A aprendizagem estimulada pela Música - reflexões e propostas para o Ensino Fundamental

Kaline Rodrigues Barroso

Professora na rede estadual de Roraima, licenciada em Pedagogia (UERR) e em Teatro (Famosp), pós-graduada em Ciência da Educação (FAP), em Ensino de Dança, Música e Teatro (Unibf), em Educação Musical e Ensino da Arte (Facprisma) e em Regência de Coral com Capacitação para Docência (Facprisma), mestre em Ciência da Educação (Unades)

A música tem desempenhado papel significativo na história da humanidade, sendo reconhecida como uma expressão cultural, forma de comunicação ou ferramenta de educação, ao longo dos séculos. Dessa forma, a música tem sido valorizada como uma forma de alcançar a perfeição e de educar a mente, assim como observado na Grécia antiga, onde o canto era considerado essencial para a civilização e a educação dos cidadãos.

Desse modo, a música esteve intrinsecamente ligada às práticas religiosas, educacionais e culturais. Na Idade Média, a Igreja Católica reconheceu o poder da música para os fiéis, na propagação de sua mensagem. No contexto brasileiro, os jesuítas introduziram a música na educação religiosa dos povos originários durante o período colonial, utilizando-a como meio de catequese.

Contudo, apesar de sua importância cultural e educacional, a educação musical enfrentou desafios ao longo do tempo, especialmente no Brasil. A falta de sistematização do ensino de música nas escolas de Ensino Fundamental e o desconhecimento de seu valor como disciplina, contribuíram para a sua ausência nos currículos escolares.

A legislação brasileira tem passado por mudanças significativas no sentido de incluir a música como disciplina obrigatória nas escolas, reconhecendo seu potencial ao desenvolvimento integral dos alunos. No entanto, a implementação efetiva da educação musical ainda é um desafio, dada a escassez de professores qualificados e a falta de recursos adequados nas instituições de ensino.

Diante desse contexto, este estudo propõe reflexões e sugestões para estimular a aprendizagem musical no Fundamental, explorando o seu papel no desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos alunos, bem como as práticas pedagógicas e as estratégias de ensino que podem ser adotadas para integrar a música, de forma eficaz, no currículo escolar. Por meio de uma abordagem interdisciplinar e criativa, a música pode se tornar uma poderosa aliada no processo de ensino-aprendizagem, enriquecendo a experiência educacional e preparando os alunos para uma vida de aprendizado, criatividade e bem-estar.

Metodologia

O presente trabalho traz uma pesquisa de natureza qualitativa que se utiliza da análise da literatura de diversos autores e obras a fim de obter informações que possam contribuir para as conclusões apresentadas aqui. Trata-se de uma análise do papel da música como instrumento pedagógico, particularmente na forma como é empregada no Ensino Fundamental, considerada como uma ferramenta metodológica facilitadora da ampliação da aprendizagem.

Objetivo geral

Este trabalho tem os seguintes objetivos: investigar e discutir o papel da música no Ensino Fundamental, fornecendo reflexões teóricas e propostas práticas para estimular a aprendizagem. Além disso, visa também:

  1. Analisar o impacto da música no desenvolvimento humano, relacionando-o à prática musical;
  2. Examinar a situação atual da educação musical no Brasil, destacando desafios, avanços e perspectivas;
  3. Discutir o papel do educador musical;
  4. Explorar estratégias e propostas para a utilização da música;
  5. Propor caminhos para aperfeiçoar a implementação da música no currículo escolar do Ensino Fundamental.

A Música e o ser humano

Para Franco e Ament (2017, p. 107-108), a música “não só deve ser apreciada como um modo de entretenimento em seus contextos estéticos e emocionais, mas principalmente deve ser utilizada como ferramenta fundamental no pleno desenvolvimento educacional do ser humano”. Eles apontam que

a música, de modo interativo, se relaciona nos campos intelectual, emocional, afetivo e no âmbito motor. No contexto intelectual, justifica-se em função da nossa percepção musical estética e estrutural, pois é necessário que ocorram processos intelectuais de raciocínio e decodificação; no campo afetivo psíquico, pelo fato de que a música mexe com nosso tempo e espaço; e, no âmbito motor, porque a música é intrínseca aos movimentos, seja para quem ouve, seja para quem toca.

No que tange à neurociência, embora ainda seja uma área de estudo que pode ser entendida como recente, há investigações em torno dos efeitos da música no cérebro humano, efeitos em pessoas que estão ou não expostas à aprendizagem musical, ao ouvir e ao fazer música, ao tocar, ao expressar-se por meio dela ou ao compor sons.

Ainda que os resultados não possam ser considerados como absolutamente conclusivos, Franco e Ament (2017) afirmam que “o processamento cerebral relacionado com a música é intenso e magnífico”. As novas descobertas nesse campo têm demonstrado que há milhares de neurônios atrelados a esse universo e em muitas partes distintas do cérebro.

De acordo com Miranda (2013), “a música desencadeia diferentes tipos de emoções ou de estados emocionais, tema amplamente discutido em muitas áreas de conhecimento, como a própria neurociência, a psicologia, a fisiologia, a psicanálise, a filosofia, entre outras”. A música, nesse sentido, tende a possibilitar que algumas emoções específicas sejam evocadas por meio dos intervalos melódicos, da harmonia escolhida, dos registros agudos ou graves, do andamento, do tempo, das dissonâncias e consonâncias. Todos esses fatores são capazes de provocar emoções específicas e comuns a todas as pessoas, ainda que uma mesma música também possa estimular emoções diferentes em pessoas diferentes, o que poderia significar (como em estudo pelos especialistas da neurociência) que a emoção provocada pela música pode estar associada às vivências anteriores de cada sujeito ou, até mesmo, ao seu contexto social e cultural.

A música pode, ainda, apontar para elementos de padronização sintática e pode se tornar fundamental na memorização de fatores linguísticos. Pereira (2007) afirma que “crianças que aprendem utilizando músicas possuem um vocabulário 30% mais rico, além de melhor associação de ritmo de fala, e associação de sons, grafias e significados, atuando, ademais, sobre a memória de longo prazo”.

Buscando amparo na neurociência, Miranda (2013, p. 32) aborda a música em diferentes aspectos e benefícios para o desenvolvimento humano, incluindo as interações e os comportamentos:

foi possível constatar que a música exerce um papel fundamental nas emoções humanas com a capacidade de despertar estados emotivos, resgatar memórias, instigar um desenvolvimento intelectual para a compreensão de algumas peças, a aquisição de uma maior consciência e inteligência emocional, melhoras significativas da autoestima, aprimoramento dos pensamentos criativos, além de ajudar a desenvolver um maior raciocínio lógico e refinar a disciplina e hábitos de estudo.

Partindo dessa ótica da neurociência, deve-se ressaltar que a música tem um papel fundamental em diversas áreas cerebrais, oferecendo aporte ao comportamento, à sensibilidade, à aprendizagem, à inteligência, ao sistema imunológico e a outros fatores, pois desenvolve regiões cerebrais não exercitadas pelas pessoas.

A situação da Educação Musical no Brasil

Há muitas décadas, a Educação Musical se encontra praticamente ausente das escolas brasileiras. É possível que a principal causa da ausência nos currículos, tenha sido a sua perda de identidade. Para Loureiro (2001, p. 109), um dos motivos é “a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante do currículo escolar”.

Nota-se que se trata de um processo complexo, pois para garantir a implementação nas unidades de ensino é necessário reconhecê-la como disciplina escolar.

A educação, bem compreendida, não é apenas uma preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades do ser humano (Willems, 1970).

A Lei de Diretrizes e Bases (1996) trouxe Arte como disciplina curricular obrigatória para todos os níveis da Educação, porém deixou livre a escolha da área a ser trabalhada em sala de aula. “Desse modo, como os professores com formação específica em Música são minoria, ao contrário do que poderia parecer, o ensino da Música mais uma vez foi prejudicado” (Fonterrada, 2005, p. 192).

A Lei n° 11.769, publicada no Diário Oficial da União de 19 de agosto de 2008, alterou a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, instituindo a obrigatoriedade do ensino de Música nas escolas brasileiras. Com essa lei de 2008, a música passou a “ser um conteúdo obrigatório (mas não exclusivo) dentro do componente curricular Arte”.

De certa forma, as práticas musicais que hoje são vistas nas escolas foram determinadas e influenciadas pela imposição de leis federais e estaduais.

A influência da Educação Musical no desenvolvimento de competências

O período da primeira etapa da educação é marcado por novidades e trocas de experiências. Nesse contexto, a introdução do ensino de música nas instituições educacionais oferecia oportunidades de diversão e um aprendizado completo. Conforme afirma Loureiro (2003, p. 11), a “Educação Musical tem uma função socializadora e vem contribuir no desenvolvimento e na formação integral do indivíduo”.

Seguindo a mesma vertente de pensamento, Leonardo (2010, p. 69) revela que “a Educação Musical é disciplina central das emoções, pois com ela a criança desenvolve em pleno as suas capacidades de expressão aliadas às suas capacidades cognitivas”.

Assim, o ensino da música pode estimular o desenvolvimento cognitivo, as habilidades e as competências que contribuem para o progresso da criança, muitas vezes de maneira não explícita.

As crianças, de maneira geral, expressam as emoções mais facilmente pela música do que pelas palavras. Neste sentido, o estudo da música pode ser uma ferramenta única para ampliação do desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, incluindo aquelas com transtornos ou disfunções do neurodesenvolvimento como o déficit de atenção e a dislexia (Muszkat, 2010, p. 68).

Ao participar de atividades musicais, as crianças aprendem a expressar e regular suas emoções, desenvolvendo habilidades de empatia, autoconsciência e controle emocional. Por outro lado, ao tocar instrumentos musicais, os estudantes desenvolvem habilidades motoras que podem ser transferidas para outras atividades físicas e tarefas do dia a dia.

É notório que os benefícios cognitivos e socioemocionais associados à prática musical podem se estender para além do domínio da música, influenciando positivamente o desempenho em outras disciplinas escolares.

Assim, os professores de Arte precisam explorar materiais pedagógicos variados, adaptando suas abordagens para promover o desenvolvimento dos alunos, o que será benéfico à sua vida no ambiente escolar e fora dela.

Os benefícios da musicalidade na Educação Fundamental

A musicalidade na Educação Infantil desempenha papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças, proporcionando uma série de benefícios que vão além do simples entretenimento. Com atividades musicais, as crianças exploram e expressam suas emoções, desenvolvem habilidades cognitivas, sociais, emocionais e motoras, construindo uma relação positiva com a arte e a cultura desde cedo.

A música é uma linguagem universal que permite às crianças se expressarem de maneira criativa e espontânea. Desde o nascimento, os bebês respondem ao ritmo e aos sons ao seu redor. À medida que crescem, desenvolvem uma compreensão cada vez mais complexa dos elementos musicais, como melodia, harmonia, ritmo e timbre. No canto, na dança e na exploração de instrumentos musicais simples, as crianças têm a oportunidade de experimentar e criar diferentes sonoridades, estimulando a sua imaginação e a sua capacidade de expressão.

A música, na Educação Infantil, mantém forte ligação com o brincar. Em algumas línguas, como no inglês (to play) e no francês (jouer), por exemplo, usa-se o mesmo verbo para indicar tanto as ações de brincar quanto as de tocar música. Em todas as culturas as crianças brincam com a música. Jogos e brinquedos musicais são transmitidos por tradição oral, persistindo nas sociedades urbanas nas quais a força da cultura de massas é muito intensa, pois é fonte de vivências e desenvolvimento expressivo musical (Brasil, 1998, p. 71)

Além disso, a música na Educação Infantil contribui para o desenvolvimento social e emocional das crianças. Cantar em grupo, tocar instrumentos musicais juntos e participar de atividades de dança, são propostas que promovem o trabalho em equipe, a cooperação e a empatia. A música também é uma poderosa ferramenta para ajudar na regulação das emoções, na expressão dos sentimentos complexos e no desenvolvimento de habilidades de autocontrole. Por meio da música, as crianças aprendem a compartilhar, a respeitar os outros e a valorizar a diversidade cultural.

A musicalidade na Educação Infantil também tem benefícios físicos. Dançar e se movimentar ao som da música ajuda no desenvolvimento da coordenação motora, da força muscular e do equilíbrio das crianças. Além disso, a música pode ser uma fonte de prazer e bem-estar, ajudando as crianças a relaxarem, a aliviarem o estresse e a se conectarem com seus corpos de forma positiva.

Em resumo, os benefícios da musicalidade na Educação Infantil são inúmeros e abrangentes. Ao integrar a música, de forma criativa e significativa, ao ambiente escolar, os educadores oferecem uma experiência rica e estimulante que contribui para o desenvolvimento integral do indivíduo, preparando o caminho para uma vida de aprendizado, criatividade e bem-estar.

O fazer musical na escola de Ensino Fundamental

A música é uma forma de arte universal que transcende barreiras culturais e linguísticas, permitindo que os alunos se envolvam de maneira significativa com a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal.

É importante reconhecer que o fazer musical na escola não se resume apenas a aprender a tocar um instrumento ou a cantar uma canção. Envolve uma variedade de atividades, desde a exploração de sons e ritmos até a composição e a improvisação. Os alunos têm a oportunidade de experimentar diferentes instrumentos musicais e explorar sua própria voz, desenvolvendo assim uma compreensão mais profunda desses elementos e de suas próprias habilidades e preferências. Como afirmam Cunha e Gomes (2012, p. 18), “a aula de Música no contexto escolar vai além da aprendizagem técnica e instrumental, nem tampouco se restringe a atividades passatempo”.

Outro aspecto importante do fazer musical na escola é sua capacidade de promover a inclusão e a diversidade. A música é uma forma de expressão que pode ser apreciada por pessoas de todas as origens e habilidades. O fazer musical na escola dá a oportunidade de celebrar e valorizar a diversidade cultural e musical dos alunos, pois ao explorar diferentes estilos musicais e tradições culturais os alunos desenvolvem uma compreensão mais profunda da riqueza da herança musical global.

Aprender teoria e leitura musical é importante para desenvolver o conhecimento musical, pois são ferramentas que podem contribuir na interpretação, na reflexão, e na criação artística. Porém, sozinhas e desconectadas do fazer musical acabam perdendo muito do seu valor (Cunha; Gomes, 2012, p. 18).

Ao participarem de atividades musicais, os alunos têm a oportunidade de se expressar, de maneira criativa e significativa, uma sensação de realização e pertencimento.

O fazer musical na escola é parte essencial de uma educação completa e equilibrada, proporcionando aos alunos a exploração da música de forma ativa e significativa. As escolas podem ajudá-los a desenvolver habilidades essenciais para o sucesso na vida, ao mesmo tempo em que promovem a inclusão, a diversidade e o bem-estar emocional e social.

O papel do educador musical no Ensino Fundamental

O educador musical precisa desempenhar diversas funções que vão desde a introdução dos fundamentos musicais até o estímulo à criatividade e à expressão artística dos estudantes. Dessa forma, contribui para o desenvolvimento integral dos alunos, proporcionando-lhes uma educação ampla, significativa e enriquecedora.

Para isso, como acreditam Cunha e Gomes (2012, p. 29), torna-se muito importante que o professor de Música “busque ferramentas para contribuir da melhor forma para a educação musical no contexto escolar”.

Outra função importante do educador musical é promover a apreciação e a compreensão da música como uma forma de arte. Ele deve apresentar aos alunos uma ampla variedade de estilos musicais e tradições culturais, ajudando-os a desenvolver uma compreensão mais profunda da música. Isso pode envolver a análise e a discussão de obras musicais, bem como a exploração de contextos históricos e culturais relacionados à música.

É também importante que o profissional atuante na Educação Musical escolar busque renovar e aprofundar constantemente seus conhecimentos em música e em educação, para que tenha mais suporte para novos questionamentos e busque novos caminhos em seu trabalho, transformando-o num processo interminável de construção, cujo objetivo é criar cada vez mais condições para que aconteça a Educação Musical (Cunha; Gomes, 2012, p. 29).

Nesse ponto é crucial diferenciar o professor de música do educador musical. Nota-se que o professor de música é alguém que ensina habilidades musicais específicas que podem envolver o aprendizado de ler partituras, tocar um instrumento, cantar ou até compor. Ou seja, fornece instruções técnicas e práticas para que seus alunos possam desenvolver habilidades, conhecimentos e compreensões de um determinado instrumento ou área musical específica.

Por outro lado, o educador musical precisa desempenhar uma abordagem mais ampla, evidenciando não apenas habilidades técnicas, mas principalmente a expressão criativa e a compreensão cultural e social da música. Portanto, o educador musical busca promover um aprendizado em várias dimensões. Como afirmam Cunha e Gomes (2012, p. 29), “tem como objetivo o desenvolvimento integral do aluno”.

Por fim, o educador musical do Ensino Fundamental desempenha um papel multifacetado e essencial no desenvolvimento dos alunos. Ele não apenas ensina os fundamentos da música, mas também estimula a criatividade deles, promovendo uma apreciação da música como Arte, ajudando os alunos a desenvolverem habilidades sociais e emocionais importantes. Por meio de seu trabalho dedicado e inspirador, o educador musical pode ter um impacto significativo na vida de seus alunos, capacitando-os a se tornarem cidadãos conscientes, criativos e culturalmente competentes.

A música no ensino-aprendizagem da Educação Fundamental

Desde o início da vida escolar, a música tem sido reconhecida como uma ferramenta poderosa para promover o aprendizado, estimular o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor das crianças.

A aprendizagem é um processo que ocorre de modo gradativo. Nesse cenário, a música aparece como elemento facilitador, pois ela desperta na criança uma vivência prazerosa, satisfatória e equilibrada, proporcionando paz de espírito, controle emocional e concentração (Almeida; Pereira, 2023, p. 3).

Um dos principais benefícios da música no Ensino Fundamental é o seu potencial para promover o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Estudos têm mostrado que a prática musical estimula áreas do cérebro relacionadas à linguagem, à memória, ao raciocínio lógico e às habilidades matemáticas. Ao aprender música, os alunos desenvolvem a capacidade de reconhecer padrões, seguir instruções, resolver problemas e pensar de forma criativa, habilidades essenciais para o sucesso escolar em todas as áreas do conhecimento. De acordo com Almeida e Pereira (2023, p. 3), “a utilização da música durante o processo de ensino-aprendizagem facilita o educador a dar mais liberdade aos alunos para se expressarem”.

Ao professor é fundamental conceber que é muito mais fácil lembrar de uma música que se tenha ouvido do que recordar da matéria estudada na semana anterior. A música, nesse aspecto, pode contribuir muito para a fixação da aprendizagem, que deve proporcionar satisfação, já que pode ser considerada uma necessidade básica dos indivíduos. Nenhum ser humano passa pela vida sem nada aprender; mesmo nos povos primitivos já havia algum tipo de transmissão de conhecimento; os velhos sábios de diversas tribos indígenas ensinavam aos mais jovens sua cultura e tradições por meio de cantos e danças (Almeida; Pereira, 2023, p. 5).

Além disso, a música é uma poderosa ferramenta para promover a alfabetização e a expressão emocional das crianças. Cantar músicas, recitar rimas e criar composições musicais ajudam os alunos a desenvolverem habilidades de leitura, escrita e comunicação de forma lúdica e envolvente. A música também oferece às crianças uma maneira segura e expressiva de explorar e processar suas emoções, desenvolvendo a inteligência emocional e promovendo o bem-estar psicológico.

Em trabalhos de Paulo Freire há menções à criação de um ambiente propício à aprendizagem que tenha significado, seja agradável e onde a música possa desempenhar um papel importante.

Sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vive sisuda. A seriedade não precisa ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque é séria, se dedique ao ensino de forma não só competente, mas dedicada ao ensino e que seja uma escola geradora de alegria. O que há de sério, até de penoso, de trabalhoso, nos processos de ensinar e aprender, de conhecer, é não transformar esse "que fazer em algo triste, pelo contrário, a alegria de ensinar e aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes”. Precisamos é remover os obstáculos que dificultam que a alegria tome conta de nós e não aceitar que ensinar e aprender são práticas necessariamente enfadonhas e tristes. É por isso que eu falava que o reparo das escolas, urgentemente feito, já será a forma de mudar um pouco a cara da escola do ponto de vista também de sua alma (Freire, 2000, p. 37).

Em suma, a música desempenha um papel crucial no ensino-aprendizagem na Educação Fundamental, oferecendo uma ampla gama de benefícios para o desenvolvimento integral dos alunos. Ao integrar a música de forma significativa ao currículo escolar, os educadores podem enriquecer a experiência de aprendizagem de seus alunos em um ambiente escolar dinâmico, inclusivo e estimulante.

Caminhos e propostas para a utilização da música no Ensino Fundamental

A utilização da música no Ensino Fundamental pode desempenhar um papel importante no processo educacional, proporcionando uma série de benefícios aos alunos. Existem diversos caminhos e propostas que podem ser adotadas pelos educadores com o intuito de integrar a música de forma eficaz e significativa às atividades escolares. No entanto, como destacam Almeida e Pereira (2023, p. 4), “a utilização dessa importante ferramenta requer planejamento e objetivos definidos para que não se esvazie em si mesma a capacidade de mudança”.

É importante reconhecer que a música pode ser uma ferramenta poderosa para promover a aprendizagem em diversas áreas do conhecimento. Por meio de uma abordagem interdisciplinar, se integra a música a diferentes disciplinas.

A riqueza presente no arcabouço musical à disposição do professor não deve ser desperdiçada em atividades descontextualizadas e sem finalidade previamente estabelecida; planejar é sempre o melhor caminho para o sucesso do trabalho pedagógico (Almeida; Pereira, 2023, p. 4).

Um dos caminhos para a utilização da Música no Ensino Fundamental diz respeito a explorarem os aspectos teóricos e práticos da música. Isso inclui o ensino de conceitos musicais básicos, como ritmo, melodia e harmonia. Isso pode ser feito por meio de jogos, exercícios de audição e prática instrumental ou vocal. Além disso, os alunos podem ser incentivados a criar suas próprias composições musicais, a fim de estimular a autoexpressão.

A partir de práticas de criação, interpretação, descoberta e vivência musical, bem como de propostas lúdicas, diversificadas e eficazes de ensino, o educador musical concretizará caminhos relevantes para a sua atuação docente, podendo, dessa forma, propiciar uma formação ampla e plena do indivíduo. Formação essa que ofereça as condições necessárias para que os diferentes sujeitos presentes no processo educativo possam lidar com códigos, valores e significados intrínsecos da linguagem musical (Queiroz; Marinho, 2009, p. 14).

Outra proposta interessante é a utilização de músicas que fazem parte do repertório cotidiano das crianças. Essa possibilidade de interagir com o universo dos alunos gera novos conhecimentos, experiências e vivências mais produtivas.

A integração da música no contexto das demais disciplinas, como História, Geografia, Matemática e Ciências também surge como uma possibilidade interessante. Os alunos podem aprender acerca de diferentes períodos históricos por meio da música, explorando os estilos musicais de cada época e suas influências culturais. Da mesma forma, a música pode ser utilizada para ensinar conceitos matemáticos, como proporção, padrões e frações, por meio de atividades rítmicas e melódicas.

É necessário romper com o passado e caminhar a passos largos em direção ao futuro, pois no momento em que o volume de conhecimento a ser transmitido é muito grande, não é mais possível ficar atrelado a práticas pedagógicas ultrapassadas que fizeram com que a educação passasse a ser vista como uma obrigação pelo aluno e como um mal necessário pela escola (Almeida; Pereira, 2023, p. 5).

Além disso, é importante promover experiências musicais diversificadas que incluam não apenas a música popular, mas também a música erudita, folclórica e de outras culturas. Isso ajuda os alunos a desenvolverem uma apreciação pela diversidade cultural e musical, ampliando seus horizontes e promovendo a inclusão.

É necessário ter em mente que todas as crianças possuem algum nível de expressividade musical que pode ser desenvolvido ao longo do tempo. Para tanto é primordial não estereotipar os resultados, mas permitir que as crianças vivenciem a experiência musical com liberdade e segurança, mesmo que o resultado final seja diferente do esperado.

O educador musical precisa reconhecer que o ritmo de desenvolvimento de cada criança é único e, portanto, as atividades devem ser adaptadas de acordo com a compreensão de cada uma, favorecendo um ambiente descontraído e espontâneo.

Fazer uma integração da música com outras formas de expressão, como dramatização, desenho e literatura, também proporcionará experiências completas e enriquecedoras às crianças.

É fundamental que os educadores recebam formação específica em educação musical para implementarem práticas pedagógicas eficazes aos alunos. Com dedicação e comprometimento, é possível utilizar a música como uma ferramenta poderosa a fim de que os estudantes do Fundamental tenham uma formação e um  aprendizado integral.

Considerações finais

Ao longo deste trabalho, exploramos a história e a importância da música como ferramenta educacional no contexto do Fundamental. Desde os primórdios da civilização, a música tem sido reconhecida como uma forma poderosa de expressão e aprendizado, influenciando o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor das crianças. Dos antigos gregos à era contemporânea, a música tem desempenhado um papel fundamental na educação, indo além do simples entretenimento.

Revelou-se que a música pode promover o desenvolvimento integral dos alunos, estimulando habilidades cognitivas, sociais e emocionais. Também, contribui para o sucesso escolar em todas as áreas do conhecimento. Além disso, destaca-se o papel essencial do educador musical no processo educacional, enfatizando a importância de uma abordagem que promova a criatividade, a expressão artística e a compreensão cultural.

À luz dessas reflexões, é evidente que a música deve ocupar um lugar central no currículo escolar, oferecendo oportunidades de aprendizado significativo e enriquecedor para os alunos. No entanto, para que isso aconteça, é necessário um compromisso coletivo com a valorização e a promoção da música na educação, incluindo investimentos em formação de professores, recursos educacionais e infraestrutura adequada.

Em última análise, a música tem o potencial de transformar a experiência educacional das crianças, proporcionando-lhes uma educação ampla, inclusiva e estimulante. Ao integrar a música de forma criativa e significativa no ambiente escolar, podemos preparar o caminho para uma vida de aprendizado, criatividade e bem-estar para as gerações futuras.

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Publicado em 21 de maio de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

BARROSO, Kaline Rodrigues. A aprendizagem estimulada pela Música - reflexões e propostas para o Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 18, 21 de maio de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/18/a-aprendizagem-estimulada-pela-musica-reflexoes-e-propostas-para-o-ensino-fundamental

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