Analisando métodos de ensino à luz da música "Estudo Errado"

Milena Lopes da Silva

Licencianda em Ciências Biológicas (UEPA)

De acordo com Kenski (2008), práticas de ensino exigem a participação de todos os envolvidos no processo e com vontade de avançar no conhecimento, não apenas no que se refere aos aspectos cognitivos, mas em relação aos valores, ao comportamento e à autonomia do pensar e do agir. Isso significa que as atividades realizadas durante a aula precisam ser pensadas para além do repasse de conteúdo, pois há uma necessidade de integração entre a teoria e a prática.

Para Ausubel (1980), o conhecimento prévio dos alunos trazido de casa é fundamental para desenvolver suas habilidades de observação, análise e interpretação. A partir desse conhecimento preexistente, os professores devem desenvolver procedimentos instrucionais essenciais ao processo de ensino.

Segundo Martins (2004), a educação é um processo essencial para o indivíduo como um ser social, pois auxilia no desenvolvimento das potencialidades e das habilidades do educando. Assim, há necessidade de que ele vivencie experiências e seja estimulado ao pensar. No entanto, a educação no Brasil está longe de ser satisfatória.

Nesse sentido, observa-se a relevância do uso de metodologias de aprendizagem ativas. Para Luz et al. (2021), a educação por competências, atrelada à tecnologia, é um importante instrumento para a pesquisa e o ensino, pois propõe desafios ao professor, principalmente no que diz respeito a reinventar-se metodologicamente, saindo daquele papel de transmissor de conhecimento, para o papel de mediador do processo de aprendizagem dos educandos.

Apesar da relevância do ensino contextualizado, Silva e Santos (2020) relatam, em seu trabalho, que o desinteresse da classe política em promover uma educação de qualidade já perdura por anos, por isso, as lutas de classes revelaram uma nova face do povo brasileiro, graças ao advento das redes sociais e a insatisfação, com a prática política no país que, cada vez mais, são compartilhadas e percebidas, permitindo que os representantes eleitos estejam cientes sobre todas as demandas da população.

Nesse sentido, este trabalho traz uma síntese analítica da música Estudo Errado, como um retrato de uma educação deficiente, que precisa passar por muitas transformações para tornar-se modelo de educação ideal. O principal objetivo é avaliar se as problemáticas relatadas na música já foram solucionadas ou se ainda se arrastam até a atualidade.

Parafraseando com a música Estudo Errado

A música pertence ao estilo musical rap, mundialmente popularizado e reconhecido pelos jovens. Lançada em 1995 pelo cantor Gabriel Contino, cujo nome artístico é Gabriel O Pensador, a canção traz em sua letra características educacionais marcantes de uma época, considerando-se o tempo em que o ensino ainda era muito mecanizado, quando o sistema de repasse e de recebimento de informações era o recorrente.

O próprio ritmo da música indica, em sua construção, traços de uma aula monótona, sem o despertar do real interesse do aluno. Segundo Gomes et al. (2019), a boa relação em sala de aula é tão importante quanto a variedade de metodologias e recursos empregados no momento da ministração do conteúdo. Isso pode ser percebido quando, ao adentrar em uma turma, observa-se alunos bem humorados e abertos a desenvolverem suas habilidades de aprendizagem.

Pela letra da composição é gritante a disposição dos elementos para aquele momento. A música começa com a chamada, replicando o que ocorre diariamente em uma sala de aula. Em seguida, começam os questionamentos: "Eu estou aqui para quê?”; “Será que é para aprender?”; “Ou será que é para sentar, me acomodar e obedecer?". Nesses trechos já podemos observar qual é o intuito da letra da canção. São perguntas críticas, que questionam as razões pelas quais aquele aluno vai à escola. Logo, o autor continua: "Estou tentando passar de ano para o meu pai não me bater. Sem recreio de saco cheio, porque eu não fiz o dever". A presença da educação punitiva é notória neste trecho, quando o aluno é obrigado a aprender, sem serem consideradas as suas dificuldades.

Passando pelos trechos seguintes, alguns se destacam, a saber: "Decorei toda lição. Não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom. Mas tirei dez". Aqui, fica claro que o método de ensino mais conhecido e, popularmente, denominado "decoreba" é totalmente falho, pois se torna um conhecimento temporário, usado apenas momentaneamente, para alcançar uma boa nota na prova. Para Libâneo (2016), o aspecto cognoscitivo é um procedimento ou um movimento que perpassa a ação de ensinar e a ação de aprender, considerando-se, assim, não somente a transmissão do conteúdo, mas também a sua assimilação. Sendo assim, quando o aluno precisar desta base para aprender outro conteúdo, ele irá enfrentar dificuldades árduas, pois não se lembrará daquilo que estudou. Nesse trecho, também é possível refletir acerca da visão de alguns pais sobre a educação escolar de seus filhos, a concepção de que se tirar nota dez está tudo em conformidade, não importando sobre quais circunstâncias aquele dez foi alcançado, pois o importante é que ao final do semestre/bimestre, o boletim do discente esteja enfeitado com notas altas. Sabemos que a educação não é isso. 

Em resumo, a letra da canção escrita há 26 anos traz uma dura crítica ao sistema de ensino tradicionalista e mecanizado. O enfoque do autor é realizar um apelo por uma educação mais digna, mais justa e mais social.

Após três décadas do lançamento dessa música, a realidade descrita por ela permanece presente em nosso cotidiano. Sua atualidade nos choca, pois mesmo com a chegada de novos recursos, métodos e reformulações, ainda é comum encontrarmos escolas onde essa metodologia arcaica prevalece, com alunos desmotivados, salas de aulas abarrotadas, professores sobrecarregados, escolas sem recurso, educação sem investimento e alunos sem senso crítico, com “muros” impedindo a boa relação professor-aluno. Essa é a dura realidade na qual a educação brasileira se encontra.

Portanto, muito se tem discutido acerca de como o ensino vem sendo repassado e sobre a extrema importância da contextualização. Reconhecemos que isso é um avanço, mas ainda é preciso que se faça mais, que se discuta mais e que mais propostas apareçam, assim como metodologias, pois a educação é a base da sociedade.

Nesse sentido, um trecho da letra faz um apelo muito válido: "Encarem as crianças com mais seriedade". De fato, não se deve ignorar os questionamentos de uma criança. Ao contrário disso, devemos estimular, cada vez mais, suas indagações sobre o mundo e a vida, para que ela possa, desde cedo, trilhar o caminho do indivíduo crítico.

Ademais, o estado e a sociedade precisam trabalhar em conjunto, para que conteúdos como o da letra da canção aqui analisada, neste trabalho, não continuem sendo a realidade dos nossos alunos. Letras, assim, devem ficar nas lembranças de um passado, pois não devemos retroceder.

Referências

AUSUBEL, D. P. Schemata, cognitive structure, and advance organizers: a reply to Anderson, Spiro and Anderson. American Educational Research Journal, v. 17, nº 3, p. 400-404, 1980.

GOMES, Manoel Messias; GOMES, Francisco das Chagas; ARAUJO NETO, Benjamim Bento de; MOURA, Niege Dagraça de Sousa; MELO, Severina Rodrigues de Almeida; ARAUJO, Suelda Felício de; NASCIMENTO, Ana Karina do; MORAIS, Lourdes Michele Duarte de. Reflexões sobre a formação de professores: características, histórico e perspectivas. Revista Educação Pública, v. 19, nº 15, 6 de agosto de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/15/reflexoes-sobre-a-formacao-de-professores-caracteristicas-historico-e-perspectivas.

KENSKI, Vani Moreira. Educação e comunicação: interconexões e convergências. Educação e Sociedade, v. 29, nº 104, p. 647-665, 2008.

LIBÂNEO, J. C. Finalités et objectifs de l’éducation et action des organismes internationaux au Brésil. In: LENOIR, Y. et al. (orgs.). Les finalités éducatives scolaires: pour une étude critique des approches théoriques, philosophiques et idéologiques. Saint-Lambert: Groupéditions, 2016.

LUZ, Mariane Ribeiro da; SETTI, Rafaela Andressa; GRIMES, Vilmar; MELLO, Regina Oneda. Problematização e movimentos da competência: protagonismo da aprendizagem. Revista Educação Pública, v. 21, nº 29, 3 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/29/problematizacao-e-movimentos-da-competencia-protagonismo-da-aprendizagem.

MARTINS, Rosilene Maria Sólon Fernandes. Direito à Educação: aspectos legais e constitucionais. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2004.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 6ª ed. Campinas: Autores Associados, 1997.

SILVA, Robson José de Moura; SANTOS, Luciano dos. Políticas públicas na Educação brasileira: viabilidade da execução das 20 metas do PNE nas perspectivas pedagógicas e sociais. Revista Educação Pública, v. 20, nº 16, 5 de maio de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/16/politicas-publicas-na-educacao-brasileira-viabilidade-da-execucao-das-20-metas-do-pne-nas-perspectivas-pedagogicas-e-sociais.

Publicado em 07 de fevereiro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Milena Lopes da. Analisando métodos de ensino a luz da música "Estudo Errado". Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 5, 7 de fevereiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/5/analisando-metodos-de-ensino-a-luz-da-musica-estudo-errado

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