Psicologia da Educação e tecnologia: relação entre a aprendizagem e as novas ferramentas de conhecimento
Karyny Lorrany Lameira da Silva
Psicóloga (Universidade da Amazônia), bolsista no programa StartUP Pará da Sectet
Maria José de Sousa Trindade
Doutora em Ciências Agrárias e professora da UFRA, coordenadora do Programa StartUP Pará
Estamos imersos em uma era marcada pelo protagonismo das tecnologias da informação e comunicação (TIC) onde a rápida evolução tecnológica promove mudanças significativas em hábitos, lazer, profissões, comportamentos e mentalidades, abrindo caminho para um panorama de possibilidades inovadoras. À medida que a teia da globalização envolve o ambiente educacional, suas influências tecem uma interconexão intrínseca com a revolução científico-tecnológica, permeando até as mais sagradas arenas do aprendizado: as salas de aula. Nesse epicentro de transformação, gestores e educadores encaram os desafios escolares não como obstáculos intransponíveis, mas como convites à inovação, sendo a resposta uma aliança estratégica com as tecnologias da comunicação e da informação, habilmente tecendo um novo tecido educacional capaz de enfrentar e moldar os desafios contemporâneos (Moreira; Kramer, 2017).
A revolução digital não apenas trouxe novas possibilidades de aprendizado, como desafiou as percepções tradicionais do modo do conhecimento ser adquirido e compartilhado. A expansão das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) torna cada vez mais evidente seu impacto na aprendizagem e os educadores e psicólogos da educação têm a oportunidade de repensar e redesenhar as estratégias de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, a interseção entre a Psicologia da Educação e a tecnologia tem desempenhado um papel crucial na transformação do cenário educacional contemporâneo, visto que a Psicologia da Educação oferece uma lente valiosa para compreender como os alunos interagem com essas novas ferramentas e como a motivação é influenciada ou como as habilidades cognitivas são aprimoradas (Scorsolini-Comin, 2014).
Abordar as TDIC não é apenas uma demanda atual, mas também uma oportunidade para se integrar ambientes cotidianos, tornando sua proficiência uma faceta essencial de participação na era contemporânea (Almeida; Silva, 2011). A adaptação dos ambientes, incluindo salas de aula que tendem a se tornar cada vez mais virtuais, a expansão dos processos de ensino-aprendizagem em uma variedade de locais (como bibliotecas, museus, exposições e centros de convivência) e a adoção de contextos globais de aprendizado, nos quais o avanço das tecnologias móveis e redes sem fio possibilita a aprendizagem em qualquer lugar e em diversas situações, mostram que o papel da Psicologia da Educação é examinar cuidadosamente as limitações e potencialidades decorrentes dessas mudanças na produção de seu conhecimento (Scorsolini-Comin, 2014).
Diante disso, este artigo mergulha nas profundezas dessa interação, explorando a relação complexa entre educação, Psicologia da Educação e as novas ferramentas de conhecimento. Ele examina o avanço e o impacto das tecnologias digitais nas salas de aula, discutindo quais territorialidades ainda não foram alcançadas pelos novos modelos de educação e, também, quais ações e projetos educacionais no estado do Pará abraçam essa perspectiva. Com isso, fornece uma visão prática da situação educacional na região. Ao fazê-lo, espera-se iluminar não apenas os desafios, mas as oportunidades que surgem com a incorporação da tecnologia na educação.
Metodologia
Para atender aos objetivos delineados, conduzimos este estudo com base em pesquisa bibliográfica, adotando uma abordagem qualitativa e um objetivo exploratório. Essa escolha se justifica, pois os problemas identificados direcionam à necessidade de reunir documentos, instrumentos e materiais essenciais para a realização da pesquisa (Sakamoto; Silveira, 2019).
Na etapa inicial, realizamos um levantamento bibliográfico com a busca de artigos, periódicos e monografias pertinentes ao tema, utilizando a plataforma do Google Acadêmico como uma das principais fontes de pesquisa entre 1989 e 2023. Também foi realizado um levantamento de dados dentro do site do programa StartUP Pará, iniciativa do Governo do Estado do Pará executada pela Sectet (Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica) a fim de verificar quais iniciativas o governo do estado tem oferecido para suprir demandas da questão discutida neste artigo (Startup Pará, 2024).
Este trabalho consiste em uma análise da literatura científica que:
- explora o ponto de encontro entre a educação e a tecnologia, investigando o impacto das novas ferramentas de conhecimento na dinâmica da aprendizagem;
- revela a exclusão digital nas escolas de áreas ribeirinhas e interioranas;
- verifica a visão e expõe as contribuições da Psicologia da Educação no que se refere à temática; e
- analisa e demonstra projetos educacionais tecnológicos no Estado do Pará.
Educação e as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC)
No século XXI, a educação enfrenta um período de transformação notável impulsionado pelas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC). Essas tecnologias abrangem uma ampla gama de dispositivos, aplicativos e plataformas que se tornaram parte intrínseca da vida moderna. Enquanto a educação costumava ser predominantemente baseada em textos impressos e ensino presencial, a sala de aula, outrora estática, agora se torna um terreno fértil para a inovação, onde as TDIC desempenham um papel crucial na forma como aprendemos e ensinamos.
De acordo com Bueno (1999), tecnologia é um processo contínuo pelo qual a humanidade molda, modifica e aprimora sua qualidade de vida, desde os primeiros instrumentos de escrita, como a pena e o papel, às modernas inovações como a inteligência artificial e a realidade virtual. A tecnologia tem sido um catalisador para o progresso educacional e isso implica abordar a relação entre educação e tecnologia, pois a preocupação vai além do simples progresso dos dispositivos tecnológicos. Ela se insere em um contexto que representa um novo paradigma sobre o qual as escolas precisam considerar a necessidade de adaptação ou reinvenção.
A participação do estudante, por exemplo, sofre alterações significativas com a ampla adoção das ferramentas online. A aprendizagem se torna mais flexível à medida que os métodos de ensino se tornam menos rígidos. É possível atender de maneira eficaz às necessidades e aos interesses individuais dos alunos quando reconhecemos o potencial da aprendizagem mediada pela tecnologia (Schuartz; Sarmento, 2020). Segundo Avalos (1992), uma educação de excelência habilita a pessoa a transitar de uma condição de limitação em seu dia a dia para se tornar um agente ativo na transformação de seu entorno. Para alcançar esse objetivo é fundamental ter uma compreensão precisa do contexto no qual se está inserido. Com isso, não basta apenas a inserção das tecnologias, mas um olhar investigativo sobre quais as variáveis e demandas de suporte são necessárias às escolas nas diferentes regiões.
É importante salientar que a mera aquisição de computadores pela escola não assegura aprimoramentos no processo de aprendizagem nem resoluções dos desafios educacionais. É imperativo instruir professores, alunos e administradores sobre o uso efetivo das tecnologias, visando ao benefício coletivo e à integração da informática nas práticas educacionais da escola (Fares, 2014).
No entanto, a chave para uma integração bem-sucedida da tecnologia na educação está na compreensão e na prudência. O desafio é utilizar as ferramentas tecnológicas de forma a aprimorar o papel do professor, não o substituir. Educação e tecnologia são complementares e o sucesso reside na capacidade de equilibrar a inovação com os princípios pedagógicos tradicionais.
Melhorar a qualidade da educação requer transformações substanciais na sociedade e nos sistemas de ensino, assim como nas instituições escolares. No contexto escolar, torna-se imperativo estabelecer: condições apropriadas para a prática pedagógica; conhecimentos e competências pertinentes; estratégias e tecnologias que promovam o processo de ensino-aprendizagem; métodos de avaliação que sustentem o planejamento e o aprimoramento das atividades educacionais; modelos de gestão escolar participativos; colaboração entre diversos atores e grupos; interação com experiências educacionais informais e, por fim, professores bem preparados que reconheçam o potencial dos alunos e considerem a educação como um direito e um bem social (Moreira; Kramer, 2007).
Quem se exclui da inclusão digital?
Quando se fala em inserção de tecnologias como ferramentas de aprendizagem escolar, logo se observa a exclusão digital em muitas cidades longe da capital e dos centros urbanos, chamando a atenção para o que fomenta assimetrias educacionais no Brasil. Idealmente, todas as pessoas deveriam ter as mesmas oportunidades de se beneficiar da tecnologia digital atualmente disponível. É notável que as melhores práticas sociais no Brasil frequentemente se originam em municípios mais influentes. Isso se deve não apenas à maior disponibilidade de fontes de financiamento, mas à abundância de informações disponíveis nesses locais (Neri, 2003).
A exclusão digital, sob diferentes prismas, resulta da ausência de acesso a um computador, da falta de habilidade em utilizá-lo (analogamente à leitura) ou da carência de conhecimento mínimo para interagir com a tecnologia cotidiana. De maneira mais ampla, considera-se digitalmente excluídos aqueles que enfrentam dificuldades até mesmo em funções simples como o acesso a um telefone celular ou a um relógio de videocassete. Nota-se, assim, que a exclusão digital varia conforme as tecnologias e os dispositivos em questão. Nesse contexto específico, entretanto, abordaremos a exclusão digital como um estado em que o indivíduo é privado do acesso às tecnologias de informação, seja pela falta de meios de acesso, pela carência de conhecimento ou pela falta de interesse (Almeida et al., 2005).
Nas localidades isoladas, onde a comunicação se faz por meio dos rios e estradas poeirentas, o acesso à tecnologia moderna é frequentemente um sonho distante. As escolas, embora portadoras de esperança e aprendizado, são muitas vezes limitadas pela carência de recursos digitais. A exclusão digital torna-se um muro que separa esses jovens estudantes das vastas oportunidades que o mundo online oferece. No entanto, a sabedoria e a resiliência dessas comunidades ribeirinhas e interioranas são tesouros perdidos para o ciberespaço. Os jovens, tão cheios de curiosidade e potencial, enfrentam barreiras que diminuem suas chances de competir em um mundo cada vez mais digital. É como se a falta de conectividade fosse um rio de águas revoltas que os separa do fluxo do conhecimento global.
Segundo Javorski e Cardoso (2023), em uma pesquisa feita pelas áreas urbanas e rurais do Brasil, quase metade dos domicílios urbanos têm acesso ao computador e à internet, enquanto apenas 1% tem acesso apenas a um computador sem internet. Além disso, 37% possuem acesso apenas à internet e 13% não têm acesso nem à internet nem a um computador. Em relação aos domicílios rurais amostrados, apenas 15% têm acesso a ambos, uma proporção muito menor do que a encontrada nos domicílios urbanos. Apenas 1% dos domicílios rurais tem acesso exclusivo a um computador, enquanto 49% têm acesso exclusivo à internet e 34% não têm acesso nem à internet nem a um computador, um número substancialmente maior do que o encontrado nos domicílios urbanos.
Incorporar a perspectiva tecnológica implica compreender não apenas os comandos de programas específicos para objetivos determinados ou simplesmente qualificar as pessoas para o mercado de trabalho. Envolve, sobretudo, a capacidade de influenciar nas decisões quanto à relevância e os propósitos da tecnologia digital. Essa postura está intrinsecamente ligada à visão de inclusão/alfabetização digital, políticas públicas e construção da cidadania. Não se trata apenas de consumir conhecimento predefinido, mas de participar ativamente na definição de seus propósitos (Cabral Filho, 2006).
A conectividade e a tecnologia devem ser trazidas para essas áreas, não apenas como ferramentas de aprendizado, mas como pontes que unem comunidades ao mundo. A educação digital, quando introduzida de forma inclusiva e sensível às necessidades locais, pode ser o motor que impulsiona à mudança. É uma oportunidade para que esses indivíduos explorem seus talentos, alcancem horizontes mais amplos e se tornem agentes da transformação em suas próprias comunidades.
Psicologia da Educação e as mudanças na forma de aprender
Do ponto de vista da Psicologia, geralmente se aceita a proposição de que as ferramentas que usamos para interagir com nosso ambiente não apenas alteram a realidade ao nosso redor, mas também influenciam as ações daqueles que as utilizam, resultando em mudanças nos comportamentos e processos cognitivos (Cool; Monereo, 2010).
É inegável que as tecnologias de informação e comunicação (TIC) alteram e reconfiguram os processos de pensamento e aprendizado, e, por conseguinte, devem também influenciar a abordagem do ensino. Em épocas culturais anteriores, a mente humana teve que assimilar novas tecnologias de informação e conhecimento que reconfiguraram seu funcionamento até se tornarem intrínsecas (Cool; Monereo, 2010).
De acordo com Moreira e Kramer (2007), a presença dessas tecnologias no ensino é associada a uma variedade de interpretações e incluem a substituição do que é considerado como 'tecnologias tradicionais' (como lousas de giz e materiais predominantemente impressos), a resolução de desafios pedagógicos enfrentados pelos professores em sua rotina, além de questões sociais mais abrangentes, como a inclusão digital e a transformação da relação das pessoas com o conhecimento na era digital.
Contudo, é crucial reconhecer que os fatores psicológicos envolvidos nessa revolução educacional são multifacetados. A motivação intrínseca e a autonomia do aprendiz são ampliadas, mas a necessidade de autorregulação e habilidades metacognitivas tornaram-se prementes. O desafio está na harmonização desses elementos, transformando a tecnologia em uma aliada na construção de aprendizes autônomos e autênticos.
Dentre os benefícios, destaca-se a quebra das hierarquias de poder relacionadas ao acesso à informação. Esse fenômeno descentraliza o processo educacional, liberando os alunos para explorarem temas de seu interesse e fomentando independência e autonomia. Além disso, as vantagens estendem-se à facilitação de trocas de informações entre alunos e professores, propiciando interações transculturais e superação de limitações espaço-temporais. Esse cenário amplia significativamente o acesso à educação (Vilarinho-Rezende et al., 2016).
O emprego de recursos tecnológicos emerge não apenas como uma ferramenta, mas como um catalisador potencial para desencadear a expressão criativa. Nesse cenário, a integração desses recursos na educação demanda não apenas tecnologia, mas uma abordagem pedagógica que cultive a criatividade. Isso inclui valorizar os interesses e estilos de aprendizagem dos alunos, diversificando técnicas instrucionais, tarefas e formas de avaliação para propor atividades que desafiem a imaginação, incentivando à produção de ideias abundantes, à análise multifacetada de situações e à visualização de consequências para eventos futuros (Vilarinho-Rezende et al., 2016).
Portanto, a Psicologia da Educação não apenas desvela as múltiplas e complexas engrenagens psicológicas dessas transformações, mas aponta para um horizonte promissor. Ao integrarmos sabiamente os insights psicológicos, podemos moldar estratégias educacionais que não apenas abraçam as inovações tecnológicas, mas cultivam um ambiente de aprendizado autenticamente adaptativo, inspirador e orientado para o desenvolvimento integral do aluno na era digital.
Projetos educacionais tecnológicos no Estado do Pará
Tendo em vista que a autoria deste artigo é originária do Estado do Pará, pensamos e analisamos a desenvoltura da região a partir da temática tecnológica educacional. Nesse cenário, a riqueza cultural e geográfica do estado se entrelaça com as oportunidades proporcionadas pelo avanço tecnológico, delineando um horizonte educacional dinâmico e vibrante.
O programa StartUP Pará, iniciativa do Governo do Estado do Pará executado pela a Sectet (Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica), foi instituído em 2019 com a finalidade de apoiar projetos, mesmo aqueles em estágio inicial de concepção que visem à criação e à implementação de soluções, métodos e processos tecnológicos. Seu foco é explorar a inovação e a cultura empreendedora como ferramentas estratégicas na promoção do desenvolvimento sustentável do Estado, possibilitando o surgimento de novas empresas inovadoras. Isso, por sua vez, busca gerar negócios com maior valor agregado, criando oportunidades de emprego com salários mais atrativos e fomentando a formação, atração e retenção de profissionais mais qualificados. Até o final de 2022, a proposta abrangeu nove editais, 350 ideias submetidas de diversas localidades na modalidade educação, das quais 117 propostas aceleradas nos últimos três editais e 400 empreendedores capacitados, conforme informações obtidas do site (Startup Para, 2024).
Foi realizada uma busca dentro dos editais do programa StartUP Pará a fim de pesquisar os projetos inovadores na temática da educação, mostrando a participação ativa e criativa de empreendedores paraenses no ramo tecnológico. Como resultado da análise, observaram-se 18 projetos dentro de dois editais. Dentre esses, três vinculados ao edital Mulher N° 008/2022. Com base na premissa de fomentar ideias inovadoras lideradas por mulheres, buscou-se promover e valorizar a participação feminina no empreendedorismo e na inovação, visando fortalecer a autonomia econômica, com a garantia do pleno exercício da cidadania e da promoção da igualdade de gêneros no ecossistema de inovação do Pará a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável do estado. Dos quinze projetos restantes no tema da educação, esses estão incluídos dentro do 'Edital 008/2021 – Segunda chamada de seleção pública de propostas para apoio técnico e financeiro na modalidade subvenção econômica', o qual selecionou 80 propostas com 60 recebendo apoio financeiro do estado (Startup Para, 2024).
Dentre os projetos selecionados nos editais do programa StartUP Pará, um em destaque chamou a atenção em relação à proposta apresentada: a ideia dos Kits educacionais Miritilab para aprendizagem criativa, aprovado no Edital 008/2021 – Segunda chamada. Esse projeto cria kits educacionais para educadores e alunos com materiais amazônicos, principalmente advindos da árvore do Miriti, tendo o foco na interseccionalidade entre sustentabilidade e educação (Miriti Lab, 2024).
Os kits Educacionais Miritilab são totalmente amazônida, nascidos dentro da comunidade de Santa Bárbara/PA, conhecidos nacionalmente e internacionalmente, gerados a partir de vivência e do apoio do MIT Media Lab, na construção a partir da natureza, com um olhar para a sustentabilidade e o fácil acesso, de acordo com processos de sistematização educacional aplicados em cada um deles (dos kits). Todo o conteúdo elaborado a partir dos Lab Criativos serve como fonte de inspiração para a criação de diversos projetos de forma interdisciplinar, além de promover o desenvolvimento de habilidades e competências. Essa abordagem oferece a todos uma nova forma de aprender, fundamentada na Aprendizagem Criativa, permitindo que as pessoas assumam um papel ativo no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, ela contribui para o aprimoramento das relações socioemocionais de maneira eficaz (Miriti Lab, 2024).
Inovações tecnológicas evocam, comumente, imagens de dispositivos eletrônicos, como televisão, telefone e, sobretudo, computador. Contudo, no âmbito educacional, qualquer meio de comunicação que complementa a ação do professor se torna uma ferramenta tecnológica essencial na busca pela qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Saviani (1989) destaca que inovar na educação implica em "colocar a experiência educacional a serviço de novas finalidades". Atualmente os ambientes educacionais utilizam muito mais o conhecimento teórico em relação ao prático. O projeto não apenas reforça a importância da sustentabilidade como incentiva à reflexão em relação às consequências das escolhas dos consumidores. Além disso, a utilização de materiais didáticos de baixo custo possibilita o acesso equitativo à educação.
Além disso, o Estado do Pará também oferece o programa das Eetepas (Escolas de Ensino Técnico do estado do Pará), atualmente coordenado pela Secretaria De Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet) e localizado nas mais diversas regiões do Estado. O objetivo da criação da Rede Eetepa foi estabelecer um novo marco na educação profissional, enfatizando a importância do ensino e do protagonismo dos alunos como instrumentos essenciais na promoção do desenvolvimento local. Nele são ofertados cursos de robótica, mecânica, informática e entre tantos outros (Secretaria de estado de educação do Pará, 2024).
Existem, também, as Caravanas de Ciência e Tecnologia, executadas pela Sectet, um projeto voltado para propagação do conhecimento científico nas escolas. A Caravana da Inovação conta com um Laboratório Maker, um espaço dedicado à realização de oficinas e aulas práticas nas áreas de robótica, modelagem 3D, montagem, mecânica, mecatrônica e realidade virtual. Essa abordagem promove a curiosidade dos alunos, oferecendo uma significativa oportunidade de "aprender fazendo". O projeto integra a ciência ao cotidiano dos estudantes, contribuindo para a transformação do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, proporciona acesso a oportunidades educacionais em regiões remotas, permitindo que os alunos permaneçam em seus lares, próximos de suas famílias, em um estado de dimensões continentais como o Pará (Caravana da inovação, 2024).
Logo, a inserção da inovação tecnológica requer a interação entre gestores, educadores e alunos, promovendo o questionamento das finalidades da experiência educacional. Essa abordagem colaborativa permite identificar problemas e deficiências na adoção de novas tecnologias, buscando soluções eficientes para aprimorar o processo educativo.
Diante do exposto, as atividades laborais são de suma importância para aprimorar a situação educacional do estado, pois são pensadas por sujeitos que conhecem a realidade de sua localidade, tornando-os aptos a criarem possibilidades para uma mudança efetiva.
Considerações finais
Em um cosmos educacional em constante metamorfose, a relação entre Psicologia da Educação e tecnologia revela-se como uma jornada intelectual. O complexo entrelaçamento entre processos cognitivos, emocionais e as novas ferramentas de conhecimento delineia um panorama de possibilidades e desafios. A entrada da tecnologia, catalisada pelo seu avanço exponencial, não apenas redefine a sala de aula como demanda uma reavaliação do papel da Psicologia nesse cenário dinâmico. Nesse paraíso cibernético, a personalização do aprendizado desafia os paradigmas convencionais, convocando-nos a explorar os conteúdos da mente em sinergia com algoritmos inteligentes.
A discrepância regional e socioeconômica na capacitação de educadores em tecnologias educacionais é alarmante e precisa ser abordada de forma sistemática, acompanhada por uma formação docente contínua e robusta. Municípios e comunidades distantes dos centros urbanos frequentemente enfrentam barreiras significativas não apenas no acesso a ferramentas tecnológicas, mas também na formação profissional.
Portanto, é fundamental que políticas públicas priorizem a equidade na formação de professores, garantindo que todos os educadores tenham acesso às competências necessárias para integrar a tecnologia em suas práticas pedagógicas.
Por outro lado, a colaboração com as comunidades locais e a implementação de iniciativas empreendedoras emergem como estratégias essenciais para a revitalização do processo educativo. Ao promover a participação ativa de cidadãos e estudantes na identificação de problemas e na busca de soluções, fomenta-se um ambiente de aprendizado mais contextualizado e relevante. A educação torna-se um espaço de cocriação, onde alunos são vistos como sujeitos ativos e não como meros receptores de conhecimento.
Finalmente, para que a integração das tecnologias na educação seja eficaz e de qualidade, é imprescindível realizar uma investigação aprofundada das realidades contextuais que cercam as instituições de ensino. Compreender as necessidades pedagógicas específicas, as dinâmicas sociais e as expectativas dos alunos permitirá que os educadores desenvolvam abordagens metodológicas que sejam verdadeiramente inovadoras e adaptativas. Somente por meio dessa compreensão abrangente será possível pavimentar o caminho para um futuro educativo mais justo, inclusivo e humanizado.
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Publicado em 15 de janeiro de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Karyny Lorrany Lameira da; TRINDADE, Maria José de Sousa. Psicologia da Educação e tecnologia: relação entre a aprendizagem e as novas ferramentas de conhecimento. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 2, 15 de janeiro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/2/psicologia-da-educacao-e-tecnologia-relacao-entre-a-aprendizagem-e-as-novas-ferramentas-de-conhecimento
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