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O horror silencioso
Um dia, um rapaz que era mais novo que eu talvez uns cinco ou seis anos me procurou. Aquela era uma época sem tantas lan houses espalhadas pela cidade, dessas que oferecem, a preços baixos, uma ou duas horas de contato com um computador; seu objetivo era simples: pedir ao Pablo para digitar umas poesias em um arquivo do Word para daí encontrar alguém que diagramasse em um outro programa qualquer o seu primeiro livro.
Os All Stars coloridos dos estudantes no metrô
Cheguei à conclusão, depois de alguns textos baseados nos papos que escuto nas minhas viagens em transportes coletivos, que essa bisbilhotice compulsória pode muitas vezes ser bastante instrutiva. Independente da qualidade do que se ouve, bom ou ruim, nos dois casos há sempre algo que pode provocar reflexão. Como a história da garota que tinha levado um toco do ex-namorado, descrita na crônica Filho da... professora, ou no texto A globalização e os idiomas, que fala da invasão do idioma inglês em nossa língua. Só para citar alguns dos escritos inspirados nas conversas que sou obrigada a escutar (já que não tenho mp3, 4, 5 ou seja lá qual for o modelo da atualidade) durante meu trajeto casa-trabalho-trabalho-casa de ônibus e metrô. O fato é que acabei me acostumando com tal invasão auditiva e agora, pelo menos, seleciono o que escutar (já que não consigo abstrair...).
Qual a cor de Machado?
Identificado com o liberalismo democrático dos anos de 1860-1880, com profunda aversão ao positivismo e ao evolucionismo; este seria o perfil ideológico do Bruxo do Cosme Velho, revelado na palestra O Nó Ideológico de Machado de Assis, apresentada pelo professor Alfredo Bosi (USP). A palestra encerrou o I Encontro Machado de Assis/Fundação Casa de Rui Barbosa, onde foi realizada, no dia 9 de agosto.
Misto de ficção e documentário
Imagens tremidas e entrecortadas mostram um grupo de pessoas atravessando a fronteira do México para os Estados Unidos. Eles correm pelo meio do mato, uma espécie de cerrado brasileiro, sendo "tocados" como bichos pelos "coiotes" - homens que intermediam a travessia ilegal. Logo se percebe que esta é uma corrida de vida e morte.
Educação, escola e paradoxos no campo da violência - Parte II
Débora Luiza Chagas de Freitas
As flores e espinhos do filme de João Jardim: Pro dia Nascer Feliz
Do mesmo diretor de Janela da Alma, este segundo longa de João Jardim Pro dia Nascer Feliz, também acaba abrindo janelas e penetrando na alma dos entrevistados, desta vez, adolescentes estudantes do ensino médio.
Freud e a Antropofagia Modernista
De acordo com Freud, em seu ensaio Moisés, o seu povo, e a religião monoteísta, o homem primitivo vivia em pequenas tribos, centradas em uma figura masculina. As mulheres eram propriedade dessa figura central e os outros homens eram submissos a seu desejo. Eles poderiam ser mortos, castrados ou expulsos do grupo, de acordo com as ordens do líder. E esse líder, sozinho, agregaria uma família. Mas um fato mudaria o curso desse tipo de sociedade: aqueles expulsos do grupo se juntariam para roubar as mulheres de seu próprio pai (ou líder), matá-lo e comê-lo.
Sufoco!
Sente-se um ar carregado, uma espécie de estresse coletivo. Algo não muito bem definido sufoca a gente, criando mal-estar e desencontro. Pensei que isso fosse específico do Rio de Janeiro, onde o tal “choque de ordem” do prefeito Paes por enquanto é sentido como uma grande desordem na coisa mais básica de uma grande cidade: a mobilidade. É uma verdadeira dor de cabeça ir ao trabalho e voltar para casa. Andar na Avenida Rio Branco durante o dia virou uma aventura: há ônibus nos dois sentidos da avenida, mas não tem para todos os lugares da cidade.
A virada da linguagem
Um dia, Jenne, uma jovem alemã que morou um ano em Natal, me perguntou: “por que as pessoas no Brasil não cumprem o que prometem?”. No começo eu não entendi, mas com um pouco de esforço consegui compreender o que a afligia: a linguagem. Ela não tinha compreendido que, no Brasil (ao menos no Nordeste), as pessoas falam algumas vezes com um discurso subliminar. Quando uma amiga na escola dizia: “Ah! Que legal! Vamos ver se a gente marca para sair no final de semana. Eu ligo para você”, ela entendia a ultima sentença “eu ligo para você” como um alemão entenderia; ou seja, como uma promessa, um compromisso. Jenne perdeu muitos sábados esperando as ligações das amigas, que prometiam as coisas e não cumpriam. Até que eu consegui explicar a ela que quando uma garota de dezesseis anos no Brasil diz, naquele contexto, “eu ligo para você” ela está querendo dizer “olha, você é legal e é muito provável que sejamos amigas. Eu estou, inclusive, aberta para que a gente se aproxime mais”.
A cidade da beleza e do caos
O Rio de Janeiro é uma cidade de contrastes. Assim como o resto do Brasil. Mas no Rio, bem, no Rio parece que as cores são mais fortes. A Cidade Maravilhosa é conhecida tanto pela beleza natural, já explicita em sua própria alcunha, quanto pela violência. Até mesmo o modo pelo qual as diferenças sociais aparecem estão associadas a outro tipo de contraste que não apenas o econômico, o geográfico: o morro e o asfalto. É lá em cima que a guerra explode, seja pela disputa do comando do morro entre os traficantes, seja pela luta com a polícia. Os verdadeiros chefões do tráfico, porém, dizem por aí, moram à beira-mar, estão longe da mira da violência. Perto deles só a brisa marítima. E a bala perdida que, invariavelmente, invade a janela dos barracos, acertando alguém que dormia inocente, não alcança os poderosos chefões: esses estão protegidos por seus carros importados devidamente blindados.