanciamento permanente tanto físico quanto midiático dentro da educação e destaca apontamentos sobre produção audiovisual em busca do contato pedagógico interdisciplinar e divulgação da construção de saberes.

Metodologia

Este trabalho se caracteriza como estudo bibliográfico de leitura corrente sobre como procedimentos pedagógicos e estruturas sociais se entrelaçaram “aprimorando ideias” (Gil, 2002, p. 42) no ambiente educacional, enquanto se buscou por estratégias de comunicação no período de distanciamento social.

A obra intitulada A cruel pedagogia do vírus, de um dos maiores intelectuais que também se viu obrigado ao confinamento, Boaventura de Sousa Santos, foi o material teórico principal analisado para buscar respostas pedagógicas.

O seu parecer sobre a crise em 2020 e a leitura de periódicos serviram de estímulo para análise conjuntural e adaptações necessárias que incidiram sobre os documentos apresentados, reflexões sobre o entorno e retomada de atividades educacionais.

Das leituras que acessamos para as leituras que construímos

Argumentando sobre a elasticidade social alocada na pandemia, Santos (2020, p. 6) relativiza a rigidez e a morosidade de um conservadorismo que distancia qualquer alternativa de soluções da crise, seja ela pandêmica, ambiental ou financeira. O autor situou-nos que crises se mantêm permanentes e adaptações são iminentes para retomada da segurança mesmo que, para alguns, a condição de vitimizados ainda assim permaneça:

Este sentimento de segurança combina-se com o de arrogância e até de condenação para com todos aqueles que se sentem vitimizados pelas mesmas soluções sociais. O surto viral pulveriza esse senso comum e evapora a segurança de um dia para o outro. Sabemos que a pandemia não é cega e tem alvos privilegiados (Santos, 2020, p. 7).

Desafiando-nos a elaborar propostas que considerem a igualdade de direitos e condições da localidade, o autor orienta que “teremos de imaginar soluções democráticas assentes na democracia participativa ao nível dos bairros e das comunidades e na educação cívica orientada para a solidariedade e a cooperação” (Santos, 2020, p. 7).

A dinâmica de adaptação imposta fez com que gestores e professores pensassem em mecanismos que garantissem a educação como direito. Na nota de esclarecimento do Conselho Nacional e Educação do dia 18 de março de 2020, solicitam-se providências das instituições públicas e privadas de ensino. O ensino foi remodelado com peculiaridades de um modelo utilizado como complementação da aprendizagem instalado emergencialmente e que, por esse motivo, não se configura Educação a Distância.

Ficou clara a obrigatoriedade de as escolas, através de normativas, darem conta dos calendários letivos e fazerem com que os estudantes mantivessem contato com conteúdos escolares e mais informações sobre contágio e consequências da pandemia.

Em resposta à nota do MEC, surgiu o Guia Covid-19 – Educação a Distância, resultado de debates dirigidos por um conjunto de representantes da sociedade civil brasileira composto por 10 instituições, com composição plural e abrangente (Pellanda, 2020). Nesse leque há organizações atuantes nas áreas de Educação Infantil, Educação no Campo, Ensinos Fundamental e Médio, Educação de Jovens e Adultos, financiamento da educação, gestão e conselhos de educação, proteção da criança e do adolescente, sistema socioeducativo, direitos humanos, diversidade, participação, cultura e juventude, assim como representantes dos professores e trabalhadores da Educação. A organização desse coletivo representa um esforço de permanência em conduções democráticas e de levantamento de dados essenciais para o debate de uma situação tão emergencial.

O documento apontou os variados termos, como “atividades domiciliares”, “educação domiciliar”, “atividade remota”, “mediação tecnológica”, “atividades pedagógicas sem a presença de alunos e professores nas dependências escolares”, “atividades curriculares nos domicílios dos estudantes”, “regime especial, excepcional e transitório de atividades escolares não presenciais”, apresentados em normativas e mídias, que em algumas declarações os afastavam do conceito de Educação a Distância (Pellanda, 2020). Entre os diversos termos que especialistas na área também distinguem, e que foram levantados como alternativas recentes, esteve o homeschooling. Sugere-se que a argumentação possa ter se dado por contar que “as crianças, jovens e adolescentes não terão os seus professores por perto e precisarão do auxílio dos responsáveis na realização das tarefas escolares” (Pellanda, 2020), mas a análise de uso da ferramenta digital já em muito o diferencia da Educação a Distância:

Poderíamos considerar uma espécie de homeschooling? Não, porque o homeschooling é uma proposta de ensino domiciliar que nem sempre requer o uso de recursos digitais. Além disso, a educação remota utiliza considerável mobilidade, podendo ser acessada em vários tipos de dispositivos, em tempo e locais variados e possíveis (Nobrega; Oliveira, 2021, p. 1).

Percebemos mais um exercício de revisão de prática “para o que podemos chamar no momento de educação remota” (Nobrega; Oliveira, 2021), momento este em que, entre as várias características que a distinguem da Educação a Distância, apresenta a falta de garantia de utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação para mediação didático-pedagógica do processo de ensino-aprendizagem (Pellanda, 2020; Nobrega; Oliveira, 2021).

O que enfrentamos para pôr os planos em prática

A banalização da modalidade de Educação ou de um Ensino a Distância, que ascende sobre estruturas muito próprias, revelou condições substanciais negligenciadas e passíveis de manter o sistema de exclusão que é permanente com estudantes em condições de vulnerabilidade, pois sequer garantem o alcance desses materiais a todos os alunos ou abordaram as questões de acesso e segurança na utilização das tecnologias de informação e comunicação.

Essas dificuldades emudecidas em casa são permanentes, com ou sem pandemia, para muitas pessoas pobres (Lima; Dutra; Silva, 2022, p. 264). Para Santos (2020), ser solidários, mesmo que causando estranhamento, seria isolarmo-nos, mas atentando para o fato de que a pandemia atinge alvos privilegiados.

O reforço ao distanciamento como segurança sanitária pelo tempo que configurou a quarentena esteve, de maneira categórica, apontado por Santos (2020) como particularmente difícil para grupos como trabalhadores precários, informais e ditos autônomos, mulheres, trabalhadores de rua, populações de rua, moradores nas periferias pobres da cidade, os internados em campos de refugiados, imigrantes indocumentados ou populações deslocadas internamente, idosos e pessoas com deficiências. Estes últimos têm vivido outra forma de discriminação: o capacitismo, que, para o autor, trata-se de

como a sociedade os discrimina, não lhes reconhecendo as suas necessidades especiais, não lhes facilitando acesso à mobilidade e às condições que lhes permitiriam desfrutar da sociedade como qualquer outra pessoa. De algum modo, as limitações que a sociedade lhes impõe fazem com que se sintam a viver em quarentena permanente (Santos, 2020, p. 20).

A exclusão que a escola por vezes refletiu com um distanciamento físico não imposto como medida de segurança, mas socialmente implícito, e que em 2020 acometeu a todos, é confrontada pelo autor:

Como já há muito se habituaram a viver em condições de algum confinamento, sentir-se-ão agora mais livres que os “não deficientes” ou mais iguais a eles? Verão tristemente na nova quarentena alguma justiça social? (Santos, 2020, p. 20).

A sensação de afastamento, que por grande parte da sociedade foi vista como insuportável, é um recorrente tipo de isolamento que tem perdurado e sitiado também estudantes com deficiências até de informações básicas de higiene, colocando-os em risco de contaminação pelos vírus. É necessário considerar que os impedimentos socioeconômicos e culturais próprios de um local onde população com deficiência e escola estão inseridas sejam fatores que interferem no sistema de ensino. Estes se tornaram ainda mais intensos e resultam de metodologias inadequadas ou currículos fechados que os isolam e acabam por diminuir a participação dessa parte da população na sociedade.

Diante do distanciamento social urgente, as escolas, por conseguinte os profissionais da Educação, elaboraram estratégias de comunicação via web. No que tange à produção de vídeos, considera-se ser grande a representação de um modelo expositivo de aula, pois muitas vezes esses trabalhos simularam uma aula presencial, visto que os planejamentos se mantiveram pautados sobre os currículos originalmente organizados para essa modalidade. O parecer de crueldade que a pandemia veio nos ensinar é anunciada no título da obra e incide sobre a falta de previsibilidade em relação às emergências: a ideia de que algumas pessoas são mais necessárias à economia, ao ataque à investigação científica, entre outras lições amargas. Todavia, o texto do autor também aponta alternativas, enfocando “que as sociedades se adaptam a novos modos de viver quando tal é necessário e sentido como correspondendo ao bem comum” (Santos, 2020, p. 29).

As alternativas...

A atuação docente avançou para o ambiente virtual como tentativa, ensaio e concretude mesmo que notando uma construção em trânsito e sem manuais. Lives, conferências, simpósios e tantos outros acessos foram utilizados por professores e notavelmente viralizaram muitos estudos sobre Educação Inclusiva. E ainda fizeram com que professores substituíssem aulas presenciais por aulas remotas, utilizando diferentes estratégias, entre elas as produções em vídeo. Esse material conduziu-nos ao conhecimento de uma solução para estreitar a comunicação entre a escola e os alunos e entre a universidade e a escola, além do esforço para minimizar parte do impacto que o isolamento provoca em projetos pedagógicos que apostam na interação dos alunos no espaço escolar.

Até as instituições que tiveram como ação a confecção de material escrito, disponibilizado como elemento físico entregue pelas escolas, como é o caso de apostilas, recorreram aos ambientes virtuais para complementar a comunicação. Facebook e WhatsApp, entre outros caminhos em que vídeos estiveram presentes, contribuíram para a melhoria da qualidade do diálogo entre professores e alunos.

A adaptação, que para Santos (2020, p. 29) é parte chave do processo para abrir novos caminhos, é indicada em Educação Inclusiva como uma das condições de acessibilidade para atender aos estudantes com deficiências também dentro desse cenário de ensino remoto. Entre essas condições também se encontram adequações que indicam a ação de planejar originalmente os vídeos ou qualquer outro material como acessível. Esse exemplo de solução é indicado “por produtores técnicos, pois se tornam mais caros quando se torna necessário adaptá-los” (Lima; Dutra; Silva, 2022, p. 265). Decorrente de conhecimentos como esse, tem se desenvolvido uma concepção importante para promoção da “educação para todos”, o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA). Uma abordagem que conversa com soluções para situações de exclusão que foram evidenciadas no decorrer do texto:

consiste em um conjunto de princípios baseados na pesquisa e constitui um modelo prático que objetiva maximizar as oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes, PAEE ou não. O DUA tem como objetivo auxiliar os educadores e demais profissionais a adotar modos de ensino e aprendizagem adequados, escolhendo e desenvolvendo materiais e métodos eficientes, de forma que seja elaborado de forma mais justa e aprimorados para avaliar o progresso de todos os estudantes (Zerbato; Mendes, 2018, p.150).

De fato, adequar materiais desafia novas posturas, porém são consideradas menos complicadas se nos replanejarmos sobre os princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem. Coadunamos com Santos (2020) no pensar de que adaptações são necessárias, todavia socorristas dentro de um corpo social adoecido não só pela pandemia.

O que carrega o novo normal?

Nóbrega e Oliveira (2021) registram que a educação online esteja sendo pensada como uma transação, além da distância física ou da distância temporal, dentro de espaços como pedagógico, psicológico, cognitivo ou comunicacional:

A transação denominada educação online ocorre entre professores-conteudistas, tutores, coordenadores e alunos num ambiente caracterizado pela separação entre os participantes e mediado por tecnologias de informação e comunicação (TIC). Chamamos essa transação ocorrida em curso online de distância transacional (Nóbrega; Oliveira, 2021, p. 2).

O que nos propusemos fazer, ou fomos lançados a fazê-lo, examinou elementos como “a estrutura dos programas educacionais, a interação entre alunos e professores e a natureza e o grau de autonomia do aluno” (Moore, 2002, p. 2) desse conceito de transação, que surgiu em 1972 como resultado de estudos sobre o distanciamento entre professores e alunos, enquanto se refletia sobre a Educação a Distância. Nesse período, a educação brasileira, como outros setores do país, também era impactada por uma das maiores epidemias de nossa história, a meningite, fazendo-se necessário identificar os limites das modalidades do ensino presencial e da Educação a Distância como fizemos recentemente. Para tal, Moore (2002) esclarece que

espaços psicológicos e comunicacionais entre um aluno qualquer e seu instrutor nunca são exatamente os mesmos. Em outras palavras, a distância transacional é uma variável contínua e não discreta, um termo relativo e não absoluto. Já foi aventado (por Rumble (1986), por exemplo) que em qualquer programa educacional, mesmo na educação presencial, existe alguma distância transacional. Vista dessa forma, a Educação a Distância é um subconjunto do universo da educação, e educadores a distância podem utilizar e contribuir para a teoria e a prática da educação convencional. Contudo, na situação à qual normalmente nos referimos como Educação a Distância, a separação entre professor e aluno é suficientemente significativa para que as estratégias e técnicas especiais de ensino-aprendizagem por eles utilizadas possam ser identificadas como características distintivas dessa linhagem de prática educacional (Moore, 2002, p. 2).

Mesmo que os espaços entre professor e aluno sejam bem específicos, há padrões reconhecíveis, inclusive derivados do reconhecimento dos contextos históricos que nos incentivaram a revisitar esses estudos, sem que deixássemos de evidenciar as estruturas que mantêm grupos sociais com eternas restrições. Há questões que Santos (2020) levanta e ainda permanecem:

Quando se reconstituirão os rendimentos anteriores? Estarão os empregos e os salários à espera e à disposição? Quando se recuperarão os atrasos na educação e nas carreiras? Desaparecerá o Estado de excepção que foi criado para responder à pandemia tão rapidamente quanto a pandemia? Nos casos em que se adoptaram medidas de protecção para defender a vida acima dos interesses da economia, o regresso à normalidade implicará deixar de dar prioridade à defesa da vida? Haverá vontade de pensar em alternativas quando a alternativa que se busca é a normalidade que se tinha antes da quarentena? Pensar-se-á que essa normalidade foi a que conduziu à pandemia e conduzirá a outras no futuro? (Santos, 2020, p. 29-30).

Obtivemos o acervo de produções teóricas que se propuseram às revisitas e diálogos interdisciplinares e que estão constituindo um escopo de pesquisa que liga esses conceitos e indica o que professores podem deixar como experiências para situações similares. Muito embora estejamos esperançosos de que não mais necessitem de starts como um cenário de pandemia, Santos (2020) não desvencilha que, “na ausência de tais alternativas, não será possível evitar a irrupção de novas pandemias, as quais, aliás, como tudo leva a crer, podem ser ainda mais letais do que a actual” e que sequer o regresso à normalidade seja fácil para todos.

Nóbrega e Oliveira (2021) indicam que a distância transacional conceberá uma nova educação com uma percepção cada vez mais digital. Foi a oportunidade, por exemplo, de vermos profissionais interpretes de Libras serem recrutados para as equipes de comunicação e divulgação de um grande número de contextos mais globais e, nas sugestões que partiram de importantes setores do país e do mundo, percebêssemos uma “mobilidade política pandêmica” (Pellanda, 2020) evidente:

As políticas também viajam através das fronteiras, são emprestadas, compartilhadas, adaptadas e recontextualizadas, e são modeladas e remodeladas através do envolvimento de diversos atores de diversos setores (Pellanda, 2020, p. 12).

A ideia acompanha o avanço de estudos no campo da inclusão social que, em Rocha et al. (2020), se destaca como emergente em espaços de educação informal, dedicando-se aos seus estudos sobre acessibilidade em museus.

Zerbato e Mendes (2018) desenvolvem estudos sobre o DUA para a educação formal. Assim também têm se indicado caminhos possíveis no que se refere à acessibilidade comunicacional para espaços formais e informais. Esse tipo de acessibilidade é definido por Rocha et al. (2020) como aquela que “refere-se aos equipamentos e recursos que permitem superar as barreiras na comunicação interpessoal, incluindo material escrito e informativo”.

Lima, Dutra e Silva (2022) sugerem como condições de acessibilidade técnica básicas de um vídeo acessível: audiodescrição, legenda e janela de Libras, pois, ao adaptar ou adequar materiais, não só se favorece o entendimento das pessoas com deficiência visual e atende-se à comunidade surda como outras pessoas podem ser beneficiadas. É importante também garantir que o material possa ser revisto por pares com deficiência dando significado à construção e concluirmos como um exemplo de esforço em divulgar como a Educação Inclusiva online tem se desenvolvido.

O distanciamento que ainda se encontra presente na realidade educacional brasileira dá a clara noção da importância das interações e cooperações entre professores, alunos, profissionais de apoio, pares, universidades e gestores para contribuição das iniciativas de promoção de acessibilidade comunicacional (Rocha et al. 2020). Esses estudos associam a ação de educar na e para a diversidade como o significativo respeitar ao tempo de aprendizagem dos estudantes, com deficiência ou não.

Comentários finais

A abordagem de Boaventura de Sousa Santos mostrou que inclusão social e educacional são contextos de uma cruel pedagogia que o momento de pandemia pôde apresentar. O autor indicou que precisamos de crise e insegurança para movimentar a mudança, que grupos sociais foram mais atingidos e se encontram em distanciamentos permanentes, que a quarentena pode ter tido, infelizmente, conotação de justiça social... Que a pedagogia necessita de maior atenção por perceber a autonomia escolar como formulação do ensino emergencial limitada, devido às condições de acesso e segurança na utilização das tecnologias de informação e comunicação de grupos e regiões específicas, revelando ainda o capacitismo como uma quarentena permanente.

O momento de crise pandêmica também evidencia alternativas: adaptação, que, para o autor, em Educação Inclusiva é um importante start de mudanças, a grande produção e visibilidade de informação em meio virtual e de modelos de adequação de material com condições básicas de acessibilidade, as direções que avançam para a equidade, como o DUA, a valorização e melhoria do que tem sido feito com nossos poucos recursos e a incessante revisita que, mesmo nas condições adversas, nós, professores, temos realizado em nossas práticas.

As distâncias reveladas valorizaram os contatos; o isolamento protegeu o coletivo; adaptar emergencialmente sinalizou a importância de projetar dualidades presentes na comunicação escolar evidenciadas nesse período de crise que conferiu importantes lições para orientar a necessidade de uma educação (pós)pandêmica com uma percepção mais digital e acessível.

Referências

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GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LIMA, S. C.; DUTRA, F. B. S.; SILVA, A. E. L. O. Já postou seu vídeo hoje? In: MIRANDA, Naiola Paiva de; FREITAS, Patrícia Gonçalves de (orgs.). Educação em foco: Tecnologias Digitais e Inovação em Práticas de Ensino. Rio de Janeiro, v. 4, p. 263-270, 2022.

MOORE, Michael G. Teoria da distância transacional. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, v. 1, 2002. Disponível em: http://seer.abed.net.br/index.php/RBAAD/article/view/111/17. Acesso em: 13 jan. 2022.

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PELLANDA, A. (org.). Guia Covid-19 EaD. Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 2020. Disponível em: https://media.campanha.org.br/acervo/documentos/COVID-19_Guia3-EaD_FINAL.pdf. Acesso em: 13 jan. 2022.

ROCHA, J. N.; MASSARANI, L.; ABREU, W. V. de; INACIO, L. G. B.; MOLENZAN, A. O. Investigating accessibility in Latin American science museums and centers. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 92(1), 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/aabc/v92n1/0001-3765-aabc-92-01-e20191156.pdf. Acesso em: 13 jan. 2022.

SANTOS, B. de S. A cruel pedagogia do vírus. Lisboa: Almedina, 2020. Disponível em: https://www.abennacional.org.br/site/wp-content/uploads/2020/04/Livro_Boaventura.pdf. Acesso em: 13 jan. 2022.

ZERBATO, A. P.; MENDES, E. M. Desenho universal para aprendizagem como estratégia de inclusão escolar. Revista Unisinos, v. 22, nº 2, 2018. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/edu.2018.222.04. Acesso em: 13 jan. 2022.

Publicado em 29 de novembro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

LIMA, Solange Cabral de; DUTRA, Flávia Barbosa da Silva. Buscas pedagógicas em tempos de crise: sobre os pensamentos de Boaventura de Sousa Santos. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 44, 29 de novembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/44/buscas-pedagogicas-em-tempos-de-crise-sobre-os-pensamentos-de-boaventura-de-sousa-santos

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