As tirinhas como recurso didático para melhorar o ensino de Física
Francismar Rimoli Berquó
Professor de Física do Instituto Federal Fluminense - câmpus Avançado Maricá
Bianca Fernandes Fonseca Paltriniere
Aluna do curso em Edificações integrado ao Ensino Médio (IFF - câmpus Avançado Maricá)
No Ensino Médio, ao falar sobre Física é quase unânime escutar que é muito difícil e sem interesse. Alguns motivos levam o aluno a ficar desmotivado para aprender Física: por exemplo, reduz os conteúdos de Física a aplicar fórmulas para encontrar a resposta correta. Nesse sentido, Moraes (2009, p. 1) diz:
Muitos alunos não tiveram uma boa base no Ensino Fundamental e já chegam ao Ensino Médio com muitas dificuldades, principalmente na parte do cálculo. E se esses alunos têm uma aula de Física focada na parte matemática em que o professor enfatize muito a resolução de problemas, que muitas vezes estão fora do contexto de vida desses alunos, eles sentirão antipatia pela disciplina de Física, podem acabar por perder o interesse pela matéria, e isso certamente contribuirá de forma negativa em seu desempenho escolar.
O ensino tradicional faz com que esse cenário continue vivo no cotidiano do aluno. Infelizmente, por diversos motivos, mesmo com o avanço da tecnologia muitos professores de Física ainda contribuem para que o ensino tradicional permaneça em sala de aula (Moreira, 2018). Para superar esse desafio, muitos debates, em alguns eventos científicos, ocorreram/ocorrem para que outros recursos didáticos e metodologias sejam usados em sala de aula para mudar esse cenário: jogos didáticos, práticas experimentais, histórias em quadrinhos, tecnologias como ferramentas didáticas, simulações etc. (Berquo; Santos, 2020; Eisner, 1995; Cursino, 2019).
Todas essas informações ganham agilidade devido ao avanço da tecnologia, mas o desafio em trabalhar com todas essas ferramentas didáticas (ou parte delas) traz para os professores de Física um desafio enorme de acompanhar esse turbilhão de informações por meio de simulações, artigos científicos, sites, softwares etc. voltados para o ensino. Por isso, a capacitação é importante para que os professores de Física melhorem seus conhecimentos nesse mundo virtual, em que a cada dia novas ideias são disponibilizadas para a sociedade. Segundo Cursino (2019, p. 1),
a presença das tecnologias na sociedade atual é uma realidade em constante mutação. Adaptadas frequentemente ao uso doméstico, comercial e educacional, as tecnologias trazem consigo novas formas de linguagem, novos pensamentos, expressões e conhecimentos que exigem do indivíduo uma adaptação constante para se adequar a esse novo contexto social.
As histórias em quadrinhos (HQs) são um dos recursos didáticos disponíveis que se encontram em livros didáticos, revistas, questões de vestibulares, jornais etc. Os jovens gostam de ler HQs de diferentes temas. Silva e Santos (2022, p. 1) afirmam: “De forte apelo visual, com uma linguagem descomplicada e de fácil acesso e aceitação, as HQs e as tirinhas se tornam pontes que permitem a transposição da complicada linguagem científica para o dialeto cotidiano dos jovens”. Além disso, a legislação menciona as HQs como um dos recursos que o professor tem à disposição para usar no seu planejamento em sala de aula. As HQs trazem alguns benefícios com a sua utilização nas aulas:
- para desenvolver no aluno um senso crítico/criativo sobre algum fenômeno físico, em que a reflexão e a discussão coletiva poderão ser exploradas;
- interesse pela leitura em quadrinhos;
- associação da escrita com a imagem;
- desenvolvimento do hábito da leitura;
- caráter globalizador; e
- podem ser usadas em qualquer nível escolar (Vergueiro, 2010a).
Nesse sentido, Caruso e Freitas (2009, p. 359) registram:
O que torna interessante o uso das histórias em quadrinhos como fonte de motivação para os alunos em seus estudos é justamente a sua forma e a sua linguagem características, que misturam elementos específicos e resultam em uma perfeita interação entre palavras e imagens. Em uma sociedade que passa por mudanças cada vez mais velozes e na qual a imagem se impõe de forma marcante, a rápida decodificação dos quadrinhos é um elemento facilitador do aprendizado.
O trabalho desenvolvido por Pena (2003) mostra algumas possibilidades que o professor de Física pode trabalhar com os quadrinhos em sala de aula; por exemplo, motivar o aluno com algum tema para discussão antes do livro didático; reforçando com algum exemplo sobre o conteúdo trabalhado; produzir alguns exercícios usando os quadrinhos; e leitura da HQs, depois uma discussão sobre o tema trabalhado e, por fim, propor a realização de experimento e/ou ilustrações sobre o que a história em quadrinhos mencionava.
[As HQs] também apresentam outras possibilidades, pois refletem não somente o cotidiano dos alunos, mostrando também ficção científica, sonhos e magia, que permeiam o imaginário dos discentes. Dessa forma, devido ao seu potencial de leitura, elas se tornam um instrumento de aproximação entre os discentes, a aula de Física e os docentes (Silva; Ataíde; Venceslau, 2015, p. 206).
Algumas aplicações das HQs foram indicadas anteriormente. Isso é muito importante porque traz para o professor de Física algumas ideias para usar essa linguagem que associa texto e imagens nos seus planejamentos. O parágrafo anterior menciona a prática experimental como uma das aplicações das HQs. Geralmente as práticas experimentais são resumidas em um roteiro com tabelas e fórmulas que o aluno irá ler e tentar compreender para responder às perguntas que estão inseridas ali. Séré, Coelho e Nunes (2003, p. 31) afirmam que “a maneira clássica de utilizar o experimento é aquela em que o aluno não tem que discutir; ele aprende como se servir de um material, de um método; a manipular uma lei fazendo variar os parâmetros e a observar um fenômeno”. Nem sempre essa compreensão é alcançada e, consequentemente, a desmotivação ocorre com o aluno. Na perspectiva de melhorar essa forma de usar a prática experimental que se baseia em textos e fórmulas, buscou-se usar as tirinhas para melhorar o ensino e a aprendizagem de Física acompanhando a realidade dos alunos em pleno século XXI. Com isso, este trabalho traz elementos para motivar o professor de Física a usar sua criatividade com os recursos que o mundo virtual oferece, sem recorrer ao uso de recurso financeiro. Isso é importante porque o professor de Física que não teve a tecnologia na sua formação pode vivenciar outras experiências que já são trabalhadas em sala de aula para melhorar o seu planejamento. Por fim, duas tirinhas que foram produzidas estão disponíveis para serem usadas em sala de aula pelo professor de Física e as considerações referentes à produção das tirinhas.
Por que unir as tirinhas com a prática experimental?
O ensino de Física vem sendo tema de diversos trabalhos apresentados e publicados com o intuito de disponibilizar informações para o professor da disciplina melhorar o seu trabalho em sala de aula e, consequentemente, o aluno tenha prazer de estudar esses conteúdos. Segundo Zanetic (2005, p. 21),
O ensino de Física dominante se restringe à memorização de fórmulas aplicadas na solução de exercícios típicos de exames vestibulares. Para mudar esse quadro, o ensino de Física não pode prescindir, além de um número mínimo de aulas, da conceituação teórica, da experimentação, da história da Física, da filosofia da ciência e de sua ligação com a sociedade e com outras áreas da cultura.
Além das informações citadas e, muitas vezes, debatidas em eventos científicos, inclusive de forma online no período da pandemia da covid-19, existe a evolução da tecnologia, que ajuda na comunicação, e outros temas que fazem parte da cultura do ser humano. O acervo de informações que a literatura científica disponibiliza pode apontar as tirinhas como recursos didáticos para melhorar o ensino e a aprendizagem de Física, estimulando o aluno a aprofundar seu conhecimento de forma ativa, inclusive com outras áreas do conhecimento (Caruso; Silveira, 2009). Nessa linha de raciocínio, Horn e Leite (2016, p. 5) ressaltam que “as histórias em quadrinhos e tirinhas são um importante meio de ensino por ser uma metodologia ativa, que desperta o interesse dos estudantes e os permite manipular a informação e criar a partir do que aprenderam, tornando esse aprendizado significativo”.
A interpretação dos códigos mistos que permeiam a HQ exige, além da atenção, uma capacidade de análise, síntese, classificação, decisão e, evidentemente, imaginação. Assim, identificação e relação dinâmica do aluno com o enredo proposto pode ser uma das estratégias fundamentais desse instrumento – utilizar o quadrinho como desencadeador de um conflito cognitivo (Testoni; Paula, 2013, p. 123).
Universalmente, as tirinhas são conhecidas principalmente pelo público jovem. Além disso, estão em muitos meios de comunicação e, por possuírem linguagem dinâmica que une escrita e imagem representando a realidade, têm potencial que pode ser usado em sala de aula para aumentar o interesse do aluno. Reforçando o tema, Testoni e Paula (2013, p. 122) destacam:
Sua linguagem universalmente conhecida, bem como os fatores lúdicos e psicológicos associados à sua leitura, poderiam gerar a pergunta: por que não utilizar as HQs como estratégia didática? Afinal, tratar-se-ia de um material com o qual o aluno já possui familiaridade, escrito de forma fácil e popular, com padrões linguísticos que visam à catarse, além de uma forte ligação com o cognitivo de quem as lê. Com base nesses fatos, por que não utilizar esse meio de comunicação de massa como mais uma estratégia no ensino da Física?
O trabalho desenvolvido por Horn e Leite (2016) mostra algumas tirinhas selecionadas que foram produzidas pelos alunos do Ensino Fundamental II que participaram da pesquisa, em que os quadrinhos foram criados usando a imaginação, o roteiro de forma cursiva e os desenhos foram feitos à mão. Nem sempre a criação dos personagens e do ambiente é fácil para alguns professores. Com isso, a linguagem usada nos quadrinhos pode trazer desafio ou dificuldade para o professor de Física quando ele esbarra principalmente nas imagens, ou seja, nem todos têm habilidade de fazer desenhos que representam as emoções dos personagens que as palavras trazem no roteiro. Inicialmente, isso pode ser uma dificuldade para trabalhar, em sala de aula, com as tirinhas. Em pleno século XXI, existem diferentes tecnologias que podem ser usadas para a produção de algum material; por exemplo, temos os vídeos que são divulgados em sites e as criações de tirinhas usando plataformas específicas que ajudam nessa finalidade; dentre elas temos storyboardThat, Pixton e Make Beliefs Comix. Reforçando essa ideia, Silva e Santos (2022, p. 2) dizem que “Atualmente, há no mercado uma grande variedade de livros, cursos e artigos de qualidade cuja finalidade é ensinar como criar HQs partindo da montagem de um roteiro à escolha do layout”.
Caruso e Silveira (2009) mostram algumas aplicações das tirinhas: na cidadania, nos conteúdos específicos, no método científico etc. A parte experimental também faz parte dessas aplicações; inclusive, uma tirinha é disponibilizada no seu trabalho. Então, associar as tirinhas e a parte experimental tendo como objetivo melhorar a linguagem usada nos roteiros das experiências com a forma lúdica dos quadrinhos proporciona aos alunos uma motivação para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto proposto. A prática experimental é importante porque complementa teoricamente os conteúdos programáticos que estão sendo trabalhados em sala de aula. De acordo com Arruda e Labarú (1996, p. 21),
considerando que a função do experimento é fazer com que a teoria se adapte à realidade, poderíamos pensar que como atividade educacional isso poderia ser feito em vários níveis, dependendo do conteúdo, da metodologia adotada ou dos objetivos que se quer com a atividade.
As práticas experimentais potencializam o trabalho do professor de Física junto com o aluno, mostrando que devem ocupar espaço maior em sala de aula. No trabalho desenvolvido por Sales, Oliveira e Pontes (2010), é possível confrontar alguns dados importantes que foram coletados a partir do preenchimento de um questionário pelos alunos. Dentre as informações, existe uma que diz o que poderia melhorar o processo de ensino-aprendizagem a que estão submetidos. A resposta apresentada, dentre oito possibilidades, informa que 48% gostariam de mais aulas experimentais. Uma informação para o professor de Física refletir e levar essas atividades práticas para seu planejamento. Mas nem sempre as escolas disponibilizam um laboratório didático de Física com as instalações e kits de experimentos para realizar as práticas. Muitas vezes, a realidade traz desafios e dificuldades para os professores de Física, mas não podem esperar um mundo ideal para iniciar as atividades experimentais. Nesse sentido, existem materiais de baixo custo que podem ser usados para contornar essa dificuldade (Sales; Oliveira; Pontes, 2010; Torres et al., 2018; Rosario; Rosario, 2019).
Não podem os professores ficar esperando que sejam instalados nas escolas amplos laboratórios com todo o material do qual necessitam. Isso não acontecerá. É preciso, então, buscar formas alternativas: experimentar na sala de aula mesmo ou fora dela, juntar material aqui e acolá, envolver os alunos na confecção de determinados dispositivos, lutar por verbas junto às direções de escolas e aos círculos de pais e mestres para adquirir aquele mínimo de equipamento sem o qual não se pode sair da superficialidade (Axt; Moreira, 1991, p. 99).
A associação entre recursos didáticos, metodologia, criatividade e os conteúdos de Física que são trabalhados em sala de aula pelo professor busca melhorar o ensino e a aprendizagem, motivando o aluno a desenvolver seu conhecimento sobre o que está sendo proposto. Um dos caminhos a ser trilhado e, ao mesmo tempo, acompanhando a realidade do aluno, é usar a tecnologia que vem evoluindo a cada dia e disponibilizando diversos recursos em sites, plataformas, softwares, eletrônicos etc. Tendo em vista que o ensino e a aprendizagem de Física não podem continuar ultrapassados, as práticas experimentais fundamentais para os alunos se sentirem motivados a aprender os conteúdos não podem ficar resumidas num roteiro de descrições de materiais, tabelas, fotos, fórmulas etc. (estilo manual de instruções). Com isso, como estimular o aluno a partir das práticas experimentais essenciais no processo de ensino-aprendizagem de Física a serem mais atrativas, tendo que pensar em uma aula prática acompanhando a realidade dos alunos?
A linguagem usada para informar os alunos deve ser pensada de forma a acompanhar o cotidiano do aluno em pleno século XXI, ou seja, introduzir uma linguagem lúdica para envolvê-lo a compreender os objetivos propostos. Com esse raciocínio, as tirinhas são essenciais para reformular a linguagem usada nas práticas experimentais que vêm sendo trabalhadas nos laboratórios didáticos de Física ou em sala de aula pelos professores de Física.
Metodologia
A partir desse contexto, realizou-se pesquisa na literatura científica por trabalhos publicados ou apresentados em eventos oficiais, em revistas especializadas na área etc. sobre tirinhas e HQs aplicadas principalmente no ensino de Física, mas não descartando outras aplicações em áreas diferentes, em que a interdisciplinaridade também faz parte dessa busca para melhorar a realidade do ensino-aprendizagem de Física. Seguindo essa linha de raciocínio, em que as tirinhas são usadas como recursos didáticos, acompanhar a realidade do aluno e o uso da tecnologia é indispensável nesse processo. Com isso, foram visitadas algumas plataformas com a finalidade de ajudar a criar as tirinhas, tendo como critérios de escolha a gratuidade, os recursos disponíveis para criar as tirinhas e sem tempo específico para o seu uso.
Num segundo momento, este trabalho propõe uma alternativa para o ensino de Física focada na prática experimental, em que a aplicação das tirinhas modificaria os roteiros, levando a uma narrativa mais divertida, com diálogos entre personagens e, consequentemente, não deixando de acompanhar a realidade do aluno.
Por fim, produzir duas tirinhas tendo como temas a densidade e a Lei de Hooke, em que um objeto cilíndrico maciço de metal seria o principal objetivo a ser estudado, ou seja, responder à pergunta: qual foi o metal usado para criar esse objeto cilíndrico?
Num primeiro momento, usando a fórmula da densidade, uma régua, o próprio objeto cilíndrico e uma pesquisa na internet, pode-se encontrar a resposta à pergunta. Posteriormente, usando a Lei de Hooke, algumas medidas e o equilíbrio de forças, pode-se chegar ao mesmo resultado. Consequentemente, o aluno poderia verificar o mesmo resultado usando raciocínios diferentes.
As tirinhas
A busca por uma plataforma que pudesse ajudar a criar os quadrinhos associando imagens e textos ocorreu pesquisando trabalhos que estão publicados na literatura científica. Alguns critérios foram levantados para essa escolha:
- o tempo de uso da plataforma para criar os quadrinhos; principalmente, se não houve essa restrição;
- a variedade de opções disponíveis para a produção dos quadrinhos – por exemplo, cenas, personagens, balões, objetos etc.; e
- número de quadrinhos para criar as tirinhas.
A partir desses critérios, algumas plataformas foram visitadas e a storyboardThat foi a escolhida por atender à necessidade apresentada e ainda disponibilizar outras opções. Isso mostra que é possível pôr as suas ideias nos quadrinhos mesmo não sendo um especialista em desenhos.
As tirinhas foram criadas levando em consideração o ambiente escolar que os alunos geralmente frequentam nas aulas de Física. A sala de aula e o laboratório foram usados para essa finalidade, mostrando que os conteúdos podem ser trabalhados com outras metodologias. Complementando o ambiente que faz parte dos quadrinhos, os objetos selecionados são disponibilizados pela plataforma storyboardThat e usados nas propostas das práticas experimentais.
Às vezes, o aluno tem alguns desafios:
- nunca teve contato com prática experimental;
- nunca entrou no laboratório de Física; e
- a insegurança de manusear os objetos que fazem parte da prática experimental.
Portanto, o professor é essencial nesse momento para explicar as informações necessárias referentes à experiência e ao funcionamento do laboratório de Física para que todos tenham as informações necessárias que irão usar. Superando essa etapa inicial, a primeira tirinha é para deixar o aluno mais confortável no laboratório, onde os objetos que serão trabalhados são encontrados facilmente no seu cotidiano, como régua, balança e um objeto cilíndrico e maciço de metal. Caso exista alguma dificuldade com esse objeto, ele pode ser substituído por outro de material diferente e/ou forma também, por exemplo, um cubo de madeira ou um pedaço do cabo de vassoura que possui o mesmo formato. Os quadrinhos apresentados com personagens, professor e alunos, em uma forma lúdica, mostram um roteiro de prática experimental que acompanha a realidade do aluno do século XXI, em que a tecnologia está presente e não, apenas, textos, fórmulas e tabelas.
Essa prática experimental traz uma proposta referente à importância de realizar medidas referentes às dimensões de um objeto cilíndrico e maciço de metal para descobrir qual é o material usado. Além de empregar conhecimentos de outra ciência – neste caso, a Química – para responder ao objetivo da experiência, mostra que a interdisciplinaridade está viva no ensino-aprendizagem de Física.
Finalizando a proposta deste trabalho, duas tirinhas são disponibilizadas para o professor. A segunda mostra uma forma de encontrar a densidade do mesmo objeto cilíndrico e maciço de metal usando a Lei de Hooke. Nesse contexto, além de as medidas serem cruciais para a prática experimental, não são suficientes para responder à pergunta, como foi o caso da primeira tirinha, porque necessita de outros conhecimentos da Física para compreender o que está medindo e qual a sua finalidade. Por isso, a necessidade de realizar uma experiência anterior com menos conteúdo, motivando o aluno a se familiarizar com o laboratório de Física para depois inserir outros conteúdos que foram explicados previamente em sala de aula pelo professor.
1ª Tirinha: A proposta é encontrar o material de que o objeto cilíndrico e maciço de metal foi feito usando as medidas da altura e do diâmetro para calcular a densidade. A tirinha, a forma lúdica usada nos quadrinhos e as tecnologias disponíveis motivam os alunos a estudar os conteúdos de Física e o professor a refletir por usar as tirinhas no seu planejamento.
2ª Tirinha: A proposta é aplicar a Lei de Hooke para calcular a densidade do objeto cilíndrico e maciço de metal; o aluno buscará a resposta final, que é alumínio. O professor de Física deverá trabalhar com os alunos a busca pelas respostas às perguntas que aparecem em alguns quadrinhos. Isso é importante para motivar o aluno a pesquisar sobre o tema.
Considerações finais
A busca por alternativas para melhorar a forma como os conteúdos de Física vêm sendo trabalhado em sala de aula se torna um trabalho coletivo, em que a troca de saberes e experiências se torna fundamental para o sucesso desse processo. Essas informações são compartilhadas devido ao avanço da tecnologia, que possibilita acessar sites, envio de mensagens por e-mails ou aplicativos etc. Isso permite que as informações circulem e contribuam para melhorar os conhecimentos dos interessados em qualquer lugar e momento. Nesse sentido, foi possível pesquisar sobre a plataforma storyboardThat, selecionar alguns trabalhos com a mesma linha de raciocínio deste e outras informações voltadas às tirinhas ou histórias em quadrinhos.
A plataforma storyboardThat contribuiu com diferentes itens para a criação dos quadrinhos. Logo, as tirinhas foram feitas com mais agilidade, sem a dificuldade de produzir imagens manualmente. O uso dessa plataforma contorna a dificuldade que alguns professores têm, de pôr no papel, pois pode ser feita clicando sobre os itens disponíveis. Logo, os professores podem refletir sobre inserir as tirinhas nos seus planejamentos para serem trabalhadas junto com os alunos. A forma lúdica é um caminho a ser trilhado para motivar a aprendizagem de Física.
As tirinhas apresentadas mostram um exemplo de que, em pleno século XXI, com a ajuda da tecnologia, o professor pode buscar estímulos para atualizar seu trabalho, mesmo que não tenha visto isso na sua formação inicial. Por isso, a importância da capacitação e de buscar o conhecimento na literatura científica faz parte dos profissionais que escolheram o magistério por opção.
Por fim, o uso das tirinhas na prática experimental indica que a mudança pode ocorrer para atender a realidade do aluno que nasceu num mundo em que as informações são acessadas realizando apenas um clique. Isso não pode ser ignorado pelo professor de Física em pleno século XXI. Consequentemente, este trabalho pode servir de incentivo para outros com a mesma linha de raciocínio.
Referências
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Agradecimentos
Agradecemos à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) pela bolsa de Bianca Fernandes Fonseca Paltriniere, referente ao Programa Jovens Talentos.
Publicado em 24 de janeiro de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
BERQUÓ, Francismar Rimoli; PALTRINIERE, Bianca Fernandes Fonseca. As tirinhas como recurso didático para melhorar o ensino de Física. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 3, 17 de janeiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/3/as-tirinhas-como-recurso-didatico-para-melhorar-o-ensino-de-fisica
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