Contribuições da monitoria de Biologia na formação dos alunos monitores em uma escola pública de Fortaleza/CE

Antonio Augusto da Silva Vasconcelos

Professor de Biologia da Escola de Ensino Fundamental e Médio Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, graduado em Ciências Biológicas (UFC), pós-graduando em Ensino de Fisiologia Humana (CEAD-UFPI), ex-bolsista de Residência Pedagógica (Capes/UFC)

Jeferson Santana dos Santos

Professor de Biologia da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. Gentil Barreira, graduado em Ciências Biológicas (UFBA), especialista em Ensino de Ciências (UFRB), mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBA/UEFS)

A monitoria acadêmica pode ser compreendida como um processo educacional de ensino e aprendizagem que promove a formação profissional do aluno-monitor, auxiliando-o no desenvolvimento de suas competências e habilidades (Natário; Santos, 2010), promovendo diálogos e aprofundamentos de conteúdos e construindo um ambiente enriquecedor para o professor e outros alunos (sobretudo os monitores). Consoante Frison (2016), já no século XIV, alguns tutores possuíam um tipo de auxiliar, conhecido como proscholus, palavra em latim referente ao que seria um aluno-monitor que participava do processo de ensinar-aprender. Isso demonstra que a relação professor-monitor está presente desde os primórdios dos sistemas educacionais, fazendo parte do desenvolvimento de estratégias de ensino.

Atualmente, o Art. 84 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida também como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), prevê as atividades de monitoria na educação: “Os discentes da Educação Superior poderão ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com o seu rendimento e o seu plano de estudos”. Além disso, o Decreto n° 85.862/1981, embora tenha sido revogado, concedia às instituições de Ensino Superior (IES) o direito de desenvolver um cenário com as condições básicas para a realização da função de monitoria, indicando que o referido tema atrai a atenção de educadores há considerável tempo. É notável, portanto, a invisibilidade legislativa dos projetos de monitoria para alunos do Ensino Médio, visto que a referida lei abrange apenas o nível superior de ensino.

Nesse aspecto, apesar de os projetos serem frequentes em IES e, em menor escala, na Educação Básica (Natário; Santos, 2010; Santos; Lanes; Santos, 2021), a ausência de um referencial teórico sobre monitoria na Educação Básica evidencia que a quantidade de estudos acerca dessa temática é insuficiente (Cunha Júnior, 2017).

Durante o período como monitores, os alunos passam por orientação e processos formativos, além de prestarem auxílio nas atividades fomentadas pelo professor (Luna, 2018). Ademais, o autor cita o intuito de desenvolver diferentes habilidades desses alunos-monitores, principalmente aquelas relacionadas às atividades didáticas, visando o aprendizado tanto do monitor quanto dos demais alunos. Essa imersão dos monitores pode ser entendida como uma posição de mediador entre professor e aluno, servindo como ponte de comunicação entre eles, tornando-os cada vez mais ativos no processo de aprendizagem.

Cunha Júnior (2017) afirma que os alunos são agentes protagonistas envolvidos no processo de aprendizagem de tal maneira que, em sua ausência, ele não ocorreria, já que, assim como os professores, os estudantes são os pilares desse sistema. Nesse sentido, a participação do professor no processo educacional não se resume apenas ao propósito de ensinar, mas também ao de aprender, pois o aluno exerce, igualmente, o papel de educar o educador (Paiva et al., 2016).

Alguns modelos educacionais concentram-se em fomentar a construção do conhecimento a partir de experiências que desafiam o intelecto do aluno, nas quais o professor estimula a aprendizagem por meio da reflexão e da formação de argumentos, apoiando-se em aulas práticas (Driver et al., 1999). Como analisado por Pagel et al. (2015), as atividades práticas, quando bem planejadas e aplicadas pelo corpo docente, podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Desse modo, o ponto de vista da educação como puro sistema de reprodução de conhecimento pode ser problematizado pelo advento das propostas educacionais nutridas pelo caráter de construção de reflexões e críticas, receptividade ao novo conhecimento e pesquisas com metodologias assertivas e abertas a questionamentos (Paiva et al., 2016; Freire, 2008).

Com base nisso, percebe-se a necessidade de promover discussões relacionadas às estratégias e modelos de ensino de Ciências e Biologia nas diferentes etapas da educação, objetivando atender às mais variadas demandas sociais, econômicas e culturais. Nesse segmento, o professor tem o poder de promover e estreitar a relação entre os conteúdos da disciplina escolar e os saberes dos alunos, baseando-se nos conhecimentos da comunidade científica e em pressupostos pedagógicos (Santana; Mota; Lorenzetti, 2022).

Íntimo a esse cenário, compreende-se o Ensino por Investigação (EnI) como proposta pedagógica importante para fomentar o ensino de Ciências e Biologia (Roitman, 2007; Trivelato; Tonidandel, 2015; Sasseron, 2015; Couto; Nascimento, 2020). Ampliando o ensino para além da simples transmissão do conhecimento, o EnI pode ajudar a construir um espaço educacional mais adequado para o entendimento dos conceitos biológicos da vida por meio do envolvimento dos alunos com as práticas científicas, desenvolvendo suas capacidades investigativas (Santana; Mota; Lorenzetti, 2022).

Portanto, sabendo que a monitoria estimula o aprendizado ao permitir a integração entre conhecimentos teóricos e práticos (Frison, 2016), proporciona motivação profissional, desenvolve a comunicação dos estudantes e desperta reflexões sobre formas de pensar e atuar (Benício, 2019), o presente estudo teve como objetivo analisar as contribuições que o projeto de monitoria tem proporcionado aos participantes de uma escola pública.

Metodologia

A presente pesquisa foi realizada em uma escola de Ensino Médio da rede pública estadual do Ceará, localizada no bairro Conjunto Ceará, Unidade de Vizinhança 2 (UV 2), na cidade de Fortaleza. Seguindo o paradigma qualitativo e descritivo, o estudo utilizou o método da entrevista estruturada por meio do questionário do Google Forms. Nesse sentido, optou-se pela aplicação remota do questionário, considerando que a presença do entrevistador não é necessária no momento em que os participantes respondem à pesquisa (Oliveira et al., 2016). Além disso, esse método permite atingir muitas pessoas simultaneamente, oferece rapidez na obtenção de respostas e, por ser anônimo, proporciona maior liberdade nas respostas dos entrevistados (Boni; Quaresma, 2005).

O questionário continha 30 perguntas, mesclando questões objetivas e discursivas, e para análise foram organizadas conforme a temática, seguindo uma dinâmica de separação em seis categorias:

  1. perfis dos discentes;
  2. o que os estudantes monitores pensam acerca da disciplina de Biologia e do projeto de monitoria;
  3. métodos de ensino de Biologia conhecidos pelos monitores e suas percepções sobre esses métodos;
  4. os benefícios da monitoria e sua influência nas perspectivas pessoais e profissionais dos monitores;
  5. a relação entre a monitoria e os projetos de iniciação científica; e
  6. as possíveis correlações entre a participação na monitoria e o rendimento escolar dos monitores.

Essa diferenciação em etapas foi fundamental para a posterior análise de dados, conforme proposto por Minayo (2011):

em geral, costumamos, por exemplo: (a) decompor o material a ser analisado em partes (o que é parte vai depender da unidade de registro e da unidade de contexto que escolhemos); (b) distribuir as partes em categorias; (c) fazer uma descrição do resultado da categorização (expondo os achados encontrados na análise); (d) fazer inferências dos resultados (lançando-se mão de premissas aceitas pelos pesquisadores); (e) interpretar os resultados obtidos com auxílio da fundamentação teórica adotada (Minayo, 2011, p. 79).

Por fim, no intuito de interpretar as falas dos participantes da pesquisa e extrair informações significativas sobre o tema, realizou-se a análise das respostas em três fases: a primeira consistiu em uma pré-análise dos dados, por meio da leitura das respostas; em seguida, sistematizaram-se as concepções dos participantes; e, na terceira e última fase, ocorreu a interpretação dos dados, com a ordenação dos resultados e discussão a partir da literatura, dando ênfase aos conhecimentos indispensáveis (Lopes et al., 2019).

Os participantes da pesquisa foram os estudantes que integraram o projeto Monitoria de Biologia no ano de 2023, cujo grupo possuía cerca de 30 estudantes. O presente trabalho seguiu os preceitos éticos que norteiam as pesquisas com humanos e, por isso, foi disponibilizado o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) aos pais e/ou responsáveis, via Google Forms. Após a assinatura virtual autorizando a participação dos estudantes, foi disponibilizado o formulário de pesquisa com o termo de assentimento livre e esclarecido (TALE) direcionado aos discentes. Ambos os termos foram elaborados utilizando o Google Forms e encaminhados a todos os envolvidos por meio do grupo de WhatsApp.

Atividades do projeto de monitoria      

A escola possui um laboratório destinado às disciplinas de Biologia e Química, elemento sine qua non para o projeto de monitoria, sendo o principal ambiente de realização das atividades. Com encontros mensais ou bimestrais, os professores orientadores e os monitores reúnem-se para um treinamento teórico-prático sobre determinado conteúdo, no qual discutem o tema, executam experimentos, validam roteiros práticos, entre outras atividades. De posse das habilidades adquiridas, os monitores atuam dando suporte e supervisão nas aulas práticas de todas as turmas da escola.

Além do apoio nas aulas práticas laboratoriais, outras atividades são desenvolvidas no projeto. Anualmente, são realizadas aulas de campo em espaços formais ou não formais de ensino, como universidades públicas da cidade, trilhas ecológicas, museus, eventos científicos, entre outros. Por último, mas não menos importante, parte dos monitores participa de projetos de iniciação científica, visando à socialização dos conhecimentos produzidos nas feiras de ciências locais e nacionais. Na Figura 1, é possível observar algumas atividades desenvolvidas pelos professores e monitores.

Figura 1: Atividades desenvolvidas no projeto de monitoria

Diante do exposto, vale ressaltar que os monitores são os protagonistas desse processo educacional e, por isso, é importante que sejam consideradas as questões socioeconômicas e culturais dos discentes, bem como suas ambições e receios (Cunha Júnior, 2017).

Dos trinta monitores convidados a participarem da pesquisa, dezenove responderam ao questionário (E1 a E19). Apesar disso, é importante salientar que algumas perguntas não foram respondidas.

O perfil dos monitores da escola

A idade dos monitores varia de 16 a 18 anos; são estudantes das três séries do Ensino Médio, dos turnos da manhã e da tarde, e moram no próprio bairro da escola ou em bairros adjacentes. Quanto ao perfil de gênero, oito eram meninas cis, oito meninos cis e três pessoas preferiram não informar.

O que os discentes monitores pensam acerca da disciplina de Biologia e do projeto de monitoria

Durante a análise das respostas, “favorita”, “interessante”, “incrível” e “fascinante” foram alguns dos adjetivos mais citados em referência à disciplina de Biologia. Todas as dezenove respostas ilustram bem a forma de pensar da maior parte dos monitores sobre a disciplina, evidenciando que esses discentes desejam se aproximar da ciência que estuda o mundo vivo e suas interações. Vale ressaltar que uma das respostas demonstra mudança de percepção ao longo do tempo, relatando que a afinidade pela Biologia foi construída com o passar do tempo, a partir das atividades realizadas pelo grupo. “Antes de conhecer de verdade os objetivos da disciplina, tinha pouquíssima afinidade com a matéria. Atualmente, após o tempo de aulas práticas e do trabalho da monitoria, a Biologia se tornou minha matéria preferida” (E13).

Além do mais, oito respostas revelaram que alguns monitores enxergam a disciplina de Biologia como algo importante na vida dos estudantes, relacionando-a com a conquista de novos conhecimentos sobre as complexidades da vida e da natureza, abrangendo conhecimentos sobre o corpo humano, os animais, do mais simples ao mais complexo, os ciclos biogeoquímicos, além de conceitos sobre preservação, meio ambiente e saúde, conforme indicam os relatos:

De alguma forma, ela esclareceu e esclarece algumas dúvidas sobre a vida, um tema no qual eu acho muito complexo. A matéria me dá motivação pra buscar mais conhecimento, me incentiva a ser menos ignorante (E2).

É uma área muito interessante e importante, atuando em diversas áreas. É uma ciência extremamente importante para a nossa vida, para entender nosso corpo, nossa vida ao redor, a natureza e o planeta em si (E3).

Tenho como uma linguagem universal que conecta todas as formas de organização biológica e uma espécie de ‘chave’ pra desvendar a vida (E5).

É uma das minhas favoritas; seus assuntos são muito importantes, principalmente os assuntos relacionados à preservação da vida, meio ambiente e saúde (E9).

Penso que biologia ajuda nós (sic) a entender os fenômenos da natureza, a entender de forma racional cada espécie (E19).

Enquanto isso, “mudança”, “protagonismo”, “formação”, “oportunidades” e “experiências” foram termos marcantes na descrição das vivências dos monitores. Esses atributos foram usados para se referirem às experiências no Projeto de Monitoria:

Muito útil, é um projeto que acolhe os alunos e abre diversas portas para novas experiências (E17).

O projeto nos proporcionou desenvolver competências: comunicativas, socioemocionais, cooperativas e, com certeza, no aprendizado e na afinidade às Ciências da Natureza (E13).

Projetos assim proporcionam experiências únicas e extremamente importantes para o aprendizado e desenvolvimento dos alunos voluntários (E12).

É um projeto incrível e que contribui muito para a formação acadêmica, profissional e pessoal dos alunos (E9).

Eu sempre digo que esse projeto me salvou, então o que eu penso sobre ele é que ele veio pra brilhar em muitas vidas não só na minha, isso posso dizer com certeza (E6).

Particularmente, mudou minha vida (E2).

Muito importante também por ajudar a resgatar aqueles alunos mais dispersos, os colocando numa posição de protagonista e de aprendizagem constante (E3).

Não caberiam caracteres para eu poder descrever o quão é incrível esse projeto. Basicamente mudou toda a minha maneira de enxergar a vida, nesse projeto eu não só aprendi Biologia, mas coisas que irei levar pra minha vida! Eu adoro tudo que faço dentro desse projeto, desde limpar bicho conservado no álcool até participar dos projetos de iniciação científica e ir para as feiras. [...] resumindo, é um projeto que eu amo participar, e que muda vidas (E1).

Acho um projeto bem legal e interessante. Um projeto que deu oportunidade para alunos(as) que tinham ou que têm interesse em aprender mais sobre e que tinha interesse na monitoria (E10).

Com base nesses relatos, pode-se entender que o projeto de monitoria proporciona experiências bastante produtivas para os estudantes do Ensino Médio. Além disso, percebe-se que o projeto auxilia no aprofundamento dos conteúdos de Ciências, bem como fomenta a participação dos monitores em feiras científicas, projetos de iniciação científica júnior e outras atividades. Importa salientar, também, que boa parte dos estudantes foi afetada pelo período da pandemia da covid-19, precisando optar pelo isolamento social e ensino remoto. Contudo, a monitoria tem conseguido proporcionar um ambiente de suporte a esses estudantes, estimulando as habilidades de comunicação, além do protagonismo estudantil, como aponta o relato a seguir.

Um projeto que definitivamente mudou minha vida. Ele incentiva adolescentes a serem protagonistas, mais sociáveis. Particularmente, me ajudou com um resquício de fobia social que ainda restava em mim, gerado pela pandemia (E2).

O que levou diversos estudantes a candidatarem-se para o projeto foi, em maior quantidade, o fato de apreciarem a disciplina e os conteúdos relacionados a essa ciência (nove respostas), seguido por ambições profissionais, considerando a carreira acadêmica e docente (sete respostas). Quatro alunos citaram interesse pelas atividades práticas/laboratoriais, enquanto dois afirmaram não saber o motivo exato, um alegando que o projeto era uma forma de escapar da realidade em que estava — saindo da rotina —, e outro afirmando que queria saber como funcionava o projeto. Com relação ao tempo de participação até a presente pesquisa, sete alunos possuíam menos de um ano, nove tinham entre um e dois anos e três estavam como monitores entre dois e três anos.

Em relação às dificuldades enfrentadas no projeto, foram listados: o tempo para encaixar as atividades voluntárias na rotina, seguido pela timidez e dificuldade de comunicação e socialização com outros estudantes (E3, E6, E8, E14). As necessidades de ser paciente, respeitoso e responsável também foram citadas por outros monitores. Esses fatos evidenciam que tais características comportamentais podem ser potencialmente trabalhadas durante o projeto de monitoria.

A maioria dos entrevistados apontou que ter aulas práticas com mais frequência ou dispor de mais tempo na grade curricular escolar para atividades práticas poderia acarretar melhorias ao projeto (E1). Também foi observado que, na visão dos monitores, a organização e o planejamento das aulas práticas, bem como o investimento governamental, são pontos importantes que precisam ser mais contemplados pela atenção dos responsáveis, como professores, gestores e outras autoridades (E4).

Métodos de ensino de Biologia e as percepções dos monitores

Os monitores afirmaram que, geralmente, a revisão dos conteúdos e a resolução de exercícios sobre o tema são formas essenciais para garantir bons resultados durante os estudos (E14). A segunda estratégia de estudo mais eficaz, de acordo com os participantes, foi a realização de atividades práticas, como experimentos laboratoriais (E15).

Sobre os métodos de ensino de Biologia que os participantes conhecem, a aula prática foi a mais mencionada, seguida pela aula teórica. Atividades investigativas e sala invertida foram citadas, uma vez cada, por monitores diferentes.

Obtiveram-se 18 respostas para a pergunta relacionada aos métodos de estudo de Biologia mais proveitosos para o aprendizado dos estudantes, em que todas as respostas indicaram aulas práticas. Respostas como essas demonstram a importância da associação entre aulas teóricas e práticas. Para E8, as aulas teóricas antes das práticas auxiliam na execução das atividades.

Quando perguntados se conseguiram realizar alguma atividade prática proveitosa, obtiveram-se dezessete respostas que mencionaram, majoritariamente, microscopia e tipagem sanguínea, empatadas com cinco respostas cada, seguidas por Fisiologia Humana e diversidade biológica com espécimes conservados.

Ao serem questionados sobre as atividades com as quais se identificaram mais, dezessete entrevistados responderam; cinco afirmaram que se identificaram com o ato de auxiliar o professor durante a elaboração e a aplicação das atividades; quatro apontaram o gosto pela prática de microscopia; três, pela tipagem sanguínea; três, pelas práticas de Zoologia; e apenas um mencionou a participação nos projetos de iniciação científica.

De acordo com as respostas, as atividades voltadas ao manuseio de materiais laboratoriais estão entre as mais proveitosas. Atividades que envolvem comunicação e ensino a outros alunos também foram citadas. Além dessas, a iniciação científica foi indicada uma vez (E1).

De um total de dezesseis respostas, oito monitores afirmaram não sentir qualquer dificuldade durante a realização das atividades da monitoria, enquanto a outra metade indicou sentir dificuldades relacionadas à grande quantidade de conteúdos para memorizar, lidar com outros alunos, manusear o microscópio e sanar dúvidas de estudantes.

Os benefícios da monitoria e sua influência nas perspectivas pessoais e profissionais dos monitores

Com base na análise dos dados, obtém-se que todos os monitores de Biologia reconhecem os seguintes benefícios associados à participação na monitoria: aprendizado, fortalecimento de boas relações no ambiente escolar, responsabilidade, incentivo profissional e autoconfiança (E1, E15, E9).

Em um total de dezenove respostas, dezesseis confirmaram ter sofrido mudanças em suas perspectivas pessoais, graças ao desenvolvimento de habilidades sociais, ganho de conhecimento, melhora do senso de responsabilidade, aumento da autoestima, autoconhecimento e aprimoramento das capacidades de organização dos estudantes.

Sim, oportunidade de autoconhecimento e melhoria de habilidade sociais foi algo que tive a oportunidade de desenvolver e que me levou a mudar pontos de vista sobre crescimento pessoal (E13).

Eu me sinto uma pessoa totalmente diferente tanto em relação a objetivos quanto autoestima, consegui me ver uma pessoa produtiva e capaz (E12).

Eu me tornei mais organizado, melhorei meu temperamento, minha didática etc. (E3).

Sobre os monitores passarem por mudanças em suas perspectivas profissionais, foram obtidas treze respostas afirmativas, de um total de dezesseis. De forma disparada, o direcionamento de área, seja para o mercado de trabalho – seja para a carreira acadêmica – foi o atributo mais assimilado pelos monitores, seguido pelo desenvolvimento de diversas habilidades e pelo trabalho em equipe (E13, E1).

Por fim, as duas perguntas seguintes tinham o papel de entender se os monitores possuíam algum objetivo pessoal e profissional, bem como se esses objetivos são nutridos desde antes de entrar na monitoria ou não.

Ingressar na carreira acadêmica é o principal objetivo observado nas respostas dos discentes (dezesseis respostas). Algumas foram atreladas aos cursos de Ciências Biológicas, Medicina, Medicina Veterinária e Ciências da Computação. Interessante ressaltar que três respostas relacionadas à pretensão pelo Ensino Superior indicaram vontade de estudar num curso voltado à educação, enquanto outras três não indicaram interesse na universidade. Para além da pretensão de cursar uma universidade, alguns relataram que seu objetivo na monitoria era desenvolver relações interpessoais, ter mais autoconfiança, responsabilidade e melhor rendimento escolar (E5, E10).

Quando perguntados se esses objetivos pessoais mudaram depois do projeto, oito alunos responderam positivamente, doze afirmaram que os objetivos iniciais se mantiveram. Muitos relatos expressam que, antes da experiência com as atividades da monitoria, não possuíam objetivos claros para o futuro e não acreditavam no potencial de cursar uma graduação (E1, E9, E12, E14). Os discentes que mantiveram os objetivos apresentaram justificativas que versaram sobre sempre gostar da área e desenvolver a certeza de que querem segui-la (E3, E7, E15, E18).

A relação entre monitoria e os projetos de iniciação científica

Onze pessoas afirmaram ter participado de projetos de iniciação científica. Quando questionados se o projeto de monitoria está relacionado aos projetos de iniciação científica, dezoito entrevistados responderam de forma positiva, enquanto um afirmou não saber. Perguntou-se, também, como esses dois projetos se relacionam, e alguns monitores responderam.

Incentiva os alunos a participar desses projetos (E16).

A monitoria leva os alunos a ter mais interesse pela ciência (E15).

Sim, é principalmente pela monitoria que esse interesse pelo método de pesquisa científica se intensifica (E12).

Todos os projetos de iniciação científica da nossa escola que conheço partiram da monitoria e tiveram/têm o apoio e orientação dos professores de Biologia (E9).

Sim, pois ele ajuda em relação a adquirir conhecimentos para aplicar ou investigar mais a fundo no projeto de iniciação científica (E11).

Sim, acho que as experiências que passamos no laboratório com os projetos nos fizeram ter alguma iniciação científica (E7).

Todos os monitores afirmam que a monitoria é importante para os estudantes que desejam fazer pesquisa científica. É perceptível que a participação dos alunos nesse projeto é uma porta de entrada para o mundo das pesquisas científicas, o que é evidenciado nos seguintes comentários:

Já terão conhecimento prévio de como realizar um projeto científico, uma pesquisa, artigo e também a prática dentro do laboratório (E3).

A monitoria torna os projetos atrativos, além de garantir conhecimento que possa ser introduzido nos planos e projetos de iniciação científica (E14).

Poder produzir ciência. Por meio das pesquisas, os alunos têm a oportunidade de buscar, questionar e, principalmente, desenvolver projetos autorais que têm a capacidade de, correndo o risco de sonhar muito alto, mudar o mundo! (E13).

Sendo um aluno-monitor que participa de projetos de iniciação científica, posso dizer que é quase impossível expressar exatamente a influência da monitoria nos projetos. Antes de tudo, na monitoria tivemos contato com o sentimento de estudar e fazer ciência; isso já desperta o interesse em novos métodos mais aprofundados de estudos, e aí entraram os projetos de iniciação científica; com a monitoria tivemos uma base fortíssima para entrar nesse mundo de projetos e pesquisas e lá temos um acompanhamento incrível, além de uma equipe de outras pessoas também dispostas a participar dessas atividades (E12).

Os alunos monitores foram questionados sobre o conhecimento de algum evento voltado para projetos de iniciação científica, e suas respostas foram representadas pela nuvem de palavras (Figura 2). O tamanho das palavras indica a frequência com que foram citadas.

Figura 2: Nuvem de palavras sobre eventos científicos conhecidos pelos monitores

As possíveis correlações entre a participação na monitoria e o rendimento escolar dos monitores

Foi questionado aos participantes se o rendimento acadêmico (as notas) deles sofreu alguma alteração durante a participação na monitoria. Com êxito, obtiveram-se dezenove respostas, das quais treze afirmaram que o rendimento aumentou/melhorou; um estudante alegou ter sofrido mudanças, mas não especificou se foram para melhor ou pior. Enquanto isso, quatro respostas indicaram que não houve mudança, ao passo que uma resposta apontou uma mudança negativa, afirmando que seu rendimento escolar caiu, mas, ainda assim, explicou que essa queda não estava relacionada à monitoria, e sim a aspectos pessoais (E5).

Considerações finais

Por meio deste trabalho, percebe-se que o projeto de monitoria na Educação Básica em uma escola pública não só é possível como também produz muitos frutos. Entre eles, o desenvolvimento de autonomia, autoestima, comunicação, letramento científico e maiores expectativas para o futuro profissional foram perceptíveis nos relatos dos alunos-monitores. Desse modo, o presente trabalho é de suma importância para compreender os impactos positivos de projetos escolares na vida dos adolescentes. Nesse contexto, almeja-se que outras escolas públicas, dentro de suas condições, estimulem projetos como este, que visam o protagonismo estudantil e sua inserção no meio científico.

Referências

ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BAPTISTA, C. R. Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. 2ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2015.

BENÍCIO, R. M. A. Contribuições da monitoria no processo de ensino-aprendizagem de Biologia. In: VI CONEDU. Anais... Campina Grande: Realize, 2019.

BONI, V.; QUARESMA, S. J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, v. 2, nº 1, p. 3, 2005.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001. Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Diário Oficial da União, seção 1, Brasília, p. 39-41, 14 set. 2001. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=14/09/2001&jornal=1&pagina=39&totalArquivos=204. Acesso em: 26 jun. 2023.

BRASIL. Decreto nº 85.862, de 31 de março de 1981. Atribui competência às Instituições de Ensino Superior para fixar as condições necessárias ao exercício das funções de monitoria e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, 2 abr. 1981. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/atos/decretos/1981/d85862.html. Acesso em: 26 jun. 2023.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 06 jun. 2023.

CASTRO, P. A.; ALVES, C. O. S. Formação docente e práticas pedagógicas inclusivas. E-Mosaicos, v. 7, p. 3-25, 2019.

COUTO, C.; NASCIMENTO, W. Percepções sobre o ensino de Ciências por investigação a partir de produções acadêmicas brasileiras. Revista Ciências & Ideias, v. 11, nº 3, p. 215-233, 2020.

CUNHA JÚNIOR, F. R. Atividades de monitoria: uma possibilidade para o desenvolvimento da sala de aula. Educação e Pesquisa, v. 43, p. 681-694, 2017.

DRIVER, R.; ASOKO, H.; LEACH, J.; MORTIMER, E.; SCOTT, P. Construindo conhecimento científico na sala de aula. Química Nova na Escola, v. 9, nº 5, p. 31-40, 1999.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 3ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

FRISON, L. M. B. Monitoria: uma modalidade de ensino que potencializa a aprendizagem colaborativa e autorregulada. Pro-posições, v. 27, p. 133-153, 2016.

LOPES, K. F.; CARVALHO, C. L.; ARAÚJO, P. F.; MOYSÉS, M. A. A. A dança e a expressão corporal como mediadoras no processo de ensino-aprendizagem de crianças com deficiência intelectual e transtornos de aprendizagem. Pensar a Prática, v. 22, 2019.

LUNA, E. R. M. A monitoria de Biologia no Ensino Médio numa perspectiva sócio-histórica. In: V CONEDU. Anais... Campina Grande: Realize, 2018.

MIETTINEN, R. Transcending traditional school learning: Teachers' work and networks of learning. In: ENGESTRÖM, Y.; MIETTINEN, R.; PUNAMÄKI, R. (org.). Perspectives on Activity Theory. New York: Cambridge University Press, 1999.

MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2011.

NATÁRIO, E. G.; SANTOS, A. A. A. Programa de monitores para o Ensino Superior. Estudo de Psicologia, Campinas, v. 27, nº 3, p. 64-74, 2010.

OLIVEIRA, J. C. P.; OLIVEIRA, A. L.; MORAIS, F. A. M.; SILVA, G. M.; SILVA, C. N. M. O questionário, o formulário e a entrevista como instrumentos de coleta de dados: vantagens e desvantagens do seu uso na pesquisa de campo em ciências humanas. In: III CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Anais... 2016. p. 1-13.

PAGEL, U. R.; CAMPOS, L. M.; BATITUCCI, M. C. P. Metodologias e práticas docentes: uma reflexão acerca da contribuição das aulas práticas no processo de ensino-aprendizagem de Biologia. Experiências em Ensino de Ciências, v. 10, nº 2, p. 14-25, 2015.

PAIVA, M. R. F.; PARENTE, J. R. F.; BRANDÃO, I. R.; QUEIROZ, A. H. B. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem: revisão integrativa. Sanare - Revista de Políticas Públicas, v. 15, nº 2, 2016.

ROITMAN, I. Educação científica: quanto mais cedo, melhor. Ritla, Brasília, v. 27, 2007.

SANTANA, A. J. S.; MOTA, M. D. A.; LORENZETTI, L. Ensino por investigação no ensino de Biologia: uma revisão sistemática dos eventos Enebio e Enpec. Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Matemática, v. 5, nº 1, 2022.

SANTOS, R. C.; LANES, D. M.; SANTOS, J. N. Monitoria de Ciências: arte como modo prático para o ensino de ossos e músculos nas aulas de Ciências. Revista Educação Pública, v. 21, nº 14, 20 abr. 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/14/monitoria-de-ciencias-arte-como-modo-pratico-para-o-ensino-de-ossos-e-musculos-nas-aulas-de-ciencias. Acesso em: 06 jun. 2023.

SASSERON, L. H. Alfabetização científica, ensino por investigação e argumentação: relações entre ciências da natureza e escola. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 17, p. 49-67, 2015.

TRIVELATO, S. L. F.; TONIDANDEL, S. M. R. Ensino por investigação: eixos organizadores para sequências de ensino de Biologia. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 17, p. 97-114, 2015.

Publicado em 13 de agosto de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

VASCONCELOS, Antonio Augusto da Silva; SANTOS, Jeferson Santana dos. Contribuições da monitoria de Biologia na formação dos alunos monitores em uma escola pública de Fortaleza/CE. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 30, 13 de agosto de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/30/contribuicoes-da-monitoria-de-biologia-na-formacao-dos-alunos-monitores-em-uma-escola-publica-de-fortalezace

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.