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Coração Restaurado
Artigo publicado na Revista Pesquisa Fapesp nº 88, junho de 2003
Qual o tamanho do infinito?
Fascinante seria especular sobre a origem da noção de infinito no espírito humano. Teria algo a ver com a percepção da finitude da vida diante do tempo? A percepção da imensidão que nos separa das estrelas? A visão do horizonte como algo inatingível? Existem tribos que só sabem contar até dez. Possuem elas a noção de um infinito? Da eternidade dos espíritos, por exemplo? Não estariam todas essas possíveis origens ligadas ao sentimento primeiro do tempo como uma sucessão de eventos? Se assim o é, o que impede que essa noção se estenda ao processo de contagem? Fato é que em algum momento da história da humanidade, o infinito irrompeu no universo da matemática revelando-se, ao mesmo tempo, alicerce para seu desenvolvimento e fonte de problemas filosóficos ainda sem soluções.
A Lei de Proteção ao Patrimônio Genético
Artigo publicado na revista Ciência e Cultura (SBPC), nº 3, jul/ago/set 2003
Memórias do Riacho Ipiranga
Um dia, estava eu a correr livre e alegremente, sendo apenas um riacho, um afluente da margem esquerda do rio Tamanduateí - que na língua tupi-guarani significa muitos tamanduás -, quando ouvi um brado retumbante à beira de minhas margens plácidas.
Com quantos "efes" se escreve "evolução"?
Um observador da vida selvagem não deve encontrar dificuldades para reunir exemplos de plantas e animais que parecem estar bem ajustados aos lugares onde vivem: árvores que atraem polinizadores específicos para suas flores; lagartas que constroem abrigos nas folhas da planta-hospedeira; abelhas que controlam a temperatura da colmeias; peixes que nadam em águas profundas sem morrer esmagados; morcegos que navegam no escuro sem trombar nos obstáculos etc. [1]
A farra dos sacos plásticos
O Brasil é definitivamente o paraíso dos sacos plásticos. Todos os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico. Nossa dependência é tamanha, que quando ele não está disponível, costumamos reagir com reclamações indignadas.
Plantas-hospedeiras, insetos folívoros e o terceiro nível trófico
Trechos deste ensaio foram originalmente redigidos para mais de um trabalho acadêmico. Por simplificação, retirei as citações do corpo do texto e omiti a lista com as referências incluídas no manuscrito original; o leitor eventualmente interessado pode solicitar cópia da versão completa pelo meu endereço eletrônico: meiterer@hotmail.com
O caminho das pedras
Qual é a cara do Brasil? Futebol, mulatas, samba, carnaval? Segundo pesquisa de José Murilo de Carvalho com cariocas, em 1990, essas imagens da nação não constituem o que temos de mais brasileiro, de mais importante. O Brasil se distingue do mundo, em primeiríssimo lugar, pela exuberância e força de sua natureza.
Erros e mentiras
Fiorello La Guardia pode estar destinado a entrar para a história basicamente como o padrinho de um aeroporto. Mas foi um grande prefeito de Nova York nos anos duros da Depressão e da Segunda Guerra. (Minha certidão de nascimento traz sua assinatura - pelo menos na forma de carimbo.) Também possuía em abundância a característica que apreciamos muito, mas raras vezes encontramos em pessoas que assumem uma posição de destaque - a disposição de admitir seus erros ocasionais e inevitáveis. Em sua tirada mais famosa, La Guardia disse certa vez: "Quando eu erro, erro bem!”.
Aquecimento global: o alarme está acionado
Comentar o tempo, reclamar do verão que não houve, do calor exagerado fora de hora ou da chuva intermitente é coisa corriqueira entre nós, desde os antigos. O clima é algo que nos afeta, mas escapa de nosso controle. E o máximo que fazemos é olhar o céu, reclamar, lamentar ou acompanhar as previsões do tempo nos noticiários de TV. Isso se não somos trabalhadores da agricultura ou desempenhamos outra atividade que dependa do clima, ou ainda, quando não somos nós as vítimas de enchentes, de desabamentos ou da seca. E, mesmo nestes casos, os desastres naturais são entendidos, quase sempre, como condenação divina ou acasos da natureza.