A prática do cuidar e educar: o que os bebês fazem no berçário

Danielle Marafon

Doutora em Educação (PUC-PR), professora universitária no Unespar - Câmpus de Paranaguá

Nathiely Janete Rodrigues da Silva

Graduada em Pedagogia (Unespar - Câmpus de Paranaguá), professora no município de Matinhos/PR

A pesquisa teve como objetivo investigar as práticas de cuidar e educar em um berçário para bebês de oito meses a um ano e meio em um centro de educação infantil (CEI) filantrópico em Paranaguá/PR. Observamos a rotina diária dos bebês para entender como essas práticas são integradas. Historicamente, as crianças não tinham direitos específicos e a concepção de infância evoluiu com o passar do tempo.

As instituições de Educação Infantil (EI) surgiram para atender demandas sociais inicialmente focadas em higiene e alimentação, sem objetivos de aprendizagem específicos. Historicamente vistas como assistenciais, essas instituições agora devem integrar o cuidado ao processo educativo. A teoria de autores como Barbosa (2006), Paschoal e Machado (2009), Moyles (2002) fundamentou nossa pesquisa, que combinou uma investigação de cunho bibliográfico e pesquisa de campo, utilizando a fotografia como ferramenta de coleta de dados.

A pesquisa questiona se cuidar e educar estão sendo implementados simultaneamente no berçário estudado, conforme os documentos norteadores da EI recomendam como práticas indissociáveis.

A pesquisa explorou a história da infância e a evolução das instituições de EI de assistenciais para educativas. Destacamos a importância de trabalhar o cuidar e o educar concomitantemente e o papel fundamental do professor na organização dessas práticas integradas.

A história da infância: um breve relato

Ao longo dos anos, a concepção de infância modificou-se. A criança foi considerada, por muito tempo, um adulto em miniatura, não tendo direito ao brincar, ao educar e ao cuidar. De acordo com Henick e Faria (2015), durante o século XII, crianças e adultos eram considerados iguais e o fator de diferenciação era a condição física, mas tinham os mesmos deveres no comprometimento do sustento da família por meio do trabalho.

Nesse sentido, as crianças não tinham acesso ao brincar, ao educar e ao lazer, como acontece com as crianças da contemporaneidade. Isso significa que não vivenciavam a fase da infância e da adolescência. A educação era voltada para conhecimentos técnicos, tendo em vista que as crianças tinham as mesmas instruções que os adultos, realizando as mesmas funções, sem distinção (Henick; Faria, 2015).

A concretização da concepção de infância, conforme Niehues e Costa (2012), ocorre apenas no século XVIII, com a origem do sentimento de infância. Com base nisso, na perspectiva biológica, as crianças começam a ser cuidadas com suas especificidades e particularidades, por possuírem seus sentimentos únicos. Partindo desse pressuposto, emerge o reconhecimento do sentimento de infância e a criança é notada a partir das suas características, se diferenciando do adulto.

A educação para a criança nasce com os chamados kindergardens – os jardins de infância, criados por Friedrich Froebel, na Alemanha. Ele preconizava atividades lúdicas, pois os jogos proporcionavam o desenvolvimento sensório-motor das crianças. Contudo, somente em 1769, na França, que emergem, na escola de principiantes ou escola de tricotar, as finalidades pedagógicas criadas por Friedrich Oberlin. Essa instituição estava localizada em uma área rural muito simples, tendo em vista que as crianças deveriam perder hábitos ruins e adquirir a obediência e a bondade, como também fazer a articulação das palavras e das sílabas complexas (Marafon, 2009).

Nesse contexto, surge o conceito de educação para crianças, seguido pela criação de escolas com objetivos pedagógicos. Embora essa transição tenha ocorrido, a EI continuou a ser fortemente associada ao cuidado e ao ensino de comportamentos e hábitos adequados. Ao longo da história, manteve um foco assistencialista, refletindo a necessidade social de criar espaços que acolhessem e cuidassem das crianças afetadas por problemas sociais e econômicos.

A influência europeia trouxe novas experiências pedagógicas, como o método criado por Maria Montessori e as propostas pedagógicas de Ovide Decroly. No Brasil, esses métodos aliados ao crescimento industrial, impulsionaram o movimento da Escola Nova.

A industrialização também aumentou a demanda por instituições de cuidado infantil. Um marco histórico foi a creche da Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado no Rio de Janeiro, a primeira destinada aos filhos dos operários.

Durante o Estado Novo (1937-1945), o compromisso com a educação infantil era mantido por meio de acordos com instituições filantrópicas e particulares, isentando o Estado da responsabilidade direta e transferindo essa obrigação para a sociedade civil.

Políticas públicas para a Educação Infantil

Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 4.024, de 1961, foi estabelecido que crianças com menos de sete anos deveriam ser educadas em escolas maternais e jardins de infância. No entanto, a lei incentivava que empresas e indústrias mantivessem esses espaços para os filhos dos funcionários (Nascimento, 2015).

A LDBEN de 1971 (Lei nº 5.692) reforçou essa visão, mencionando no Art. 19 que "os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior recebam educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes" (Nascimento, 2015, p. 1.748).

Conforme Paschoal e Machado (2009), até o final da década de 1970 poucas leis foram criadas em relação à Educação Infantil. Foi somente na década de 1980 que diversos setores da sociedade se uniram para afirmar que as crianças deveriam ter direito a uma boa educação.

A garantia legal para a EI veio com a Constituição Federal de 1988, que assegura direitos como educação, saúde, alimentação, moradia e segurança aos cidadãos brasileiros. No Art. 208, a Constituição estabelece que o direito à educação deve ser realizado por meio de creches e pré-escolas, sendo dever do Estado garantir essa oferta (Brasil, 1988).

Paschoal e Machado (2009, p. 85) destacam que a legislação transformou as creches de instituições assistencialistas em espaços educativos:

A partir dessa Lei, as creches, anteriormente vinculadas à área de assistência social, passaram a ser de responsabilidade da educação. Tomou-se por orientação o princípio de que essas instituições não apenas cuidam das crianças, mas devem, prioritariamente, desenvolver um trabalho educacional.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90, ampliou os direitos dessa população, assegurando o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade (Brasil, 1990). No Art. 54, inciso IV, o ECA define o dever do Estado de prover Educação Infantil em creches e pré-escolas, para crianças de zero a cinco anos de idade.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 afirma que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, com a finalidade de desenvolver integralmente a criança até os cinco anos de idade, em seus aspectos: físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (Brasil, 1996). Essa lei define a oferta de EI em creches para crianças até três anos de idade e em pré-escolas para crianças de quatro a cinco anos, conforme a Lei nº 12.796/13.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), de 1998, marcou um avanço significativo ao buscar eliminar a tradição das creches como instituições assistencialistas. O documento propôs objetivos e conteúdos pedagógicos para crianças de zero a seis anos, considerando a diversidade cultural e o estilo pedagógico dos professores (Brasil, 1998).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), de 2010, orientam que as práticas educativas devem partir das experiências e saberes das crianças, integrando interações e brincadeiras (DCNEI, 2010).

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil estabelece diretrizes e objetivos para a primeira etapa da Educação Básica no Brasil. Publicada em 2018, a BNCC orienta a EI para crianças de zero a cinco anos, com foco no desenvolvimento integral em seus aspectos físico, emocional, social e cognitivo, principais pontos abordados pela BNCC para a Educação Infantil, que considera a EI como a primeira etapa da Educação Básica, essencial para o desenvolvimento integral das crianças. Todas as crianças têm o direito de aprender e se desenvolver em ambientes seguros, acolhedores e estimulantes. Seus princípios e fundamentos: o respeito à diversidade, o direito à infância, o brincar como eixo estruturante da prática pedagógica, e a indissociabilidade entre educar e cuidar.

Temos ainda na BNCC (2018) uma organização curricular dividida em campos de experiência: O Eu, o Outro e o Nós, focada no desenvolvimento da identidade pessoal, social e cultural; Corpo, Gestos e Movimentos, que promove o conhecimento e controle do corpo, bem como a expressão por meio do movimento; Traços, Sons, Cores e Formas, incentivando a expressão artística e a exploração de diferentes linguagens e formas de comunicação; Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação, desenvolvendo habilidades de comunicação, linguagem, pensamento crítico e criatividade; e Espaços, Tempos, Quantidades, Relações e Transformações, estimulando a compreensão do espaço, tempo, natureza e relações matemáticas.

A BNCC (2018) valoriza as interações e as brincadeiras como fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, destacando a importância do brincar como forma de expressão, experimentação e conhecimento.

Em suma, historicamente, a Educação Infantil no Brasil evoluiu de um foco assistencialista para uma abordagem educativa. Inicialmente, essas instituições visavam suprir carências sociais e econômicas. Somente com a Constituição de 1988 e legislações subsequentes, como a LDB, de 1996, e o ECA, a Educação Infantil passou a ser reconhecida como um direito garantido e uma etapa fundamental da Educação Básica, integrando cuidado e educação como práticas inseparáveis.

A função da Educação Infantil: o cuidar e educar

O cuidar e o educar são práticas inseparáveis que devem ser trabalhadas simultaneamente pelos professores nas instituições de Educação Infantil. Segundo Dantas (2018), ela demanda cuidado, pois as crianças não têm capacidade para atender suas próprias necessidades de alimentação e higiene. No berçário, foco desta pesquisa, é imprescindível que essas práticas de cuidado proporcionem aos bebês experiências de aprendizagem significativas.

Educar significa criar oportunidades de cuidados, brincadeiras e aprendizagens de forma integrada, colaborando para o desenvolvimento das capacidades infantis. Isso inclui a formação de vínculos, a convivência harmoniosa, o respeito e a confiança mútua, além da compreensão da realidade cultural e social (Brasil, 1998).

O cuidado não se restringe às necessidades básicas do corpo, como alimentação, higiene e sono, mas também envolve a dimensão afetiva da preocupação com o outro. Cuidar é essencial para o desenvolvimento infantil contínuo e deve ser associado ao processo educativo. Esse cuidado deve possibilitar o desenvolvimento de afetividade, sensibilidade e autonomia (Silva, 2016).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) destacam a inseparabilidade das práticas de cuidar e educar. Elas afirmam que as propostas pedagógicas devem planejar materiais, espaços e tempos que garantam a educação em sua integralidade, compreendendo o cuidado como parte inseparável do processo educativo (DCNEI, 2010).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 também reforça a importância dessas práticas integradas, estabelecendo que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica e deve promover o desenvolvimento integral da criança até os cinco anos de idade (Brasil, 1996).

Apesar das diretrizes e leis que defendem a indissociabilidade do cuidar e educar, existem desafios para a implementação prática. Segundo Dantas (2018), muitos educadores relatam que o cotidiano da creche é restrito e mecanizado, dificultando a interação e a prática integrada de cuidado. Portanto, é crucial planejar o tempo e o espaço nas creches para que as práticas de cuidado não sejam relegadas ao mecânico e monótono.

No berçário, onde os bebês estão descobrindo o mundo ao seu redor, o conhecimento é construído por meio da socialização com outras pessoas, crianças e o ambiente. O espaço deve ser organizado para promover o desenvolvimento integral dos bebês, permitindo-lhes mobilidade e exploração em segurança (Marafon; Bonafini; Borba, 2021).

A organização do tempo é igualmente importante, garantindo que os momentos de cuidado também sejam educativos. Por exemplo, durante o banho, os professores podem conversar com os bebês sobre aspectos do corpo e a importância da higiene, estimulando a fala e o desenvolvimento cognitivo.

A prática do cuidar e educar não pode ser separada no cotidiano das instituições de Educação Infantil. Assim, cuidar e educar devem ser práticas complementares e simultâneas, garantindo um ambiente rico em estímulos e interações que favoreçam o crescimento saudável e feliz dos pequenos.

A prática do cuidar e educar: o que os bebês fazem no berçário

Para esta pesquisa foram analisadas as práticas do cuidar e educar em um centro de educação infantil (CEI) de caráter filantrópico no município de Paranaguá/PR. Durante a pesquisa de campo foi observada uma sala de berçário com onze bebês entre oito meses a um ano e meio. A estrutura do espaço observado é constituída de uma sala com onze berços, fraldário, cadeiras de alimentação, tatame, cantinho para os bebês assistirem e cabides na parede, no qual são guardadas as bolsas dos bebês. A sala conta com duas professoras e duas estagiárias.

O presente estudo é uma pesquisa bibliográfica, que, segundo Severino (2007), é feita de pesquisas anteriores que estão em artigos, livros e teses. O conteúdo dessa pesquisa são fonte dos estudos que serão pesquisadas. O investigador trabalha com base nas colaborações dos autores.

Este estudo também é uma pesquisa de campo em que o objeto/fonte é levantado em seu meio específico. A coleta dos dados é realizada nas situações naturais na qual os fatos acontecem, sendo observados, sem interferência e manipulação pelo pesquisador. Compreende desde levantamentos detalhados até estudos de análise (Severino, 2007, p. 123). Utilizamos a fotografia como recurso de pesquisa que, para Kossoy (1989), é artefato que contém em si um quadro determinado da realidade registrada ou, em sentido amplo, uma extensão da nossa capacidade de olhar, como uma técnica de representação da realidade.

Foram analisadas as atividades do cotidiano da creche, como troca de fralda, alimentação, banho, brincar e o dormir para constatar se as práticas do cuidar e educar estão sendo trabalhadas de forma indissociáveis, conforme os documentos norteadores da Educação Infantil.

Ao adentrar a creche, os bebês são recebidos pela professora da sala do berçário e outros pela estagiária. A recepção é feita com muito carinho, afeto e de bastante interação, caracterizada como um momento de acolhimento.

Logo após a chegada dos bebês, a primeira atividade a ser realizada é a troca de fralda; contudo, alguns vêm trocados de casa e os outros são trocados ali mesmo.

Figura 1: Cantinho do trocar

Durante a troca de fralda, foi observada uma interação entre as professoras e os bebês. Mesmo que em alguns momentos essa atividade não seja realizada pelas professoras da sala, mas também pelas estagiárias, foi possível notar que essa prática de cuidado envolvia o diálogo e não era uma ação mecanizada. Arce (2010) corrobora a questão quando afirma que a criança está em processo de humanização. Por isso, o trabalho realizado pelos adultos que interagem com ela deve ser um ato intencional, envolvendo ensino, transmissão de cultura e conhecimentos. Esse trabalho precisa respeitar, do ponto de vista metodológico, as características da faixa etária em questão (Arce, 2010).

A organização do espaço e o planejamento da prática de cuidado e das atividades precisam ser de acordo com o tempo de cada bebê. Na realização da troca de fralda, o professor deve responder às formas de interação da criança. Segundo Santos (2021), a interação com o bebê transcende os limites da sala de aula, fazendo parte integral do contexto educativo. Durante momentos como a troca de fralda, os educadores têm a oportunidade de observar e compreender melhor o bebê. É possível perceber se o bebê se sente confortável com o cuidador e, assim, utilizar estratégias de fala, gesticulações, cantos ou contação de histórias para criar uma atmosfera de harmonia.

Essas práticas não só atendem às necessidades básicas do bebê como também promovem um ambiente emocionalmente seguro e estimulante, essencial para o seu desenvolvimento integral. A observação atenta e a interação afetiva nesses momentos cotidianos são fundamentais para estabelecer uma relação de confiança e respeito, contribuindo para o bem-estar e o desenvolvimento saudável do bebê.

Após a troca de fralda e de roupa, as crianças passavam grande parte do tempo no tapete de borracha brincando; na realização dessa atividade sempre há um adulto com elas no chão. Em relação ao brincar, Moyles (2002) considera alguns fatores positivos. Além de favorecer a alegria e o divertimento, quem brinca está desenvolvendo a confiança, as competências, a percepção sobre outras pessoas, bem como explorando as suas próprias potencialidades e limitações. O brincar é, potencialmente, uma das melhores formas de aprendizagem, mas ele pode facilmente ser amorfo e deixa a deseja em termos de desenvolvimento, satisfação e desafio pessoal, passando a ser apenas uma vaga terapia ou algo para encher o tempo (Moyles, 2002).

Durante a observação, foi possível presenciar a aplicação de uma atividade sensorial, contudo atividades como essa não eram efetuadas com frequência. As atividades sensoriais são primordiais para o estímulo dos bebês, segundo Assis (2019). O primeiro sentido a ser desenvolvido é o tato, sendo por meio dele que as crianças descobrem o mundo, além de iniciarem as atividades e brincadeiras de estimulação mediante esse sentido. Por isso seria fundamental que atividades como essa fossem mais exploradas.

Figura 2: Atividades de brincar

Assis (2019), com base em Piaget (1964), afirma que crianças de zero a dois anos ainda não compreendem a existência de um mundo exterior distinto de si mesmas. Segundo a autora, por meio das estimulações sensoriais, a criança começa a diferenciar entre si mesma e o outro, desenvolvendo o conhecimento do mundo exterior. Utilizando os sentidos, a criança explora o ambiente ao seu redor, promovendo seu desenvolvimento e atingindo novas aprendizagens.

As experiências sensoriais são essenciais, pois permitem ao indivíduo conhecer as características dos objetos e locais que explora, compreendendo gradualmente as propriedades do mundo de fora de si mesma. Portanto, as experiências sensoriais são fundamentais durante todo o desenvolvimento infantil, pois facilitam a aquisição de conhecimento sobre o ambiente e sobre a própria identidade da criança (Nascimento, 2021, p. 18).

Na rotina do berçário, os bebês tinham duas refeições no período da manhã, tendo em vista que a primeira sempre era uma fruta e a segunda era o almoço. Foi notado que as duas alimentações sempre eram realizadas no mesmo horário na parte da manhã, seguindo uma rotina.

De acordo com Barbosa, “rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela Educação Infantil estruturam para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições” (2006, p. 35). Para essa autora, a rotina e o cotidiano foram tratados como conceitos iguais, mas para ela cada um tem as suas particularidades. A rotina é compreendida por Barbosa (2006) como integrante do cotidiano das pessoas. São consideradas rotinas aquelas atividades realizadas no dia a dia, ademais certos atos são assimilados para que com o tempo sejam automatizados.

Para Oliveira (2014, p. 21),

de um lado está a ideia de que a rotina é necessária, visto que as crianças precisam ter um sentimento de segurança, proporcionado hipoteticamente pela possibilidade de prever os acontecimentos que virão. Por outro lado, a crítica, quanto à homogeneização das ações das crianças, que ficam à mercê de cumprir aquilo que a instituição impõe, todos os dias, de igual forma, ignorando as singularidades que cada criança apresenta.

Figura 3: Cadeiras de alimentação

As refeições ocorriam em cadeiras específicas para essa atividade ou no bebê conforto. Dependendo do dia, as professoras e as estagiárias atendiam mais de duas crianças.

Conforme Rossetti-Ferreira et al. (2011), a alimentação é importante para a manutenção da saúde e para o desenvolvimento do indivíduo. A comida, propriamente dita, não é apenas para saciar a fome, mas também é o que as autoras chamam de significado social, ou seja, uma possibilidade de se estar com as pessoas, uma forma de interação.

A alimentação deve ser refletida pelas instituições de EI e pelas famílias, segundo Rossetti-Ferreira et al. (2011), como essencial para a criança compreendê-la como parte de um momento agradável e de inclusão entre o cuidado e a educação.

Outra prática observada foi a hora de dormir, ocorrida sempre após o almoço e a troca de fralda dos bebês. Na preparação para dormir, foi evidenciado que alguns bebês dormiam com facilidade e outros apresentavam resistência, mas depois de alguns minutos pegavam no sono. Para que as crianças pudessem dormir com mais facilidade, as professoras balançavam o berço.

Ao longo do primeiro ano de vida, as crianças ajustam a necessidade do sono. Determinadas crianças dormem rápido, algumas expressam som e algumas gostam de ser embaladas com música de dormir. Esses hábitos auxiliam na ansiedade e na agitação provocada pelo cansaço (Brasil, 1998, p. 60).

Figura 4: Os berços

O ambiente que acomoda os bebês na hora do dormir deve ter condições para que eles possam dormir tranquilos. O sono é fundamental para o desenvolvimento infantil, é um período crucial para o relaxamento e descanso do corpo e da mente da criança, o que a prepara para continuar sua rotina diária com disposição. Segundo Oliveira (2014), o sono desempenha papel vital no metabolismo, no crescimento físico e no desenvolvimento cerebral da criança, influenciando positivamente nesses processos essenciais.

Durante a realização desse estudo não foi possível presenciar a prática do banho, porque a pesquisa foi realizada no inverno e nesse período os banhos passaram a ser feitos na parte da tarde, devido à temperatura.

O banho é importante, de acordo com Rossetti-Ferreira et al. (2011) para a higiene, dificultando doenças e possibilitando a saúde, bem como o bem-estar. Ademais, as autoras afirmam que ao pensar na questão do banho, logo vem a ideia de cuidado, contudo o banho é uma oportunidade de construção de hábitos.

Para além das práticas do cuidar e educar mencionadas, é importante ressaltar a questão do espaço do berçário. Os bebês permanecem grande parte do seu tempo na creche, por isso, a importância desse espaço ser bem organizado, planejado e de acolhida. O espaço em que os bebês permanecem são tão importantes como o processo educativo, porque um espaço bem planejado possibilita que explorem esse local corroborando o seu crescimento integral.

Considerações finais

Esta pesquisa teve como objetivo investigar as práticas de cuidar e educar em um berçário para bebês de oito meses a um ano e meio, em um centro de educação infantil (CEI) filantrópico em Paranaguá/PR. A observação da rotina diária dos bebês permitiu uma compreensão de como essas práticas são integradas ao ambiente educativo. Historicamente, a concepção de infância e os direitos das crianças evoluíram significativamente e as instituições de Educação Infantil passaram de um foco assistencial para um papel educativo.

Explorando a história da infância e a evolução das instituições de EI, destacamos a importância de integrar o cuidado ao processo educativo e o papel fundamental do professor na organização dessas práticas. Observamos que o espaço e o tempo dedicados às atividades no berçário devem ser planejados de modo a garantir que as práticas de cuidado não sejam mecânicas, mas momentos de interação e aprendizado significativo.

Ao longo da pesquisa, verificou-se que práticas como a troca de fraldas, alimentação, brincadeiras e sono são oportunidades valiosas para promover o desenvolvimento integral dos bebês. A interação afetiva e a atenção individualizada durante esses momentos são essenciais para estabelecer uma relação de confiança e respeito, contribuindo para o bem-estar dos bebês.

Em suma, é imperativo que as instituições de Educação Infantil continuem a promover a indissociabilidade das práticas de cuidar e educar, garantindo um ambiente rico em estímulos e interações. As políticas públicas e diretrizes educacionais devem continuar a apoiar essa abordagem integrada, reconhecendo a Educação Infantil como uma etapa fundamental para o desenvolvimento integral das crianças. O sucesso dessa integração depende, em grande parte, do comprometimento e da formação continuada dos educadores, que desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente acolhedor e estimulante para os pequenos.

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Publicado em 09 de julho de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

MARAFON, Danielle; SILVA, Nathiely Janete Rodrigues da. A prática do cuidar e educar: o que os bebês fazem no berçário. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 24, 9 de julho de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/24/a-pratica-do-cuidar-e-educar-o-que-os-bebes-fazem-no-bercario

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