Vantagens da Realidade Virtual como ferramenta de ensino

Alan Eannes Vieira Melo

Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (IFS)

Igor Adriano de Oliveira Reis

Doutor em Engenharia de Processos, professor do Programa de Pós-graduação do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica (IFS)

No contexto contemporâneo, o protagonismo crescente da tecnologia na sociedade tem conduzido a uma disseminação mais abrangente do conceito de Realidade Virtual (RV). Todavia, essa proeminência não foi sempre um traço característico desse campo. Em tempos passados, a mencionada expressão estava predominantemente ligada a uma tecnologia de alcance restrito, frequentemente associada a produções cinematográficas de grande envergadura, pertencentes ao universo das superproduções hollywoodianas.

Tal associação frequentemente insinuava a ideia de um domínio afastado do alcance popular, moldando uma narrativa que sugeria que a Realidade Virtual estava destinada às criações fictícias de futuros longínquos. Em contrapartida, essa noção, paradoxalmente, carregava consigo uma essência de realismo, visto que delineava perspectivas futurísticas que, ainda que fantasiosas, refletiam as aspirações e as inovações tecnológicas do momento. Portanto, a evolução da compreensão da RV transcendeu sua interpretação inicial e, por meio de uma jornada histórica, ela testemunha um deslocamento de uma percepção excludente para uma integração mais inclusiva na experiência contemporânea.

No passado, não passava de um conceito de ficção científica, mas desde a era vitoriana a ideia de transportar pessoas para ambientes multissensoriais fictícios por meio da realidade virtual motiva cientistas e pesquisadores a atravessarem a fronteira entre o real e o imaginário (Tustain, 2019, p.10).

É possível perceber que a presença das tecnologias digitais em nossa rotina está se tornando cada vez mais ampla, englobando desde atividades simples até asmais complexas. Apesar disso, ainda existem muitas oportunidades a serem exploradas, especialmente no contexto educacional. Cursino (2019) afirma que os indivíduos de hoje em dia são diferentes das gerações passadas. Isso tem um impacto significativo na forma como aprendem e se interessam pela escola.

Muitas vezes, os educadores ainda comparam o interesse e o desempenho dos alunos atuais com os dos alunos do passado, sem levar em conta as mudanças na sociedade, na tecnologia e na cultura que influenciam a maneira como os alunos se engajam no processo educacional, oferecendo aulas pouco atraentes, diminuindo o aprendizado e o gosto pelos cursos.

Segundo Paulo Freire (2005), aulas desinteressantes e pouco atrativas resultam da abordagem da educação bancária, com foco na memorização e na reprodução das informações sem questionamento crítico ou participação ativa, quando o professor é o detentor e o “depositário” do conhecimento. Os alunos são passivos receptores, receptores do modelo cujo foco está na memorização e na reprodução das informações, sem questionamento crítico ou participação ativa. Braga (2001) ressalta que

as novas tecnologias permitem a interatividade, a participação, a intervenção, a bidirecionalidade e a multidisciplinaridade. Ampliam a sensorialidade e rompem com a linearidade e também com a separação emissor/receptor. É importante estarmos atentos para essa nova tendência, para esse novo receptor e suas necessidades, pois assim poderemos moldar a educação de forma substancial nesse novo modelo do processo ensino-aprendizagem, e fazer da sala de aula um espaço diversificado e não de uniformidade, de rotina (Braga, 2001, p. 7).

Masetto (2000) afirma que existem alguns motivos que podem gerar esse contexto, com a crença de que o papel da escola é simplesmente "educar" por meio da memorização, visando apenas à sequência "normal" de ingresso na faculdade de forma tradicional, baseada na memorização para aprovação nas avaliações. Além disso, ele destaca que teorias tecnicistas comportamentais e de rigor próprio das décadas de 50 e 60 exerceram forte influência nessa desvalorização da tecnologia na educação. No entanto, mesmo que esse processo seja relativamente lento, ficar à margem do movimento de inserção tecnológica parece não ser uma opção viável para as escolas.

Um exemplo da necessidade de acompanhar a evolução é o celular, que um dia foi ferramenta exclusiva para poucos, um artigo de luxo, que hoje é difícil se imaginar sem ele. Portanto, torna-se necessário que docentes e gestores compreendam que a introdução às tecnologias digitais é uma tendência inevitável também na educação. Dessa forma, é imprescindível uma reformulação para se adequar e acompanhar essa modernização que, em um ritmo um pouco menos acelerado, já está presente no mercado de trabalho, especialmente nas grandes empresas plantadas nessa quarta revolução industrial ou indústria 4.0. A tecnologia associada à automação predomina; assim, os profissionais da Educação precisam estar atentos à velocidade desse avanço tecnológico e às mudanças que ele proporciona.

A tecnologia, entre outros elementos, também contribuiu na concepção de como era visto e definido a fórmula de um modelo de aluno. Passaram de meros espectadores passivos, para atores ativos do processo educacional. Mais informados, criativos, imperativos, participativos, ousados, mais duvidosos e críticos. Esta nova geração de alunos deixou muitos educadores preocupados, pois os mesmos estavam acostumados a ter uma plateia que só observava a sua apresentação sem direito a intervirem de qualquer forma, realidade esta, que ficou no passado e hoje, temos sim alunos “soltos” e autocríticos, mesmo com uma recorrente prática pedagógica expositiva em nossas escolas (Ferreira, 2020, p. 15).

Assim, as tecnologias digitais têm o potencial de melhorar a qualidade do ensino, tornando-o mais interativo, dinâmico e acessível. É possível utilizar recursos como a Realidade Virtual para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem, estimulando a participação ativa dos alunos, facilitando a compreensão de conceitos por vezes complexos se visualizados só na teoria. A RV, chamada também de Virtual Reality (VR), tem como característica principal levar um ambiente até as pessoas, permitindo que experimentem a sensação de estar em um local sem ter que se deslocar até ele. Quando aliada à educação, serve como ferramenta do mundo tecnológico, ajudando a ampliar o campo de conhecimentos e as habilidades trabalhadas em sala.

O hibridismo no ensino não pode ser considerado uma novidade, embora a recorrência com que atualmente temos ouvido essa expressão possa trazer essa impressão. Moran (2015) destaca que a educação sempre combinou elementos distintos dos espaços aos públicos. O que muda é que, com o uso da mobilidade e a conectividade, esse processo ficou mais visível. Atividades híbridas com a inserção de tecnologias digitais podem ser bastante úteis para uma aprendizagem ativa, em particular a RV, por ela proporcionar interação sensorial visual junto a assuntos até então abordados apenas de forma teórica.

O que a tecnologia traz hoje é integração de todos os espaços e tempos. O ensinar e aprender acontece numa interligação simbiótica, profunda, constante entre o que chamamos mundo físico e mundo digital. Não são dois mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente. Por isso a educação formal é cada vez mais blended, misturada, híbrida, porque não acontece só no espaço físico da sala de aula, mas nos múltiplos espaços do cotidiano, que incluem os digitais (Moran, 2015, p. 16).

Apesar das possíveis vantagens, muitas vezes, tentar oferecer a oportunidade de melhoria no aprendizado por meio da RV com a criação de aulas que podem ser mais atrativas para os alunos pode se apresentar ainda como um desafio a ser superado pelos docentes. Para Camargo e Daros (2018, p. 11), “a sala de aula tradicional, baseada na hegemonia da aula expositiva, ainda é uma grande barreira a ser vencida para que a qualidade da educação melhore”. Eles afirmam ainda que “as atividades pedagógicas de uma instituição de ensino devem ser orientadas a apresentar forte contextualização e correlação com a realidade”. Não é descartar a aula expositiva, mas ter cuidado para evitar uma metodologia que talvez já tenha atendido às necessidades passadas. Atualmente, ela pode não ser mais tão eficaz se aplicada com exclusividade, pois o aluno que vive hoje em um mundo cercado de tecnologias pode ter na RV um meio que, de forma multissensorial, aumenta o seu interesse e rendimento nas aulas.

Ao permitir que os aprendizes explorem ambientes sem necessidade de se afastar da sala de aula convencional, ou seja, dentro do ambiente de estudo familiar, eles são capazes de se engajar de forma interativa com o conhecimento, absorvendo conceitos por meio da imersão contextual. Esse enfoque, asseverado por Nobre, Haguenauer e Cunha (2011), evidencia a Realidade Virtual como uma das oportunidades distintivas proporcionadas pelas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Por meio desse paradigma é possível não somente atrair a atenção dos estudantes, mas também aprimorar a compreensão dos conteúdos educacionais, contribuindo assim de maneira ativa para a motivação intrínseca e a retenção do aprendizado. Nesse sentido, a fusão entre a educação tradicional e as ferramentas virtuais emerge como um meio promissor para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem.

Entendendo a importância dos sentidos para o aprendizado, Comenius (1966, p. 103) faz ainda a seguinte indagação: “Por que é que então o ensino há de principiar por uma exposição verbal das coisas, e não por uma observação real dessas mesmas coisas?”. Claro que à época, por falta de conhecimento tecnológico, ainda não se cogitava o uso de tecnologias como a RV, mas atualmente isso é possível. Então, como nem sempre é viável fazer uso de determinado cenário real, corroborando um sentimento já expressado pelo autor (quando ele aborda que se por acaso não for possível ter acesso concreto, pode-se fazer uso de situações que o representem), a RV se mostra como importante ferramenta nesse sentido. Ela pode levar o cenário ao aluno, permitindo que ele experimente a sensação de visualizar o conteúdo da aula para melhor compreensão, fazendo-se presente virtualmente, de forma imersiva, em situações normalmente verbalizadas nas aulas.

Com a Realidade Virtual presente na educação, poderemos descobrir, explorar e construir conhecimento (aprender) sobre lugares que jamais pensaríamos visitar. O grande potencial da Realidade Virtual está exatamente nessas possibilidades, não só através de aulas ou objetos físicos, mas também através da manipulação virtual do alvo a ser explorado, analisado e estudado (Braga, 2001, p. 5).

A Realidade Virtual se configura como um instrumento educacional poderoso, cuja relevância ganha destaque em um cenário onde os métodos tradicionais de ensino se mostram falhos se utilizados com exclusividade. Essa ineficácia reside na limitação de possibilitar a descoberta e a exploração do conhecimento pelos alunos, comprometendo a construção de um saber mais profundo e duradouro, pois esses não estão ancorados em experiências pessoais. A abordagem tradicional, predominantemente expositiva e unidirecional, tende a restringir o papel ativo do aluno no processo de aprendizagem. Esse cenário resulta em um aprendizado passivo, no qual os alunos absorvem informações sem se envolverem ativamente no processo de construção do conhecimento. Como consequência, o aprendizado tende a ser superficial e de curta duração, uma vez que não é internalizado por meio de uma experiência pessoal significativa.

Para resgatar o papel enfraquecido da escola e enriquecer o processo de aprendizagem, a adoção criteriosa de tecnologias educacionais pode oferecer vantagens significativas. Por meio da utilização dessas ferramentas, os educadores podem propiciar aos alunos diferentes formas de aprender, se adaptando às diversas necessidades e aos estilos de aprendizagem dos estudantes (Ferreira, 2020). Séculos atrás, em seu Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, Comenius (1966) já trazia como regra de ouro aos professores que cada coisa fosse apresentada com os sentidos pertinentes, como as audíveis aos ouvidos e as coisas visíveis à vista; essa perspectiva do educador se conecta diretamente com os princípios da imersividade proporcionados pela Realidade Virtual como ferramenta de ensino, pois ela oferece uma experiência altamente envolvente, permitindo que os alunos se sintam presentes por meio de ambientes virtuais e interajam de forma realista.

Ao explorar os ambientes virtuais, os estudantes podem utilizar seus sentidos de forma mais completa, vivenciando experiências visuais e auditivas, além de outras interações sensoriais diretamente alinhadas à abordagem sugerida por Comenius. Assim, quando bem articulada dentro do planejamento das aulas, a RV pode ser uma facilitadora do processo educacional, conforme abordado por Moran, Masetto e Behrens (2000), pois facilita a aprendizagem dos alunos. Moran et al. ressaltam que "um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa".

Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços, entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido. [...] Aprendemos mais quando estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática; quando ambas se alimentam mutuamente. Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social (Moran; Masetto; Behrens, 2000, p. 23).

Para que aconteça uma melhor absorção do conhecimento, é importante que os alunos possam estabelecer uma boa relação entre teoria e prática, de preferência em ambientes reais. No entanto, em algumas situações, essa abordagem pode se tornar inviável devido a questões logísticas, custos, acesso limitado ou até mesmo preocupações com a saúde e a integridade física das pessoas, além da falta de atividades que promovam que os alunos vivenciem de alguma forma os assuntos abordados. Muitas vezes isso dificulta de forma considerável a sua compreensão sobre os temas discutidos em sala de aula, representando um prejuízo para o desenvolvimento educacional dos estudantes; Nesse sentido, por trazer o ambiente para a sala de aula, a realidade virtual desponta como uma ferramenta que pode ajudar a minimizar o impacto dessas dificuldades encontradas pelos docentes.

A interatividade proporcionada pela realidade virtual viabiliza que os estudantes assumam um papel ativo e protagonista em sua jornada de aprendizagem, fomentando maior engajamento e participação no processo educacional. Nesse contexto, ela não somente aprimora a compreensão dos conteúdos, mas também promove o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais, preparando-os para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Nessa perspectiva, o uso apropriado dessa tecnologia se enquadra, por exemplo, no paradigma freiriano que almeja a formação de indivíduos críticos e autônomos. Por meio da imersão nos ambientes virtuais os estudantes são instigados a indagar, refletir e construir ativamente o seu próprio conhecimento.

Masini e Moreira (2017) ressaltam a relevância de uma abordagem que viabilize aos alunos a aplicação prática dos conceitos teóricos, sendo primordial que as atividades formativas incluam estratégias que estimulem a reflexão sobre o desempenho dos alunos. Nessa perspectiva, a integração de tecnologias educacionais, como a realidade virtual, assume um papel de grande utilidade ao possibilitar a simulação de situações verossímeis no ambiente de trabalho, assim como ao oferecer feedback imediato e preciso aos discentes.

Outro ponto importante é o retorno imediato sobre o aprendizado no desenvolver das tarefas. A reflexão e o feedback desempenham um papel crucial no processo de aprendizagem significativa e de longa duração no contexto da formação dos estudantes. Quando o aluno tem a oportunidade de analisar de forma metacognitiva o seu próprio desempenho, aliado ao feedback preciso e imediato proporcionado pela Realidade Virtual, é possível aprimorar suas habilidades de maneira mais efetiva. Esse cenário possibilita ao aluno desenvolver uma perspectiva mais crítica e construtiva em relação às suas práticas, capacitando-se a corrigir eventuais erros e a enfrentar desafios de forma mais assertiva. Ademais, o feedback também se mostra de suma importância para o docente, uma vez que permite uma análise reflexiva de sua prática pedagógica, favorecendo o seu aperfeiçoamento contínuo do processo de ensino-aprendizagem.

Vale ressaltar que a incorporação de tecnologias nas escolas é frequentemente considerada como uma estratégia promissora para enfrentar os desafios educacionais contemporâneos. No entanto, é importante destacar que ela não é “a salvadora da pátria”, como dito por Ferreira (2020). A simples inserção de tecnologia na sala de aula não é garantia de melhorias significativas no processo de ensino-aprendizagem. Diante da necessidade de motivar e envolver a nova geração de estudantes, o uso estratégico da RV na educação pode ser um poderoso catalisador para o engajamento dos alunos e para a construção de uma rede de aprendizagem mais significativa e envolvente, pois trata-se de uma tecnologia que emerge como ferramenta de suma importância para uma proposta pedagógica inovadora na educação.

Em vez disso, a efetividade dessa abordagem depende de uma integração cuidadosa e intencional das tecnologias, aliada a práticas pedagógicas sólidas e a uma visão clara de como os recursos tecnológicos podem apoiar os objetivos educacionais. Desse modo, não se trata meramente de um modismo ou de uma mera imposição da tecnologia por uma "obrigação natural". Ao contrário disso, deve ser usada com o devido planejamento. Paulo Freire (2021, p. 35), em seu livro Pedagogia da Autonomia, diz que “o novo não pode ser negado ou acolhido só porque é novo”, é preciso reconhecer que se uma metodologia ou ferramenta pedagógica está dando certo, ela não deve ser simplesmente descartada pelo que possa ser entendido como novidade. Como afirma ainda Paulo Freire (2021, p. 35) na mesma obra, “o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico. O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo”. O que deve receber o foco da atenção dos educadores é o fato de que as vantagens da Realidade Virtual constituem atrativos genuínos que a posicionam como ferramenta vantajosa para a educação.

Como mencionado por Fiolhais e Trindade (1996), a aplicação da RV se justifica, pois ela se apresenta como um potencial recurso pedagógico:

- Sendo a educação um processo em que a interação entre o sujeito e o ambiente é fundamental, qualquer cenário virtual constitui um ambiente educacional.

- Os processos psicológicos num ambiente virtual são muito semelhantes aos processos correspondentes num ambiente educativo real.

- Na área educativa, a riqueza das sensações táteis é frequentemente negligenciada, voluntária ou involuntariamente. Por vezes criam-se imagens mentais incorretas pela ausência e impossibilidade de sentir os objetos reais.

- Na experimentação científica, a manipulação de objetos é fundamental, sem ela, os alunos dificilmente compreendem o conteúdo, significado e alcance de uma experiência ou mesmo os conceitos que lhe estão subjacentes. No caso em que a manipulação de certos objetos é difícil, perigosa ou dispendiosa, eles poderão ser substituídos por objetos virtuais (Fiolhais; Trindade, 1996, p. 12).

Assim, torna-se imperativo engajar os estudantes a fim de viabilizar um processo de aprendizado prazeroso e eficaz. Conforme abordado por Moreira (2006), a ocorrência de aulas desinteressantes e pouco atrativas resulta no emprego de uma abordagem instrucionista por parte dos professores, na qual o conhecimento é transmitido de maneira passiva e unilateral, comprometendo a construção de significados e minando a efetividade da aprendizagem. Para promover a aprendizagem com significado, faz-se necessário que o docente estabeleça situações de ensino que estimulem a busca ativa de conhecimento pelos alunos por meio de atividades práticas, debates, problematizações e conexões com a realidade.

No cenário de sala de aula, deparamo-nos com um desafio constante: promover a interconexão das habilidades que devem ser desenvolvidas na educação em consonância com as premissas da politecnia, buscando uma formação integral e não fragmentada. Saviani (1989) enfatiza a importância da ideia de politecnia ao reconhecer a necessidade de uma formação abrangente que englobe tanto a dimensão teórica quanto a prática, proporcionando aos indivíduos competências e conhecimentos essenciais para sua inserção efetiva no mundo do trabalho e na sociedade em geral. Por isso é importante que o aprendiz tenha a oportunidade de explorar e experimentar o novo conhecimento, a fim de construir uma compreensão mais completa e profunda.

A análise acurada da Realidade Virtual revela sua natureza como ferramenta de caráter complementar, o que implica que ela não deve ser encarada como substituta das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Em vez disso, a Realidade Virtual assume um papel de parceria sinérgica, oferecendo um valor acrescentado ao panorama educacional. Nesse contexto, ela desempenha um papel crucial como aliada na ampliação e no aprofundamento do processo educativo, se desdobrando como metodologia ativa que procura articular os aspectos teóricos e práticos de maneira atrativa.

O seu poder reside na sua capacidade de enriquecer as experiências de aprendizagem ao criar pontes que aproximam conceitos que na cabeça do aluno podem ser abstratos e distantes de uma realidade tangível. Ou seja, não se trata de uma abordagem de substituição, mas sim de um esforço para encontrar um equilíbrio dinâmico entre o presencial e o virtual. A visão de Moran (2015) ressoa nesse sentido, ao defender a importância de valorizar as vantagens distintas que cada modalidade comunicacional oferece, aproveitando o potencial de integração entre elas.

O uso da RV em sala pode desmistificar conceitos complexos e abstratos, tornando-os mais concretos e tangíveis. Isso facilita a compreensão de conceitos teóricos proporcionando uma experiência visual e prática, permitindo que os estudantes visualizem fenômenos e compreendam sua aplicação no mundo real. Dessa forma, como dito por Braga (2001), é possível fazer uso dessa ferramenta como prolongamento metodológico, aproveitando o recurso da Realidade Virtual para promover interação entre o ambiente físico e o virtual, aprimorando a contextualização dos assuntos abordados em sala de aula e permitindo que os alunos mergulhem em ambientes virtuais interativos. Por intermédio dessa imersão, os estudantes podem explorar conceitos, realizar simulações, tomar decisões e enfrentar desafios de forma ativa e participativa. Logo, o conhecimento é construído a partir da experiência pessoal do aluno, promovendo uma aprendizagem mais profunda e duradoura.

Nesse contexto, a Realidade Virtual aparece como uma valiosa aliada na relação ensino-aprendizagem, por possibilitar a integração participativa e dinâmica entre teoria e prática, se tornando um recurso significativo para a formação abrangente dos estudantes como vantagens que aumentam as chances de uma aprendizagem significativa em aulas com a devida contextualização junto ao incentivo quanto ao o uso de novas tecnologias educacionais, proporcionando a aproximação dos alunos a um ambiente real, de forma segura e atrativa. Afinal, “se queremos que os alunos saibam as coisas com verdade e com certeza, é necessário fazer tudo para lhes ensinar todas por meio da ação direta da vista e da percepção sensível” (Comenius, 1966, p. 103).

Essa secular e profunda reflexão de Comenius continua a ressoar vigorosamente no contexto educacional contemporâneo. A compreensão de que a aprendizagem é mais sólida quando ancorada na ação direta da observação e da percepção sensorial, se tornou ainda mais relevante com a emergência da RV como ferramenta educacional, um recurso que permite que transcendam as fronteiras físicas das salas de aula tradicionais. Na sala ocorrem a interação com simulações e ambientes virtuais de trabalho impulsionada pela RV, abrindo portas para experiências práticas dentro de ambientes seguros e controlados.

Referências

BRAGA, Mariluci. Realidade Virtual e Educação. Revista de Biologia e Ciências da Terra, 2001. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50010104.

CAMARGO, Fausto; DAROS, Thuinie. A sala de aula inovadora. Estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso, 2018. ePUB.

COMENIUS, Jan Amos. Didáctica magna: Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1966.

CUNHA, Gerson; HAGUENAUER, Cristina; NOBRE, Vânia. Objetos de aprendizagem e Realidade Virtual em Educação a Distância e seus aspectos de interatividade, imersão e simulação. In: CUNHA, Gerson; HAGUENAUER, Cristina; FILHO, Francisco (org.). Realidade Virtual aplicada ao ensino. Curitiba: CRV, 2011.

CURSINO, André Geraldo. Tecnologias na educação: contribuições para uma aprendizagem significativa. Curitiba: Appris, 2019.

FERREIRA, Thiago. A aplicação das TIC na sala de aula: as metodologias ativas na prática. São Paulo: Kindle, 2020.

FIOLHAIS, Carlos; TRINDADE, Jorge A. A Realidade Virtual no ensino e aprendizagem da Física e da Química. Gazeta de Física, Lisboa, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2021.

MASINI, Elcie; MOREIRA, Marco. Aprendizagem significativa na escola. Curitiba: CRV, 2017.

MORAN, José. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, Carlos Alberto de; MORALES, Ofélia Elisa Torres. Convergências midiáticas, educação e cidadania: aproximações jovens. Ponta Grossa: Ed. UEPG/Proex, 2015. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-ontent/uploads/2013/12/mudando_moran.pdf.

MORAN, José; MASETTO, Marcos; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.

MOREIRA, Antônio. A Teoria da Aprendizagem Significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Editora UnB, 2006.

SAVIANI, Dermeval. Sobre a concepção de politecnia. Rio de Janeiro: Fiocruz/Escola Politécnica da Saúde Joaquim Venâncio, 1989.

TUSTAIN, Jonathan. Tudo sobre realidade virtual & fotografia 360°. Trad. Márcio Caparica Carlos. São Paulo: Editora Senac-SP, 2019.

Publicado em 10 de setembro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

MELO, Alan Eannes Vieira; REIS, Igor Adriano de Oliveira. Vantagens da Realidade Virtual como ferramenta de ensino. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 33, 10 de setembro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/33/vantagens-da-realidade-virtual-como-ferramenta-de-ensino

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1 Comentário sobre este artigo

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Professor Walter • 2 meses atrás

Excelente artigo! Estou utilizando como referência em vários projetos e nas minhas aulas na escola. O conteúdo é muito bem estruturado e claro, o que facilita bastante o aprendizado dos meus alunos. A abordagem dos temas é completa e atual, o que tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento dos nossos estudos. Com certeza continuarei usando este material como apoio nas minhas aulas. Parabéns pelo trabalho!

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