Autonomia: fator essencial para a formação discente além da sala de aula
Renata Toledo Periard de Oliveira
Especialista em Língua Portuguesa (Unigranrio), em Formação de Leitores (FIJ) e em Ensino e Produção Textual (UFRRJ), mestranda em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca)
Mariza Sueli de Oliveira Sodré
Doutora em Ciências (Fiocruz), mestre em Ciências (UFRJ), graduada em Ciências Biológicas (UFRRJ), professora do Mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação da UniCarioca
Adriana da Silva Lisboa Tomaz
Doutora em Ciências Humanas – Educação (PUC-Rio), mestra em Educação (Unesa), especialista em Formação de Professores, professora do Mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação da UniCarioca
O presente artigo foi dividido em quatro seções. A partir da introdução, buscou-se apresentar a relevância da autonomia do estudante para além da escola, levando-se em consideração a Teoria da Relação com o saber segundo o sociólogo Bernard Charlot. Para além dessa teoria, utilizou-se como arcabouço teórico Freire, Goleman, Grispun, Moran, Coscarelli e Solé, além de investigações em documentos educacionais a respeito da importância do conceito/termo autonomia.
Autonomia é um vocábulo bastante utilizado em ambientes educacionais. Encontramos na introdução dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nas Orientações Didáticas, documento norteador publicado pelo Ministério da Educação, no ano de 2001. Neles observamos o significado da palavra: “é tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser desenvolvida pelos alunos e como princípio didático geral, orientador das práticas pedagógicas” (Brasil, 1997a, p. 61).
A autodeterminação é uma habilidade muito importante em qualquer forma de aprendizagem, pois envolve ação, reflexão, interação, inserção em determinado contexto, realização de tarefas e, principalmente, comunicação ativa entre todos os envolvidos nos processos de ensino-aprendizagem.
O Plano Nacional da Educação (PNE) que vigora até 2024 traz, em relação à autonomia, somente a necessidade de garantir a gestão democrática de forma efetiva (Meta 19) e favorecer a autonomia pedagógica, administrativa e financeira das escolas (estratégias 19.7). Ele não é citado a respeito do aluno (Brasil, 2015).
Os principais objetivos da educação para o século XXI abrangem os quatro pilares a seguir: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Seguindo esses passos, a escola contribuirá para despertar o interesse dos alunos por sua autonomia e senso crítico: buscar conhecimento, realizar tarefas e compartilhar experiências (Delors, 1998).
A Base Nacional Comum Curricular - BNCC (Brasil, 2017a) complementa que a carga horária deve ter 1800 horas, englobando as quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. O restante deverá ser destinado aos itinerários formativos que são um conjunto de disciplinas, projetos e oficinas sobre os quais os alunos podem optar no Ensino Médio.
Ensinar é construir maneiras que possibilitem progressões, construções e produções. De forma alguma envolve uma simples ação de transferência de informações e experiências. É também dedicar respeito ao educando, incluindo espaços onde ele possa ser humilde, criativo, alegre, tolerante, realista e saiba que a mudança é factível (Alves; Oliveira; Melo, 2022).
O primeiro ponto fundamental a ser trabalhado pela Orientação Educacional na escola é o desenvolvimento da autonomia do aluno, seguida da sua participação, responsabilidade e reflexão. Todos esses elementos retratarão o ambiente escolar como um espelho da sociedade (Grinspun, 2014).
Ao desenvolver a autonomia como prioridade, já estarão incluídos os outros focos, pois ela atribui ao aluno a responsabilidade de refletir e estar envolvido nas tomadas de suas próprias decisões, assim como na vontade de buscar conhecimentos e discernimento do que é melhor e mais adequado para si mesmo, tornando-o capaz de permanecer em aperfeiçoamento constante.
A autonomia é um princípio didático geral e fundamental na metodologia, pois valoriza a vontade de fazer colocações, permitindo que o aluno reflita e se posicione criticamente, considerando seus conhecimentos já internalizados e a sua capacidade de elaborar atividades individuais que alcancem o coletivo (Brasil, 1997).
Com isso, em qualquer curso ou disciplina que o aluno esteja presente, o pensamento autônomo o ajudará imensamente para que a aprendizagem, de fato, ocorra. Um aluno autônomo estará em estado de regular o seu processo de aprendizagem, menos dependente do professor, do livro didático ou de qualquer ferramenta tecnológica.
As disposições gerais do artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996) de 20 de dezembro de 1996, prevê a carga horária mínima anual de 800 horas para as escolas brasileiras, tanto para o Ensino Infantil quanto para o Ensino Fundamental, num total de 200 dias letivos completos de aula e atividades escolares, excluindo dias de exames finais. No Ensino Médio, a aprovação de uma nova lei (Lei nº 13.415/2017, p. 3), alterou na LDB a carga horária mínima para 1000 horas que incluiu itinerários formativos com foco em diferentes áreas do conhecimento, além de contemplar a BNCC.
Durante esse tempo na escola, o estudante precisa estar mobilizado para buscar por si só informações a respeito do mundo a sua volta e construir suas próprias conclusões acerca de assuntos diversos. Para isso, textos interessantes e criativos devem estar em contato com esse aluno desde o Ensino Infantil, pois é importante que interaja, dialogue, comunique, critique, descreva e compare para a aquisição de conhecimentos.
Freire (2011, p. 61) diz que “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. Sendo assim, professores de todas as disciplinas precisam estar atentos ao planejamento de suas aulas, proporcionando aos alunos atividades que os instiguem e os transformem em pesquisadores capazes de buscar informações, além das que foram entregues ao longo de explicações, muitas vezes obtidas por meio de aulas expositivas.
Os estudantes têm inúmeras possibilidades de pesquisa em suas mãos por meio das tecnologias digitais da informação e comunicação que envolvem inúmeros sites, plataformas, aplicativos e inteligências artificiais. Contudo, esses pesquisadores necessitam conhecer as melhores formas de selecionar as informações, pois elas chegam e saber quais delas são relevantes é essencial. É direito de todo cidadão ter acesso às informações, entretanto, ele precisa conhecer as fontes mais confiáveis para descartar o desnecessário e reter o que ele julga importante para ler de forma crítica (Coscarelli, 2016).
Charlot (2000) em sua teoria da Relação com o Saber (RcS) afirma que essa relação é um conjunto de relações estabelecidas pelo sujeito com o aprender, muitas vezes múltiplas, circunstanciais e, por vezes, contraditórias. Esse ser humano é um ser de relações que nasce e precisa ser cuidado para não morrer, um sujeito social “que nasce e cresce em uma família (ou em um substituto da família) e ocupa uma posição em um espaço social inscrito em relações sociais” (Charlot, 2000, p. 33).
Só aprende quem se mobiliza e só se mobiliza quem é movido por um desejo: agradar aos pais, ser aprovado na escola para o próximo ano, compreender, provar sua inteligência a si mesmo etc. O desejo pode assumir várias formas, mas sempre deve existir um desejo, forte ou fraco, para que ocorra uma mobilização para o aprendizado (Charlot, 2021).
Estudar é algo que nem sempre é estimulado pela família e pela escola, pois não pode ser imposto. Aprender, por sua vez, é involuntário, pois depende da maneira como seu cérebro recebe os conteúdos e os interpreta. “Estudar é uma atitude voluntária de alguém que se propõe a aprender alguma coisa” (Teixeira, 1999, p. 46).
A partir do momento em que o aluno se torna autônomo é capaz de dar continuidade ao seu estudo de forma eficiente, fora da sala de aula, sem a constante supervisão de professores e familiares. Ele é capaz de ler e escrever com propósito, com um fim social e colaborativo a fim de atingir objetivos já previamente determinados e, assim, conseguindo realizar um projeto maior. Com isso, percebemos alunos protagonistas dentro de todo o processo de aprendizagem (Coscarelli, 2016). É estudar para a vida, enfrentando-a com dignidade em um processo ininterrupto de qualificação que vai além de um diploma ou das exigências do mercado de trabalho.
É possível reforçar que “estudar é um ato de sabedoria [...] a pessoa que sempre estiver disposta a aprender é que vai sobreviver a essas revoluções do conhecimento” (Tiba, 2005, p. 189).
Sendo assim, é urgente a reflexão a respeito da educação atual, pois ela envolve analisar as questões necessárias para transformar o aluno em um ser pensante independente, já que a educação está em plena mudança e o aluno autônomo é aquele que sabe resolver as situações-problema da sua casa, do seu bairro, da sua cidade, do seu país e que pensa a respeito de questões planetárias e de como resolvê-las coletivamente.
O aluno como sujeito autônomo
O desenvolvimento do trabalho como docente envolve conhecimento contínuo a respeito dos avanços da ciência e das referências pedagógicas. O professor deve incluir em seu planejamento práticas já conhecidas, contudo, com a preocupação de atualização daquelas que surgem a todo momento. Ensinar envolve dinamismo e diálogo entre o pensamento docente e o que deve ser realizado com os discentes (Freire, 2004).
Conforme Grinspun (2014) salienta, o estudante é formado por uma associação de sua formação emocional e cognitiva, além de suas paixões, emoções e determinações. Não é possível dissociar o pensamento das ações, assim como o pensamento de seus anseios.
A visão ampla de autonomia está diretamente ligada à tomada de decisões discente, assim como a sua escolha e a sua ideia a respeito do crescimento e da vida. Ele precisa querer ampliar os seus horizontes, estando disponível às oportunidades. Para isso, não adianta a família querer ou o professor desejar que ocorra, pois a decisão de transpor as fronteiras do aprendizado deve ser substancialmente do aluno. As contribuições serão fundamentais para que uma postura autônoma realmente prevaleça.
Corrobora Paulo Freire:
ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas. [....] Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser (Freire, 1996, p. 107).
Conforme Freire (1996) destaca, falar de autonomia requer uma reflexão do desenvolvimento do pensamento crítico, da curiosidade e do pensar de forma independente, tomando decisões necessárias para uma aprendizagem mais livre, quando o professor assume o papel de mediador.
Nesse contexto, Barreto (2021) ressalta que além dos docentes, o entorno social, pais e responsáveis dos alunos, também deve auxiliar na vida acadêmica não só na questão disciplinar, mas sobretudo na questão ética do aluno: ensiná-lo a dialogar por respeito e tolerância.
O aluno é capaz de determinar os objetivos a serem alcançados, definir o conteúdo e avaliar como o está o seu aproveitamento. Ele deve ser treinado a estudar por conta própria, por meio de um conjunto de habilidades que podem ser aprendidas e aplicadas na autoaprendizagem, como a criatividade, o pensamento crítico, a adaptabilidade, o trabalho em grupo, a flexibilidade, a resiliência, a inteligência emocional e a liderança. Habilidades “são práticas, cognitivas e socioemocionais” (Brasil, 2017b, p. 8), capacidades inatas reprimidas pela educação institucional. O aluno autônomo determina a direção e a intensidade de sua própria aprendizagem.
Segundo a BNCC (Brasil, 2017a) são dez as competências gerais que devem ser trabalhadas na escola e envolvem mobilização de conhecimentos – conceitos e procedimentos. Entre elas, destacamos: pensamento científico, crítico e criativo; repertório cultural; comunicação; cultura digital; trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; responsabilidade e cidadania (Brasil, 2017, p. 9).
Tanto as habilidades quanto as competências gerais da BNCC estão intimamente relacionadas à formação de um aluno independente. Segundo Moran (1999) esse é o aluno que está disposto a estar inserido em processos participativos, interativos e libertadores, sendo orientados por docentes autônomos, autênticos, livres e curiosos, que explicam o que sabem e estão abertos ao novo, capazes de incentivar o livre pensar e o respeito às diferenças.
O aluno autônomo também sabe das suas limitações e o que precisa fazer para ultrapassar cada uma delas. A motivação é essencial para esse aluno, já que com ela o aluno realiza trabalhos mais eficientes e criativos, sentindo-se capaz de desconstruir conceitos para construir ensinamentos.
A motivação é o conjunto de mecanismos biológicos e psicológicos que possibilitam o desencadear da ação, da orientação (Para uma meta ou, ao contrário, para se afastar dela) e, enfim, da intensidade e da persistência: quanto mais motivada a pessoa está, mais persistente maior é a atividade (Lieury; Fenouillet, 2000, p. 9)
O estímulo exerce um papel importante em sala de aula, influenciando em fatores do desenvolvimento humano e determinando a maneira como e quando aprendemos. A ação com ânimo contribui ainda para a aprendizagem de habilidades, comportamentos e estratégias previamente aprendidos (Camargo, 2019). Contudo, “a motivação é intrínseca” e alunos bem orientados criam, agem e realizam (Elias, 2000, p. 117).
Podemos dizer que para os alunos se tornarem autônomos é preciso que tenham diversas oportunidades de explorar temas e áreas diversas. A aprendizagem autônoma é aquela na qual o aprendiz percebe a sua individualidade e assume o controle de suas experiências, escolhas e tarefas, apropriando-se, de forma consciente, de seu processo de aquisição de conteúdos a fim de se tornar responsável por seu estudo. Na verdade, o aprendiz se torna um orientador de si mesmo.
Desenvolvimento da autonomia no ambiente escolar
A educação aprofundada dentro do ambiente escolar pode ser conceituada formal com o planejamento dos conteúdos a serem trabalhados. Já a educação que se aprende na prática por meio de vivências, interações e trocas de informações em contextos previamente estabelecidos pode ser chamada de não formal. A educação informal, por sua vez, engloba ensinamentos próprios vindos da cultura, da convivência familiar e também de fora dela, do meio social (Gohn, 2010). A aquisição de conhecimentos, dentro e fora da sala de aula, deve constituir um processo único. Ambas as práticas têm em vista um objetivo maior e comum: um aprendiz autônomo ou não.
Para Duarte e Mota (2021, p. 2), “ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo [...] é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos múltiplos significados”.
As crianças buscam respostas para as muitas perguntas a respeito de um mundo ainda tão cheio de mistérios. Constroem e reconstroem teses brincando, pois se sentem livres e entusiasmadas para questionar todas as coisas à sua volta. Esses pequenos cidadãos curiosos não param, não se contentam com os objetos que estão próximos, indo além deles.
Freire (2015) reforça:
toda compreensão de algo corresponde, cedo ou tarde, uma ação. Captado um desafio, [...] o homem age. A natureza da ação corresponde à natureza da compreensão. Se a compreensão é crítica ou preponderantemente crítica, a ação também o será (Freire, 2015, p.134).
Ao dominarem e fazerem uso da palavra as crianças incorporam seus pensamentos no mundo das descobertas e se lançam. Pessoas que tomam a iniciativa para aprender, os chamados alunos proativos, aprendem mais coisas e melhor que pessoas que se sentam em frente a um professor, esperando passivamente que ele leia o texto e as questões, estático.
A esse respeito, Zatti (2007) afirma:
A educação promotora de autonomia é a que promove a formação da totalidade do humano [...]. A educação tecnicista, verbalista, que prima pela memorização mecânica, inibe a curiosidade, a criatividade e a criticidade, obstaculizando a promoção da autonomia, por isso a educação precisa ser ativa, instigadora da imaginação, instigadora do ato de perguntar e investigar (Zatti, 2007, p. 78).
Quando os alunos são apenas receptores, memorizando os assuntos principais que o professor explora, não há independência no aprendizado e todo o processo de ensino-aprendizagem parte do professor. O aluno não contribui para selecionar e explorar assuntos extraclasse, mas fica limitado ao que o professor trabalha em seus planos de aula.
Freire (1967) complementa:
toda vez que se suprime a liberdade ele fica um ser meramente ajustado ou acomodado. E é por isso que, minimizado e cerceado, acomodado a ajustamentos que lhe sejam impostos, sem o direito de discuti-los, o homem sacrifica imediatamente a sua capacidade criadora (Freire, 1967, p.42).
Desse modo, não há a mínima contribuição quanto ao objetivo primordial da educação: desenvolver nos indivíduos a habilidade de tomar suas próprias decisões a respeito do que pensam, após pesquisa crítica e aprofundada, para somente depois, executá-las.
Moran (2019, p. 7) afirma que “a aprendizagem é um processo muito mais amplo do que a escola: acontece em todos os espaços e dimensões do cotidiano, se estende e se amplia ao longo do tempo da nossa vida”. Assim, o aluno traz os ensinamentos para a sua realidade de forma que consiga elaborar e explicar esse conteúdo entre seus colegas, fazendo um verdadeiro aproveitamento das lições dadas na escola.
A partir disso é possível citar a teoria da aprendizagem significativa proposta por Ausubel (2003). Ela diz que o aluno aprende ao ancorar as novidades aos conceitos que já existem em sua organização de ideias, os chamados subsunçores. O docente necessita dar relevância aos conhecimentos que o aluno já possui a respeito dos temas trabalhados em classe, utilizando as ferramentas tecnológicas para sondagem. A cognição do aluno é estruturada ao considerar tais conhecimentos prévios às novas informações adquiridas e isso ocorre de modo organizado, seguindo uma ordem de prioridade (Filatro; Cavalcanti, 2018).
Além disso, ao realizar atividades pertinentes ao tema e que fazem sentido para ele, o aluno é capaz de fixar os conhecimentos por muito tempo, diferentemente de apenas memorizá-los para uma atividade ou avaliação isolada.
De acordo com a teoria de Adorno:
não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, [...] mas a produção de uma consciência verdadeira. [...] Uma democracia efetiva só pode ser imaginada como uma sociedade de quem é emancipado (Adorno, 2022, p. 154).
A escola possui a meta principal de formar cidadãos preparados para agir com consciência crítica e não meros repetidores do que ouvem, sendo capazes de refletir, questionar, argumentar, intervir e propor soluções. Um cidadão emancipado é, antes de tudo, um leitor eficiente.
De acordo com os PCN da Língua Portuguesa, para ler “é preciso oferecer aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando aos procedimentos que os bons leitores utilizam”. Essa ação abrange as antecipações do contexto no qual a situação comunicativa está inserida. Ler também envolve a prática e por isso “é preciso aprender a ler, lendo” (Brasil, 1997, p.53).
Essa leitura é realizada no dia a dia a todo instante, sem interrupções: a bula de um remédio, a receita culinária, os endereços, os bilhetes que são deixados, as placas nas ruas, os nomes de lojas, rótulos de alimentos, redes sociais, mensagens instantâneas, panfletos entregues nas ruas, outdoors, anúncios, revistas, livros, entre outros. Somos leitores incansáveis, seja em casa, no trabalho, na rua, na escola ou em qualquer outro local. A leitura acontece também nas histórias que ouvimos, nos debates, nas imagens, nas cores, nos gestos, nas fotografias e nos desenhos (Valle, 2006, p. 3).
Essa leitura incansável pode perder o foco, já que todos estamos inseridos em uma trajetória cada vez mais veloz em nosso cotidiano, envolvidos com diferentes ferramentas e mídias tecnológicas, com tarefas a serem realizadas em tempo recorde, além de textos de variados tipos e gêneros. Toda essa aceleração imposta faz diminuir a concentração de modo a prejudicar a construção de ideias e o pensamento crítico (Rangel; Freire; 2012).
Tecnologias digitais na construção da autonomia discente
Desde os primórdios, a cultura oral prevalecia. Ela não deixou nada escrito e só conhecemos os seus ensinamentos devido aos registros feitos por seus discípulos. Somente depois da época do Iluminismo, a tradição escrita ganhou espaço como atividade que privilegia o saber (Rangel; Freire, 2012). “Na passagem da tradição oral para a escrita, Sócrates temia que “a nova técnica” prejudicasse o uso da memória” (Rangel; Freire, 2012, p. 11).
Os antigos temiam que a memória, após o surgimento da escrita, se tornasse mais fraca, pois nada mais necessitaria ser memorizado já que era possível ler no papel o que havia sido pensado. Agora ocorre o mesmo, pois não precisamos mais memorizar nada, já que podemos olhar rapidamente em um celular conectado à internet, em qualquer site ou aplicativo de pesquisa de inteligência artificial para encontrar o que é buscado. As preocupações se repetem diante da evolução.
Conforme afirma Kenski (2012, p. 15), “as tecnologias são tão antigas quanto à espécie humana. Na verdade, foi a engenhosidade humana, em todos os tempos, que deu origem às mais diferentes tecnologias”. As inovações surgem do raciocínio e dos conhecimentos que as originam, assim como as ferramentas, os métodos, os produtos e as tecnologias que diferenciam os seres humanos.
Contudo, podemos evoluir de onde a geração anterior parou. Não precisamos mais criar a roda e nem o motor, apenas trabalhar com o que já existe e teremos um carro. Dependendo do aperfeiçoamento do que já existe, temos carros com motores cada vez mais modernos. A corrida espacial trouxe o relógio e o computador, por exemplo. Não precisamos mais criar a escrita, o livro ou a internet, basta trabalhar a partir deles e temos um livro digital e tantos outros recursos tecnológicos.
A escrita antes gravada em placas de argila, papiros, livros ou telas atualmente está em kindle - aparelho para leitura digital de e-books - livros digitais e em dispositivos pessoais de última geração (Rangel; Freire, 2012). A evolução da comunicação humana é inevitável, por isso não é possível desprezá-la, precisamos considerá-la em conjunto. O código da leitura e da escrita surgiu dos hieróglifos e hoje voltou por meio dos emojis e pictogramas utilizados para expressar ações e sentimentos em mensagens instantâneas.
A evolução dos meios tecnológicos altera comportamentos, não apenas de um indivíduo, mas de todo um grupo, não se limitando apenas ao uso de determinados aparelhos e ferramentas (Kenski, 2012). O avanço sempre foi capaz de mudar a sociedade e nessa era digital não poderia ser diferente. A mudança com a era do rádio e o advento da televisão mudou ainda mais os grupos sociais que diminuíram consideravelmente as suas leituras. Essas descobertas têm importante valor cultural, porém diferente do jornal e das revistas, são produtos de transformação com foco na linguagem escrita.
Já as tecnologias digitais na educação incluem os dois tipos de linguagem com perfeição. Quando abrange muitos elementos, o foco do leitor pode ficar disperso. A verdade é que cada elemento pertence à evolução e possui o seu espaço dentro da história, prova disso é que tanto o rádio como a televisão, assim como os computadores e os celulares possuem seu lugar no cotidiano das pessoas.
Com o avanço tecnológico surge a necessidade de buscar novas maneiras de aprender, pois “o processo de ensino-aprendizagem encontra-se ainda bastante preso a uma noção antiga de texto” (Rangel; Freire; 2012, p. 15). Essa evolução permite aos indivíduos a comunicação com o mundo pelas mídias, evidenciando a necessidade de ultrapassar os limites da sala de aula de forma a individualizar o aprendizado. O texto digital traz uma série de ofertas na aquisição do saber, com inúmeras informações a serem exploradas e a facilidade de acesso em qualquer lugar do mundo. Ele carrega uma gama de funções intelectuais favorecendo o aprendizado por possibilitar o alcance de diversos níveis de conhecimento (Silva; Junior, 2017).
Segundo Goleman e Senge (2015), para contribuir nesse ambiente digital, os jovens precisam ter três ferramentas no âmbito interno a fim de manterem o foco nesse ambiente acelerado e de tantas distrações. Essas habilidades são: o foco no mundo interior, saber das suas aspirações, compreender o que envolve os sentimentos e as ações a serem feitas para o controle de si; o foco nas pessoas ao redor, trabalho em grupo, ser capaz de ter empatia pelo que o outro sente e não apenas aos sentimentos individuais e o foco externo, compreendendo o mundo mais amplo em que está inserido. Respeitando esses três focos, se favorece não apenas a leitura e a escrita como a aprendizagem cognitiva, afetiva e social. Quando há uma ampliação do coração e da mente, os alunos melhoram como aprendizes, pois são capazes de investigar ainda mais os ensinamentos e passam a enxergar a sabedoria como um meio de ascensão (Hooks, 2020).
Em nosso século, cada vez que o ser humano se dispersa, volta o foco ao objeto e assim faz uma flexão mental. Essa atividade o fortalece ainda mais, ajudando-o a ignorar os estímulos que fazem vagar a mente e, logo, os circuitos buscam o foco (Goleman; Senge, 2015). Manter o foco é necessário ainda mais em ambiente tecnológico, pois uma série de elementos distraem, já que a luz das telas, as mensagens que aparecem a todo momento, os vídeos e emojis divertidos, tiram o foco a todo instante da leitura atenta. Sem ela, não há uma leitura crítica. O controle cognitivo é fundamental para a leitura digital, por isso é preciso estar com foco em todos os objetivos para nada eliminar a chance de alcançar o sucesso.
Wolf (2019) pondera que a capacidade evolutiva leitora não é a mesma utilizando as tecnologias, pois a leitura no livro físico proporciona uma série de sensações: os sentidos estão muito mais presentes por meio de arrepio, emoções, susto, choro, risada e até mesmo o tato, passando as páginas, que deixa o leitor mais alerta. A leitura tradicional além de ser capaz de despertar sensações físicas, proporciona a possibilidade ao leitor de sublinhar, de fazer anotações e marcar as partes que ele precisa ler novamente. O digital não desperta os sentidos dessa maneira, pois não é o mesmo fazer anotações digitando em arquivos. Contudo, pode haver vantagens em relação à leitura tradicional, pois traz cores, animações, jogos, movimento e compartilhamento ativo.
Contribui Solé (1998, p. 41) quando afirma que “a questão dos objetivos que o leitor se propõe a alcançar com a leitura é crucial, porque determina tanto as estratégias responsáveis pela compreensão, quanto o controle que vai exercendo sobre ela”. Cada leitor tem as suas estratégias de leitura. O leitor atento deve procurar meios de resolver quando uma questão interrompe a sua compreensão da leitura, seja por uma distração, por desconhecimento de algum termo citado, por sentir estranhamento em alguma contradição julgada ou quando algo está faltando em seu entendimento. Ele deve ultrapassar obstáculos para que chegue à compreensão e questione de forma crítica o que está lendo e assimilando.
Considerações finais
O presente artigo propõe levar o leitor a uma reflexão a partir de referenciais teóricos, possibilitando a formação de um estudante autônomo que consegue construir o seu conhecimento a partir de suas próprias experiências, como um leitor das palavras e do mundo.
Aprender é passar da não posse a posse, da identificação de um saber virtual à sua apropriação real [...]. Aprender pode ser também dominar uma atividade, ou capacitar-se a utilizar-se um objeto de forma pertinente (Charlot, 2000, p. 68-69).
O sujeito do saber é alguém que sempre aprende em sua Relação com o Saber (RcS) na necessidade e no desejo de aprender. Essa RcS estabelece uma relação do sujeito com ele mesmo, com os outros e com o mundo.
Paulo Freire salienta que estudar é um compromisso feito para revolucionar pensando por si mesmo, investigando, duvidando até comprovar, inventando e reinventando. Por tudo isso, não é tarefa simples pensar, pois ela exige esforço e comprometimento (Freire, 2008). “Pensar é uma ação. [...] O cerne do pensamento crítico é o anseio por saber – por compreender o funcionamento da vida” (Hooks, 2020, p.29). Ler significa não parar ao encontrar de início um momento de árdua compreensão.
Ensinar os alunos a lerem, compreendendo o que está escrito e interpretando as intencionalidades do autor, é algo imprescindível para agir em sociedade. Segundo Solé (1998), conseguir ler envolve a compreensão e a interpretação de textos de variadas estruturas e intenções comunicativas cujos objetivos contribuem para a formação de um leitor autônomo. Ou seja, um leitor não apenas da sala de aula, mas das situações da vida, exercício essencial para resolver situações do dia a dia de uma sociedade letrada. Esse leitor proficiente é hábil em recordar e ressignificar situações complexas para atingir a interpretação textual, utilizando procedimentos que estão distantes do seu foco de pensamento racional (Kleiman, 2013).
A escola necessita se adequar para preparar leitores competentes, pois “a educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de adaptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo” (Adorno, 2022, p. 156). Assim, destacamos a relevância da temática para além da escola e a sua importância para a construção de novos saberes.
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Publicado em 15 de janeiro de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA, Renata Toledo Periard de; SODRÉ, Mariza Sueli de Oliveira; TOMAZ, Adriana da Silva Lisboa. Autonomia: fator essencial para a formação discente além da sala de aula. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 2, 15 de janeiro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/2/autonomia-fator-essencial-para-a-formacao-discente-alem-da-sala-de-aula
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