Tecnologia digital como apoio pedagógico para alunos com transtorno do espectro autista

Angélica Fernandes de Araújo

Professora, especialista em Serviços em Atendimento Educacional Especializado (UFPEL), mestranda em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca)

Sheila da Silva Ferreira Arantes

Doutoranda em Informática, professora do Mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca), pós-graduada em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF), em Gestão escolar (UBM) e em Psicopedagogia Institucional (UCB), graduada em Pedagogia (UniverCidade)

Este artigo consiste em uma pesquisa bibliográfica que tem como foco o uso de tecnologias digitais na educação como apoio pedagógico a alunos diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA). O objetivo é compreender e verificar de que forma as tecnologias digitais podem auxiliar os professores, de modo geral, no ensino de alunos com TEA. Para isso, buscamos artigos científicos que tratam do tema em questão, abordando aspectos relacionados aos alunos com Transtorno do Espectro Autista, à inclusão escolar e ao uso das tecnologias digitais na inclusão desses alunos em sala de aula.

Tecnologias digitais na educação com alunos autistas

O século XX intensificou as pesquisas sobre o transtorno do espectro autista e sobre as tecnologias. No decorrer dos anos, os estudos avançaram, mas ainda existem grandes desafios pela frente. Portanto, cabe pensar no reflexo que a tecnologia trouxe, principalmente no que diz respeito às pesquisas sobre o TEA, de modo que ajuda as crianças a superarem algumas dificuldades (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

As novas tecnologias digitais apresentam grandes mudanças estruturais na sociedade, pois o acesso a elas facilitou muito a aquisição de novos conhecimentos e a diminuição da exclusão social, trazendo mais informação e autonomia para todos (Rego et al., 2022).

Segundo Silva, Artuso e Tortato (2020), a tecnologia globalizou o mundo, e hoje não é possível viver em sociedade sem os recursos tecnológicos. Sendo assim, torna-se necessário refletir sobre o uso da tecnologia. A ciência e a tecnologia podem servir como meios adequados no processo de ensino-aprendizagem, desde que os recursos tecnológicos sejam efetivamente desenvolvidos, auxiliando as habilidades dos alunos autistas.

Logo, o professor deve se adequar a novas metodologias para ajudar os alunos autistas na sala de aula, desenvolvendo os conteúdos de forma diferenciada, de modo que o aluno com transtornos possa aprender o conteúdo proposto (Oliveira; Tomaz; Silva, 2021).

Para Silva, Artuso e Tortato (2020), a tecnologia pode contribuir para melhorar a sociedade como um todo, promovendo uma educação mais alinhada, humana e atenta às particularidades de cada aluno, não apenas dos alunos autistas, mas de todos que necessitam de apoio para se desenvolver em diversos aspectos. Assim, a utilização de novos recursos digitais na aprendizagem tem como objetivo o desenvolvimento dos alunos e de suas habilidades.

No mundo em que vivemos hoje, necessitamos das tecnologias digitais e da internet para quase tudo. O uso de tecnologias na educação inclusiva de alunos com Transtorno do Espectro Autista deve fazer parte de uma proposta pedagógica baseada no bom senso, conforme discutido nesta proposta. Essa iniciativa precisa ser ampliada de forma cada vez mais ativa, a fim de alcançar o maior número possível de autistas e também outros alunos com diferentes transtornos que necessitam de ajuda para desenvolver habilidades e absorver novos conhecimentos (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

Os efeitos positivos da tecnologia digital aplicam-se quando utilizados com boas intenções, visando alcançar os objetivos propostos. O autista pode apresentar diversos enigmas, visto que não há um diagnóstico absolutamente preciso, nem uma cura para o transtorno. Desse modo, o tratamento ideal é iniciado o mais cedo possível, na infância, para que o aluno seja estimulado e tenha melhores chances de desenvolvimento (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

As tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem com alunos diagnosticados com TEA trazem práticas com bons resultados, promovendo o desenvolvimento cognitivo, aperfeiçoando o relacionamento afetivo e auxiliando no processo de tomada de decisões, entre outros benefícios (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

Não se pode considerar que a tecnologia digital seja a solução para tudo, mas ela pode auxiliar. As escolas precisam estar preparadas para lidar com alunos com transtornos, compreendendo suas limitações e habilidades. Sendo assim, a tecnologia será um instrumento de alta relevância no processo de inclusão escolar, complementando o aprendizado (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

Transtornos do espectro autista

Ao falarmos sobre autismo, primeiro devemos entender a Educação Especial como uma modalidade de ensino caracterizada por um público-alvo que precisa de um olhar mais atento. Quando uma unidade escolar recebe um aluno da Educação Especial, é necessário que haja uma reorganização geral, para que o aluno tenha um bom desenvolvimento social, afetivo e cognitivo (Santos, 2022).

Sendo assim, este aluno precisa ser bem acolhido por todos no ambiente escolar. Segundo Santos (2022), a legislação brasileira garante o direito de todos à educação, permitindo o acesso às escolas independentemente de suas necessidades educativas especiais, e as unidades escolares devem cumprir esse direito. Isso significa que a escola deve se esforçar para oferecer ao aluno uma educação de qualidade, buscando melhorias em todos os aspectos, tanto na estrutura quanto no ensino-aprendizagem, com adaptação do currículo e metodologias diferenciadas, de acordo com as necessidades do aluno, independentemente de suas necessidades educativas especiais.

Ao nos depararmos com alunos autistas em sala de aula, precisamos analisar o quanto o trabalho em conjunto com a equipe escolar é essencial. Tanto na escola quanto fora dela, esse trabalho é importante para o desenvolvimento do aluno. Por isso, é fundamental que os profissionais busquem capacitação sobre os transtornos do espectro autista (Santos, 2022).

O transtorno apresenta alterações neurológicas que limitam o indivíduo em diversos aspectos, podendo variar de graus leves a mais severos. As pesquisas comprovam que afeta mais meninos do que meninas, a partir dos três anos de idade (Saldanha, 2022).

As pessoas com autismo apresentam diferentes níveis de desenvolvimento, que podem ser analisados por meio de suas características. A partir disso, podemos afirmar o quanto é importante a inclusão dos alunos autistas no processo de ensino-aprendizagem (Santos, 2022).

Sabe-se que alguns autistas demonstram dificuldades na compreensão da fala e de gestos, entendendo as coisas de forma mais restrita, sem conseguir interligar as ideias com clareza, necessitando, portanto, de ajuda e atenção (Saldanha, 2022).

O professor deve inovar suas metodologias por meio do uso de novas tecnologias digitais no ensino básico para os alunos autistas, realizando atividades adaptadas que possibilitem a aprendizagem dos conteúdos abordados (Santos, 2022).

As pesquisas são importantes para auxiliar os professores nas intervenções no ensino-aprendizagem dos alunos, permitindo adaptar o conteúdo de acordo com as características de cada criança autista, mediante um planejamento adequado (Saldanha, 2022).

É necessário estudar diversos estímulos relacionados aos temas de interesse do aluno e valorizar o que ele já conhece. Ou seja, o professor deve analisar os interesses da turma e adaptar o conteúdo conforme as necessidades e o potencial de cada aluno, pois isso beneficia positivamente a inclusão em sala de aula. Esses processos são fundamentais para a participação e a aprendizagem do aluno (Santos, 2022).

Sendo assim, segundo Santos (2022), os professores precisam estudar diversos estímulos relacionados aos temas que interessam ao aluno e acolher o que ele já conhece. O professor deve, portanto, analisar os interesses da turma e adaptar o conteúdo de acordo com as necessidades e o potencial de cada estudante, visto que esses processos são fundamentais para a participação e aprendizagem do mesmo em sala de aula.

Algumas abordagens que têm mostrado maior eficácia

  • Uso de tecnologias digitais interativas: Softwares educacionais, aplicativos e jogos digitais que utilizam imagens, sons e movimentos têm demonstrado impacto positivo no desenvolvimento das funções executivas, da linguagem, da atenção e das habilidades sociais de alunos com TEA (Silva; Artuso; Tortato, 2020).
  • Ambientes digitais personalizados: Plataformas adaptativas que permitem personalizar o ritmo, o conteúdo e a forma de apresentação às necessidades específicas do aluno têm se mostrado eficientes na promoção de maior engajamento e aprendizagem significativa (Rego et al., 2022).
  • Intervenções precoces com mediação tecnológica: A introdução de recursos tecnológicos na primeira infância, associada ao acompanhamento profissional, tem potencial para melhorar significativamente o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança com autismo (Silva; Artuso; Tortato, 2020).
  • Capacitação docente para o uso de tecnologia: Professores que utilizam metodologias inovadoras e adaptam os conteúdos com o auxílio da tecnologia tendem a obter melhores resultados na inclusão e no progresso de alunos com TEA (Santos, 2022).
  • Foco nos interesses específicos do aluno: Abordagens que utilizam os interesses restritos ou preferências do aluno como ponto de partida para o desenvolvimento de atividades digitais adaptadas favorecem a motivação e a participação (Saldanha, 2022; Santos, 2022).

Limites das pesquisas e desafios identificados

Falta de diagnóstico preciso e diversidade no espectro: O TEA é altamente heterogêneo, o que dificulta a generalização das estratégias tecnológicas. Muitos estudos não consideram os diferentes graus de autismo, o que limita a aplicabilidade dos resultados (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

Ausência de formação continuada nas escolas: A eficácia das tecnologias depende diretamente do preparo dos profissionais. Muitos professores não possuem formação adequada para integrar esses recursos ao currículo de forma eficiente (Santos, 2022).

Infraestrutura limitada nas escolas públicas: A inclusão digital ainda é desigual. Escolas com poucos recursos não conseguem implementar tecnologias de forma contínua, o que compromete o desenvolvimento de propostas pedagógicas inclusivas.

Supervalorização da tecnologia: Embora os recursos digitais sejam ferramentas muito potentes, não substituem o papel humano do professor, do mediador e do afeto. A tecnologia deve ser vista como um complemento, e não como solução única (Silva; Artuso; Tortato, 2020).

Falta de pesquisas longitudinalmente robustas: Muitas investigações ainda são de curto prazo e não permitem avaliar os impactos a longo prazo no desenvolvimento dos alunos com TEA.

Pouca escuta dos próprios alunos com TEA: A maioria das pesquisas foca no olhar dos professores e pesquisadores, mas ainda há pouca produção científica que ouça as experiências e percepções dos próprios autistas sobre as tecnologias que utilizam.

Conclusão

As pesquisas apontam que as tecnologias digitais têm contribuído significativamente para o processo de ensino e aprendizagem de alunos com transtorno do espectro autista (TEA), especialmente quando aplicadas de forma personalizada, interativa e associadas a metodologias inovadoras que consideram os interesses e as necessidades específicas de cada aluno. O uso de aplicativos, jogos e plataformas digitais adaptativas tem favorecido o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e comunicacionais, principalmente quando iniciado precocemente.

Assim sendo, faz-se necessário que os professores, de modo geral, busquem inovar e pratiquem atividades que os auxiliem no dia a dia. No entanto, essas abordagens ainda enfrentam limitações importantes, como a diversidade de manifestações do espectro, a carência de formação docente adequada, a desigualdade no acesso às tecnologias e a ausência de pesquisas de longo prazo.

Além disso, é preciso cautela para que a tecnologia não seja supervalorizada como solução única, pois o papel do professor, o planejamento pedagógico e o acolhimento humano continuam sendo fundamentais para uma inclusão escolar efetiva. Assim, a tecnologia deve ser compreendida como uma ferramenta de apoio, complementar ao processo educativo, e não como substituta da mediação pedagógica sensível e consciente.

Referências

FETTER, Shirlei Alexandre; SILVA, Denise Regina Quaresma da. Práticas com aprendizagem significativa para estudantes da Educação Básica. Revista Educação Pública, v. 20, nº 35, 15 set. 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/35/praticas-com-aprendizagem-significativa-para-estudantes-da-educacao-basica. Acesso em: 23 jul. 2025.

OLIVEIRA, Suely de Lemos Alves; TOMAZ, Edileuza Braz; SILVA, Robson José de Moura. Práticas educativas para alunos com TEA: entre dificuldades e possibilidades. Revista Educação Pública, v. 21, nº 3, 26 jan. 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/2/praticas-educativas-para-alunos-com-tea-entre-dificuldades-e-possibilidades. Acesso em: 23 jul. 2025.

REGO, L. F. M. E.; COSTA, D. de J. M.; FERNANDES, V. M. D. C.; SILVA, P. T. S. da. Tecnologias e Educação Inclusiva: desafios e perspectivas na formação docente. Conjecturas, v. 22, n. 8, p. 779–792, 2022. DOI: 10.53660/CONJ-1265-V16. Disponível em: https://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/1265. Acesso em: 19 maio 2024.

SALDANHA, José Sandro Sousa. Tecnologias assistivas na Educação Inclusiva: aplicativo no auxílio do transtorno do espectro do autismo. 2022. 17f. Artigo acadêmico (Pós-Graduação em Informática na Educação) – Instituto Federal do Amapá, Macapá, 2022.

SANTOS, Douglas Manoel Antônio de Abreu Pestana dos. Possibilidades e tensões da tecnologia no ensino do aluno autista. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 18, 17 maio 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/18/possibilidades-e-tensoes-da-tecnologia-no-ensino-do-aluno-autista. Acesso em: 23 jul. 2025.

SILVA, Z. de L. da; ARTUSO, R.; TORTATO, S. B. Tecnologias de inclusão no ensino de crianças com TEA. Revista Eletrônica Pesquiseduca, v. 12, nº 26, p. 157–179, 2020. Disponível em: https://periodicos.unisantos.br/pesquiseduca/article/view/947. Acesso em: 23 jul. 2025.

Publicado em 30 de julho de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

ARAÚJO, Angélica Fernandes de; ARANTES, Sheila da Silva Ferreira. Tecnologia digital como apoio pedagógico para alunos com transtornos do espectro autista. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 28, 30 de julho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/28/tecnologia-digital-como-apoio-pedagogico-para-alunos-com-transtorno-do-espectro-autista

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