Semana da Diversidade: integração discente em temas essenciais

Andrea Silva do Nascimento

Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ), professora de disciplinas pedagógicas da Licenciatura em Química do IFRJ – Câmpus Duque de Caxias

Luana Maria Siqueira Machado

Doutora em Letras (UFRJ), professora de Língua Portuguesa do IFRJ – Câmpus Duque de Caxias

Lucineide Lima de Paulo

Doutora em Letras (UFF), professora de Língua Portuguesa do IFRJ – Câmpus Duque de Caxias

Viviane Rezende Prates

Mestra em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos (UFRJ), professora de Biocombustíveis e Química do IFRJ – Câmpus Duque de Caxias

A instituição escolar é um ambiente construído visando ao aprendizado: há não apenas currículos e ementas formulados, mas também uma distribuição espacial pensada para seu funcionamento. Assim, entre a biblioteca e o laboratório de informática, distantes do pátio e da copa, organizam-se salas nas quais os alunos são alocados segundo seu nível – ou seja, segundo sua série escolar.

Entretanto, há um espaço intermediário não claramente definido, fora da sala de aula, mas ainda abordando temas que interagem com as ementas – ou deveriam interagir. Esse espaço tem potencial para explicitar, à comunidade escolar, debates que se realizam dentro das salas, entre professores e alunos – ou entre discentes, durante o intervalo, por exemplo. Quando tópicos não são parte objetiva da ementa, mas configuram-se como assuntos necessários à educação, podem ser abordados em projetos e eventos, complementando a discussão da aula. Em outras palavras, trata-se de identificar a relevância dos temas transversais no currículo escolar.

Pelo exposto, vale ressaltar que é imprescindível que todos os componentes curriculares abordem temas sociais que afetam estudantes e a comunidade acadêmica. Contudo, essa abordagem interna à sala de aula não exclui a possibilidade de se realizarem atividades extraclasse, tratando tópicos considerados relevantes naquele espaço e tempo.

Essa tentativa de integração entre “conteúdo” e “temas de interesse da comunidade” foi objeto de análise dos educadores e surgiu em orientações específicas aos docentes, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, o qual complementou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

A proposta visou promover uma integração entre os tópicos das diversas áreas de conhecimento, por um lado, e assuntos que circundam os estudantes em sua vida cotidiana, por outro. Assim, a legislação nacional convencionou uma divisão entre “conteúdos” propriamente ditos e temas socialmente relevantes:

Quanto às questões sociais relevantes, reafirma-se a necessidade de sua problematização e análise, incorporando-as como temas transversais. As questões sociais abordadas são: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural (Brasil, 1997, grifo nosso).

Em 2013, foram publicadas as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, documento que cita a Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010 (Brasil, 2010), a qual trabalha com o conceito de eixos temáticos, e não mais de temas transversais. Diferentemente do documento de 1997, não há especificação de quais seriam tais eixos:

A parte diversificada enriquece e complementa a base nacional comum, prevendo o estudo das características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da comunidade escolar, perpassando todos os tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola.

A parte diversificada pode ser organizada em temas gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade escolar (Brasil, 2013, p. 68, grifo nosso).

Nova atualização dessa proposta ocorreu em 2017, com a publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que trouxe orientações quanto à integração de temas contemporâneos aos conteúdos e componentes curriculares:

cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora (Brasil, 2017, p. 16-17, grifo nosso)

Diferentemente das Diretrizes de 2013, a BNCC listou os temas pertinentes a serem trabalhados: direitos da criança e do adolescente, educação para o trânsito, educação ambiental, educação alimentar e nutricional, processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso, educação em direitos humanos, educação das relações étnico-raciais e ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena, bem como saúde, vida familiar e social, educação para o consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade cultural.

Destaca-se, aqui, a orientação presente nos três documentos: tais temas não se configuram como novos componentes curriculares, mas como discussões que atravessam todo o currículo, propondo uma abordagem transversal.

Apesar dessa orientação de integrar questões sociais na concepção teórica das disciplinas, rotineiramente a aula se concentra em conteúdos específicos da área, deixando em segundo plano os Temas Transversais, o que mantém fragmentados os processos de ensino-aprendizagem.

Para conferir maior destaque a temas relevantes à comunidade escolar, é possível desenvolver projetos e eventos, atividades capazes de levar discentes e docentes à reflexão, integrando conhecimentos. Essa ação, é importante lembrar, não exime os componentes curriculares de trabalharem transversalmente os temas contemporâneos pertinentes, mas coloca em evidência assuntos caros à formação humana.

Além disso, eventos que reúnem discentes de diferentes cursos e séries favorecem integração e relações mais amistosas, pois esse tipo de atividade “contribui não só com os aspectos cognitivos, mas também em questões relacionadas com a vivência do aluno na escola” (Bernardes, 2015).

Diante dessa percepção, foi proposto o evento intitulado “Semana da Diversidade”, visando promover debates sobre relações étnico-raciais e de gênero, e sobre diversidade funcional.

Este relato de experiência se propõe a descrever tal evento, realizado no IFRJ – Câmpus Duque de Caxias, em suas duas edições, destacando a proposta inicial, os procedimentos que permitiram sua realização e os resultados obtidos ao final.

Ao se delinear a primeira Semana da Diversidade, buscava-se conferir destaque aos tópicos selecionados, promovendo reflexão entre docentes e discentes sobre temas relacionados aos direitos humanos. A segunda edição do evento destacou a interseccionalidade enquanto categoria estruturante para pensar assuntos socialmente relevantes e que se atravessam mutuamente.

A interseccionalidade é tomada aqui como um fenômeno em que se sobrepõem categorias de exclusão, tais como ser mulher e ser negra. Akotirene (2021, p. 21) explica que é um “sistema de opressão interligado”, estudado por feministas negras que não viam suas demandas plenamente atendidas nem pelo movimento antirracista, nem pelo feminismo branco.

A equipe que desenvolveu as propostas esperava alcançar toda a comunidade acadêmica, não apenas gerando adesão no momento do evento, mas também promovendo, a longo prazo, discussões sobre respeito, diálogo, empatia etc.

O objetivo central foi provocar debate e trazer à tona temas sistematicamente negligenciados nas aulas em sala. A necessidade dessas discussões tornou-se evidente ao se reconhecer, no espaço escolar, a reprodução social (Bourdieu; Passeron, 2011), ou seja, um ambiente potencialmente sujeito a atos racistas, misóginos, homofóbicos e capacitistas, por exemplo. Por isso, dialogar com estudantes torna-se ação não apenas educativa, mas preventiva, impedindo até mesmo crimes, como o racismo. Assim, é imprescindível que temas contemporâneos façam parte da escola: se não na sala de aula, inseridos em espaços extensionistas e de pesquisa, articulando esses eixos de modo a fomentar a reflexão a partir de eventos extraclasse.

Um evento relativamente comum é a chamada Semana Acadêmica: nessa atividade, as aulas em sala são substituídas por atividades que também promovem aprendizado, porém em outro formato (palestras, mesas-redondas, minicursos).

Sendo, efetivamente, dia letivo, os dias de uma Semana Acadêmica alteram a rotina da escola: convidados externos trazem novas perspectivas; professores ministram cursos em temas não contemplados nas ementas; novas abordagens geram curiosidade e engajamento. Tudo isso integra conhecimentos e favorece a interação entre os sujeitos do cotidiano escolar.

Analisando eventos de cunho científico, Lacerda et al. (2008) explicam que “os eventos científicos constituem-se como fonte essencial na busca e apreensão de novos conhecimentos” (p. 130). Pode-se afirmar o mesmo de Semanas Culturais ou da Semana da Diversidade, aqui descrita: esta apresentou-se como fonte necessária para a aquisição de novos conhecimentos e saberes. A interação promovida durante a atividade favoreceu notável amadurecimento, em especial considerando que os participantes eram, em grande parte, estudantes do Ensino Médio.

A necessária reflexão e a relevância da interseccionalidade

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) é uma instituição pública, que oferta cursos gratuitos, que conta com quinze campi. A instituição oferece Ensino Médio integrado a diferentes cursos técnicos, além de variados cursos de graduação e de pós-graduação (lato e stricto sensu).

Em Duque de Caxias, foi implantada uma unidade descentralizada em 2006 que, em 2008, tornou-se o Câmpus Duque de Caxias do IFRJ (IFRJ, 2020). Nesse câmpus, são oferecidos diferentes cursos para atender à demanda local: Ensino Superior (Licenciatura em Química), Técnico integrado ao Ensino Médio (Química, Petróleo e Gás e Plásticos) e a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), com o curso de Manutenção e Suporte de Informática. Na modalidade concomitante/subsequente, há os cursos técnicos de Segurança do Trabalho, Petróleo e Gás e Plásticos. Por fim, também é ofertada uma pós-graduação em Educação Física Escolar.

Duque de Caxias é um município do Estado do Rio de Janeiro, situado na Baixada Fluminense. A cidade é marcada por desigualdades, violência e potencialidades culturais e turísticas. Apesar disso, ocupa a 19ª posição no ranking dos maiores PIBs do Brasil.

Em 2015, foram registrados cerca de 810 indústrias e 10 mil estabelecimentos comerciais instalados no município. Nele, encontra-se uma das maiores refinarias da Petrobrás, a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), maior responsável pelo processamento de gás natural do Brasil. A cidade possui, ainda, o maior parque industrial do estado. Entre os principais segmentos industriais do parque estão: o químico, petroquímico, metalúrgico, gás, plástico, mobiliário, têxtil e vestuário (Duque de Caxias, 2023).

Há, no IFRJ, três núcleos vinculados à Coordenação-Geral de Diversidades, os quais tratam de temas que se aproximam, em alguns aspectos, dos temas contemporâneos discutidos na BNCC.

O Napne foi criado no contexto da política Educação, Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – Programa TEC NEP (Brasil, 2006), constituindo-se como Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais; hoje, dado o universo de atuações que lhe cabem, configura-se como Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas. Propõe-se a criar a cultura da “educação para a convivência”, configurada como o respeito à diversidade funcional.

Vale ressaltar que a expressão “diversidade funcional” é empregada aqui como alternativa ao termo “deficiência”, já que este termo, comumente, aponta para a falta, para a carência – e não para a diferença, a diversidade de funcionamento dos corpos. Assim, busca-se evitar a impressão inadequada de que existem “pessoas normais” e “pessoas deficientes”, raciocínio capaz de gerar estereótipos negativos, descrições pejorativas e preconceitos.
O Neabi é o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas.

O Neabi é uma proposta de atuação concreta que visa, primordialmente, implementar a Lei nº 10.639/03 e sua atualização, a Lei nº 11.645/08. Tais documentos versam sobre o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena e são fruto de intenso trabalho dos movimentos negro e indígena, que culminaram em diferentes ações afirmativas – incentivadas pelo Governo Federal, por meio do Ministério de Educação (MEC) (Paulo; Abreu Jr.; Costa, 2018).

O Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual (Nugeds) atua no câmpus para discutir e trabalhar a equidade de gênero e o respeito à diversidade sexual.
Os três núcleos são independentes entre si, mas atuam tanto individualmente como em parceria na prática de suas atividades. Em 2019 e em 2023, os núcleos se reuniram para promover um evento no câmpus.

No IFRJ – Câmpus Duque de Caxias há tradicionalmente dois eventos: a Semana Científico-Tecnológica (Semacit) e a Semana de Cultura (Semac). Cada semana ocorre em um semestre do ano e ambas substituem as aulas regulares: discentes e docentes estão exclusivamente envolvidos nessas atividades durante os eventos.
Os núcleos sempre participam desses eventos, seja com intervenções, seja com palestras e oficinas. Entretanto, o foco de tais semanas não se apresenta como sendo os temas centrais do Napne, do Neabi e do Nugeds.

Além disso, evidenciou-se a necessidade de uma semana específica que concentrasse os olhares sobre essas questões. Os temas contemporâneos devem estar integrados aos componentes curriculares; contudo, isso não impede a realização de uma atividade que concentre esforços nesses tópicos. Assim foi implementada a Semana da Diversidade.

Em 2018, submeteu-se um projeto ao Programa Institucional de Incentivo às Atividades de Extensão (Pró-Extensão), da Pró-Reitoria de Extensão do IFRJ, por meio do qual foram obtidos recursos que permitiram a realização do evento. Esse projeto estava ligado à linha temática de Direitos Humanos e intitulou-se “Semana da Diversidade: direitos na construção de uma sociedade igualitária”. A comissão central organizadora do evento foi composta por integrantes dos três núcleos: Andrea Silva do Nascimento, Maria de Fátima dos Santos Vieira, Gabriela Salomão Alves Pinho, Lucineide Lima de Paulo e Marcelo Cardoso da Costa.

O objetivo da I Semana da Diversidade foi promover atividades que buscassem provocar discussões sobre direitos, diferenças, preconceitos e discriminações. Havia a previsão de um recorte específico, os Direitos Humanos, já que a Semana celebrava os 70 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Originalmente previsto para setembro de 2018, o evento necessitou de ajustes para seu adequado planejamento. Por não estar previsto no calendário acadêmico, era imprescindível contar com o apoio e a participação dos docentes, que conduziram suas turmas para as atividades. Além disso, optou-se por agendar as atividades para os horários de intervalo (recreio ou início e fim de turnos).

Nessa edição da Semana da Diversidade, optou-se por distribuir os dias entre os três núcleos: o primeiro dia (26/3) trouxe temáticas ligadas ao Neabi; o segundo dia (27/3), atividades do Napne; o terceiro dia (28/3), do Nugeds; e o quarto dia (29/3), o encerramento, com o tópico central “Direitos Humanos”, abordado pelos três grupos.

O Neabi ofertou as seguintes palestras: “Ações afirmativas (Cotas)”, com a professora Monique Lopes Inocêncio; “Sustentabilidade e Direitos Humanos”, com o professor Estêvão Leite; e “Mulheres na Ciência”, com a professora Viviane Rezende Prates. As três atividades partiram de um recorte racial.

Houve uma intercorrência entre o primeiro dia e os demais, pois o câmpus sofreu com a violência local, o que comprometeu a participação dos discentes. As aulas foram suspensas, dado o cenário de insegurança.

A I Semana da Diversidade só teve continuidade no mês seguinte, com diferentes atividades, conforme se verifica no Quadro 1.

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Quadro 1: Atividades da I Semana da Diversidade

24/4

Barbara Correa, artista plástica

Exposição artística e relato de experiência

25/4

Roberto Mendes, neuropsicólogo

Palestra: “A neurociência da Educação e o autismo”

25/4

Maria Augusta Ficher e Letícia Correa, professoras

Palestra: “Violência contra a mulher: reflexões e ações”

26/4

Vivian Zampa

Palestra: “Ações para implementar política de Direitos Humanos na polícia”

26/4

Marcelo Cardoso da Costa

Palestra: “Direitos Humanos são para todos?”

26/4

Licenciandos, sob orientação da professora Andrea Nascimento

Exposição de projetos: “Ensino de Química e Direitos Humanos”

O evento foi realizado envolvendo alunos, servidores e convidados externos, impactando diretamente cerca de 800 discentes do câmpus, distribuídos pelos três turnos.
Nos anos de 2020 a 2022, a escola sofreu profundas adaptações devido à pandemia da covid-19, que forçou a população a um longo isolamento social. Por isso, as aulas foram transferidas da sala presencial para o ambiente virtual. Devido aos problemas gerados por esse cenário, não foi possível realizar a Semana da Diversidade nesse período.

Em 2023, com nova comissão organizadora (professoras Andrea Silva do Nascimento, Viviane Rezende Prates e Luana Maria Siqueira Machado), foi realizada a II Semana da Diversidade. Os núcleos propuseram um evento maior, desta vez previsto no calendário acadêmico.
A segunda edição ocorreu entre os dias 03 e 05 de abril, com o subtítulo “Multiverso da Interseccionalidade”.

No primeiro dia, o foco foi o subtema “Mundo do Trabalho”, com a exibição do curta-metragem Preconceito no mercado de trabalho, de 35 minutos, seguido de debate, abordando, entre outros aspectos, a meritocracia.

O segundo dia abordou o subtema “Mundo da Escola”, com uma roda de conversa intitulada “Educação inclusiva ou excludente?” e uma mesa-redonda sobre mídia social e mundo virtual.

O terceiro dia foi voltado para o “Mundo das Artes” e contou com uma feira-oficina a partir da intervenção “Criando para (r)existir!”, incluindo oficina de arte e experiências sobre vivência em cadeira de rodas e deficiência visual. Houve também exposição de vestuário típico de religiões de matriz africana, karaokê com músicas de artistas LGBTQIAPN+ e a roda de conversa “Conceição Evaristo”, com leitura de poemas.

Como há, no Câmpus Duque de Caxias, discentes com deficiência e/ou necessidades específicas, houve não só a demanda de atendê-los com intérprete de Libras, por exemplo, mas também de garantir sua participação efetiva. Em mesa-redonda no segundo dia, uma mãe e um pai de um discente com transtorno do espectro autista (TEA) relataram suas experiências; o pai também é professor da Educação Básica pública.

A II Semana da Diversidade foi organizada de modo a oferecer as atividades a todos os discentes, nos três turnos: das 8h30 às 10h30, das 14h20 às 16h20 e das 19h às 20h30. Assim, apesar de ser um evento previsto no calendário, o que pressuporia a participação de toda a comunidade com a suspensão das aulas, foram pensadas alternativas para que os docentes pudessem ministrar algum conteúdo, permitindo o funcionamento regular das aulas nos dois primeiros e dois últimos tempos. Vale ressaltar que a participação dos componentes dos três núcleos e a colaboração de professores voluntários foram imprescindíveis.

Tais eventos, ainda que modestos se comparados às Semanas Acadêmicas tradicionais, representam um grande passo para a comunidade, pois levantam debates frequentemente postergados.

Entretanto, é importante destacar que os núcleos, apesar de desejarem realizar mais atividades e de dedicarem tempo e esforço no desenvolvimento de eventos como a Semana da Diversidade, são pequenos em sua infraestrutura. Há uma demanda de trabalho contínua e intensa, para a qual nem sempre há integrantes suficientes. De fato, sem o apoio da gestão educacional, tais projetos exigiriam ainda mais energia e poderiam carecer de suporte técnico e humano. Neste câmpus, porém, é possível o diálogo com a gestão, e esse aspecto – seu papel na consolidação de múltiplos espaços de formação – não pode ser ignorado.

Para desenvolver tais eventos, as representantes dos núcleos articulam-se entre si, sempre com o apoio dos componentes dos grupos. Com semanas de antecedência, são sugeridas as atividades, os palestrantes e a dinâmica da ação. Os ajustes são realizados em reuniões, mas frequentemente algumas ideias são alinhavadas por meio de conversas em chats ou nos encontros pelos corredores do câmpus.

À medida que os eventos se sucedem, novas estratégias são criadas pelos Núcleos, especialmente porque surgem, no câmpus, demandas ligadas a diferentes formas de violência direcionadas a negros e negras, a meninas e mulheres, a pessoas que não se veem dentro de um padrão heteronormativo, cisgênero ou heterossexual, e ainda a pessoas com deficiência e/ou necessidades específicas. Por isso, os núcleos reconhecem lacunas e limitações na realização das Semanas da Diversidade; entretanto, é evidente que tais ações são inadiáveis para estimular a construção de um espaço escolar que respeite a pluralidade.

Espera-se que haja cada vez mais adesão por parte de discentes e docentes, e que a Semana se instaure permanentemente no calendário acadêmico, engajando um maior número de pessoas, inclusive voluntários para sua organização.

É preciso que professores e professoras “abracem” os temas ali discutidos, pois “os professores são indicados como os maiores incentivadores na participação dos alunos em eventos científicos, seguidos pelo curso” (Lacerda et al., 2008, p. 142). Logo, é necessário engajar professores ao mesmo tempo que se busca a adesão de discentes.

Além disso, como manifestou Bernardes (2015), uma atividade desse porte incentiva a valorização do conhecimento e da autonomia, pois, nas oficinas, os discentes se portam de forma ativa, não apenas em seu processo de ensino e aprendizagem, mas também no desenvolvimento de tópicos que não estão nas ementas. Como Bernardes (2015), “esperamos colher frutos na conscientização” dos participantes, por terem sido tais semanas “uma pequena semente” plantada.

Considerações finais

As duas edições da Semana da Diversidade, eventos realizados no IFRJ - Câmpus Duque de Caxias, revelam o esforço dos representantes dos três núcleos: Napne, Neabi e Nugeds. Os objetivos propostos foram alcançados, uma vez que a comunidade acadêmica aderiu ao evento, participando das atividades.
Faz-se necessário abordar, na escola, tópicos pertinentes à sociedade, para que haja uma formação integral. Contudo, é perceptível que, em sala de aula, há maior interesse em cumprir as ementas – frequentemente de forma descolada da realidade do estudante. Assim, existem temas relevantes, mas que escapam ao cotidiano das aulas.
Essa semana não se configura como um evento científico e, por isso, a avaliação de resultados não é plenamente possível a curto prazo. Apesar de se recolherem listas de presença e de se calcularem as participações visualmente (por não haver mais assento disponível no auditório, por exemplo), não se consegue determinar o alcance efetivo na formação dos discentes, pois tais temas não se configuram como matérias a serem aprendidas, mas como reflexões e processos de amadurecimento.
Pode-se concluir que tais atividades são imprescindíveis para a formação discente e que há adesão por grande parte da comunidade – o que indica que existe, de fato, uma necessidade de vivenciar essas discussões durante a trajetória acadêmica. Os núcleos procuram levar à reflexão, por um lado, mas também têm como objetivo elevar a autoestima, por meio de um autoconceito positivo, dos grupos ditos minoritários, que podem se sentir excluídos do espaço escolar ou não merecedores dele.

Referências

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Jandaíra, 2021.

BERNARDES, Adriana Oliveira. I Semana de Física do Proemi do Colégio Estadual Canadá, de Nova Friburgo. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 15, nº 15, 04 ago. 2015. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/15/i-semana-de-fsica-do-proemi-do-colgio-estadual-canad-de-nova-friburgo. Acesso em: 15 ago. 2023.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Trad. Reynaldo Bairão. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base. Acesso em: 25 jul. 2023.

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PAULO, L. L. de; ABREU JR., J. M. de; COSTA, M. C. da. O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) como ação afirmativa: um relato de sua implantação e do esforço para seu reconhecimento. Revista Advir, Rio de Janeiro, nº 37, dez. 2018. Disponível em: https://issuu.com/asduerj/docs/miolo39. Acesso em: 27 jul. 2023.

Publicado em 08 de outubro de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

NASCIMENTO, Andrea Silva do; MACHADO, Luana Maria Siqueira; PAULO, Lucineide Lima de; PRATES, Viviane Rezende. Semana da Diversidade: integração discente em temas essenciais. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 38, 8 de outubro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/38/semana-da-diversidade-integracao-discente-em-temas-essenciais

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