A música como facilitador da aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental: desafios e reflexões

Carlos José Ferreira de Almeida

Licenciado em Pedagogia (UNIRIO)

Walmir Fernandes Pereira

Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (MUST University – EUA)

A música está presente na vida das pessoas desde os primórdios, apresentando-se ao longo da história da humanidade como forma de expressão cultural e sentimentos diversos. Atualmente, a linguagem musical está presente em várias atividades do homem, não sendo apenas meros agrupamentos de notas musicais ou uma expressão cultural, mas uma arte que contribui para o desenvolvimento da criança desde o ventre materno como também no decorrer da infância. Ou seja, atividades lúdicas e pedagógicas podem colaborar com o desenvolvimento da criança.

Segundo Coelho e Favaretto (2010, p. 4), “a música é uma área do conhecimento importante para o enriquecimento de experiências individuais e coletivas [...], essencial para o desenvolvimento da sensibilidade e da realização plena do ser humano”. No presente trabalho volta-se nosso olhar para a música como instrumento facilitador do processo de ensino-aprendizagem, refletindo sobre as formas como ela pode contribuir no desenvolvimento de aspectos essenciais da criança durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, tais como: a imaginação, o raciocínio, a psicomotricidade e a concentração, além de inserir a criança no universo do multiculturalismo, da socialização e do respeito às diversidades.

Sendo assim, busca-se através desta revisão bibliográfica contribuir para um aprofundamento sobre a utilização da linguagem musical nos primeiros anos do Ensino Fundamental, apresentando alguns motivos pelos quais se entende a sua importância no currículo escolar. Por fim, refletir-se-á sobre os desafios enfrentados pelos professores que atuam nessa etapa de ensino, analisando como as políticas educacionais voltadas para a utilização da musicalização se concretizam na escola nos seus contextos reais.

Por meio da música pode-se criar um ambiente propício para o desenvolvimento da imaginação quando estimuladas as faculdades criadoras de cada um, o que contribui para uma educação profunda e total. Como afirma Zampronha (2002, p. 120), falar de

música na educação é defender a necessidade de sua prática em nossas escolas, é auxiliar o educando a concretizar sentimentos em formas expressivas; é auxiliá-lo a interpretar sua posição no mundo; é possibilitar-lhe a compreensão de suas vivências, é conferir sentido e significado à sua nova condição de indivíduo e cidadão.

Os caminhos que levaram à elaboração deste trabalho surgiram a partir do conhecimento da Lei n° 11.769, de 18 de agosto de 2008, que altera a Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e torna obrigatória a música como conteúdo multidisciplinar em escola regular (Brasil, 2008). Pode-se concluir que a aprovação da Lei se configurou numa grande conquista no que diz respeito à implementação de ações mais concretas de musicalização nas escolas brasileiras, porém existem grandes desafios que precisam ser enfrentados para que possamos de fato garantir a realização de propostas consistentes na utilização da música como ferramenta pedagógica. Além disso, é imprescindível que os professores entendam que são mediadores de cultura e, portanto, precisam aproveitar os meios que têm em mãos, o que inclui a música, para propiciar condições às crianças de construir seus próprios conhecimentos sobre o mundo. Sendo assim, é muito importante o professor utilizar a música em sala de aula, procurando compreendê-la em sua plenitude, com todos os fatores que a constroem (instrumentos, ritmo, harmonia, letra e seus sentidos etc.) buscando desenvolver o hábito da escuta dos mais variados sons e as suas composições. Portanto, para que isso se torne um trabalho determinante em qualidade, o professor deve dedicar-se, atualizar-se e fundamentar-se nesse importante instrumento pedagógico.

Embasado em obras de autores consagrados, como Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, Howard Gardner, Vera Lúcia Pessagno Bréscia e Nicole Jandot, entre outros, esta pesquisa tem por objetivo apresentar como os professores podem utilizar a linguagem musical como instrumento facilitador da aprendizagem durante nos anos iniciais do Ensino Fundamental, considerando-a como suporte metodológico e contribuinte na extensão do desenvolvimento da criança. Podemos afirmar que a música se constitui num material essencial para o processo educativo que tem por objetivo o desenvolvimento integral do aluno enquanto ser social. Assim, a Educação Musical deve fazer com que a criança passe não apenas a consumir música, mas a criar e utilizar a linguagem musical para se expandir por meio dela.

Ao utilizarmos a música, assim como outros meios artísticos, podemos incentivar a participação, a cooperação, a socialização e assim destruir as barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. Portanto, se faz necessária a revisão dos métodos, da fundamentação, das bases que orientam as várias atitudes didático-pedagógicas dos conteúdos disciplinares. Podemos afirmar que a linguagem musical no processo de ensino apresenta-se como instrumental metodológico e pedagógico de significativa relevância, pois, além de todas as vantagens já colocadas, traz inerente a sua natureza e caráter, a interdisciplinaridade com a qual dinamiza todo o processo de ensino-aprendizagem. Sem levar em conta que ela não busca com insistência a aplicação de maneiras, prescritivas e pré-estruturadas na disseminação dos conteúdos a serem trabalhados.

A música auxilia na aprendizagem de várias matérias. Ela é componente histórico de qualquer época, portanto oferece condição de estudos na identificação de questões, comportamentos, fatos e contextos de determinada fase da história. Os estudantes podem apreciar várias questões sociais e políticas, escutando canções, música clássica ou comédias musicais. O professor pode utilizar a música em vários segmentos do conhecimento, sempre de forma prazerosa, bem como na expressão e comunicação, linguagem lógico-matemática, conhecimento científico, saúde e outras. Os currículos de ensino devem incentivar a interdisciplinaridade e suas várias possibilidades. [...] A utilização da música, bem como o uso de outros meios, pode incentivar a participação, a cooperação, socialização, e assim destruir as barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. [...] A prática interdisciplinar ainda é insípida em nossa educação (Correia, 2003, p. 84-85).

Sendo assim, o texto foi organizado de forma a apresentar o universo de possibilidades da música como instrumento pedagógico e encontra-se sequenciado da seguinte forma: em primeiro lugar destaca-se a música na história da Educação do Brasil, perpassando sua utilização como instrumento de aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com destaque para ideias sobre a utilização desse importante recurso em sala de aula. Nas considerações finais encontram-se sintetizados os procedimentos, questionamentos e reflexões advindos da investigação exposta neste trabalho, desvelando as conclusões e considerações elencadas durante todo o processo de sua realização. Além disso, há inúmeros estudos salientando que a música inserida no ambiente escolar ativa também outras funções da criança, como linguagem, criatividade e raciocínio, sendo realizada em sala de forma prazerosa, transformando o ambiente propício para várias aprendizagens, para um melhor desenvolvimento das crianças em seu relacionamento humano. A partir dessa perspectiva, é possível criar embasamento teórico para indagar a respeito da real contribuição que esse tipo de ensino pode trazer para a educação.

Um breve histórico sobre a música na educação do Brasil

De acordo com o pensamento do musicólogo inglês Henry Raynor, a música, assim como outras formas artísticas, é capaz de contribuir de forma positiva na educação ao longo dos tempos nos mais variados momentos, sempre com finalidades específicas, refletindo diferentes concepções de mundo, além de contribuir para o desenvolvimento da inteligência e integração do ser. Segundo Raynor (1986, p. 14, 23),

a música, a menos que não passe de rabiscos casuais em sons, tem o seu lugar na história geral das ideias, pois sendo, de algum modo, intelectual e expressiva, é influenciada pelo que se faz no mundo, pelas crenças políticas e religiosas, pelos hábitos e costumes ou pela decadência deles; tem sua influência, talvez velada e sutil, no desenvolvimento das ideias fora da música. A música não pode existir isoladamente do curso normal da história e da evolução da vida social, pois a arte em parte surge [...] da vida que seu criador leva e dos pensamentos que tem. Existe para ser executada e ouvida, e não como sons da cabeça do criador ou como símbolos escritos ou impressos no papel, mas como som concreto produzido por e para quem deseje obter satisfação daquilo que o compositor lhes oferece.

Do mesmo modo, Bréscia (2003) é enfático ao defender que a música está presente em quase todas as manifestações sociais e pessoais do indivíduo desde os tempos mais antigos. Com isso, a percepção histórica dos movimentos musicais nos espaços educativos do Brasil é, sem dúvida, um convite para que frutifiquem ideias inovadoras no campo do ensino e se busquem novas metodologias.

O professor de música e escritor Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo (2011) salienta que, ao longo da história da educação brasileira, podemos enumerar muitos entraves ao voltarmos nosso olhar com interesse e seriedade a um assunto tão rotineiramente superficializado como a utilização da música nos espaços destinados ao ensino regular. Nesse cenário, podemos afirmar que existem muitos problemas enfrentados pela área de Educação Musical em nosso país. Dentre eles, consideramos como os de maior relevância a falta de sistematização do ensino de Música nas escolas de Ensino Fundamental e o desconhecimento do valor da Educação Musical como disciplina integrante do currículo escolar. Dessa forma, é imprescindível conhecermos o passado do ensino de Música no Brasil, a fim de compreender de modo nítido a situação em que ele se desenvolveu.

Em cada momento do processo de educação brasileira se concebeu uma proposta para a Música na escola, estabelecendo valores e conceitos que se completam ou se contrapõem. Assim, conceitos que ainda sobrevivem até hoje são, de certa forma, resultado de práticas educacionais anteriores que consolidaram formas de pensar e agir sobre o currículo escolar (Figueiredo, 2011, p. 6).

Fonterrada (2005), no seu artigo Desenredando a trama da música na escola brasileira, afirma que os primeiros sinais de presença da arte musical em processos educativos no Brasil ocorreram com a chegada das primeiras missões dos jesuítas. Esses missionários, dispostos a conquistar novos servos para Deus, encontraram na arte um meio de persuadir os indígenas. A música produzida nessa época era utilizada no processo de catequese no qual as letras com teor evangelístico contribuíam na formação religiosa do educando. Embora fossem realizadas apresentações de diversos instrumentos e letras de cantos desconhecidas para os indígenas, não havia ali nenhuma intenção educativa para com eles e sim uma estratégia para espalhar a fé dos padres para os demais índios em suas aldeias. Essa metodologia de educação musical funcionava ligada à religião e com conteúdos que tinham ordem crescente de dificuldade e utilização da repetição e memorização para efetivar o aprendizado, estendendo-se durante todo o período colonial.

Com a vinda da família real ao Brasil, no ano de 1808, houve uma mudança no panorama, pois a música começou a estender-se para os teatros, ao invés de ficar exclusivamente sob tutela da Igreja; porém, quanto ao ensino de Música, não há indícios de grandes alterações metodológicas em relação ao período anterior, uma vez que esses ensinamentos se mantinham presos a métodos progressivos com grande destaque à memorização.

Embora presente desde o descobrimento, a educação musical foi inserida no currículo escolar brasileiro, nas instituições educacionais públicas, pela primeira vez com o Decreto Federal nº 331A, de 17 de novembro de 1854, que determinava o aprendizado básico de noções de música e exercícios de canto (Cáricol, 2014). A partir desse período, nota-se que o ensino de Música sofreu avanços, desafios e retrocessos com a implantação de novos decretos, principalmente nas então províncias de São Paulo e Rio de Janeiro no século XIX.

Ao analisarmos a realidade da sociedade brasileira, oriunda de complexos intercâmbios étnico-culturais, tendo sido eles violentos ou espontâneos, é impossível deixar de perceber as influências das diferentes culturas que aqui aportaram, contribuindo para a criação de um múltiplo acervo de ritmos, melodias e harmonias que se encontram presentes nas diversas regiões do país. Nesse cenário, destacam-se todas as expressões musicais brasileiras que têm como influência maior as tradições vindas do continente africano com as populações submetidas ao regime escravista que durante praticamente quatro séculos regeu a economia e a sociedade do país.

De acordo com Santos (2012), ainda hoje é difícil assinalar com exatidão a procedência dos elementos africanos presentes em manifestações musicais e festivas como congadas, maracatus, moçambiques, jongos e caxambus, dentre tantos outros, apesar de notar-se maior influência das tradições do tronco linguístico banto, explicada pela grande quantidade de pessoas trazidas das regiões abrangidas por ele para o trabalho escravo na colônia portuguesa na América.

Ao citar a influência da cultura africana na musicalidade brasileira, Lemos afirma que:

No Brasil, existe uma longa trajetória de identificação da população com as sonoridades de matrizes africanas, desde o surgimento do samba e sua posterior associação como ritmo nacional durante a era Vargas, na década de 1930, até as recentes reapropriações das musicalidades africanas por artistas brasileiros contemporâneos. Analisar o modo como se processam esses fenômenos ligados à produção do imaginário acerca de África na produção musical da contemporaneidade é compreender qual a relevância que as diferentes culturas africanas representam hoje para a sociedade brasileira (Lemos, 2013, p. 8).

Segundo Fonterrada (2005), em 1920 o escritor, poeta e musicólogo Mário de Andrade, impulsionado com as ideias nacionalistas do movimento modernista, trouxe um novo enfoque para a música enfatizando sua função social e valorizando a cultura popular. Mário contava com o apoio de Villa-Lobos, que, inspirado compositor húngaro Zoltán Kodály, propôs o canto coral para as escolas e mais tarde instituiu o canto orfeônico nas escolas públicas de todo o país. Procurou-se, nesse período, além da democratização da música, criar uma identidade brasileira. Desse modo, houve um resgate das expressões artístico-populares de todos os cantos do país, que foram levadas para as escolas em forma de canto coral, visto que a voz seria o único instrumento que poderia garantir essa acessibilidade. Foi nesse contexto que, durante o governo de Getúlio Vargas, a música se tornou instrumento de estabilização do Estado, de ordem e disciplina, criando uma consciência nacional. Vargas soube reconhecer o poder da música e aproveitá-la para criar uma boa imagem de si. A intervenção política na forma de ensinar música foi muito criticada; mesmo assim, Villa-Lobos via como uma grande oportunidade de todos terem acesso à música. A esse respeito, destaca-se o pensamento de Souza (1992, p. 13):

A ideia sobre a educação musical na literatura dos anos trinta é muito diferenciada e por vezes contraditória. Especialmente são colocados objetivos sociopolíticos muito gerais como educação musical a serviço da coletividade e unidade nacional, o despertar do sentimento de brasilidade ou ainda disciplina social, que, no entanto, não são em lugar algum claramente definidos, mas apenas vagamente descritos.

Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, (Lei nº 5.692/71), a Música passou a fazer parte de um ensino interdisciplinar, com base no seu Art. 7º. A partir dessa reforma, a Educação Artística foi introduzida nos currículos escolares de 1º e 2º Graus, trazendo muitas dificuldades para o ensino da Música, bem como para as outras artes (Artes Plásticas e Artes Cênicas), pois o professor de Educação Artística ficou responsável por uma prática pedagógica polivalente. Em consequência, aqueles profissionais que tinham formação na área da Música davam aulas de música e, esporadicamente, pincelavam tentativas com atividades de artes plásticas e artes cênicas. Em compensação, aqueles professores que não tinham formação em música acabavam ministrando aulas apenas nas outras áreas, como aponta Beyer (1993 apud Mateiro, 2000).

Fonterrada (2005) afirma que a tentativa de ampliação do universo sonoro, a expressão musical comprometida com a prática e a livre experimentação eram o discurso da Educação Artística baseada em princípios modernistas, mas que na prática tornou-se apenas espontaneísmo. Assim, sem normas ou planejamento, as atividades eram escolhidas pelos alunos sem preocupação metodológica que os orientasse a partir das suas escolhas, o que contribuiu para baixar a qualidade do ensino da Arte e criar a ideia de que a disciplina não tem conteúdo.

Com a promulgação da nova LDB, em 1996, foi estabelecida a Arte como disciplina curricular obrigatória em todos os níveis da Educação Básica; todavia, deixou livre a escolha da área a ser trabalhada em sala de aula; desse modo, como os professores com formação específica em Música são minoria, ao contrário do que poderia parecer, o ensino da Música mais uma vez foi prejudicado (Fonterrada, 2005, p. 192-259).

Figueiredo (2002, p. 48) reforça que o ensino da Arte, mesmo após se tornar obrigatório pela Lei nº 9.394/96, não garante o seu ensino efetivo, pois a lei pode ser interpretada de várias maneiras; portanto, cantar uma música antes de comer o lanche pode ser interpretado como uma atividade que caracterize a presença efetiva da musicalização na escola.

Ainda nos dias atuais as experiências de ensino da música e demais artes nas escolas brasileiras não foram capazes de estabelecer uma consciência da importância ou da necessidade das artes no desenvolvimento dos indivíduos que frequentam os ambientes escolares e não se pode ingenuamente acreditar que, por causa de um parágrafo da LDBEN, as mudanças de concepção serão imediatamente elaboradas, implementadas e aceitas por uma comunidade desabituada a tal situação. Nem mesmo a menção da música como uma das áreas da Arte nos Parâmetros Curriculares Nacionais foi suficiente para reverter esse quadro; assim, a música esteve praticamente excluída do cenário educacional desde a LDB nº 5.692/71 (Figueiredo, 2002, p. 43).

Como podemos observar ao longo da história da educação brasileira, o espaço cada vez menor destinado ao ensino da música nas escolas veio descontentando e mobilizando os envolvidos na área, que se organizaram em prol da obrigatoriedade do ensino da Música com um manifesto que acabou se transformando em projeto de lei no final de 2006. O projeto tramitou no senado durante o ano de 2007 e início de 2008 e sancionada em agosto do mesmo ano pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Narita, 2009, p. 4-5).

A música no processo de ensino-aprendizagem dos anos iniciais do Ensino Fundamental

De modo imprescindível, precisamos olhar para a música como um recurso didático pedagógico importante na sala de aula, considerando que seu uso traz inúmeras contribuições aos educandos e possibilita ao professor trabalhar de forma interdisciplinar diferentes matérias, tornando as aulas mais dinâmicas, em que os educandos possam interagir e participar mais das discussões, bem como os docentes possam propiciar um momento rico em aprendizado e, ao mesmo tempo, um momento de descontração, de inserção e de partilha de conhecimentos.

A aprendizagem é um processo que ocorre de modo gradativo. Nesse cenário, a música aparece como elemento facilitador, pois ela desperta na criança uma vivência prazerosa, satisfatória e equilibrada, proporcionando paz de espírito, controle emocional e concentração.

A linguagem musical deve estar presente nas atividades [...] de expressão física, através de exercícios ginásticos, rítmicos, jogos, brinquedos e rodas cantadas, em que se desenvolve na criança a linguagem corporal, numa organização temporal, espacial e energética. A criança comunica-se principalmente através do corpo e, cantando, ela é ela mesma, ela é seu próprio instrumento (Rosa, 1990, p. 22-23).

Barreto e Chiarelli (2011) afirmam que a utilização da música durante o processo de ensino-aprendizagem facilita o educador a dar mais liberdade aos alunos para se expressarem. Entretanto, ainda hoje podemos verificar que nem todas as escolas estão preocupadas em engajar essa disciplina em seu currículo escolar, mesmo sabendo que, a partir da LDBEN nº 9.394 (Brasil, 1996), essa disciplina é obrigatória em todas as escolas públicas e particulares.

Conceber a música como linguagem é, sobretudo, criar espaços pedagógicos para o exercício do multiculturalismo. Swanwick afirma esse aspecto situando a relevância do ensino musical no contexto da leitura de mundo.

O discurso musical, embora inclua elementos de reflexão cultural, também torna possível a refração cultural, ver e sentir de outras maneiras. Não “recebemos” cultura meramente. Somos intérpretes culturais. O ensino de música, então, torna-se não uma questão simplesmente de transmitir cultura, mas algo como um comprometimento com as tradições em um caminho vivo e criativo, em uma rede de conversações que possui muitos sotaques diferentes (Swanwick, 2003, p. 46).

A Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2019) amplia a carga horária destinada aos campos de experiências, que envolve a Arte e suas linguagens, tendo a música como conteúdo obrigatório desde a infância. Nesse sentido, as discussões em torno da formação dos professores para aplicação desse conhecimento crescem em torno da qualificação pedagógica para a utilização de métodos adequados à primeira infância.

Pontuar a música na educação é defender a necessidade de sua prática em nossas escolas, é auxiliar o educando a concretizar sentimentos em formas expressivas; é auxiliá-lo a interpretar sua posição no mundo; é possibilitar-lhe a compreensão de suas vivências, é conferir sentido e significado à sua nova condição de indivíduo e cidadão (Zampronha, 2002, p. 120).

Bréscia (2003, p. 81) enfatiza que “o aprendizado de música, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar socialmente o indivíduo”.

Além do entendimento da música como facilitadora do processo de aprendizagem, poderíamos também pensar que temos que integrar a música na escola porque existe uma Lei Federal, nº 11.769/08 (Brasil, 2008), que determina seu ensino na Educação Básica. A lei acrescenta ao Art. 26 da Lei nº 9.394/96 o seguinte: “Com essa legislação, o ensino de Música deverá estar presente na Educação Básica, o que implica também sua presença na Educação Infantil e anos iniciais”.

Snyders (1992, p. 14) pressupõe que a música pode contribuir para tornar o ambiente escolar mais alegre e favorável à aprendizagem; afinal, “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da Pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente”.

Podemos afirmar que nas obras de Paulo Freire encontramos referências à adequação do ambiente, propiciando uma aprendizagem significativa e prazerosa, na qual a música tem muito a contribuir:

Sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vive sisuda. A seriedade não precisa ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque é séria, se dedique ao ensino de forma não só competente, mas dedicada ao ensino e que seja uma escola geradora de alegria. O que há de sério, até de penoso, de trabalhoso, nos processos de ensinar e aprender, de conhecer, é não transformar esse “que fazer” em algo triste. Pelo contrário, a alegria de ensinar e aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes. Precisamos é remover os obstáculos que dificultam que a alegria tome conta de nós e não aceitar que ensinar e aprender são práticas necessariamente enfadonhas e tristes. É por isso que eu falava que o reparo das escolas, urgentemente feito, já será a forma de mudar um pouco a cara da escola do ponto de vista também de sua alma (Freire, 2000, p. 37).

Correia (2003) acrescenta que a música é um valioso recurso didático-pedagógico na busca de aulas mais dinâmicas e mais participativas em várias matérias, além de proporcionar um rico acervo para que o professor das séries iniciais do Ensino Fundamental possa trabalhar os mais diversos temas e auxilia na desinibição e na comunicação das crianças.

Possíveis caminhos na utilização da Música nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Trabalhar com a música em sala de aula constitui em algo bastante amplo e complexo, que merece atenção por parte dos atores do processo educativo. Não basta inserir algo novo e pensar que tudo se transformará. A utilização dessa importante ferramenta requer planejamento e objetivos definidos para que não se esvazie em si mesma a capacidade de mudança. Transformar a sala de aula em um lugar mais alegre, onde a aprendizagem aconteça de forma prazerosa, necessita de aplicação e cuidado. A riqueza presente no arcabouço musical à disposição do professor não deve ser desperdiçada em atividades descontextualizadas e sem finalidade previamente estabelecida; planejar é sempre o melhor caminho para o sucesso do trabalho pedagógico.

A música já é uma realidade nas escolas e, quando se fala nesse novo tipo de ensino e aprendizagem, muito se associa à Educação Infantil, com riqueza de repertórios, canções tradicionais e coreografias conhecidas em que a criança por si só se sente atraída por esse tipo de entretenimento e os sons e letras acabam contribuindo de maneira impactante no processo de desenvolvimento do conhecimento humano e até mesmo em sua expressividade (Santos, 2005; Godoi, 2011).

Gainza (1988) faz algumas recomendações ao professor. Primeiro, recomenda evitar preocupações com resultados “ideais”. O importante é que a criança viva a experiência rítmica e musical com desembaraço e segurança, mesmo que o resultado do trabalho fique diferente do esperado. Em segundo lugar, é preciso lembrar de que toda criança possui expressividade rítmica e musical em maior ou menor grau, que será desenvolvida e aprimorada pela continuidade do trabalho. A outra recomendação, não menos importante, é ter sempre em mente que o ritmo de desenvolvimento varia de criança para criança. Assim, deve-se observar cada uma delas e adaptar as atividades à sua compreensão. Além disso, a autora sugere evitar uma postura diretiva, favorecendo um clima de descontração e espontaneidade. Adverte também para demonstrar por seu rosto e gestos a “vida da música”. Isso quer dizer cantar com entusiasmo e movimentação, a fim de despertar o interesse da criança para a música. É necessário, conforme a autora, provocar situações novas ou aproveitar o interesse e entusiasmo da criança, prolongando ou diversificando a experiência. A partir daí, outra recomendação dela é favorecer atitudes de iniciativa, exploração, descoberta e invenção durante as experiências musicais por meio de propostas variáveis, instigando a fantasia e a imaginação infantil e assim acompanhando seu desempenho com interesse.

Outra proposta de Gainza (1988) fala sobre evitar estabelecer limites rígidos de tempo. É importante a capacidade de abandonar um planejamento para aproveitar as sugestões da criança, incluindo-as no trabalho que está sendo desenvolvido. Dessa forma, conforme a autora, incentiva-se o desempenho do grupo sem corrigir a criança ou demonstrar que não gostou de sua performance.

Outras três sugestões da autora dizem respeito, primeiro, a tratar com naturalidade a criança de melhor expressividade rítmica e/ou musical, evitando fazer elogios individuais, comparações com os colegas ou pedir constantemente que participe sozinha. Em segundo lugar, realizar avaliações após as atividades musicais, perguntando a cada criança se gostou, o que sentiu e se gostaria de modificar alguma coisa na brincadeira. Uma última recomendação, nem por isso menos essencial, consiste em ligar e integrar a música às outras formas de expressão (dramatização, desenho, literatura), o que possibilita às crianças desenhar a história do que cantaram, cantar uma cantiga sobre algum desenho já realizado, dramatizar a história da música que acabaram de cantar e fazer todos os sons da história que acabaram de ouvir.

Metodologia de pesquisa

De acordo com Minayo (2000), “entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo”. O presente trabalho é, portanto, uma pesquisa qualitativa que adota a revisão bibliográfica de autores e suas obras para a obtenção de informações capazes de ajudar o desenvolvimento das conclusões aqui apresentadas. É uma discussão sobre a música como ferramenta pedagógica, em específico a forma como é utilizada no processo de aprendizagem dos anos iniciais do Ensino Fundamental, considerando-a como suporte metodológico e contribuinte na extensão da aprendizagem, destacando a maneira como ela pode auxiliar nas atividades pedagógicas.

Tal interesse pelo tema em questão surgiu durante o curso de licenciatura em Pedagogia (PED-LIC) na UNIRIO, realizado no polo Rio Bonito/RJ, no 4º período, ao longo da disciplina Música e Educação.

Pela música, há uma ampliação do conhecimento do sujeito sobre si, o outro e o mundo compartilhado, como afirma a BNCC. É na aprendizagem, na pesquisa e no fazer musical que as percepções e compreensões do mundo se ampliam e se interconectam numa perspectiva crítica, sensível e poética em relação à vida, mediante sua capacidade de imaginar e ressignificar os cotidianos e as rotinas.

Resultados e discussão

Na presente pesquisa objetivou-se melhor compreensão acerca da importância de desenvolver um trabalho com o uso da música em sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental, implicando, assim, reflexão, ampliação e aquisição de conhecimentos sobre contribuições que se tem ao fazer uso da música como ferramenta capaz de contribuir de modo positivo no processo de ensino-aprendizagem.

Inúmeras são as contribuições que a música acrescenta no processo de ensino-aprendizagem. Tais contribuições ficam mais evidentes quando os professores fazem uso em sala de aula de forma contínua, ou seja, dentro de uma sistematização. Quando a música é percebida pelo educador como recurso facilitador da aprendizagem, as ações mais comuns realizadas no dia a dia se transformam em vivências capazes de propiciar uma aprendizagem dinâmica, prazerosa e significativa.

Face ao que se verificou ao longo da pesquisa, para se fazer o uso adequado da música em sala de aula, faz-se necessário ter estratégias de ensino que auxiliem o trabalho docente e a aprendizagem dos discentes; tais estratégias contribuem para melhor aproveitamento do tempo, para aumento no envolvimento dos alunos nas aulas e seu melhor aproveitamento.

Percebeu-se também, no ínterim da pesquisa, que os professores que atuam nas séries iniciais do Ensino Fundamental são, na maioria dos casos, responsáveis por todas as áreas do currículo, cabendo a esses educadores também o dever de lidar com todas as questões musicais na escola, o que gera muitas dificuldades em decorrência da falta de especialização na área.

Portanto, o que se pretende defender não é a substituição desses profissionais por outros licenciados em Música para a realização das atividades que envolvam a musicalização na escola, mas entende-se a necessidade de um investimento maior na formação dos profissionais que atuam nessa etapa da Educação Básica, a fim de promover o maior aproveitamento dos meios que têm em mãos para criar e recriar à sua maneira, dando condições às crianças de construir seus conhecimentos sobre música.

Considerações finais

A discussão sobre música e sua importância na aprendizagem é algo que deveria estar constantemente presente no contexto educacional, pois a música, assim como a aprendizagem, acompanha o ser humano ao longo de toda a vida e está certamente inserida no dia a dia das pessoas em qualquer idade e provavelmente esteja mais viva no universo infantil.

Gardner (2004, p. 8) fala que a primeira inteligência humana demonstrada na vida social é a inteligência musical, pois, quando saímos do útero de nossa mãe, descobrimos primeiro o mundo pela música e sons do ambiente, pela voz da mãe, do pai e dos irmãos. De acordo com a pesquisa aqui realizada e tendo em vista os objetivos propostos para este estudo que perfazem compreender e disseminar a importância da música como universo de técnica de ensino e possibilidade interativa no processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento de crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é possível afirmar que se atingiu o pleno êxito nesta empreitada. Para tanto, no desenvolvimento da investigação, buscamos responder ao questionamento da pesquisa que destacava como a Música pode funcionar como instrumento de interação em sala de aula, de resgate da alegria e do prazer e motivação na busca pelo conhecimento, tendo em vista que atividades desenvolvidas com o auxílio da música surgem com uma das possibilidades viáveis para maior integração entre os educandos e contribui para o desenvolvimento de competências um tanto esquecidas no processo de ensino-aprendizagem.

Desse modo, pressupõe-se que, se por um lado evidenciam-se os diversos benefícios que a música possui, especificamente ao ser trabalhada de forma sistematizada no ensino e na aprendizagem, por outro lado existe um dilema em relação às atividades musicais em sala de aula, pois muitos educadores não fazem a utilização desse recurso com receio de se afastar da seriedade do ensino. Alguns consideram que, se utilizam a música apenas de forma lúdica, correm o risco de se distanciar da realidade vivenciada por seus alunos, pois eles já têm a música inserida em seu cotidiano e presente nos diversos momentos da vida. Entretanto, essa não é uma questão de grande relevância, pois, se o docente tiver foco no aprendizado de um tema, passará aos alunos uma meta a ser atingida, um objetivo de aprendizagem ou conteúdo a ser adquirido com a atividade; dessa forma, o risco de a atividade perder a seriedade será sanado.

Portanto, na atualidade, a música traz uma contribuição essencial para os rumos do processo de ensino-aprendizagem. Na educação do século XXI busca-se um desenvolvimento educacional pleno, no qual os sujeitos constituam-se em seres humanos críticos e capazes de cuidar do mundo em que vivem. Nesse aspecto, a música surge como caminho para esse fim, pois tem no seu bojo a possibilidade de evidenciar o pensamento crítico e reflexivo, atuando com viés literário, tirando o aluno de um estado de letargia e alienação. Essa ferramenta educativa ganha mais força na atualidade, com a inserção das novas tecnologias da informação e comunicação e por possibilitar ao professor a utilização do som e da imagem, produzindo um entrelaçamento entre os diversos aspectos que as canções trazem em suas composições. Nessa direção, uma das principais contribuições da música como instrumento de aprendizagem perfaz o exercício do pensamento crítico, uma vez que se vive em um tempo em que o ser humano busca respostas para sua existência, bem como a inquietude de habitar um planeta cada vez mais caótico. A busca por respostas que possam direcionar o homem em direção à evolução humana; o resgate das inter-relações, cada vez mais estremecidas entre os habitantes desta nave chamada Terra, em todos os seus rincões e confins, também é fator preponderante na atualidade. Outrossim, tem-se lutado por tirar o homem da alienação e da exploração a que se encontra sujeito na sociedade globalizada; resgatar esse ser pensante se torna imprescindível para chegar a um porto que possa representar segurança.

Assim, a letra de uma canção, aliada ao som, transporta o indivíduo a outro plano, produz inquietação, gera emoção e sentimentos, bem como contribui para a fixação do conteúdo proposto na atividade. A capacidade de aliar algo a um som que se ouve é inata ao ser humano. Pode-se destacar aqui que uma criança aprende desde cedo a música característica do entregador de gás e do carrinho de sorvete, entre outros. O que não dizer, então, de um conteúdo interessante, pois a música nos reporta a diversas situações vivenciadas no dia a dia? A música, mesmo sem considerar as questões específicas a que ela está ligada, pode colaborar para o enriquecimento da aprendizagem, tornando para o aluno esse momento algo repleto de prazer e alegria. A música também é uma das formas de o ser humano exprimir sentimentos, esperanças e contrariedades, como ele enxerga o mundo ao seu redor.

A utilização da música no ensino é um recurso de grande valia para o enriquecimento das atividades; porém, quando o docente escolhe uma música, é importante ter em mente para quem está direcionado o trabalho, respeitando a idade e o nível de conhecimento de cada um, com atividades elencadas com vistas a objetivos claros e predefinidos.

Trabalhar com música na sala de aula pode ser uma atividade muito prazerosa e motivadora; entretanto, não se deve esquecer de que, ao utilizar esse instrumento com muita frequência nas aulas, corre-se o risco de torná-la uma atividade trivial, ou seja, medir o quanto e como será trabalhado também são funções fundamentais no momento da preparação de uma atividade. Importa ainda dar atenção para a não banalização da música em sala de aula e proporcionar que o aluno compreenda que pode aprender com sua utilização.

Ao professor é fundamental conceber que é muito mais fácil lembrar de uma música que se tenha ouvido do que recordar da matéria estudada na semana anterior. A música, nesse aspecto, pode contribuir muito para a fixação da aprendizagem, que deve proporcionar satisfação, já que pode ser considerada uma necessidade básica dos indivíduos. Nenhum ser humano passa pela vida sem nada aprender; mesmo nos povos primitivos já havia algum tipo de transmissão de conhecimento; os velhos sábios de diversas tribos indígenas ensinavam aos mais jovens sua cultura e tradições por meio de cantos e danças.

A música como instrumento de aprendizagem não é algo novo na educação; sempre esteve presente nesse contexto. Todavia, encontra-se um tanto quanto esquecida no processo de ensino-aprendizagem. Professores têm receio de instituir esse valioso instrumento em seu fazer pedagógico e, assim, deixam de contribuir para uma aprendizagem motivadora, dotada de significados, prazer e alegria. A música constitui-se em um tema rico e apaixonante. Quantas pessoas não se emocionam ao ouvir uma criança entoando uma canção que acabara de aprender! Quem, ao ouvir uma música conhecida, não se reporta a um momento ou situação vivenciada que lhe tenha sido marcante? A música é marcante, ela tem o poder de intensificar a aprendizagem, já que o aluno tem mais satisfação em estudar.

Considera-se que é de fundamental importância a seguinte reflexão: a aprendizagem não é uma via de mão única, em que ensinar supõe aprender, dar e receber e transmitir alegria com certeza também é ser feliz. O professor também necessita estar feliz ao transmitir e disseminar conhecimentos.

Outro fator que se tentou demonstrar foi que a educação vive um momento ímpar, no qual se requer dela mais do que a simples transmissão do conhecimento; é preciso preparar o indivíduo para a vida e para o mundo, deve-se tentar resgatar no aluno a alegria de aprender e na escola a magia de ensinar. Para tanto, se faz necessário lançar mão de todas as ferramentas e instrumentos disponíveis – a música é só mais uma delas –, e nada pode ser empecilho relevante para que esse sonho se concretize. É necessário romper com o passado e caminhar a passos largos em direção ao futuro, pois no momento em que o volume de conhecimento a ser transmitido é muito grande, não é mais possível ficar atrelado a práticas pedagógicas ultrapassadas que fizeram com que a educação passasse a ser vista como uma obrigação pelo aluno e como um mal necessário pela escola.

Nessa perspectiva, é inegável a real necessidade de mudança, em que exista um processo educativo abrangente, sedimentado em valores e atitudes positivas, resgatando no ser humano aquilo que se perdeu no tempo: a sua humanidade. Num momento em que todo tipo de violência assola muitos lares brasileiros, atingindo a camada mais fragilizada da sociedade, principalmente jovens, mulheres e crianças, até por parte de quem só se espera amor, carinho e proteção, é imprescindível caminhar rumo a uma educação transformadora, capaz de devolver a cada ser humano a capacidade de sonhar.

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Publicado em 31 de janeiro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

ALMEIDA, Carlos José Ferreira de; PEREIRA, Walmir Fernandes. A música como facilitador da aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental: desafios e reflexões. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 4, 31 de janeiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/4/a-musica-como-facilitador-da-aprendizagem-nos-anos-iniciais-do-ensino-fundamental-desafios-e-reflexoes

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