A Comunicação Alternativa como fator essencial na Educação Especial

Nair Felema

Especialista em Educação Especial e Inclusiva (Faculdade de Educação São Luís)

Mario Marcos Lopes

Docente da Faculdade de Educação São Luís e do Centro Universitário Barão de Mauá, tutor de Pedagogia na UFTM

Ao pensar em comprometimento da fala, é necessário refletir sobre as possibilidades de fazer com que o indivíduo que possui essa dificuldade possa interagir e assim consiga comunicar suas vontades, escolhas, sentimentos, dúvidas e necessidades. É necessário que isso aconteça de forma que a pessoa com quem esse sujeito vem interagindo possa compreendê-lo; a Comunicação Alternativa é um instrumento essencial que fornece essa possibilidade, favorecendo a autonomia deles (Oliveira, 2020). A partir disso, este trabalho objetiva tratar do comprometimento da fala e da Comunicação Alternativa, destacando sua utilização na Educação Especial.

O tema escolhido se justifica pelo interesse dos pesquisadores em explorar o assunto Comunicação Alternativa, trazendo contribuições que possam colaborar com a Educação Especial e Inclusiva e com conhecimento para o público em geral, em especial para professores, psicólogos e outros profissionais que desenvolvem seu trabalho relacionado à Educação Especial e que têm a presença de alunos com comprometimento da fala em seu cotidiano. Este trabalho, que tem como metodologia a pesquisa bibliográfica, irá discorrer quanto à Comunicação Alternativa e seu uso na Educação Especial e no que se refere ao comprometimento da fala.

Procedimentos metodológicos

Este estudo é uma pesquisa bibliográfica a respeito da Comunicação Alternativa como elemento significante na Educação Especial. De acordo com Sousa, Oliveira e Alves (2021, p. 65), “a pesquisa bibliográfica está inserida principalmente no meio acadêmico e tem a finalidade de aprimoramento e atualização do conhecimento, através de uma investigação científica de obras já publicadas”.

Como expõe Boccato (2006, p. 266), a pesquisa bibliográfica

busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. [...] Para tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação.

Com base no que é ressaltado pelos autores acima, a pesquisa bibliográfica se dá como busca em trabalhos e publicações já realizados a fim de obter resolução de problemas, conhecimento, informações e aprimoramento sobre determinado assunto.

Após realizada a pesquisa em fontes seguras de publicações, foram utilizados artigos que apresentavam maior pertinência sobre o tema proposto como critério de inclusão; foram excluídos os artigos que não abrangiam o objetivo em si.

Resultados e discussão

As informações obtidas a partir da leitura dos trabalhos foram divididas em três classes de análise:

  1. Comprometimento da fala;
  2. Comunicação Alternativa: conceito;
  3. Comunicação Alternativa na Educação Especial.

Esses assuntos serão abordados a seguir.

Comprometimento da fala

Num meio em que interações sociais se dão principalmente a partir da fala, indivíduos que por variados fatores possuem impossibilidade de se comunicar funcionalmente ou não demonstram a oralidade acabam, por sua vez, tendo suas interações restringidas (Silva, 2008).

O comprometimento da fala pode ser acompanhado por alterações motoras, sensoriais e cognitivas que colaboram para que o sujeito tenha dificuldade de se comunicar de forma compreensiva por meio de outras formas, como sons, gestos e expressões faciais (Silva, 2008). De acordo com Nunes (2008 apud Moreschi; Almeida, 2012, p. 662),

quando o indivíduo é totalmente incapaz de falar ou sua fala não é capaz de promover sua comunicação, é necessário que recursos alternativos sejam utilizados a fim de restituir o processo interativo desse sujeito com o mundo que o rodeia.

Portanto, é necessário pensar em possibilidades que colaborem com a interação e a comunicação dessas pessoas, proporcionando a elas autonomia e consequentemente melhor qualidade de vida. Uma forma essencial de fazer com que isso aconteça se dá pela Comunicação Alternativa.

Comunicação Alternativa: conceito

A Comunicação Alternativa engloba a utilização de expressões corporais e faciais, gestos manuais, voz sintetizada ou digitalizada, símbolos gráficos bidimensionais (que incluem gravuras, linguagem alfabética, fotografias e desenhos) ou tridimensionais relacionados a miniaturas e objetos reais e outros elementos como recursos de efetivar a comunicação face a face de pessoas incapacitadas de utilizar a linguagem oral (Nunes, 2003; Schirmer, 2018).

A Comunicação Alternativa se dá como um tipo de tecnologia assistiva, que, por sua vez, está relacionada a funcionalidades e produtos variados que auxiliam no desenvolvimento de algumas atividades, fazendo com que sejam favorecidas a independência e a autonomia dos seus usuários (Nascimento; Chagas, 2021). Ela vai além das funções de comunicação e das variadas adaptações, colaborando para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, motoras e afetivas (Oliveira, 2020).

A Comunicação Alternativa, sendo uma modalidade de tecnologia assistiva, ocorre como um campo de conhecimento multidisciplinar, o qual se direciona a estudar habilidades e meios de comunicação junto ao indivíduo sem a capacidade de fala e/ou de escrita funcional e possibilitar condições no que tange à acessibilidade comunicativa dessas pessoas. Ela se direciona a todos os sujeitos que não possuam essas condições de forma temporária ou permanente (Schirmer, 2018).

A Comunicação Alternativa colabora com indivíduos de todas as faixas etárias que necessitam fazer uso de estratégias e recursos que possam desenvolver ou ampliar as habilidades comunicativas. A introdução da Comunicação Alternativa deve ser feita sempre que houver afastamento entre a capacidade de expressão e compreensão de um indivíduo ou quando a probabilidade de se fazer entender é menor do que a de sujeitos que possuem a mesma faixa etária, fazendo com que as oportunidades dessa pessoa de interagir e se relacionar sejam diminuídas (Schirmer; Bersch, 2007; Schirmer, 2018).

A Comunicação Alternativa na Educação Especial

Na ausência da fala, pessoas com comprometimento de se comunicar precisam de instrumentos para poder expressar suas necessidades, opiniões, desejos, sentimentos, pensamentos, para conseguir respostas de dúvidas e solicitar alguma informação; a Comunicação Alternativa é um instrumento de promover a comunicação na vida desses indivíduos, assegurando suas interações sociais (Schirmer, 2018).

Ao se pensar em Comunicação Alternativa no ambiente escolar, é necessário o entendimento de que ao se comunicar é utilizada uma diversidade de estratégias e recursos; isso é chamado de Sistema de Comunicação Alternativa. As intervenções realizadas na Comunicação Alternativa, em casa, na escola e na clínica, abarcam quatro elementos: recursos, técnicas, estratégias e símbolos. Esses componentes usados pelo estudante permitem que ele interaja, e que os professores, conhecendo a Comunicação Alternativa, possam acompanhar a utilização desse instrumento, treinando, indicando e auxiliando seus alunos (Schirmer, 2018).

Considerações finais

A partir do que foi apresentado, foi possível alcançar o objetivo do estudo e compreender a Comunicação Alternativa, seu conceito e sua importância como ferramenta utilizada e pode colaborar significativamente com pessoas que possuam algum comprometimento na fala, destacando seu uso na Educação Especial. Esse instrumento permite promover mais autonomia e independência ao indivíduo, facilitando sua interação, fornecendo mais condições para que ele possa expressar o que deseja e aumentando a possibilidade de ser compreendido por quem interage com ele.

Referências

BOCCATO, Vera Regina Casari. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica e o artigo científico como forma de comunicação. Rev. Odontol. Univ., São Paulo, v. 18, nº 3, p. 265-274, 2006. Disponível em: https://arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/revista_odontologia/pdf/setembro_dezembro_2006/metodologia_pesquisa_bibliografica.pdf. Acesso em: 10 ago. 2023.

MORESCHI, Cândice Lima; ALMEIDA, Maria Amélia. A comunicação alternativa como procedimento de desenvolvimento de habilidades comunicativas. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 18, n. 4, p. 661-675, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbee/a/N3Sz9N6gvhGmvZnNYPTQdwx/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10 ago. 2023.

NASCIMENTO, Fabrício Crispim do; CHAGAS, Gardênia Santana das; CHAGAS, Francinaldo Santana das. As tecnologias assistivas como forma de comunicação alternativa para pessoas com transtorno do espectro autista. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 21, nº 16, 4 de maio de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/16/as-tecnologias-assistivas-como-forma-de-comunicacao-alternativa-para-pessoas-com-transtorno-do-espectro-autista.  Acesso em: 10 ago. 2023.

NUNES, Leila Regina D’Oliveira de Paula. Favorecendo o desenvolvimento da comunicação em crianças e jovens com necessidades especiais. Rio de Janeiro: Dunya, 2003.

OLIVEIRA, Bruna Letícia Santos de. Comunicação Alternativa e suas contribuições pedagógicas. Revista Sítio Novo, v. 4, n. 3, p. 228-236, 2020. Disponível em: https://sitionovo.ifto.edu.br/index.php/sitionovo/article/view/648/220. Acesso em: 10 ago. 2023.

SOUSA, Angélica Silva de; OLIVEIRA, Guilherme Saramago de; ALVES, Laís Hilário. A pesquisa bibliográfica: princípios e fundamentos. Cadernos da Fucamp, v. 20, nº 43, p. 64-83, 2021. Disponível em: https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/cadernos/article/view/2336. Acesso em: 10 ago. 2023.

SCHIRMER, Carolina Rizzoto. Comunicação Alternativa para alunos com dificuldades severas na fala. Revista Espaço Acadêmico, Curitiba, nº 205, p. 18, 2018. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/43268/751375137856. Acesso em: 10 ago. 2023.

SCHIRMER, Carolina Rizzoto; BERSCH, Rita. Comunicação Aumentativa e Alternativa. In: SCHIRMER, Carolina Rizzoto; BROWNING, Nádia; BERSCH, Rita; MACHADO, Rosângela. Atendimento educacional especializado - deficiência física. Brasília: MEC/Seesp, 2007. p. 57-83. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf. Acesso em: 10 ago. 2023.

SILVA, Michele Oliveira da. Comunicação Alternativa no Brasil: pesquisa e prática. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 14, nº 2, p. 327-332, maio/ago. 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbee/a/737bFnsYrqL9F5rLwcZ65rH/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10 ago. 2023.

Publicado em 02 de julho de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

FELEMA, Nair; LOPES, Mario Marcos. A Comunicação Alternativa como fator essencial na Educação Especial. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 24, 2 de julho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/24/a-comunicacao-alternativa-como-fator-essencial-na-educacao-especial

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