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Um Mundo Mais Feminino é Possível?
Isto não é bem uma análise, é mais um desabafo na forma de testemunho. Certo, não consigo me desvencilhar de um jargão "sociológico", forjado ao longo dos 56 anos bem feitos. Mas tento. Talvez pior do que o olhar emprestado a certa ciência social seja a viseira machista em que fui treinado, ou melhor, domesticado e formado. Aí começa o meu testemunho: somos poucos, muito poucos, a reconhecer a verdadeira estrutura mental, de formas de pensar a realidade, que as desiguais relações de gênero criam na nossa cultura e que são nosso modo de ser.
Descobrimos o gene da linguagem?
Há pouco tempo, jornais andaram alardeando a descoberta do gene da linguagem. Num trabalho em equipe, linguístas e geneticistas publicaram, na revista americana Nature (respeitada publicação científica), a descoberta de um gene que estaria diretamente relacionado à linguagem.
A água da Terra
No dia 22 de março, um brinde à água. Desde a ECO 92, este é o Dia Internacional da Água. A data existe há dez anos mas, infelizmente, tem sido pouco lembrada.
Língua Portuguesa - uma conversa à mesa
A maior de todas as heranças é uma língua, define a ordem. Corrente, coerente, impura, devassa, a língua se mostra rubra e clássica. - defende um bom modernista. Ela vive nas trovas e desce pelas encostas, aponta o estudioso. Arranha a costa continental e se mistura a essa outra tão impura quanto esta. Alcança os cheiros e os temperos, observa o cônego faminto (ah... grande EÇA). O que fazer na Índia se não esperar o império alastrado? - afirma o nobre... destemperado. E a África não foi a mesma e Portugal se viu aberto, fendido, difuso e maltrapilho, pelas ruas de Lisboa. Lisboa??? Ahhh, pessoa... Enquanto não foi isso, CAMÕES é ovacionado e vaiado. Tem a corte e tem o Degredo... quem o não conhece? Saudade é coisa que nunca arrefece. Saudade é lusa, vocábulo tão prenhe de melancolia que os portugueses nem precisaram de filosofês. O mediterrâneo vive ali. Gregos e latinos falam pelo viver, e dizer, de uma língua. Mas a língua é viva, se não fenece. É preciso não fenecer, é preciso recorrer... então, antes que os padres e algozes da corte fechassem totalmente os céus pátrios... homens atiraram-se em caravelas por terras talvez (quem sabe?) nunca dantes navegadas. Não era só a fome... havia o sonho e o desejo... e o Quinto Império atiçou o começo de uma história que já existia e quando mal percebemos ela se finda... Mas não finda na língua. Há que se amar Itacoatiaras, Piratiningas, Jaboatãos, Itabaianas, e tantos dizeres fortes que nem de regras precisavam. A língua era viva. Iemanjá, Oxóssi, e esse quinto império fincou espaço e tornou-se messiânico. Espera-se a chuva no nordeste. Até hoje. Espera-se que deus, sendo brasileiro, não se esqueça de ser humano. E Sebastião nunca vem... Por onde andará tiãozinho? Então que ribamares nos povoem, que genésios e ramalhos nos digam do futuro o que todos aguardam .
Direito Internacional
Do livro O que é direito internacional, de José Monserrat Filho, SP: Brasiliense, 1986
Dicionário: convite para jogar
O dicionário é um livro curioso. Examinando um Aurélio ou um Houaiss fechado entre as mãos, não dá para acreditar que ali estejam registradas todas as palavras da língua que usamos. Apresentam-se, orgulhosos, com a intenção de totalidade, em infinitas páginas, grossos e pesados volumes. Lado a lado com o espanto e a intimidação diante do "tamanho" do Português, assalta-nos uma sensação de incredulidade: "Será possível que eu não sou capaz de pensar em nenhuma palavrinha que não esteja impressa ali?".
O ECA adolescente
Li em algum lugar que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), agora que está completando 12 anos, já atingiu a idade para poder ser internado na Febem. Era uma piada, mas ela revela o quanto ainda falta para essa legislação ser conhecida, implementada e respeitada em nossa sociedade.
Independência na ponta da língua
Independência, sim! Malgrado os alarmistas alarmados que em tudo veem traição às tradições, a língua é nossa e ninguém tasca! Não carece de ser casta, cheia de não-me-toques, medrosa de promiscuidades exógenas. Língua é pra botar pra fora, papilas gustativas receptivas às novidades, que tudo processam e recriam no caótico cotidiano das ruas, das casas, feiras livres, alarido radiofônico em alto-falantes, discursos de palanque e programas de auditório. Toda tribuna é válida, tudo vale a pena na arena viva do falar e do escrever. Eis a verdadeira independência cultural brasileira: nossa plena liberdade criativa.
Receitas contra o racismo
Ao longo dos últimos anos, o Brasil passou por um grande processo de mudanças, no que diz respeito às relações raciais. A percepção do País como uma democracia racial é cada vez menos consensual, e, hoje, diferentes setores da sociedade têm sua agenda política marcada pelo debate sobre o racismo como elemento constitutivo de nossa sociedade (veja a referência bibliográfica). Embora ainda exista a autoimagem do Brasil como homogêneo e indiferenciado, encontra-se, progressivamente, maior abertura a experiências que procuram beneficiar grupos específicos, que tenham, historicamente, menor acesso a oportunidades. O debate nacional sobre ação afirmativa é bastante recente, datando dos últimos cinco anos. De maneira geral, o movimento negro brasileiro tem sido o responsável pela introdução do tema no debate público nacional. Frequentemente o assunto é alvo de muitas críticas e existem resistências à sua incorporação. As críticas mais comuns destacam que políticas específicas trariam conflito e divisionismo. As críticas relacionam-se também à inadequação de políticas desse tipo, uma vez que a situação desvantajosa da população negra estaria associada ao seu baixo grau de escolaridade. Portanto, uma melhoria geral das políticas educacionais traria os benefícios esperados à população afro-brasileira.
Amor gramatical
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com aspecto plural, alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda jovem, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por literatura e filmes ortográficos.