A aprendizagem acerca da alimentação saudável e sustentabilidade nas aulas de Inglês por meio de encartes de supermercado
Joyce Frade Alves do Amaral
Doutoranda em Ensino em Biociências e Saúde (IOC/Fiocruz)
Marcelo Diniz Monteiro de Barros
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz
O propósito deste trabalho é demonstrar o desenvolvimento de um projeto realizado em uma escola municipal do Rio de Janeiro/RJ, o processo de aprendizagem, a percepção dos alunos no decorrer das atividades desenvolvidas e as possibilidades de seu desdobramento.
A opção por trabalhar com o conceito de sustentabilidade se deu pelo propósito de colaborar para o desenvolvimento sustentável do planeta por meio do conceito de reutilização e da redução no consumo de matérias-primas.
O objetivo de difundir questões sobre sustentabilidade e ambiente nas escolas está contemplada no plano estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro. Com base nesse plano, todas as escolas na rede desenvolveram trabalhos, projetos e atividades envolvendo a temática.
Por isso, surgiu o projeto Eat and Drink, um projeto que trabalhou de forma interdisciplinar (Nery; Giroa, 2014) os conceitos de alimentação, sustentabilidade e vocabulário de Língua Inglesa, pois as atividades foram desenvolvidas durante as aulas de Inglês em uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental da rede municipal do Rio de Janeiro.
A grande maioria dos alunos vive em situação carente, precisa ter responsabilidade com o horário da escola, pois os pais saem cedo para trabalhar, e apresentam resistência para o aprendizado da Língua Inglesa, pois, segundo eles, é uma disciplina “difícil” de aprender.
Levando em consideração as dificuldades do cotidiano desses alunos e a resistência para a aprendizagem de Língua Inglesa, me questionei como poderia trabalhar na perspectiva da Teoria da Aprendizagem Significativa no cotidiano da escola, o qual apresenta surpresas e desafios na rotina de docência.
Diante desse questionamento, optei por desenvolver um trabalho que fosse interessante aos alunos e que ao mesmo tempo os levasse à reflexão sobre seus hábitos alimentares e sobre Saúde como um todo.
Sendo assim, o objetivo principal do projeto foi promover uma aprendizagem reflexiva acerca dos hábitos alimentares e que questionasse sobre o que realmente é uma alimentação saudável.
Dessa forma, visando trabalhar o conceito de sustentabilidade (Feil; Schreiber, 2017) e reutilização de materiais (Silva, 2014), foi solicitado que os alunos levassem para a aula algum encarte de supermercado, material que a priori seria descartado no lixo, mas foi reutilizado como recurso para o processo de ensino e facilitação da aprendizagem.
Referencial teórico
As escolas municipais do Rio de Janeiro investem em projetos que contemplem o conceito da sustentabilidade, cujo foco é fomentar reflexões aplicáveis ao cotidiano do aluno. Mas apenas ter o objetivo de promover reflexões sobre sustentabilidade e alimentação saudável e não saudável não é o suficiente para um processo de aprendizagem eficaz. Deve-se questionar de que forma nós, como docentes, podemos promover um ensino com potencial de levar à reflexão sobre os temas abordados neste estudo.
Nesse contexto, acredita-se que a Teoria da Aprendizagem Significativa seja frutífera para esse propósito, pois, segundo Moreira (2008), a aprendizagem significativa é aquela que tem significado, ou seja, o significado do novo conhecimento é construído por meio da interação com algum conhecimento prévio presente na estrutura cognitiva do aprendiz.
Ao relacionar o novo conteúdo apresentado a algo já presente na estrutura cognitiva, o aprendiz pode dar significado próprio ao novo conhecimento, atribuindo uma leitura personalizada ao conteúdo apresentado no evento de ensino, o qual engloba o contexto, o conteúdo, o aluno e o professor.
Esse autor ressalta que, para ocorrer tal aprendizagem, o aluno precisa estar predisposto a aprender, pois assim fará interagir o conhecimento já existente na estrutura cognitiva com o novo apresentado, dando significado próprio a ele.
O professor, por sua vez, precisa buscar formas de diagnosticar o que o aluno tem de conhecimento prévio antes de apresentar o novo para que este tenha condições de aprender significativamente e utilizar tal conhecimento em seu cotidiano.
Aprender a utilizar o conhecimento para perceber os estímulos do ambiente, interpretá-los e, a partir daí, construir uma resposta cognitiva, afetiva, atitudinal é inerente ao ser humano, escolarizado ou não (Lemos, 2008). Aqui cabe ressaltar a importância de aprender significativamente, pois o aprendiz poderá ter subsídios para discussão, autonomia para a busca do conhecimento e material para a construção de um cidadão crítico e ativo na sociedade na qual está inserido.
Assim, de acordo com Novak (1981), o evento educativo é constituído por alguns fatores principais: interação do professor, aluno, conhecimento e avaliação em determinado contexto. Ou seja, aprendiz e professor interagem com determinado conhecimento que é sempre submetido a um processo de avaliação e consolidado em um contexto particular. Tal interação aponta uma singularidade própria ao evento educativo, impossibilitando que esse evento se repita.
Segundo Lemos (2005), o evento educativo deve ser desenvolvido como fenômeno que se realiza em três etapas sucessivas e interdependentes, que se caracterizam como planejamento, desenvolvimento e avaliação.
No planejamento de ensino, o professor precisa verificar a origem do conhecimento a ser aprendido e ensinado, os conceitos previamente estabelecidos pelos discentes e o contexto no qual irá ocorrer o evento educativo, a fim de colaborar para a construção do material potencialmente significativo.
Na etapa do desenvolvimento do ensino, espera-se que o professor crie situações nas quais o aluno reflita e pense sobre o conhecimento, para que assim possa compartilhar com o material educativo e/ou docente e, nessa dinâmica, optar por relacionar ou não o novo com o que há em sua estrutura cognitiva.
A última etapa, denominada avaliação, é de suma importância no processo, pois a partir dela pode-se verificar o nível de aprendizagem, se há possibilidade de prosseguir com novos conteúdos e conceitos e se o objetivo antes traçado no planejamento foi alcançado.
Diante dessa dinâmica, observa-se que o professor precisa propiciar uma atmosfera que favoreça a motivação, detectar o que o aluno já tem previamente consolidado e trabalhar sempre dentro de sua realidade para que o novo conteúdo apresentado possa ser ancorado no que há estabelecido nas estruturas mentais do aprendiz.
Dessa maneira, o processo de ensino tende a ser mais prazeroso e eficaz, enquanto o aluno será capaz de se reconhecer como autor do próprio processo de construção do conhecimento e capaz de definir o melhor caminho de ação.
Acreditamos que essa teoria seja de suma importância para a facilitação tanto do ensino como da aprendizagem, pois por meio da Teoria da Aprendizagem Significativa o conhecimento poderá ser não somente apropriado, mas ter sentido e significado na vida do aprendiz, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e de outras aprendizagens subsequentes. O desenvolvimento do projeto, desde o planejamento até a avaliação, seguiu o que preconiza a Teoria da Aprendizagem Significativa, o que será demonstrado a seguir na metodologia.
Metodologia
O desenvolvimento desse projeto teve como objetivo promover uma aprendizagem que fosse significativa aos alunos acerca dos conceitos de alimentação e vocabulário de língua inglesa, tendo como foco interdisciplinar o ensino de Ciências e da Língua Inglesa; tal fato se deu por conta de o projeto ter sido desenvolvido no decorrer das aulas de Inglês.
Como a temática central do projeto é o conceito de sustentabilidade, foram trabalhados os conceitos de reutilização de material e alimentos (Silva, 2014), alimentação saudável e não saudável (Ueda, 2010) e, em inglês, os verbos eat e drink (comer e beber) e os adjetivos healthy e unhealthy (saudável e não saudável).
O tempo foi curto para o desenvolvimento do projeto, realizado em duas aulas de Inglês, denominadas aula 1 e aula 2. Cada aula teve duração de 1 hora e 40 minutos. Por isso, foi necessário o encurtamento dos processos para sua finalização.
Os docentes de todas as disciplinas estavam engajados para trabalhar a temática da sustentabilidade em suas aulas por meio de diversas atividades; portanto, o assunto já não era novidade na estrutura cognitiva do aluno. O projeto serviu para despertar a autonomia e o senso reflexivo sobre questões tratadas nas aulas que trataram de sustentabilidade, além promover a ancoragem de novos conhecimentos relacionados ao inglês e ao ensino de ciências.
A seguir serão demostrados o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação do projeto (Lemos, 2005), processo que condiz com os pressupostos da Teoria da Aprendizagem Significativa.
Planejamento do projeto
De acordo com Lemos (2005), na etapa do planejamento cabe ao docente identificar a origem do conhecimento a ser ensinado e aprendido e os conceitos já estabelecidos pelos alunos. Além disso, segundo a autora, deve-se levar em consideração o contexto no qual irá ocorrer o evento educativo, para que contribua para a construção do material potencialmente educativo.
Partindo dessa premissa, ao planejar o projeto, foi considerado que o aluno já possuía conhecimentos prévios sobre o assunto, porque a temática sustentabilidade já fora trabalhada nas aulas anteriores.
Dessa forma, para a aula 1, nomeada “É saudável reaproveitar”, foi planejada uma aula expositiva para debater os temas reutilização de materiais e alimentos e reaproveitamento de alimentos. Após debate, para associar com a disciplina de Língua Inglesa, foi construído um dicionário de figuras com o vocabulário dos alimentos mencionados. Para finalizar a aula 1, foi realizada uma atividade de caça-palavras, a fim de que os alunos identificassem, em inglês, o vocabulário de alimentos estudado antes.
O planejamento da aula 2, nomeada “Por dentro do supermercado”, se deu em decorrência da aula 1. Já com conhecimentos prévios (Moreira, 2008) acerca dos temas trabalhados na aula 1, o plano foi realizar uma atividade dinâmica na qual o aluno pudesse ter autonomia durante seu desenvolvimento e induzi-lo à reflexão sobre a alimentação em seu cotidiano, pensando na reutilização de materiais; para a aula 2 foi utilizado um encarte de supermercado como material educativo (Lemos, 2005), pois é um material que antes seria descartado no lixo e, aproveitando o tema sustentabilidade, foi reutilizado como recurso para promover a aprendizagem.
Nessa aula foram trabalhados os verbos eat e drink (comer e beber) e os adjetivos healthy e unhealthy (saudável e não saudável). Vale lembrar que tanto a aula 1 quanto a aula 2 foram realizadas e um contexto escolar e em sala de aula, caracterizado como ensino formal (Furtado, 2012).
Até aqui, relatou-se como foi construído o planejamento das aulas 1 e 2; a seguir, será relatado como se deu o desenvolvimento das aulas.
Desenvolvimento
Retomando o que Lemos (2005) aponta sobre a etapa desenvolvimento, é aconselhável o surgimento de situações, promovidas pelo docente, nas quais os alunos possam refletir sobre o conhecimento, sendo capazes de compartilhar com o docente e/ou o material educativo, e que por meio dessa dinâmica escolham relacionar ou não com o que há previamente estabelecido em sua estrutura cognitiva. Desse modo, a aula 1, conforme descrita do planejamento, foi realizada como aula expositiva e dividida em 2 etapas:
Aula 1 - “É saudável reaproveitar”
A introdução da aula foi feita por meio de conversa com alunos sobre o que eles entendem acerca dos conceitos de sustentabilidade, reutilização de materiais, alimentação e reaproveitamento de alimentos. Durante o debate, foram apresentadas figuras sobre os temas, a fim de facilitar a discussão (Figuras 1 e 2).
Figura 1: Atividade 1 - Receita de reaproveitamento de alimentos utilizada na primeira etapa da aula 1, “É saudável reaproveitar”
Fonte: https://www.slideshare.net. Acesso em: 01 jun. 2022.
Figura 2: Atividade 2 - Reutilização de material utilizado na primeira etapa da aula 1
Fonte: https://coisasdamaria.com/diy-brinquedos-feitos-com-rolos-de-papel/. Acesso em: 01 jun. 2022.
Nessa etapa, considerada etapa 1, a função do docente foi mediar (Silva, 2007) a conversa; o objetivo não foi avaliar o que estava sendo dito em termos de certo ou errado, mas levar o aluno a refletir sobre a temática debatida e resgatar o que estava presente em sua estrutura cognitiva, ou seja, trabalhar com o conhecimento prévio construído durante as aulas sobre sustentabilidade.
Foi observado nesse debate que as ideias que surgiram como exemplo de materiais reutilizáveis foram o que já era utilizado pela escola, ou seja, os alunos já tinham consciência sobre reutilização; logo após o questionamento, eles relacionaram o que estava sendo apresentado em aula com o tipo de material que já utilizavam no cotidiano escolar, ou seja, materiais empregados diariamente em sala de aula.
Na Figura 1, foi apresentada a reutilização de alimentos; aqui o objetivo foi o mesmo da Figura 2, só que, ao invés de reaproveitar material, foi reaproveitada a casca da laranja para fazer pudim. No debate sobre essa figura, não foram solicitadas ideias de receitas sobre alimentos, pois, como o público era infantil, não havia subsunçor para esse tipo de debate, visto que, durante a aula de Inglês, não havia sido trabalhado esse tema de receitas; então essa temática sobre frutas foi desdobrada em um dicionário de figuras para que os alunos pudessem relembrar o vocabulário de frutas e vegetais em inglês, que já haviam estudado em aulas anteriores.
A turma foi bastante participativa no desdobramento da atividade referente à Figura 1, denominada etapa 2 da atividade.
Foi desenhada no quadro a figura de alguns alimentos mencionados durante o debate, pois fizemos um bate-papo sobre alimentação saudável com enfoque em frutas e vegetais.
Optamos por trabalhar com frutas e vegetais porque era um vocabulário já presente na estrutura cognitiva dos alunos e já estava preparando a estrutura cognitiva deles para o desdobramento da aula 2.
Para a elaboração do dicionário de figuras, os alunos selecionaram no caderno algumas frutas e vegetais que aprenderam nas aulas de Inglês. Foi uma pesquisa aleatória; cada aluno selecionou para o dicionário a fruta ou o vegetal que considerava saudáveis.
Cada um recebeu uma folha de papel ofício; foi solicitado que dividissem em doze partes iguais e em cada espaço desenhassem a fruta ou o vegetal selecionado e, abaixo do desenho, escrevessem a denominação do alimento em inglês, conforme a Figura 3.
Figura 3: Atividade 3 - Picture dictionary na aula “É saudável reaproveitar”
Ao final da produção, cada dupla apresentou o que fez e foi questionado o que motivou a escolha das frutas e vegetais para o trabalho. A grande maioria relatou que foi o vocabulário mais fácil, pois havia maior facilidade de relacionar com o idioma português, devido à visualização dessas palavras no cotidiano.
Essa constatação também gera evidências de que o processo de elaboração da atividade foi significativo, pois o aluno recorreu ao que tinha presente em sua estrutura cognitiva, tanto em português como em inglês, fez relação dos dois idiomas e selecionou o que era mais presente em seu dia a dia, seja por observação nas ruas, televisão, encarte ou convivência com as palavras (curso de inglês).
Ao final da aula 1, retomando o tema reutilização, foi solicitado que os alunos procurassem um encarte de supermercado em casa porque esse material, que seria descartado, ia ser reaproveitado para a atividade da próxima aula.
Os alunos ficaram animados, pois gostam de aulas dinâmicas e por se sentirem protagonistas no processo de aprendizagem.
Aula 2 – “Por dentro do supermercado”
A aula 2 foi realizada principalmente com a utilização do encarte de supermercado; houve grande adesão por parte dos alunos; os que não conseguiram levar o encarte realizaram a atividade por meio de desenhos, fato que evidenciou a intencionalidade (Belmont; Lemos, 2012) pela aprendizagem, ou seja, o aluno estava disposto a aprender, o que o motivou a levar o encarte para a aula, e aquele que não conseguiu levar o encarte encontrou uma forma de poder participar ativamente da atividade. Sendo assim, a aula 2 foi dividida em cinco etapas.
Etapa 1
A etapa 1 foi iniciada com uma aula expositiva introdutória, a fim de resgatar o que havia sido trabalhado na aula 1 sobre alimentação e apresentar os verbos eat e drink (comer e beber em inglês).
Etapa 2
Após a introdução dos verbos eat e drink, os alunos se dividiram em duplas e iniciaram a atividade com o encarte do mercado; a atividade obedeceu ao seguinte roteiro:
- No caderno, os alunos deveriam separar duas partes paralelas, uma para o verbo eat e a outra para o verbo drink;
- De posse do encarte, deveriam recortar os alimentos que fossem de beber e os que fossem de comer e colar nas respectivas categorias eat/drink, conforme a Figura 4.
Figura 4: Atividade 1 - Colando e refletindo sobre alimentação na aula “Por dentro do supermercado”
Após a divisão nas categorias eat e drink, foram inseridos os adjetivos healthy e unhealthy (saudável e não saudável), a qual foi denominada etapa 3 da atividade.
Etapa 3
Nesse momento, também houve breve exposição no quadro para fosse visualizada a escrita dos adjetivos em inglês e treino da pronúncia, já que o projeto, embora tratasse de sustentabilidade, foi desenvolvido nas aulas de Inglês.
Nessa etapa, com participação ativa da turma, foi treinada a pronúncia dos adjetivos healthy e unhealthy; após, foram solicitados exemplos de alimentos que fossem saudáveis e não saudáveis (teriam que estar na lista de exemplos alimentos relacionados ao verbo comer e ao verbo beber), e teria que ser em inglês. Conforme os alunos foram dizendo as palavras, a docente anotou no quadro para visualização. Ou seja, os alunos classificaram como saudáveis os alimentos feijão, maçã e água; como não saudáveis, cerveja, biscoitos e hambúrguer.
A etapa 3 deu origem à etapa 4, em que foi retomado o que havia sido categorizado no caderno e, por meio de observação, os alunos teriam que circular de azul o que consideravam saudável e de vermelho o que consideravam não saudável.
Etapa 4
A etapa 4 foi realizada em dupla; nela, os alunos tiveram a oportunidade de negociar significados sobre a concepção de saudável e não saudável; o professor mais uma vez ficou na posição de mediar a atividade, sem interferir nas escolhas dos alunos, conforme mostra a Figura 5.
Figura 5: Atividade 2 - Negociando significados acerca da alimentação na aula “Por dentro do supermercado”
Cabe aqui ressaltar o que foi dito sobre a evidência da intencionalidade, pois houve adesão de toda a turma na realização da atividade, e os alunos que por algum motivo não levaram o encarte realizaram a atividade por meio de desenho, como mostra a Figura 6.
Figura 6: Atividade 2 - Negociando significados acerca da alimentação na aula “Por dentro do supermercado”
A conclusão da etapa 4 deu origem à etapa 5, em que foi feita uma análise reflexiva do que havia sido circulado a respeito dos alimentos ofertados no mercado.
Etapa 5
O objetivo dessa etapa foi realizar um estudo reflexivo acerca da oferta dos alimentos e sobre como está nosso hábito alimentar. Assim, após circular os alimentos com azul e vermelho, a professora fez perguntas para a turma.
- Qual tipo de alimento foi mais circulado no encarte do mercado?
- Qual é a sua opinião sobre isso?
- O que pode ser feito perante essa realidade?
Essas perguntas foram expostas no quadro para iniciar um debate. Após pensar sobre as questões, a turma relatou:
- Os alimentos mais ofertados no mercado não são saudáveis;
- A razão por essa demanda é que são mais gostosos, mais baratos e vendem mais;
- Perante essa realidade, a turma concluiu que há necessidade da venda de alimentos mais naturais (frutas e verduras), mudança de hábitos alimentares por meio do consumo de alimentos mais saudáveis.
A partir dessas conclusões por parte dos alunos, cabe questionar se os alimentos destacados como exemplo no encarte (a maioria denominada como não saudável), são realmente unanimidade ou retratam os hábitos alimentares dos alunos?
Como os alunos reconhecem a necessidade de adotar um hábito alimentar mais saudável? Quais fatores impedem essa mudança na alimentação?
Nós, como professores, de que forma podemos contribuir para a promoção de um ensino que gere reflexão e uma aprendizagem que traga significado e que tenha sentido para a vida do aluno?
Por esses questionamentos, se faz necessária a utilização de uma estratégia de ensino que permita que o aluno se sinta protagonista em seu processo de aprendizagem e que o evento educativo tenha sentido para ele.
Nessa aula foi utilizado o encarte de jornal, recurso de fácil aquisição e que tornou a aula interessante, contribuiu para a motivação dos alunos e interesse pela aprendizagem. Por isso salientamos a Teoria da Aprendizagem Significativa como aporte teórico para a atividade, pois possibilita ao docente atuar como mediador com recursos variados e permite ao aluno atuar ativamente no processo de aprendizagem.
Avaliação
Lemos (2005) ressalta que a etapa da avaliação é de suma importância no processo, pois a partir dela pode-se verificar o nível de aprendizagem, se o objetivo foi alcançado e se há possibilidade de prosseguimento com novos conhecimentos.
A avaliação do projeto foi realizada no decorrer de todas as etapas, pois, como dito anteriormente, a preocupação era promover a interação entre os alunos e a negociação de significados, desenvolver a autonomia e, sobretudo, levá-los a refletir sobre a qualidade dos alimentos ofertados no cotidiano.
No desenvolvimento das atividades e em suas respectivas etapas, o que se pretendia com o projeto foi alcançado; como desdobramento, pode ser desenvolvido outro estudo a fim de sondar se houve alguma mudança na qualidade da alimentação dos alunos após a constatação da análise feita sobre os encartes de supermercado.
Dessa forma, por meio das evidências de aprendizagem demonstradas durante o processo de ensino, pode-se dizer que a aprendizagem desses alunos foi significativa; apesar de se tratar de um relato de experiência e de um projeto desenvolvido em curto espaço de tempo, o trabalho serviu para despertar a consciência sobre a importância de ter uma alimentação saudável e para despertar senso crítico quanto ao melhor tipo de hábito alimentar para ter qualidade de vida.
Resultado do projeto e conclusão
Este trabalho teve como objetivo principal desenvolver uma atividade com reutilização de encartes de mercado (Wiblom et al., 2020) que levasse os alunos a refletir sobre seus hábitos alimentares, além de inserir alguns conceitos de língua inglesa, disciplina na qual o projeto foi desenvolvido.
O projeto foi elaborado à luz da Teoria da Aprendizagem Significativa, pois acredita-se que é uma teoria capaz de subsidiar o docente quando se pensa em promover uma atividade reflexiva, na qual o aluno é o protagonista no processo de aprendizagem e o professor é mediador no processo de ensino.
Portanto, o desenvolvimento da atividade seguiu o que preconiza Lemos (2005) no que diz respeito a planejamento, desenvolvimento e avaliação da atividade.
Ao término do projeto, foi possível perceber que o que foi apresentado pelos alunos quanto à oferta de alimentos presentes no supermercado, embora não tenhamos dados suficientes que permitam tal comprovação, que provavelmente os participantes das atividades não tenham hábitos alimentares saudáveis, por terem circulado em sua maioria os alimentos não saudáveis nos encartes. Outra questão é que os alunos entendem a necessidade de ter um hábito alimentar saudável, mas o que acontece em seu dia a dia que não permite a adoção desses hábitos? Essa é uma questão que precisaria ser mais bem discutida a fim de contribuir para mais conscientização e qualidade de vida dos alunos por meio de uma alimentação melhor.
Após a conclusão do projeto, foi feito um cartaz retratando o desenvolvimento da atividade, divulgado no pátio da escola. O trabalho foi selecionado para ser exposto na exposição sobre sustentabilidade realizada no Centro Cultural de Santa Cruz.
Sendo assim, com esse trabalho, esperamos ter contribuído com uma sugestão de atividade para um processo de ensino dinâmico, o qual pode ser aplicado em qualquer faixa etária e disciplina. Ao planejar, não se deve esquecer de levar em consideração o contexto no qual a atividade será realizada, respeitando o meio onde o aluno está inserido para que haja melhor desenvolvimento e avaliação dele.
Referências
BELMONT, Rachel Saraiva; LEMOS, Evelyse dos Santos. A intencionalidade para a aprendizagem significativa da biomecânica: reflexões sobre possíveis evidências em um contexto de formação inicial de professores de Educação Física. Ciênc. Educ., Bauru, v. 18, nº 1, p. 123-141, 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132012000100008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151673132012000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 30 jan. 2022.
FEIL, A. A.; SCHREIBER, D. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados. Cad. Ebape.br, Rio de Janeiro, v. 15, nº 3, p. 667-681, jul. 2017.
FURTADO, Janine Dorneles. Os caminhos da Educação Ambiental nos espaços formais de ensino-aprendizagem: qual o papel da Política Nacional de Educação Ambiental? Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 22, set. 2012. https://doi.org/10.14295/remea.v22i0.2830. Disponível em: https://periodicos.furg.br/remea/article/view/2830. Acesso em: 30 jan. 2022.
LEMOS, E. S. (Re)Situando a Teoria da Aprendizagem Significativa na prática docente, na formação de professores e nas investigações educativas em ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 5, nº 3, p. 38-51, 2005.
LEMOS, E. S. O aprender da Biologia no contexto da disciplina Embriologia de um curso de licenciatura em Ciências Biológicas. In: MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. (org.). Aprendizagem significativa: condições para ocorrência e lacunas que levam a comprometimentos. São Paulo: Vetor, 2008.
MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa: um conceito subjacente. In: MOREIRA, M. A.; CABALLERO SAHELICES, C.; RODRÍGUEZ PALMERO, M. L. (ed.). II ENCUENTRO INTERNACIONAL SOBRE APRENDIZAJE SIGNIFICATIVO. Universidad de Burgos. Anais... p. 19-44, 1997.
MOREIRA, M. A. A Teoria da Aprendizagem Significativa segundo Ausubel. In: MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. (org.). Aprendizagem significativa: condições para ocorrência e lacunas que levam a comprometimentos. São Paulo: Vetor, 2008.
NERY, João Elias; GIROA, C. F. A. R. (org.). Interdisciplinaridade: saberes e fazeres. São Paulo: Cabral; Acad. Paul. Psicol., v. 35, nº 88, p. 242-244, jan. 2015. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415711X2015000100018&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 30 jan. 2022.
NOVAK, J. D. Uma teoria de educação. Trad. Marco Antonio Moreira. São Paulo: Pioneira, 1981.
SILVA, E. A. da; OLIVEIRA, C. A. M. de; CUNHA, R. R. C. A.; SOARES, R. V. S.; TEIXEIRA, V. D.; GUENTHER, M. Educação Ambiental voltada para a reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos no ambiente escolar: um estudo de caso no Ensino Fundamental em Recife (PE). Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 9(2), p. 412-423, 2014. https://doi.org/10.34024/revbea.2014.v9.1850.
SILVA, I. M. O professor como mediador. Cadernos de Pedagogia Social, v. 1, p. 117-123, 2007. Disponível em: https://revistas.ucp.pt/index.php/cpedagogiasocial/article/view/1918.
UEDA, Márcia Hiroko. O efeito da publicidade de alimentos saudáveis e não saudáveis sobre as escolhas alimentares de crianças. 2010. 85f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Comportamento) - Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
WIBLOM, J.; ANDRÉE, M.; RUNDGREN, C. J. Sci & Educ., v. 29, p. 75, 2020. doi.org/10.1007/s11191-019-00099-1.
Publicado em 10 de setembro de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
AMARAL, Joyce Frade Alves do; BARROS, Marcelo Diniz Monteiro de. A aprendizagem acerca da alimentação saudável e sustentabilidade nas aulas de Inglês por meio de encartes de supermercado. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 33, 10 de setembro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/33/a-aprendizagem-acerca-da-alimentacao-saudavel-e-sustentabilidade-nas-aulas-de-ingles-por-meio-de-encartes-de-supermercado
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
1 Comentário sobre este artigo
Deixe seu comentárioExcelente artigo! Estou utilizando como referência em vários projetos e nas minhas aulas na escola. O conteúdo é muito bem estruturado e claro, o que facilita bastante o aprendizado dos meus alunos. A abordagem dos temas é completa e atual, o que tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento dos nossos estudos. Com certeza continuarei usando este material como apoio nas minhas aulas. Parabéns pelo trabalho!
Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.