Popularizando a evolução e o meio ambiente através do teatro: um passo a passo para reproduzir a peça “O cantarolar de Darwin”

Gabriela Larissa Lima da Silva

Biomédica, mestra em Biologia Geral e Aplicada, doutoranda em Cirurgia e Medicina Translacional (Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp)

Kevin Silva Muller

Biólogo, mestrando em Cirurgia e Medicina Translacional (Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp)

Vinicius de Oliveira

Graduando em Física Médica (Instituto de Biociências de Botucatu, Unesp)

Orlando Barbosa dos Santos Junior

Graduando em Física Médica (Instituto de Biociências de Botucatu, Unesp)

Alex Borgato Basseto

Servidor técnico-administrativo da Divisão Técnica de Biblioteca e Documentação de Botucatu (Unesp)

Ana Carolina Guedes Pedreira

Técnica em Meio Ambiente, licenciada em Ciências Biológicas (Instituto de Biociências de Botucatu, Unesp)

Débora Gomes da Silva

Bióloga, pós-graduanda em Análises Clínicas (Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp)

Arthur Gasparindo Moreira

Graduando em Ciências Biológicas (Instituto de Biociências de Botucatu, Unesp)

Guilherme Augusto Fernandes

Professor da Educação Básica, doutorando em Educação para a Ciência (Faculdade de Ciências de Bauru, Unesp)

Silvia Mitiko Nishida

Professora doutora do Instituto de Biociências de Botucatu (Unesp)

O teatro é uma expressão artística antiga e multidisciplinar que permite, por meio de seu formato, a exploração de emoções e de ideias e o desenvolvimento de seus praticantes. No teatro educativo, os atores utilizam técnicas teatrais para apresentar informações de forma mais atrativa e dinâmica, criando um ambiente propício à absorção do conhecimento pelo público (Barbacci, 2002). Essa abordagem pode ser aplicada à apresentação de conteúdos científicos, permitindo que os tópicos sejam expostos de maneira clara, compreensível, divertida e envolvente (Moreira; Marandino, 2015). Assim, proporciona-se aos espectadores uma sensibilização quanto à valorização do conhecimento científico e às questões sociais e ambientais, fomentando a conscientização, o desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de mobilização para ações concretas (Massarani; Almeida, 2006).

A peça O cantarolar de Darwin (Figura 1) foi inspirada na viagem do naturalista inglês Charles Darwin e sua equipe a bordo do navio HMS Beagle, que aportou e explorou as costas brasileiras. O objetivo dessas expedições foi mapear e realizar um levantamento cartográfico das costas do sul da América do Sul como continuação de trabalhos anteriores. Darwin tornou-se, mais tarde, uma figura extremamente relevante para a história mundial ao propor inúmeras teorias e abordagens nas áreas da Biologia, Geologia e Antropologia, com destaque para a teoria da seleção natural apresentada em seu livro A origem das espécies.

Figura 1: Elenco de uma montagem da peça O cantarolar de Darwin, apresentada no Auditório do Instituto de Biociências de Botucatu, na Unesp

Na peça, imaginou-se um cenário em que Darwin conhece e explora o cerrado brasileiro, interagindo com o ambiente ao seu redor. Nela, abordam-se a origem e a evolução das espécies, além do conceito de seleção natural e de alguns de seus mecanismos, com destaque para a seleção sexual, fenômeno compreendido por Darwin em um momento posterior de sua vida. Além de dialogar com os conteúdos escolares previstos na Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018), essa produção visa valorizar a riqueza e a diversidade da fauna brasileira, especialmente do cerrado e da Mata Atlântica.

São apresentados conceitos e características de aves como seriema, tucanuçu, tangarás-dançarinos, sanhaço-de-fogo e alma-de-gato, incluindo seus hábitos e comportamentos (Figura 2). Apresenta-se também a onça-pintada, um mamífero ameaçado de extinção, como um elemento relevante na narrativa, além da figura do cientista, personificada por Darwin e sua tripulação (Capitão FitzRoy e Conrad Martens). A peça enfatiza o papel do cientista e a importância da ciência para a compreensão e a conservação do meio ambiente.

Figura 2: Animais que são personagens na peça O cantarolar de Darwin, evidenciando a riqueza das colorações e a diversidade entre espécies e entre sexos. Os animais não estão em escala proporcional

Toda a trama se desenvolve a partir da interação entre os humanos e os animais, evidenciando o quanto é possível aprender por meio da observação da natureza. As aves são portadoras de informações relevantes, enquanto a onça desempenha o papel de um importante questionador sobre a degradação ambiental, afastando a obra de um possível antropocentrismo exacerbado. Após adentrarem a mata, Darwin e sua tripulação encontram o grande felino, que, após interações provocativas, permite o estudo da região. Em seguida, ocorre uma sucessão de aparições de aves, que encantam os personagens, concluindo os objetivos estabelecidos sobre conhecer a fauna local. 

O texto foi produzido em linguagem simples, com conceitos esclarecidos e retomados ao longo da peça por diferentes personagens. A peça é acessível a públicos de todas as idades, conforme observado nas experiências do Bando de Teatro Científico Siriema, abrangendo desde estudantes do Ensino Fundamental I até adultos. Pequenas adaptações podem ser incorporadas ao texto dramatúrgico para ajustar a linguagem ao público-alvo. Com duração média de 25 minutos, a peça adota um formato ágil, que mantém a atenção de espectadores infantis e pode ser facilmente apresentada em escolas ou reproduzida por grupos escolares sem comprometer significativamente o conteúdo programático.

Os figurinos e os cenários foram construídos com materiais acessíveis e de fácil manuseio, incentivando sua reprodução em qualquer contexto. Um passo a passo para a confecção das máscaras, das asas das aves e da onça está disponível, estimulando que os próprios alunos participem dessa etapa. Tal envolvimento desenvolve habilidades psicomotoras relevantes, como a coordenação motora fina, além de fomentar a criatividade. Assim, a apresentação da peça constitui uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento de diversas habilidades expressivas, pessoais e criativas nos estudantes-atores (Peixoto et al., 2023).

Para a apresentação, são necessários no mínimo oito e no máximo doze atores, além de um técnico de som. Todo o material criado durante o processo de desenvolvimento da peça – incluindo o texto dramatúrgico, fotografias dos figurinos, sons utilizados e uma gravação da peça – está disponível para consulta, conforme mostrado na Figura 3. Os sons também podem ser encontrados em outras plataformas, sendo originados dos próprios animais representados na peça e passíveis de adaptação conforme o contexto e a preferência do grupo. No caso dos sons relacionados à entrada dos tangarás, à dança entre machos e fêmeas e ao encerramento da peça, dependendo da circunstância da apresentação, outras músicas podem ser usadas devido a questões de propriedade intelectual.

Os figurinos, as personalidades dos personagens e a organização da peça podem ser adaptados livremente de acordo com os recursos disponíveis e as ideias do proponente da atividade. Essa peça foi originalmente escrita e encenada por estudantes de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Botucatu, com o objetivo de ser levada ao ambiente escolar.

Adicionalmente, foi elaborado um documento (Figura 3), acessível por QR code, contendo todos os conceitos e as definições das temáticas abordadas na peça. Entre eles estão: seleção sexual, seleção natural, dimorfismo sexual, monogamia e poligamia, ciência, dança da corte, cerrado, desmatamento, biodiversidade e conservação.

Figura 3: QR codes para acesso de materiais suplementares para realização da peça O cantarolar de Darwin, incluindo roteiro, sons utilizados, uma gravação de exemplo da peça e um linktree com outras informações sobre o Bando de Teatro Científico Siriema. Esses links também podem ser acessados diretamente: Drive com roteiro, sons e outras coisas; gravação da peça

Verificação da efetividade

Após a apresentação da peça, como forma de verificar a efetividade da abordagem teatral na transmissão de conceitos, foi realizado um diálogo com o público para obter uma percepção geral sobre a peça. Além disso, foi disponibilizado, quando possível, um formulário on-line aos espectadores, visando coletar opiniões espontâneas sobre o espetáculo. O formulário, elaborado no Google Forms, incluía perguntas dissertativas e objetivas.

As perguntas de múltipla escolha buscavam avaliar a opinião geral dos espectadores sobre a peça, verificar se assistiriam a outra apresentação do grupo e identificar se algum conceito novo foi aprendido. Já as perguntas dissertativas permitiam que os espectadores comentassem sobre qual conceito novo foi aprendido, destacassem a parte favorita da apresentação e oferecessem sugestões à equipe.

Nossas apresentações alcançaram aproximadamente 1.500 espectadores de diferentes níveis educacionais, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior. Embora o volume de respostas não tenha sido grande, já que o preenchimento do formulário era voluntário e nem sempre disponibilizado, as informações coletadas foram valiosas para indicar uma tendência de boa efetividade da abordagem teatral na transmissão dos conceitos (Figura 4).

Quanto à perspectiva geral da peça, 96% dos espectadores classificaram a apresentação como "ótima" (Figura 4A) e indicaram ter aprendido algum conceito novo (Figura 4B). Foram registradas 48 respostas no formulário eletrônico, das quais 21 eram de estudantes de Graduação, 20 de estudantes do Ensino Médio e 7 de docentes (das redes básica e superior) (Figura 4C). No que se refere às perguntas dissertativas (Figura 4D), os feedbacks recebidos foram bastante positivos, fornecendo devolutivas relevantes e interessantes sobre a percepção do público quanto à peça e ao método de ensino empregado.

Figura 4: Gráficos (A, B e C) construídos a partir das respostas às perguntas de múltipla escolha e tabela (D) com algumas respostas selecionadas para as perguntas dissertativas dadas pelos espectadores após assistirem à peça

Produção artística e montagem: personagens

Charles Darwin: Darwin é um personagem que expressa curiosidade e entusiasmo pelo mundo natural. Ele demonstra ansiedade e euforia ao explorar e aprender sobre o cerrado, uma região rica em flora e fauna. Apresenta-se como um indivíduo respeitoso e disposto a ouvir a vida selvagem local, sendo, em essência, interessado em expandir seu conhecimento sobre o meio ambiente. Figurino: O personagem pode vestir roupas de explorador, botas, cinto de utilidades e chapéu. O ator que interpretá-lo também pode assumir o papel de um dos tangarás-dançarinos ou do sanhaço-de-fogo macho, se necessário.

Capitão FitzRoy: FitzRoy é descrito como um homem educado, cortês e gentil, que se posiciona como figura de autoridade do grupo, por ser o capitão da expedição. Ele demonstra interesse em compreender a região e preocupa-se com a preservação da natureza, além de ter habilidade em gerenciar situações difíceis, mantendo o diálogo com a onça-pintada. Sua postura respeitosa e empática em relação aos animais e seus habitats é um exemplo positivo para o público. Figurino: O personagem pode usar roupas de explorador, botas, luneta, mochila de aventureiro e colete.

Conrad: Conrad é caracterizado como uma personagem interessada pelas terras brasileiras. Companheiro de Darwin e amigo próximo do capitão FitzRoy, ele foi contratado como ilustrador da expedição. Defensor da importância da pesquisa para promover a compreensão do mundo para ajudar as pessoas e do respeito pela natureza, é pacífico e amigável, preocupado com o meio ambiente e os animais. Figurino: Inclui roupas de explorador, botas, lupa, caderno de ilustrações, materiais de desenho e fita métrica. Ele também deve carregar uma ilustração dos tentilhões de Galápagos.

Seriema: Da espécie Cariama cristata (Figura 5), a Seriema é uma personagem animada e dinâmica, com traços de personalidade levemente arrogantes e competitivos. Orgulha-se de sua velocidade e de suas habilidades, mas demonstra coragem e lealdade, como mostrado ao procurar seu par perdido. Figurino: Roupas acinzentadas e marrons, máscara confeccionada em E.V.A. e asas feitas de TNT. Pode ser interpretada pelo ator ou pela atriz que atua como onça-pintada.

Alma-de-gato: Da espécie Piaya cayana, a Alma-de-gato (Figura 5) é uma personagem cativante e interessante, que auxilia na explicação de conceitos científicos de maneira mais acessível e divertida para a audiência. Sábia e curiosa, ela demonstra claro interesse em conhecer os humanos e compartilhar seus conhecimentos. Por meio de sua sabedoria, assume o papel de professora para os cientistas, mostrando que, mesmo aqueles que já estão habituados a observar a natureza, ainda podem aprender mais sobre ela e que sempre há espaço para novos aprendizados. Essa personagem deve apresentar uma forma sinuosa e sorrateira de se movimentar. Figurino: Tons de marrom e cinza, asas confeccionadas em TNT preto e marrom e máscara do mesmo material. A cauda também pode ser feita de TNT. Pode ser interpretada pelo mesmo ator que representar algum dos tangarás-dançarinos ou o tucanuçu.

Tucanuçu: Da espécie Ramphastos toco, Tucanuçu é apresentado como um tucano (Figura 5) amigável, comunicativo e corajoso, que ajuda a proteger a floresta dos caçadores. Embora preocupado e aflito com o desaparecimento de seu bando, Tucanuçu demonstra curiosidade e interesse pelas explicações dos cientistas. Inicialmente, encontra-se emburrado, mas rapidamente é cativado pelos humanos ao seu redor. Figurino: Calça e camisa pretas, camiseta branca por baixo, máscara de E.V.A. com bico proeminente e asas de TNT preto. Pode ser interpretado pelo mesmo ator que representar a Alma-de-gato ou os Tangarás-dançarinos.

Onça-pintada: A onça (Figura 5), da espécie Panthera onca, é uma personagem protetora da natureza e de seus habitantes, com uma visão crítica e inicialmente negativa dos humanos que exploram a região. Ela se preocupa com a sobrevivência dos animais e das plantas em seu habitat e apresenta suspeitas sobre os cientistas que chegaram ao cerrado. Essa personagem representa a preocupação com a proteção do meio ambiente e a oposição à exploração humana. Sua desconfiança em relação aos cientistas pode ser interpretada como uma crítica à história da colonização do Brasil, em que exploradores estrangeiros muitas vezes prejudicaram as populações locais e a biodiversidade. A personagem pode ser interpretada como forte e protetora, utilizando uma fala firme e determinada, mostrando-se uma líder em seu território. O ator pode adotar trejeitos ágeis e esguios, a fim de imitar o comportamento felino. Figurino: Máscara de onça feita de E.V.A., roupas amarelas e rabo confeccionado em TNT. Pode ser interpretada pelo mesmo ator ou atriz que representar a seriema.

Sanhaço-de-fogo (macho): O Sanhaço-de-fogo macho (Figura 5), da espécie Piranga flava, é um personagem convencido e egocêntrico, que não demonstra grande interesse na conversa com os cientistas. Ele se gaba de sua aparência atraente e ressalta sua popularidade entre as fêmeas da espécie. É autoconfiante e destemido, exibindo audácia em sua interação com a seriema e em sua performance geral. Figurino: Roupas inteiramente vermelhas. A máscara e as asas podem ser confeccionadas com E.V.A. e TNT. Pode ser interpretado pelo mesmo ator que fará Charles Darwin.

Sanhaço-de-fogo (fêmea): A Sanhaço-de-fogo fêmea (Figura 5), também da espécie Piranga flava, é comunicativa e interessada nos cientistas. Amigável e cativante, destaca-se por sua assertividade, bom senso e inteligência. Seu papel informativo contribui para a construção de um ambiente educativo para o público. Figurino: Roupas inteiramente amarelas. A máscara e as asas podem ser confeccionadas com E.V.A. e TNT.

Tangará-dançarino adulto (macho): O tangará-dançarino adulto (macho) (Figura 5), da espécie Chiroxiphia caudata, é um personagem que demonstra liderança e responsabilidade. Ele é preocupado e exigente com o desempenho de seus pássaros seguidores, mas também apresenta um lado descontraído ao flertar com uma tangará fêmea, exibindo charme e autoconfiança exagerada. Figurino: Calça preta e camiseta azul clara (em tons azul celeste, maya, capri ou afins). A máscara, que pode ser feita em E.V.A., pode incluir um detalhe vermelho no topo da cabeça ou pode-se usar tinta spray temporária para colorir o cabelo de vermelho, evidenciando o dimorfismo sexual. As asas, em TNT, devem ter detalhes em preto e azul. Pode ser interpretado pelo mesmo ator que fará o tucanuçu ou Charles Darwin.

Tangará-dançarino jovem 1 (Zezinho): O tangará-dançarino jovem, chamado Zezinho (Figura 5), também da espécie Chiroxiphia caudata, é estabanado e está aprendendo a dançar com o tangará adulto mais experiente. Ele admira os outros tangarás, especialmente o líder do grupo, que ele considera descolado e habilidoso na dança. É um personagem animado e divertido que atua como alívio cômico, com tropeços e gesticulações desajeitadas. Figurino: Roupas em verde claro (tons como verde menta, marciano ou lunar). A máscara pode incluir detalhes avermelhados ou amarelados ou pode-se usar tinta spray temporária para colorir o cabelo nas cores amarelo e vermelho. As asas, que podem ser feitas de TNT, devem ser verdes com poucos detalhes em preto e azul. Pode ser interpretado pelo mesmo ator que fará o tucanuçu ou Charles Darwin.

Tangará-dançarino jovem 2 (Juninho): Juninho (Figura 5), outro tangará-dançarino da espécie Chiroxiphia caudata, é o mais jovem do grupo. Ele tem vontade de aprender a dançar e se destaca por sua dedicação, ainda que ingênuo. É animado e divertido, podendo apresentar gagueira como característica adicional. Figurino: Roupas em verde claro (tons como verde menta ou lunar). A máscara pode ter detalhes amarelados ou pode-se usar tinta spray temporária para colorir o cabelo. As asas, feitas de TNT, devem ser verdes. Pode ser interpretado pelo mesmo ator que fará o tucanuçu ou Charles Darwin ou ser representado como um fantoche, explorando técnicas artísticas alternativas.

Tangará-dançarina adulta (fêmea): Da espécie Chiroxiphia caudata, a personagem (Figura 5) é inicialmente apresentada como alguém que demonstra certa arrogância e desinteresse pelo que acontece ao seu redor. Quando se torna alvo das cantadas do personagem Tangará 1, ela reage com atitude de desdém. Contudo, esse desdém é superado pela estratégia de corte apresentada pelo grupo de machos, que acaba por conquistá-la. A tangará-dançarina fêmea, então, adota uma postura independente e determinada em relação à sua vontade de dançar. A personagem demonstra a capacidade de expressar sua opinião e se impor diante de opiniões machistas de outros personagens, como o Sanhaço-de-fogo macho, que reforça as características da espécie do tangará, na qual as fêmeas tradicionalmente não dançam. Ao final, ela decide dançar e revela habilidade para isso, evidenciando sua força e confiança em si mesma. Figurino: Roupa inteiramente verde-clara (tons como verde marciano ou menta). A máscara e as asas podem ser confeccionadas com E.V.A. e TNT verde. Pode ser interpretada pela mesma atriz que fará Alma-de-gato ou Tucanuçu, se necessário.

Figura 5: Exemplos de figurinos utilizados para os personagens animais da peça O cantarolar de Darwin

Elaboração dos figurinos

Os figurinos propostos foram idealizados para serem confeccionados com materiais acessíveis, alinhando-se à proposta de democratização do grupo. Adaptações são permitidas, desde que as cores e as distribuições mencionadas para cada ave sejam preservadas, assegurando a comunicação informativa sobre as características dos animais representados. A criatividade dos alunos é incentivada durante a construção dos figurinos, sendo possível consultar outras ideias em vídeos disponíveis na internet.

Os materiais necessários para a elaboração dos figurinos são: folhas de E.V.A. (com ou sem glitter), aproximadamente três metros de TNT na coloração correspondente ao animal, elástico e/ou fitilho, cola quente, tesoura, papel sulfite ou cartão, penas sintéticas, fita métrica, lápis ou caneta. A descrição detalhada dos personagens também pode auxiliar na elaboração dos figurinos.

Construção das máscaras

Figura 6: Exemplos do passo a passo para a elaboração da máscara da Seriema, aplicável a todas as aves

Em papel sulfite ou cartão, desenhe o formato desejado da máscara e crie o molde do bico. O molde pode ser baseado em um modelo impresso da internet. Transfira o molde da máscara para o E.V.A. na cor escolhida e recorte. Para o bico, use E.V.A. amarelo ou laranja, transfira o molde e recorte (Figura 6.1). No caso do Tucanuçu, faça o bico mais longo e mais largo, utilizando palitos de madeira para mantê-lo ereto.

Una as duas metades do bico e cole-as com cola quente, deixando a parte arredondada final separada. Fixe o bico na máscara com cola quente, de forma que a parte redonda fique aberta sobre ela para dar suporte ao bico (conforme imagem). Faça um pequeno buraco nas laterais da máscara e prenda com elástico ou fitilho (Figura 6.2).

Usando E.V.A. nas cores escolhidas, faça penas de diferentes tamanhos: maiores para o fundo, médias para o centro e pequenas para a região dos olhos, ou conforme o design desejado (Figura 6.3).

Distribua as penas maiores ao redor da máscara e fixe-as com cola quente (Figura 6.4).

Cole as penas sintéticas nas posições desejadas, utilizando cola quente. Em seguida, sobreponha as penas médias (em marrom) às maiores, cobrindo também as penas sintéticas para que suas pontas não fiquem visíveis quando a máscara estiver finalizada. Depois, fixe as penas menores (prateadas) sobre as médias, conforme mostrado na imagem. Para finalizar, recorte uma tira de E.V.A. preto no formato do olho do molde da máscara e cole-a sobre as penas menores para criar profundidade (Figura 6.5).

Construção das asas

Figura 7: Exemplos do passo a passo para a elaboração das asas da Seriema, aplicável a todas as aves

Com a ajuda de uma fita métrica, peça a uma pessoa para medir: a) a distância do centro das suas costas até os ossos da mão (medida 1 - Figura 7.1); b) a distância do centro até os ombros, aproximadamente no local onde serão fixados os elásticos (medida 2 - Figura 7.2); c) a distância dos ossos da mão até o punho (medida 3 - Figura 7.3). Anote as medidas.

Dobre o TNT ao meio e, a partir da dobra, desenhe o formato da asa utilizando a medida 1, conforme o esquema mostrado no canto inferior direito da Figura 7.4. Recorte. O formato resultante deve ser aproximadamente triangular.

Meça os elásticos no ombro, de modo que dê uma volta completa. Corte e fixe-os no local indicado pela medida 2, partindo do centro da asa. Repita o processo para os punhos, fixando-os no local da medida 3 (Figura 7.5).

Crie moldes de penas em papel sulfite ou cartão, recorte-os e utilize-os para cortar as penas das asas no TNT (Figura 7.6). As penas podem ter tamanhos variados para criar um efeito degradê ou serem do mesmo tamanho, conforme sua preferência. Penas maiores conferem às asas um movimento mais fluido e esvoaçante.

Fixe as penas nas asas com cola quente, sobrepondo-as. Certifique-se de colar apenas uma ponta de cada pena para que elas mantenham o aspecto esvoaçante ao final (Figuras 7.7 e 7.8).

Conceitos e definições abordados

Durante a peça O cantarolar de Darwin, diversos conceitos e definições foram apresentados de maneira integrada à narrativa teatral, com o objetivo de aproximar o público de temas científicos e ambientais:

  • Seleção natural: Processo pelo qual características ou traços genéticos que favorecem a adaptação de um organismo ao seu ambiente são selecionados e transmitidos de uma geração para outra, enquanto características menos adaptativas tendem a desaparecer ao longo do tempo. Esse processo é mediado pela sobrevivência diferencial dos minimamente adaptados e pela reprodução daqueles que apresentam diferentes características em uma população.
  • Seleção sexual: Tipo de seleção natural que ocorre quando indivíduos de uma espécie escolhem seus parceiros com base em características consideradas atraentes ou vantajosas para a reprodução. Muitas vezes, esse fenômeno favorece características que aumentam a chance de predação, como cores vibrantes, que podem dificultar a camuflagem. A prevalência de uma característica na população depende mais da probabilidade de ela ser transmitida para a geração seguinte do que de sua durabilidade no ambiente. Exemplos de características selecionadas incluem cores ou caudas chamativas, chifres em mamíferos, repertórios vocais em aves e comportamentos de corte.
  • Dimorfismo sexual: Presença de diferenças físicas entre machos e fêmeas da mesma espécie que não envolvem os órgãos sexuais e geralmente são resultado da seleção sexual. Exemplos incluem variações no tamanho corporal, na coloração da plumagem, na presença de chifres ou nos comportamentos de corte.
  • Monogamia e poligamia: A monogamia é a prática de ter um único parceiro sexual ou cônjuge ao longo da vida, formando vínculos fixos e duradouros. A poligamia é a prática de ter múltiplos parceiros sexuais ou cônjuges ao longo da vida.
  • Ciência: Processo de investigação sistemática baseado em evidências empíricas, ou seja, conjunto de evidências comprovadas através da observação direta da realidade, que busca entender o mundo natural e explicar os fenômenos observados. A ciência usa o método científico para formular e testar hipóteses e teorias sobre o mundo natural.
  • Dança da corte: Comportamento exibido por muitos animais durante o período de acasalamento, em que um indivíduo realiza uma série de movimentos ou emite sons para atrair um parceiro. A dança de cortejamento pode ser uma forma de comunicação visual ou auditiva e pode envolver exibição de cores brilhantes, movimentos complexos ou vocalizações específicas.
  • Cerrado: Bioma brasileiro caracterizado por vegetação de savana, com árvores esparsas, arbustos e gramíneas. Entre suas características marcantes estão os troncos retorcidos das árvores e a capacidade de regeneração após queimadas naturais durante os períodos de seca. O cerrado é um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do mundo, abrigando muitas espécies exclusivas de plantas e de animais. 
  • Desmatamento: É a remoção de árvores de uma área florestal, geralmente para a conversão do solo para fins de atividades como agricultura, pecuária e mineração. O desmatamento tem um impacto significativo no meio ambiente, prejudicando a biodiversidade, o clima e o ciclo da água.
  • Biodiversidade: Variedade de formas de vida existentes na Terra. Essa diversidade biológica é resultado de um processo evolutivo que se desenvolveu ao longo de bilhões de anos e continua a ocorrer por meio da especiação e adaptação das espécies ao ambiente. A biodiversidade é essencial para o funcionamento dos ecossistemas e para a manutenção dos serviços ecossistêmicos que sustentam a vida.  
  • Conservação: Conjunto de medidas destinadas a preservar a biodiversidade e os recursos naturais de forma sustentável, permitindo seu uso humano sem comprometer sua proteção e sua manutenção a longo prazo. A conservação envolve o uso racional dos recursos naturais, garantindo que sua exploração não prejudique a sobrevivência das espécies ou a integridade dos ecossistemas. 

Considerações finais

O teatro é uma ferramenta altamente eficaz para divulgar informações científicas e educar o público sobre tópicos complexos e relevantes, despertando seu interesse. A combinação de dramaturgia, atuação, figurino e cenografia contribui para criar uma experiência atraente e memorável. Dessa forma, o teatro se apresenta como um poderoso recurso para a educação, a conscientização e a transformação social, auxiliando na formação de cidadãos mais críticos, conscientes e engajados.

O Bando Siriema utiliza o teatro como meio de humanizar e sensibilizar o público em relação ao conteúdo científico, rompendo barreiras educacionais por meio de uma proposta que aproxima o espectador do conhecimento, inserindo-o em um contexto artístico. Além de proporcionar essa experiência, o grupo busca tornar o material acessível a todos, possibilitando a realização e a montagem da peça em escolas e redes de ensino em todo o Brasil, disponibilizando roteiros, como já realizado em obras anteriores do grupo (Cardoso et al., 2023). Neste trabalho, o teatro foi utilizado como veículo para apresentar conceitos básicos, mas essenciais, sobre evolução, biodiversidade e conservação. O roteiro foi desenvolvido para ser facilmente reproduzido por qualquer elenco, desde crianças até adultos, destacando a riqueza do cerrado.

A partir de diálogos com o público e das avaliações coletadas por meio de formulários, foi possível verificar que a peça tem alcançado os objetivos educativos propostos, promovendo a sensibilização para os conceitos abordados. Embora a adesão ao formulário tenha sido limitada, as respostas foram positivas, indicando que a peça é uma ferramenta eficaz para aproximar, humanizar e introduzir conceitos científicos e culturais ao público. Além disso, proporcionamos atividades de desenvolvimento coletivo dos membros do Bando, oferecendo experiências diversas que contribuem para a melhoria do trabalho e a valorização da arte.

Referências

BARBACCI, S. From the golem to artificial intelligence: science in the theatre for an existential reflection. Journal of Science Communication, Trieste, v. 1, nº 3, p. 1-26, 2002. Disponível em: https://doi.org/10.22323/2.01030204. Acesso em: 25 nov. 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 25 nov. 2023.

CARDOSO, A. L.; PEDREIRA, A. C. G.; SILVA, A. C. M. A.; AQUINO, A. M.; MOREIRA, A. G.; SANTOS, C. H. E. S.; SILVA, G. L. L.; VIEIRA, L. B.; SANTOS, L. N. R.; CORNACINI, M. R.; NEVES, R. O.; RIVAS, S. R.; SILVA, V. L. Um monge no jardim. Genética na Escola, São Paulo, v. 18, nº 1, p. 71-79, 2023. Doi: 10.55838/1980-3540.ge.2023.485.

MASSARANI, L.; ALMEIDA, C. Arte e ciência no palco. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, p. 233-246, 2006. Suplemento. Acesso em: 25 nov. 2023.

MOREIRA, L. M.; MARANDINO, M. O teatro em museus e centros de ciências no Brasil. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22, p. 1.735-1.748, 2015. Suplemento.

PEIXOTO, C. S.; PEIXOTO, C. S.; LOUREIRO, L. C. Prática teatral para a educação das crianças: algumas contribuições pedagógicas. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 34, 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/34/pratica-teatral-para-a-educacao-das-criancas-r-algumas-contribuicoes-pedagogicas. Acesso em: 25 nov. 2023.

Agradecimentos

Agradecemos a todas as escolas e eventos que receberam apresentações de nossas peças e possibilitaram a realização desse trabalho; ao apoio estrutural do Instituto de Biociências de Botucatu e da Agência de Divulgação Científica e Comunicação (AgDC) do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista. Somos gratos ainda a: Rafaela Hemily Cirilo e Marcelo Luiz da Silva Camillo pela ajuda na elaboração do passo a passo; professora doutora Adriane Pinto Wasko, pelo incentivo à realização do Bando de Teatro Científico Siriema; Luiz Renato Ezias Grassi, pela gravação da peça e a Henrique Orsi, pelas fotografias; e aos membros do grupo que participaram da gravação do vídeo: Francisco José de Moraes Bassetto, Iranildo do Amarante Fernandes, Laura Beatriz Borim da Silva, Yasmin Cibeli Simão Souza e Henrique Orsi.

Publicado em 30 de abril de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Gabriela Larissa Lima da; MULLER, Kevin Silva; OLIVEIRA, Vinicius; SANTOS JUNIOR, Orlando Barbosa dos; BASSETO, Alex Borgato; PEDREIRA, Ana Carolina Guedes; SILVA, Débora Gomes da; MOREIRA, Arthur Gasparindo; FERNANDES, Guilherme Augusto; NISHIDA, Silvia Mitiko. Popularizando a evolução e o meio ambiente através do teatro: um passo a passo para reproduzir a peça “O cantarolar de Darwin”. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 15, 30 de abril de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/15/popularizando-a-evolucao-e-o-meio-ambiente-atraves-do-teatro-um-passo-a-passo-para-reproduzir-a-peca-ro-cantarolar-de-darwinr

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