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Proteger o filho ou o mundo?
Fazendo minha caminhada matinal pelas ruas perto de casa, observando pais e filhos, concluí que existem, em essência, dois tipos de bolsas para os pais transportar filhos: uma em que o bebê fica voltado para o peito do pai (ou da mãe) e a outra, em que ele fica sentado voltado para a rua, de costas para o pai. Isso vale para os carrinhos, também.
História política em primeira pessoa
Como acontece com qualquer assunto, falar sobre política pode ser enfadonho ou estimulante. O descrédito da classe política com a população acaba afugentando a maioria das pessoas de pensar, se informar e discutir o tema, exceto nos obrigatórios períodos eleitorais. E este é o principal problema: entender a política como uma obrigação restrita ao voto e limitada ao presente.
Estou voltando... (Um conto africano)
Um jovem angolano caminhava solitário pela praia. Parou por alguns instantes para agradecer aos deuses por aquele momento milagroso: o deslumbramento de sua terra natal. O silêncio o fez adormecer em seu âmago, despertando inesperadamente com o bater das ondas sobre as pedras. De repente, surgiram das matas homens estranhos e pálidos que o agarraram e o acorrentaram. Sua coragem e o medo travaram naquele momento uma longa batalha... Ele chamou pelos seus pais e clamou pelo seu deus. Mas ninguém o ouviu. Subitamente, mais e mais rostos estranhos e pálidos se uniram para rir de sua humilhação. Vendo que não havia saída, o jovem angolano atacou um deles, mas foi impedido por um golpe. Tudo se transformou em trevas...
Como surgiram as diferenças
Em 1972, quando estudava pássaros na Nova Guiné, o biólogo evolucionista Jared Diamond conheceu Yali, uma das lideranças políticas da futura Papua Nova Guiné. Durante a conversa, Jared ficou desconcertado por uma pergunta simples e direta de Yali: "por que vocês brancos desenvolveram tanta 'carga' e a trouxeram para a Nova Guiné e nós negros tínhamos tão pouca 'carga' nossa?". O biólogo só conseguiu formular uma resposta a essa pergunta 25 anos depois no livro Armas, germes e aço (2001, Editora Record, 476p), que parte de novos conhecimentos em arqueologia, antropologia e genética.
Motivação: segurança X insegurança
Como razão que sirva para motivar e manter os colaboradores numa dada tarefa, o desafio é imperioso nesse tipo de empreendimento. Desafiar as pessoas de uma organização não é um evento simples. Para tanto, vale refletir a respeito de algumas contradições existentes no ser humano. Refiro-me à estabilidade tão desejada pelo funcionário: carteira assinada, salário em dia etc. É uma luta histórica a segurança garantida pelas leis trabalhistas, além da atuação sindical em prol do trabalhador. Mas devemos considerar o ponto contraditório nesse tipo de sentimento de segurança profissional: a monotonia da rotina.
Amor gramatical
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com aspecto plural, alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda jovem, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por literatura e filmes ortográficos.
100 anos de espaço literário
Machado de Assis existiu. Claro! Biógrafos o confirmam. Não quero perder-te, meu atento leitor amigo. Preciso de sua atenção. E de sua imaginação. Se era filho de pintor de paredes, se foi aprendiz de tipógrafo, se sua mãe foi ou não foi lavadeira, se ele casou com Carolina ou Josefa, o que tudo isso poderia nos auxiliar a entender a literatura machadiana? Inaugurou-se um campo literário, no melhor sentido blanchotiano. Acidentes biográficos não explicam o específico do literário. Convido-te a caminharmos em outra pista. Comecemos:
Como meu neto vai enfrentar esta?
Meu neto Yan nasceu em novembro de 2001. Está só com 1 ano e 4 meses. Esta guerra de Bush contra o Iraque já é a sua segunda guerra como cidadão do mundo. A primeira é aquela sem desfecho do Afeganistão, no pós 11 de setembro. Eu nasci em agosto de 1945, no dia em que os EUA lançaram a primeira bomba atômica sobre uma cidade japonesa, Hiroshima. Assim como eu não fui avisado em que mundo entrava, do mesmo modo meu neto não sabe que mundo está sendo gestado pelas guerras do Bush e qual será a sina que sua geração terá que enfrentar. Os 56 anos que nos separam, porém, não guardam somente laços de sangue a nos unir. Aliás, que mudança no meu neto. Sou e sinto-me orgulhosamente brasileiro, apesar do sobrenome que carrego a testemunhar uma herança cravada lá na imigração polonesa do final do século XIX, parte da grande imigração de estrangeiros associada à transformação do trabalho escravo no Brasil. Meu neto é uma síntese ainda mais elaborada e bela expressão destes tempos contraditórios em que vivemos. Ele é um Grzybowski Abu-Asseff, genuíno brasileiro na síntese afetiva de minha filha Carvalho Grzybowski com um Jabur Abu-Asseff de descendência libanesa. Realmente, é bom ser brasileiro e dizer que, ao mesmo tempo, somos cidadãos do mundo! Isto apesar e acima dos fundamentalismos.
A vingança dos normais
A Pequena Miss Sunshine, o filme, em cartaz desde outubro nos cinemas, nos põem diante do cotidiano nada convencional dos Hoover, uma família americana de seis pessoas que vivem numa pequena cidade do Novo México: um casal, dois filhos - um adolescente, Dwane (Paul Dano), e Olive (Abigail Breslin), a protagonista, uma menina de 7 anos inteligente e adorável - o tio das crianças, Frank (Steve Carrel), professor homossexual que acabou de sair do hospital por ter tentado suicídio e o avô (o veterano Alan Arkin), um velho hippie, que foi expulso do asilo por usar heroína. É ele quem prepara Olive para participar de um concurso de beleza para meninas.
Você julga um livro pela capa?
Uma maquiagem que nos muda por fora. Uma tatuagem que nos mostra de dentro para fora. A capa que diz tudo sobre o livro. O livro que não se define nem pela contracapa. Qual é, afinal, a melhor maquiagem para disfarçar e a melhor capa para se mostrar?