Ciências e Artes: Educação Ambiental e interdisciplinaridade na Educação Infantil

Edilene Maria de Lima

Mestre em Ciências da Educação (Veni Creator Christian University)

Flávio Carreiro de Santana

Doutor em História (Universidade de Coimbra)

Kencia Lasalvia Farias

Mestranda em Ciências da Educação (Veni Creator Christian University)

O objetivo deste artigo é trazer reflexões a respeito da contribuição da interdisciplinaridade para a educação ambiental na Educação Infantil. A Ciência e a Arte são campos de estudos presentes na humanidade há séculos, acompanhando a evolução de nossa sociedade. Veremos que a união dessas disciplinas há muito se completa, auxiliando o homem a compreender o mundo ao seu redor.

O tema da interdisciplinaridade, debatido entre pesquisadores e educadores na atualidade, nos traz a possibilidade de integrar diferentes disciplinas com um objetivo em comum. Essa nova maneira de ensinar pode inovar e facilitar o ensino-aprendizado dos alunos que aprenderão dentro de um contexto não mais de forma separada.

Então, usando a integração das disciplinas de Ciência e Arte e cada uma delas colaborando para a educação ambiental de crianças, esperamos contribuir com conceitos e reflexões de pesquisadores das áreas envolvidas.

Ciências

Para Pedro Meneses, professor de Filosofia e mestre em Ciências da Educação (Menezes, 2023),

a ciência é um modo de conhecer fundamentado em um método, o método científico. O método é o modo de funcionamento das ciências, é fundamentado na observação, na experimentação e na produção de teorias e leis.

Para Chalmers (1993, p. 18),

conhecimento científico é conhecimento provado. As teorias científicas são derivadas de maneira rigorosa da obtenção dos dados da experiência adquiridos por observação e experimento. A ciência é baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não têm lugar na ciência. A ciência é objetiva. O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente.

A educação chegou ao Brasil com os jesuítas no intuito de catequizar e alfabetizar. Naquele momento, a Ciência era tida como elementar, mas já havia algumas iniciativas a esse respeito fora da escola, como a criação da Sociedade Científica do Lavradio, em 1772, com a abertura para o público das exposições do Museu Real, em 1821 (Silva-Batista, 2019).

Décadas se passaram e apenas no ano de "1837, o conteúdo de Ciências foi incluído no currículo do ensino secundário (atual 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental) do Colégio Pedro II que provavelmente seguia a pedagogia tradicionalista" (Bueno et al., 2012, p. 441-442). Em 1950, o ensino da Ciência se firmou no Brasil. Depois de mudanças por meio de instrumento jurídico, tivemos a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional aprovada em 1996, Lei nº 9.394, e, no ano seguinte, foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais. Esses dois documentos instruíam a escola no papel de formar alunos capazes de exercer plenamente seus direitos e deveres na atual sociedade. Assim, os conteúdos devem ser trabalhados de maneira interdisciplinar, indicando a efetiva inclusão das temáticas Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) no currículo (Brasil, 1996). Nesse período, também surgiram iniciativas reflexivas de formação inicial e continuada para professores de Ciências, com enfoque nessas novas políticas educacionais (Nascimento et al., 2010).

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) é uma prova aplicada no mundo todo e a cada três anos, em estudantes com 15 anos de idade. Os últimos resultados foram divulgados em outubro de 2022 e demonstraram que o Brasil ficou abaixo de 65 países.

Até o presente momento, ainda não foram divulgadas a notas médias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No entanto, a nota de Ciências Naturais do Enem de 2021 foi a menor dentre as disciplinas avaliadas (INEP, 2022).

Podemos observar que os alunos brasileiros não estão devidamente preparados no conhecimento das Ciências. Essa dificuldade pode refletir no índice de desenvolvimento do país, quando consideramos que o seu estudo é de fundamental importância para o avanço tecnológico do país.

De um lado, há a má preparação dos professores para a aplicação da disciplina, levando ao desinteresse dos alunos:

estudos que avaliam os processos de ensino-aprendizagem de ciências na escola fundamental indicam que os professores em geral, não gostam ou dedicam pouco tempo ao ensino dos fundamentos da ciência em razão da má formação da área e, até mesmo, pela ausência de propostas curriculares preocupadas em divulgar uma visão de ciência que venha comprometer e envolver o professorado com as questões sociais e políticas na produção de conhecimento (Gouvêa, Leal, 2003, p. 222).

Do outro lado, há a importância de uma boa formação em Ciências para o desenvolvimento de cidadãos conscientes da implicação de suas decisões dentro da sociedade. Conforme Praia (apud Delizoicov, 2011),

para que um país esteja em condições de atender as necessidades fundamentais de sua população, o ensino de ciências e tecnologia é um imperativo estratégico [...]. Hoje, mais do que nunca, é necessário fomentar e difundir a educação científica em todas as culturas e em todos os setores da sociedade [...] a fim de melhorar a participação de cidadãos na adoção de decisões relativas à aplicação de novos conhecimentos.

Os PCN argumentam acerca da importância do ensino das Ciências nos primeiros anos da criança:

mostrar a ciência como um conhecimento que colabora para compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduos, é a meta que se propões para o ensino da área na escola fundamental. A apropriação de seus conceitos e procedimentos pode contribuir para o questionamento do que se vê e ouve, para a ampliação das explicações acerca dos fenômenos da natureza, para a compreensão e valorização dos modos de intervir na natureza e de utilizar seus recursos tecnológicos que realizam essas mediações, para reflexão sobre as questões éticas implícitas nas relações entre ciências, sociedade e tecnologia (Brasil, 2000, p. 24).

Diante dos comentos, entendemos a importância da Ciência nos primeiros anos da Educação Infantil, pois permite a familiarização do conteúdo com o cotidiano da criança, para que ela crie conexões que serão impressas em suas memórias, levando os conceitos para uma vida toda.

A ciência colabora com a formação de adultos conscientes de seu papel no mundo, que compreendem as mudanças que o planeta está passando e podem contribuir para a valorização da relação do ser humano com a natureza.

Artes

A disciplina de Artes passou a fazer parte do currículo escolar a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, em seu Art. 22, §2º: "o ensino de Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos".

A Arte desperta a criatividade das pessoas, oferecendo ferramentas para que possam se expressar das mais diversas maneiras. A Arte facilita a interação com o meio no qual o indivíduo está inserido, permitindo que ele se utilize de suas experiências e de seus conhecimentos. É uma ferramenta muito importante dentro da sala de aula, auxiliando na comunicação e na representação do lugar onde os alunos vivem. Para Ferraz e Fusari (2009, p. 18),

é fundamental entender que a arte se constitui de modos específicos de manifestação da atividade criativa dos seres humanos, ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se reconhecerem, e ao conhecê-lo. Em outras palavras, o valor da arte está em ser um meio pelo qual as pessoas expressam, representam e comunicam conhecimentos e experiências. A atividade de desenhar para as crianças, por exemplo, é muito importante, pois favorece a sua expressão e representação do mundo.

Por meio da Arte estimulamos os alunos a trabalharem sua imaginação, seja por meio do desenho, da música, do teatro ou da dança, os educandos produzem, representam e se expressam, conforme seu próprio repertório. Dessa maneira, se reconhecem e passam a entender o outro e o contexto no qual estão inseridos, desenvolvendo um raciocínio crítico e construtor. Ainda acompanhando as ideias de Ferraz e Fusari (2009, p. 57),

ao fazer e perceber a arte como autonomia e criticidade, ao desenvolvimento do senso estético e à interação dos indivíduos no ambiente social/tecnológico/cultural, preparando-os para um mundo em transformação e para serem sujeitos no processo histórico.

A Arte pode preparar as crianças para um novo contexto mundial tecnológico, trabalhando conceitos importantes para o seu desenvolvimento social, como: ética, respeito e resiliência. Aqui, não afirmamos que a tecnologia é algo negativo, pois ela trouxe vários benefícios para nossa vida. No entanto, precisamos aprender a conviver com as facilidades sem desrespeitar a natureza e/ou o direito do próximo.

Devemos educar as crianças para que sejam autores conscientes dentro da sociedade, educandos que saibam argumentar e defender não somente os seus valores, mas a sua cultura, o meio ambiente e a comunidade onde vivem. Essas crianças serão adultos que mudarão o mundo e compreenderão melhor a importância de conviver de forma inteligente e consciente com a natureza, sabendo usufruir dela, sem a destruir. 

A escola tem papel fundamental nessa construção. Também é importante o Estado. Ele deve ser consciente desse papel na formação de cidadãos que vão contribuir para um mundo melhor. Vejamos o que diz Arouca (2012, p. 19) a respeito do contexto escolar:

é fundamental abrir espaço dentro do contexto escolar, para que diferentes formas de expressão e aprendizagens sejam respeitadas e valorizadas por seu significado no processo de assimilação cultural e de construção do indivíduo na sociedade.

A Arte é uma forma de ensinar consciência social por meio do lúdico na construção de um futuro promissor para o planeta.

Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade se originou na Europa, mais precisamente na França e na Itália, na década de 1960. Esse foi um momento marcado por movimentos estudantis que reivindicavam um ensino que abordasse questões sociais, políticas e econômicas da época. Considerando que os problemas traziam grandes desafios à sociedade e que não eram difíceis de serem solucionados, nasce a proposta interdisciplinar. No final daquela década, a interdisciplinaridade chegou ao Brasil e influenciou na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases, n° 5.692/71. Assim, o conceito esteve presente na educação do país, tanto na nova LDB, n° 9.394/96, como nos PCN (Fazenda, 1994).

O mundo tem passado por mudanças revolucionárias na área tecnológica, por isso precisamos de concepções inovadoras que contribuam com o aprendizado de uma nova geração de alunos, nascidos na era digital, onde a internet torna mais fácil o acesso aos mais diversos conteúdos.

Fazer da sala de aula um local no qual os alunos possam interagir, se motivar e trocar ideias, tem sido um desafio para escolas e professores. Conceitos como a interdisciplinaridade que busca realizar a contribuição de áreas de conhecimentos diversos para um fim em comum pode ser uma boa forma de ampliar o conhecimento dos alunos e fazer com que se tornem parte do processo.

Os professores precisam ter coragem de se lançarem nesse novo universo. Para Fazenda (2008, p. 94), o processo interdisciplinar é visto "como atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento". Uma nova forma de pensar e de desenvolver o conhecimento, quando considerando que o profissional de educação deve trabalhar em equipe, com pessoas de diversas áreas do conhecimento, colaborando para um fim especifico.

Podemos dizer que reconhecemos um empreendimento interdisciplinar todas as vezes em que ele consegue incorporar os resultados de várias especialidades e tomar de empréstimo de outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodológicas (Thiesen, 2008). Para os PCN:

a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários (Brasil, 2002, p. 88-89). 

Sendo assim, com o objetivo de resolvermos e/ou conhecermos um fim comum, a interdisciplinaridade pode promover um rico caminho educacional, fazendo com que os professores construam um processo diversificado de informações, integrado com as mais diversas áreas.

Além de aprendermos o uso de variados conhecimentos para a solução de um determinado problema, destacamos o trabalho em equipe, a integração entre as pessoas, a troca de ideias e a construção de uma relação de cooperação entre os envolvidos.

Podemos enxergar a interdisciplinaridade como uma ação para ampliar o processo disciplinar, promovendo a ação das atividades docentes de forma coordenada e encaminhada para um objetivo determinado.

Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida (Fazenda, 1994, p. 82).

Como toda inovação, a interdisciplinaridade é vista como um desafio na prática educativa. No entanto, o resultado de sua aplicação vem enriquecer o processo do aprendizado, bem como os resultados por ela obtidos, a partir da colaboração entre os vários conhecimentos.

Educação Ambiental e questões ambientais contemporâneas

A tecnologia nos trouxe outra forma de olhar o mundo. A humanidade evoluiu e a sociedade, na ânsia de realizar seus desejos consumistas, requer cada vez mais da natureza, mas seus recursos são limitados e não conseguem se reconstruir em tempo hábil para atender a um consumo desenfreado, sem limites, sem ética e sem qualquer preocupação com o futuro.

Atualmente, temos vários problemas ambientais que ameaçam a vida humana na terra. Podemos citar alguns, como: a produção de energia e armas nucleares, o desmatamento, a poluição dos rios e mares, as queimadas, a extinção de animais, o descarte incorreto de resíduos sólidos, entre outros.

Para Tiezze (apud Noal, 2005, p. 86),

um organismo que consome seus meios de subsistência mais rápido do que o ambiente os produz não tem possibilidade de sobreviver, escolheu um galho morto na árvore da evolução, escolheu a mesma rota que já foi percorrida pelos dinossauros.

Podemos observar as catástrofes que vêm acontecendo em todo o mundo, o volume de chuvas jamais visto, terremotos, seca e queimadas que devastam o habitat do homem, produzindo verdadeiras tragédias anunciadas nos noticiários. O desequilíbrio da natureza causa um caos que está, a cada dia, mais presente na nossa realidade.

Se a humanidade não mudar de postura perante a preservação ambiental, investindo no desenvolvimento ético e responsável da tecnologia e da economia, a terra sofrerá danos irreparáveis e perdas que podem levar à extinção do próprio ser humano. A educação pode ser a solução para os problemas da humanidade.

Para Polli e Signorini (apud Grzebieluka, 2014, p. 3.884),

a Educação Ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre as problemáticas ambientais, compreendendo-se a capacidade de captar a gênese, a evolução, e os processos de reversão de tais danos ao meio ambiente.

A Educação Ambiental tem por objetivo formar cidadãos conscientes de seu dever e de sua responsabilidade em cuidar da natureza, estabelecendo uma relação ética com o meio ambiente, desenvolvendo a capacidade de criar mecanismos que ajudem nos reparos do que já foi destruído e na consciência para não deixar o processo destrutivo se repetir.

A Educação Ambiental na tenra idade pode desenvolver a empatia da criança pelo meio em que vive. A ciência pode auxiliar, esclarecendo os efeitos nocivos da ação humana sobre o meio ambiente e, apelando para o lado lúdico da criança, as mensagens podem ser introduzidas, repassadas e representadas por meio da Arte.

Sendo assim, por meio da interdisciplinaridade entre diferentes campos de estudo, a educação pode construir na criança a consciência ambiental que nos falta atualmente, inserindo no seu cotidiano pequenas ações, como não jogar papel no chão até a absorção do conceito de consumo consciente.

Arte e Ciência auxiliando a Educação Ambiental

A Lei n° 9.795/99 conceitua Educação Ambiental:

Art. 1º: Entenda-se por Educação Ambiental o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a preservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Para Marcatto (2002, p. 14), Educação Ambiental é um processo com o objetivo de

desenvolver uma população que seja consciente e bastante preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para prevenção dos novos.

Podemos observar que os conceitos nos levam a pensar numa educação continuada que desperte nas pessoas a consciência da importância de todos ajudarem na preservação do meio ambiente.

Consultando o portal do Ministério da Educação (Brasil, 2023), encontramos o histórico da Educação Ambiental. Assim, faremos um breve relato para observar como o conceito começou a fazer parte da educação escolar brasileira.

Em 1972, houve a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente em Estocolmo, na Suécia. Lá, foram discutidas medidas e observados princípios a serem aplicados para a conservação do meio ambiente, inclusive questões relacionadas à capacitação de professores e ao desenvolvimento de métodos de ensino na área. Vários países fizeram parte dessa reunião, inclusive o Brasil. Em 1975, a Unesco promoveu o Encontro Internacional em Educação Ambiental, criando o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), com os seguintes princípios: a educação ambiental deve ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada aos interesses nacionais.

Na década de 1980, o Ministério da Educação, por meio do Parecer nº 819/85, reforçou a necessidade de incluir conteúdos ecológicos no ensino de 1º e 2º graus, integrando-os a todas as áreas do conhecimento de forma sistematizada e progressiva. A Constituição Federal (1988), em seu Art. 225, afirma:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Na década de 1990, houve a Eco 92, conferência realizada no Rio de Janeiro com a presença de 170 países. Nela, foi elaborado o tratado "Educação Ambiental para as sociedades sustentáveis". A partir dessa conferência, os Ministérios do Meio Ambiente, da Educação, da Cultura e da Ciência e Tecnologia, em 1992, instituíram o Programa Nacional de Educação Ambiental no Brasil (Pronea). Em 1997, o MEC elaborou um plano de ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), no qual o meio ambiente foi inserido como assunto transversal para o Ensino Fundamental brasileiro.

O reconhecimento da importância e da necessidade da Educação Ambiental no país foi coroado com a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que definiu a Educação Ambiental, conforme já mencionado neste estudo, trazendo em seu Art. 2º:

A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Após transcorrer as leis, os conceitos e as reflexões neste artigo, podemos observar a importância da interdisciplinaridade para o desenvolvimento e a apreensão da educação ambiental no âmbito da Educação Infantil. Aliar disciplinas distintas, trazendo formas diversas de explicar os processos naturais do mundo no qual vivemos é uma forma de apresentar um novo processo de aprendizado.

Esse processo facilita a abordagem do docente de sua disciplina, dentro de um contexto mundial cada vez mais complexo e interligado. As Ciências e as Linguagens se conectam para construir processos híbridos, nos quais um conhecimento completa o outro, facilitando a aprendizagem do aluno.

A necessidade de interligar conhecimentos é fundamental para Moran (2011, p. 52), pois,

ao argumentar sobre a urgência da formação interdisciplinar, destaca uma situação contraditória vivida: a percepção dessa necessidade, e a dificuldade da transformação curricular das instituições. Dados os diversos vocabulários das disciplinas não integradas, é previsível que as interações homem-ambiente pareçam extremamente complicadas. Isso é agravado pelo sentimento de urgência dos pesquisadores, estudantes, políticos e profissionais que manejam a terra em relação ao estado do nosso planeta, que requer ação imediata, e pela sensação de que nosso entendimento está muito atrasado no tocante aos processos envolvidos. Se nosso monitoramento coletivo e nosso entendimento das interações homem-ambiente continuarem ficando aquém dessas mudanças, como a humanidade poderá mitigar quaisquer consequências negativas e tentar prevenir problemas futuros?

Quanto mais cedo despertarmos na criança a necessidade de preservação ambiental, mais rápido teremos um feedback na construção de um novo futuro.

A Arte e a Ciência são searas de estudos que acompanham a humanidade durante todo o seu trajeto evolutivo. Podemos recordar o grande movimento renascentista, entre a Idade Média e Moderna que revolucionou as Ciências, as Artes e a cultura (Sousa, 2023).

Um grande representante desse movimento foi Leonardo da Vinci. Para Ferreira (apud Cachapuz, 2014, p. 98), "ele foi criador na Arte, descobridor na Ciência e inventor na Tecnologia, de forma que uma não poderia ser entendida sem a outra". Obras artísticas, como a Mona Lisa e o Homem Vitruviano representam a Ciência nas suas proporções milimetricamente construídas com base nos estudos científicos do autor de Anatomia, Física e Química (Cachapuz, 2014).

Observamos que Leonardo da Vinci já se cercava de conhecimentos diversos para entender o mundo ao seu redor e representava seu conhecimento científico por meio de suas obras de arte, utilizando conceitos de Anatomia, Matemática, Física e campos diversos que deixavam suas peças admiravelmente realistas.

Podemos ainda observar a parceria da Ciência e da Arte nas pinturas translucidas dos vitrais das catedrais góticas. A fotografia, que se origina de um efeito químico, pela sensibilidade à luz dos halogenetos de prata, das ligas metálicas – que ostentam a beleza das joias ou nos permite disfrutar as esculturas – ou do arrojo e da harmonia das grandes obras arquitetônicas. O uso da Matemática se faz pela Geometria que revolucionou a pintura. Como exemplo, temos o pintor holandês Peter Saenredam (1597-1655), do século XVII. Ele focou suas obras nos interiores das igrejas e transformou uma representação limitada de interiores numa arte geométrica de contemplação (Cachapuz, 2014).

Diante da exposição dos fatos, observamos que a parceria entre Arte e Ciência pode ser levada à sala de aula para a construção de conceitos de educação ambiental junto às crianças do Ensino Infantil, aliando o método cientifico comprovado com o lúdico mundo da criança, por meio da Arte.

Revendo os conceitos de Ciência constantes neste artigo, podemos ressaltar que a disciplina traz a oportunidade de o aluno ver, tocar, experimentar e conhecer os processos que envolvem tanto a degradação, como a preservação do meio ambiente, demonstrando situações do nosso cotidiano.

Enquanto isso, a Arte pode auxiliar na fixação desse aprendizado, bem como na sua representação, sendo usada como uma maneira de expressão dos alunos no momento da exposição de suas ideias, conceitos e opiniões acerca da temática ambiental.

Sentir, perceber, fantasiar, imaginar, representar, faz parte do universo infantil e acompanham o ser humano por toda a vida. Consequentemente, ao compreender e encaminhar os cursos de Artes para o desenvolvimento dos processos de percepção e imaginação da criança ajudará na melhoria de sua expressão e participação na ambiência cultural em que vive (Ferraz; Fusari, 2009, p. 87).

Os alunos poderão construir seus próprios valores e criar empatia pelo engajamento na luta contra a deterioração ambiental no qual o país, o planeta está se afundando. Esse conhecimento adquirido será levado para dentro de suas casas, sua família, seu bairro, sua comunidade. E a educação ambiental poderá fazer parte do cotidiano da sociedade, trazendo melhorias reais para o futuro da humanidade.

Ainda há muito a ser discutido, pois a Arte e a Ciência são disciplinas abrangentes. A educação ambiental é um tema complexo e delicado em nosso contexto atual. No entanto, quanto mais cedo despertamos para o valor da interdisciplinaridade na solução dos problemas ambientais que ameaçam o nosso futuro, mas chances temos de salvar o nosso planeta. Isso se faz com educação de base, a partir da qual se constrói o ser social consciente de suas responsabilidades perante a casa mãe que nos acolhe.

Considerações finais

Existe um caminho árduo para fazermos da interdisciplinaridade um conceito naturalmente aplicado nas escolas brasileiras. Acreditamos que o primeiro passo já tenha sido dado, pois já encontramos um bom número de pesquisadores trabalhando com novos conceitos, ideias e reflexões a respeito do tema, considerando-se a bibliografia encontrada e utilizada nesta breve pesquisa.

O campo de estudos é vasto, mas requer empenho de professores e pesquisadores para trazerem ao dia a dia do alunado ferramentas que desenvolvam a interdisciplinaridade de forma natural.

A integração entre Ciência e Artes no desenvolvimento da Educação Ambiental de crianças é um processo que pode enriquecer o aprendizado, trazendo inovação, motivação e engajamento entre professores e alunos.

A proposta está aberta à contribuição de outros tantos pesquisadores que acreditam na forma interdisciplinar de ensinar, enriquecendo os caminhos da educação.

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Publicado em 07 de maio de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

LIMA, Edilene Maria de; SANTANA, Flávio Carreiro de; FARIAS, Kencia Lasalvia. Ciências e Artes: Educação Ambiental e interdisciplinaridade na Educação Infantil. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 16, 7 de maio de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/15/ciencias-e-artes-educacao-ambiental-e-interdisciplinaridade-na-educacao-infantil

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